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quinta-feira, 4 de agosto de 2016

CARIDADE PARA COM OS CRIMINOSOS

Revista Espírita 1862 » Março » Ensinos e dissertações espíritas » Caridade para com os criminosos - Problema moral


CARIDADE PARA COM OS CRIMINOSOS[1]



PROBLEMA MORAL



“Um homem está em perigo de morte. Para salvá-lo é preciso arriscar a vida. Sabe-se, porém, que aquele é um malfeitor e que, se for salvo, poderá cometer novos crimes. Apesar disso devemos arriscar-nos para salvá-lo?”

A resposta que se segue foi obtida na Sociedade Espírita de Paris, a 7 de fevereiro de 1862, pelo médium Sr. A. Didier:

Eis uma questão muito grave que se pode apresentar naturalmente ao Espírito. Responderei de acordo com o meu adiantamento moral, pois que se trata de saber se deve-se expor a vida, mesmo por um malfeitor.

A dedicação é cega. A gente socorre um inimigo pessoal, logo, deve socorrer um inimigo da Sociedade, isto é, um malfeitor. Credes, então, que é só à morte que a gente subtrai aquele infeliz? Talvez seja à sua vida passada inteirinha.

Pensai nisto: Nesses rápidos instantes que lhe subtraem os últimos minutos da vida, o homem perdido revê sua vida passada, ou antes, ela se ergue à sua frente. Talvez a morte chegue muito cedo para ele, e a reencarnação talvez seja terrível. Atirai-vos, pois, homens esclarecidos pela Ciência Espírita! Atirai-vos, arrancai-o de sua danação e talvez então aquele homem, que talvez morresse blasfemando contra vós, se lance em vossos braços. Contudo, não pergunteis se o fará ou não: lançai-vos, porque salvando-o obedecereis a essa voz do coração que vos diz: “Tu podes salvá-lo; salva-o!”

LAMENNAIS



OBSERVAÇÃO: Por singular coincidência, recebemos, há alguns dias, a seguinte comunicação, dada no grupo espírita do Havre, tratando mais ou menos do mesmo assunto.

Escrevem-nos que logo depois de uma conversa a respeito do assassino Dumollard, o Espírito da Sra. Elisabeth de França[2], que já havia dado várias mensagens, apresentou-se espontaneamente e ditou o seguinte:[3]



“A verdadeira caridade é um dos mais sublimes ensinamentos dados por Deus ao mundo. Deve existir entre os verdadeiros discípulos de sua dou­trina uma fraternidade completa. Vós deveis amar os infelizes, os criminosos, como criaturas de Deus, às quais o perdão e a misericórdia serão concedidos se se arrependerem, como a vós mesmos, pelas falhas que cometerdes contra a sua lei. Pensai que sois mais repreensíveis e mais culpados que aqueles a quem recusais o perdão e a comiseração, pois muitas vezes eles não conhecem Deus como o conheceis e lhes será pedido menos do que a vós.

Não julgueis. Oh! Não julgueis, minhas caras amigas, porque o julgamento que fizerdes vos será aplicado ainda mais severamente, e necessitais de indulgência para os pecados que incessantemente cometeis. Não sabeis que há muitas ações que são crimes ante os olhos do Deus de pureza e que o mundo nem considera faltas leves?

A verdadeira caridade não consiste apenas na esmola que dais, nem mesmo nas palavras de consolo com que a acompanhais. Não. Não é somente isso que Deus exige de vós. A caridade sublime ensinada por Jesus Cristo também consiste na benevolência concedida sempre e em todas as coisas ao vosso próximo. Podeis, ainda, exercer essa virtude sublime para com muitas criaturas que não necessitam de esmola, mas que palavras amorosas e consoladoras encorajarão e as conduzirão ao Senhor.

Os tempos estão próximos, eu ainda vos digo, nos quais reinará a grande fraternidade neste globo. A lei do Cristo é a que regerá os homens. Só ela será o freio e a esperança, e conduzirá as almas às moradas da bem-aventurança.

Amai-vos, pois, como filhos de um mesmo pai. Não façais diferença entre os outros infelizes, porque Deus quer que todos sejam iguais. Assim, a ninguém desprezeis. Deus permite que grandes criminosos estejam em vosso meio, a fim de que vos sirvam de ensinamento. Em breve, quando os homens forem conduzidos pelas verdadeiras leis de Deus, não haverá mais necessidade desses ensinamentos, e todos os Espíritos impuros e revoltados serão espalhados por mundos inferiores, em harmonia com as suas inclinações.

A esses, de quem vos falo, deveis o auxílio das vossas preces: é a verdadeira caridade. Não se deve dizer de um criminoso: “É um miserável; deve-se expurgar de sua presença a Terra; a morte que lhe infligem é muito suave para um ser de sua espécie”. Não. Não é assim que deveis falar. Olhai o vosso modelo, Jesus. Que dizia ele ao ver o malfeitor ao seu lado? Ele o lamentava; considerava-o um doente muito infeliz e estendia-lhe a mão. Na realidade, tal não podeis fazer, mas ao menos podeis orar por esse infeliz e assistir o seu Espírito nos momentos que ainda deve passar na Terra. O arrependimento pode tocar o seu coração se orardes com fé. Ele é vosso próximo, tanto quanto o melhor dos homens. Sua alma transviada e revoltada foi criada, como a vossa, à imagem de Deus perfeito. Assim, orai por ele. Não o julgueis, pois não o deveis. Só Deus o julgará.



ELISABETH DE FRANÇA



ALLAN KARDEC[4]


[1] Esta dissertação foi inserida no Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo XI, item 15, com o subtítulo “Deve-se expor a vida por um malfeitor?”

[2] Seu nome era Elisabeth-Philippine-Marie-Helène. Nasceu no palácio de Versailles em 1764, tendo sido a última filha do Delfim Louis e de Marie Josephine de Saxe e, portanto, irmã de Luís XVI. Ficou órfã aos três anos de idade. Subindo ao trono, Luís XVI lhe deu o Castelo de Montreuil, mas viveu sempre junto ao rei, sobre o qual exerceu influência benéfica. Recusou casar-se com o Infante de Espanha e com o Duque de Aosta. Foi aprisionada com a família real. Depois da execução de sua cunhada, a rainha Maria Antonieta, cuidava da sobrinha. Separada desta, foi encerrada na Conciergerie, levada ao tribunal revolucionário a 9 de maio de 1794 e decapitada no dia seguinte.

[3] Dissertação inserida no Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo XI, item 14, com o título “Caridade para com os criminosos.”

[4] Paris. Tipografia de Cosson & Cia. Rua do Four-St-Germain, 43.



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