Por Américo Domingos Nunes Filho
Na Codificação Kardeciana, onde sobeja o conhecimento das leis que regem as relações do Espírito e da matéria, recebemos informações valiosas a respeito do que acontece no chamado fenómeno da morte.
De início, o ensinamento básico de que a alma se separa do corpo físico por desprendimento dos laços que a prendem. Em realidade, os liames são desatados e nunca quebrados ("O.L.E." n" 155).
É importante frisarmos, também, que há considerável diferença entre morrer e desencarnar, desde que a morte é a cessação da vida de um ser biológico, enquanto a desencarnação consiste no desatamento total do perispírito da matéria.
Através dessa informação, podemos avaliar que, na maior parte das vezes, o momento do falecimento não é acompanhado da libertação completa do Espírito.
Informa-nos Kardec que o processo desencarnatório pode operar-se gradualmente e com lentidão muito variável, chegando ao ponto de durar alguns dias. semanas ou meses, nos indivíduos que nutriram excessivas paixões materiais ("O.L.E.". n° 155).
Essa afinidade tenaz e persistente com o veículo físico acontece nos que viveram mais da matéria que do espírito, levando mesmo à sensação dos vermes a consumirem suas entranhas, junto à decomposição cadavérica.
Algumas suicidas, também, experimentam essa horripilante impressão, podendo durar o tempo equivalente ao da vida abreviada, consoante as circunstâncias agravantes da falta.
Da obra "O Céu e o Inferno", retiramos algumas palavras proferidas pelo "Suicida de Samaritana", quando evocado pelo Codificador:
"Estou abandonado; fugi ao sofrimento para entregar-me à tortura"(...) "Ansiava pela morte; esperava repousar"(...) "A vida não se extinguiu; minha alma está ligada ao corpo. Sinto os vermes a corroerem-me" (Pág. 296/FEB).
Quanto ao fato de a alma não ter consciência de si mesma imediatamente após deixar o veículo somático, a Doutrina Espírita ensina-nos o seguinte: "... Aquele que já está purificado, se reconhece quase imediatamente, pois que se libertou da matéria antes que cessasse a vida do corpo, enquanto que o homem carnal, aquele cuja consciência ainda não está pura, guarda por muito mais tempo a impressão da matéria" ("O.L.E.", n° 164, FEB).
Allan Kardec, comentando o tema, relata que essa "perturbação apresenta circunstâncias especiais, de acordo com os caracteres dos indivíduos e, principalmente, com o gênero de morte".
Afirma o Mestre francês que "nos casos de morte violenta, por suicídio, suplício, acidente, apoplexia, ferimentos, etc., o Espírito fica surpreendido, espantado e não acredita estar morto" ("O.L.E.", pág. 118-FEB)
Os leitores que assistiram ao filme "Ghost, o outro lado da vida", devem lembrar-se de que, de início, o Espírito se mostra surpreendido, não sabendo que não fazia mais parte do mundo dos encarnados, apresentando-se com corpo bem semelhante ao que deixou no ambiente físico.
Diz o Codificador que o Ser Espiritual "vê o seu próprio corpo, reconhece que esse corpo é seu, mas não compreende que se ache separado dele. Acerca-se das pessoas a quem estima, fala-lhes e não percebe por que elas não o ouvem. Semelhante ilusão se prolonga até ao completo desprendimento do perispírito. Só então o Espírito se reconhece com tal e compreende que não pertence mais ao número dos vivos. Este fenômeno se explica facilmente. Surpreendido de improviso pela morte, o Espírito fica atordoado com a brusca mudança que nele se operou; considera ainda a morte como sinônimo de destruição, de aniquilamento. Ora, porque pensa, vê, ouve, tem a sensação de não estar morto.
Mais lhe aumenta a ilusão o fato de se ver com um corpo semelhante, na forma, ao precedente, mas cuja natureza etérea ainda não teve tempo de estudar. Julga-o sólido e compacto como o primeiro e, quando se lhe chama a atenção para esse ponto admira-se de não poder palpá-lo." ("O.L.E.", págs. 118 e 119, FEB)
Na obra "Voltei", psicografada pelo estimado médium Francisco Cândido Xavier, editada pela FEB (Federação Espírita Brasileira), vem-nos à lembrança o momento em que o irmão Jacob (pseudônimo do confrade Frederico Figner), já liberto dos liames terrenos, toca uma parte do seu corpo extrafísico, surpreendendo-se por sua consistência amolecida, como se fosse constituído de borracha macia.
A propósito, lembramo-nos de um caso pitoresco, vivenciado por amigo espírita que estava viajando, à noite, para São Paulo, e dormiu ao volante. Acordou, em plena escuridão, fora da estrada, e logo lhe veio à mente a certeza da desencarnação.
Na dúvida, chutou um bloco de pedra e a dor que sentira, ao mesmo tempo entremeada de alegria, revelava-lhe a comprovação de que se achava ainda entre os "vivos", embora com o pé quebrado.
Se o companheiro fosse afeito ao estudo da Doutrina, saberia que bastava apenas simples toque em seu corpo, para cientificar-se de que estava ainda encarnado.
Do final do tópico “Da Volta à Vida Espiritual" (Parte 2°, Capítulo III de "O.L.E."), não podemos deixar de trazer a afirmação da Espiritualidade Superior, dizendo-nos que a prática do bem e a consciência pura são o que maior influência exercem sobre o estado espiritual que se segue à morte.
Disse o Cristo: "Em verdade ,em verdade vos digo que, se alguém guardar a minha palavra, nunca verá a morte " (João 8:51).
"Eu sou a ressurreição e a vida, aquele que crê em mim, ainda que esteja morto, viverá (João 11:25).
"Quanto à ressurreição dos mortos,não tendes lido o que Deus vos declarou: "Eu sou o Deus de Abraão, Isaque e Jacó?. Ele não é Deus de mortos, e sim, de vivos"
(Mateus 22:31 e 32).
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