Estudando o Espiritismo

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terça-feira, 9 de novembro de 2010

O Ciúme

Manoel Fagundes dos Santos
Em virtude de um estudo promovido por Gary Brase, da Universidade de Sunderland, Inglaterra e recentemente divulgado, veio à baila o conhecido e palpitante tema: O Ciúme, que aponta, inclusive, o brasileiro como sendo o mais ciumento no universo pesquisado.
Em decorrência, diversos estudiosos do assunto contribuíram com suas teorias, buscando em teses fundamentadas explicar as possíveis causas embasadoras do conflito que – no decurso da evolução humana – tem infelicitado tantas almas, por não conseguirem sublimá-lo.
Pelo esclarecimento do ensino espírita, já temos a felicidade de saber que a causa real das nossas condutas divergentes no presente, em geral, possuem como gênese, as várias experiências equivocadas, vivenciadas em existências pretéritas.
Desde a Bíblia o ciúme tem mostrado suas garras: Gênesis, 4, Caim mata Abel por ciúme. Números, 5, nos fala do ”Espírito de ciúmes”. Provérbios, 6, 34: “Porque o ciúme enfurece o marido, que de maneira nenhuma poupará no dia da vingança”. Em Cânticos dos Cânticos, 8, 6: “O ciúme é cruel como o Seol”. O Seol seria inferno em hebráico ou Sheol, que se traduz como sendo “habitação das almas dos mortos”?
O Dicionário Aurélio, o apresenta como substantivo masculino, do latim com raiz em “Zelumen, zelos; e no grego indica: “Zelos, ´cuidado`, ´ardor`, ´inveja´, ´ciúme´”. Definindo-o como: 1. Sentimento doloroso que as exigências de um amor inquieto, o desejo de posse da pessoa amada, a suspeita ou a certeza de sua infidelidade fazem nascer em alguém. 2. Emulação, competição, rivalidade, despeito...
Trata-se pois, de assunto relevante, que tem despertado a atenção dos homens desde os primeiros filósofos, e constituindo-se no tema central de uma das obras mais importantes da literatura clássica: Medeia, de Eurípedes. Onde sob as chamas ardentes do ciúme, Medeia optou por matar os próprios filhos, para atingir o pai, Jason, que a traíra.
Shakespeare evoca o tema em uma de suas peças imortais: “Otelo, o Mouro de Veneza”. Na qual Otelo, louco de ciúmes, asfixia Desdêmona na cama, e enterra o punhal no próprio peito. Ainda com vida, descobre a verdade; mas já é tarde. Ele morre beijando os lábios já frios da sua fiel e inocente esposa!
Mas não é necessário ir tão longe. Na mídia diária, a crônica policial apresenta as tragédias resultantes desse terrível algoz do ser humano. Não havendo classe sócio-econômica que esteja isenta à sua danosa influência: do palácio ao tugúrio, da choupana do campo ao Flat na praia.
Vulgarmente, costuma-se relacionar o ciúme ao amor. Uma anomalia. Porquanto ele parece ter mais parentesco com o ódio, com o orgulho, a vaidade. É que o amor é entrega; o ciúme, posse. O amor é confiança; o ciúme a suspeita. O amor é cuidado; o ciúme egoísmo. Em suma: O amor é virtude; o ciúme é vício. Logo, o ciúme não pode ser associado ao amor, de quem não é a prova, senão a sua própria negação.
Freud analisa o ciúme em seus diferentes graus, no volume XVIII, de suas obras completas, páginas 271/281, no artigo que o Mestre Vianense denominou: Sobre alguns mecanismos neuróticos no ciúme, na paranóia e no homossexualismo, assim classificando o conflito: ciúme competitivo, ciúme projetado e ciúme delirante.
Segundo a ótica do nobre psicanalista, o ciúme competitivo acha-se profundamente enraizado no inconsciente, sendo uma continuação das primeiras manifestações da vida emocional da criança, e origina-se do complexo de Édipo ou de irmão-e-irmã do primeiro período sexual. Já o ciúme projetado deriva, tanto nos homens quanto nas mulheres, de sua própria infidelidade concreta na vida real ou de impulsos no sentido dela que sucumbiram à repressão. Enquanto o ciúme delirante, diz ele, “é o sobrante de um homossexualismo que cumpriu seu curso corretamente toma sua posição entre as formas clássicas da paranóia”.
No ensino espírita – de modo singelo – o inconsciente em referência, nada mais é que o somatório das experiências reencarnatórias do espírito.
No conceito da psicologia hodierna, o ciúme é a sensação de ameaça ou perda da posse em relação à pessoa a quem alguém se apega. Sendo, portanto, um estado emocional que pressupõe o medo e cresce com a insegurança. Como se trata de um estado irracional, ignora a lógica dos argumentos, nutrindo-se de suas próprias fantasias.
A Doutrina Espírita entretanto– sem desprezar as questões propostas pela ciência – remonta às causas, enquanto a ciência estuda os efeitos, nos indica que o ciúme, como todos os conflitos negativos, que ainda trazemos incorporados ao psiquismo, fazem parte do “acervo” perispiritual, estando ínsitos na alma humana, requerendo, quando convenientemente identificados, a cura espiritual. Que por sua vez, requer profundidade de propósitos e continuidade de ações, que levem o paciente a uma reforma interior frente ao problema que enfrenta, cuja terapia constitui verdadeiro desafio, com análise que este despretensioso relato não comporta.
Os Espíritos Superiores, na questão 933, de O livro dos Espíritos, de 1857, respondendo sobre os sofrimentos do ser imortal, relacionam os vícios que denominam “As torturas da alma”, dentre os quais indicam a Inveja e o Ciúme, classificando-os de “vermes roedores”, fazendo com que suas vítimas permaneçam em febre contínua.
Vila Velha / ES, Julho de 2006.

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