Estudando o Espiritismo

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quinta-feira, 4 de agosto de 2016

CARIDADE PARA COM OS CRIMINOSOS


A verdadeira caridade constitui um dos mais sublimes ensinamentos que Deus deu
ao mundo. Completa fraternidade deve existir entre os verdadeiros seguidores da sua
doutrina. Deveis amar os desgraçados, os criminosos, como criaturas, que são, de Deus, às quais o perdão e a misericórdia serão concedidos, se se arrependerem, como também a vós, pelas faltas que cometeis contra sua Lei. Considerai que sois mais repreensíveis, mais culpados do que aqueles a quem negardes perdão e comiseração, pois, as mais das vezes, eles não conhecem Deus como o conheceis, e muito menos lhes será pedido do que a vós.
Não julgueis, oh! não julgueis absolutamente, meus caros amigos, porquanto o juízo
que proferirdes ainda mais severamente vos será aplicado e precisais de indulgência para os pecados em que sem cessar incorreis. Ignorais que há muitas ações que são crimes aos olhos do Deus de pureza e que o mundo nem sequer como faltas leves considera?
A verdadeira caridade não consiste apenas na esmola que dais, nem, mesmo, nas
palavras de consolação que lhe aditeis. Não, não é apenas isso o que Deus exige de vós. A caridade sublime, que Jesus ensinou, também consiste na benevolência de que useis sempre e em todas as coisas para com o vosso próximo. Podeis ainda exercitar essa virtude sublime com relação a seres para os quais nenhuma utilidade terão as vossas esmolas, mas que algumas palavras de consolo, de encorajamento, de amor, conduzirão ao Senhor supremo.
Estão próximos os tempos, repito-o, em que nesse planeta reinará a grande fraternidade, em que os homens obedecerão à lei do Cristo, lei que será freio e esperança e conduzirá as almas às moradas ditosas. Amai-vos, pois, como filhos do mesmo Pai; não estabeleçais diferenças entre os outros infelizes, porquanto quer Deus que todos sejam iguais; a ninguém desprezeis. Permite Deus que entre vós se achem grandes criminosos, para que vos sirvam de ensinamento. Em breve, quando os homens se encontrarem submetidos às verdadeiras leis de Deus, já não haverá necessidade desses ensinos: todos os Espíritos impuros e revoltados serão relegados para mundos inferiores, de acordo com as suas inclinações.
Deveis, àqueles de quem falo, o socorro das vossas preces: é a verdadeira caridade.
Não vos cabe dizer de um criminoso: “É um miserável; deve-se expurgar da sua presença a Terra; muito branda é, para um ser de tal espécie, a morte que lhe infligem.” Não, não é assim que vos compete falar. Observai o vosso modelo: Jesus. Que diria ele se visse, junto de si, um desses desgraçados? Lamentá-lo-ia; considerá-lo-ia um doente bem digno de piedade; estender-lhe-ia a mão. Em realidade, não podeis fazer o mesmo; mas, pelo menos, podeis orar por ele, assistir-lhe o Espírito durante o tempo que ainda haja de passar na Terra. Pode ele ser tocado de arrependimento, se orardes com fé. É tanto vosso próximo, como o melhor dos homens; sua alma, transviada e revoltada, foi criada, como a vossa, para se aperfeiçoar; ajudai-o, pois, a sair do lameiro e orai por ele. Elisabeth de França. (Havre, 1862.)

O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap XI, Item 14

CONSIDERAÇÕES

Para a análise acerca do dever de se praticar caridade ou não mesmo com um criminoso, há que se considerar, em primeira instância, o que venha a ser criminoso e, claramente, qual o significado de crime. Segundo o conceito jurídico, crime é qualquer ato que seja repreensível por ir de encontro à lei vigente. Desta forma, segundo o estabelecido pela humanidade, um criminoso é todo aquele que pratica um ato que não condiga com as leis estabelecidas.
As leis humanas são mutáveis e portanto, ainda carecem de uma estruturação que nos permita um julgamento mais amplo das atitudes tomadas pelos seres, talvez mesmo por ainda sermos incapazes de abranger todos os aspectos que levaram ou não a um ser a praticar tal ou qual ato. Carecemos desta forma de mecanismos assaz seguros que nos permitam, por conseguinte, julgar com segurança os atos incorridos pelos demais seres humanos assim como os incorridos por nós mesmos.
No entanto, apesar de ainda não termos em mãos tais mecanismos, já conseguimos, através do imo de nossas consciências e através de uma análise racional, estabelecer aspectos e pensamentos que nos permitam julgar um ato, como o assassínio, por exemplo, um ato atroz, por não condizer com a disposição natural do ser humano à preservação da vida, abstendo-nos de analisarmos questões sociais e históricas, que por mais sejam fatores atenuantes, não eximem em absoluto, a responsabilidade do autor em razão do ato incorrido.
De fato, não abordamos aqui a questão da necessidade de um julgamento ou não por parte de um ser ou da sociedade, analisando a questão sobre a óptica estabelecida de que o julgamento, qualquer que seja, desde que incorra à melhoria do ser humano através da análise dos atos incorridos por ele ou por terceiros, proporcionando uma base segura para não incorrer novamente em delitos análogos e, desde que proporcione segurança e melhoria de uma sociedade, sob qualquer aspecto, são válidos . Desta forma, não nos alongaremos neste assunto, o qual merece todo o respeito e uma análise mais apurada do que nos permite o momento.
Ainda agora a questão em pauta não fora abordada: deve-se praticar caridade mesmo com um criminoso?
Desta forma, reiteramos a pergunta feita no início: o que é um criminoso?
Ao analisarmos sobre o viés da doutrina espírita e de toda religião que se paute verdadeiramente sobre a égide do pensamento cristão, criminoso é todo aquele que, aos olhos de Deus, comete um ato que seja repreensível, não diretamente pelo Criador, mas pelas leis estabelecidas pelo mesmo; é cada homem o algoz e juiz de si próprio.
E, como cada homem se estabelece, consciente ou inconscientemente, como algoz e juiz de si próprio, havemos de pensar que, a análise dos atos incorridos pelo mesmo se relacionem, dentre outros aspectos, ao conhecimento maior ou menor das leis de Deus, estabelecendo fatores atenuantes às suas ações mas, como já fora reportado, não eximindo-o da responsabilidade pelo mesmo.
Se assim for, podemos considerar que, todos nós, em caráter mais atenuado ou mais ostensivo, somos, em parte, criminosos, desde que ainda somos incapazes de agir a todo tempo de acordo com as leis do Senhor até mesmo porque ainda não estamos de um todo conscientes de todas as suas leis, cabendo-nos, por agora, tentarmos seguir em caráter integral às que conhecemos.
Emmanuel * nos reporta que criminoso, segundo o conceito estabelecido pela sociedade, é todo aquele que, por falta de dissimulação, deixou que uma parte de suas torpezas ficasse à frente dos olhos do vulgo.
Assim, reiteramos pela segunda vez a pergunta: devemos praticar caridade mesmo para com um criminoso?
A resposta, sob a égide cristã, talvez seja bem simples como também, talvez não carecesse de todas as ressalvas e informações anteriormente reportadas:
Sim. Devemos praticar caridade mesmo para com um criminoso.
Um criminoso, não obstante por que óptica analisemos a conceituação e/ou designação desta palavra, como da pessoa a que se deva estabelecer tal adjetivação, é um irmão em Deus, nosso próximo (talvez “nosso próximo mais próximo ou mais longínquo”) que, segundo as idéias cristãs, merece indulgência, amor e quaisquer outras atitudes, tomadas de nossa parte, que se relacionem a idéia de caridade tal qual merecemos nós.
Não podemos inferir qual será a conseqüência de tal atitude em nosso irmão transviado: se receberá de bom-grado, se aproveitará a nossa disposição e melhorará a si mesmo, ou se simplesmente será indiferente ou rude em razão de nossa proposição, digamos, humanitária para com ele. O que nos compete, por agora, é a pratica do bem, não obstante sejam os frutos do mesmo, colhidos hoje ou no futuro. Referimos frutos, estabelecendo a idéia de que estes frutos são a melhoria pessoal deste irmão e não a volúpia em que nos rejubilamos por praticarmos um ato de caridade.
Sejam quais forem as idéias, questionamentos ou conceituações em que nos propormos neste texto ou em outros, em palavras e palestras amistosas, em atitudes benfazejas ou proposições tomadas em nossas vidas, há que se considerar em caráter essencial e absoluto, por nos propormos à idéia cristã do amor ao próximo, de que a caridade deve ser praticada sempre, seja com quem seja, através de atitudes mais ostensivas ou pelo “inaudito melodioso de uma prece”, a caridade é o nosso meio e, de certa forma, “o nosso fim”.

Bergamini, F. R. G.; 2009

Nota: * Emmanuel – espírita de alta monta, mentor do já desencarnado médium Francisco Cândido Xavier. Ao que se tenha notícia, algumas de suas escarnações, foram sobre a roupagem do senador romano Públio Lêntulus, à época da vinda de Jesus à Terra e sob a roupagem de padre jesuíta Manuel de Nóbrega, durante o Brasil Colonial.

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