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Estudando o Espiritismo
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terça-feira, 5 de fevereiro de 2013
Postulados Morais – Estudo – BEM E MAL
BEM E MAL
Iniciemos com a conceituação.
629. Que definição se pode dar da moral?
“A moral é a regra de bem proceder, isto é, de distinguir o bem do mal. Funda-se na observância da lei de Deus. O homem procede bem quando tudo faz pelo bem de todos, porque então cumpre a lei de Deus.”
(O Livro dos Espíritos)
Como regra básica, portanto, procede bem quem procura o bem comum. A noção de Bem e Mal está no homem como atributo de sua inteligência para discernir.
630. Como se pode distinguir o bem do mal?
“O bem é tudo o que é conforme à lei de Deus; o mal, tudo o que lhe é contrário. Assim, fazer o bem é proceder de acordo com a lei de Deus. Fazer o mal é infringi-la.”
631. Tem meios o homem de distinguir por si mesmo o que é bem do que é mal?
“Sim, quando crê em Deus e o quer saber. Deus lhe deu inteligência para distinguir um do outro.”
632. Estando sujeito ao erro, não pode o homem enganar-se na apreciação do bem e do mal e crer que pratica o bem quando em realidade pratica o mal?
“Jesus disse: vede o que queríeis que vos fizessem ou não vos fizessem. Tudo se resume nisso. Não vos enganareis.”
(O Livro dos Espíritos)
O homem tem a tendência de se autocorromper com falsas explicações para si mesmo acerca de seus abusos. O erro escusável é sempre aquele eventualmente cometido sem que se tenha (de verdade) noção da ilicitude, situação rara em que o elemento volitivo do ser parte de uma falsa percepção da realidade. Na grande maioria das vezes, o homem deixa de atender ao bom-senso e à voz interior que lhe aponta a limitação de sua conduta.
633. A regra do bem e do mal, que se poderia chamar de reciprocidade ou de solidariedade, não pode ser aplicada à conduta pessoal do homem para consigo mesmo. Encontra ele, na lei natural, a regra desta conduta e um guia seguro?
– Quando comeis demais, isso vos faz mal. Pois bem: é Deus que vos dá a medida do que vos falta. Quando a ultrapassais, saís punidos. O mesmo se dá com tudo o mais. A lei natural traça para o homem o limite das suas necessidades; quando ele o ultrapassa, é punido pelo sofrimento. Se o homem escutasse, em todas as coisas, essa voz que diz: Chega! evitaria a maior parte dos males de que acusa a Natureza.
(O Livro dos Espíritos – grifos originais)
Talvez uma das normas de conduta mais importantes: fazer ao próximo o que desejamos que nos façam. A distinção entre várias situações limítrofes e confusas tem aí o seu fundamento.
Uma abordagem muito importante foi feita por Kardec quanto à existência do Mal na natureza das coisas. A resposta dada pelos Espíritos é muito significativa, apontando expressamente a necessidade de experiência do ser tanto no Bem como no Mal.
634. Por que está o mal na natureza das coisas? Falo do mal moral. Não podia Deus ter criado a Humanidade em melhores condições?
“Já te dissemos: os Espíritos foram criados simples e ignorantes (115). Deus deixa que o homem escolha o caminho. Tanto pior para ele, se toma o caminho mau: mais longa será sua peregrinação. Se não existissem montanhas, não compreenderia o homem que se pode subir e descer; se não existissem rochas, não compreenderia que há corpos duros. É preciso que o Espírito ganhe experiência; é preciso, portanto, que conheça o bem e o mau. Eis por que se une ao corpo.” (119) (Grifei)
(O Livro dos Espíritos)
Disso advém a necessidade de um maior questionamento acerca da origem do Mal. Kardec volta a abordar o tema em A Gênese (pág. 69):
Sendo Deus o princípio de todas as coisas e sendo todo sabedoria,todo bondade, todo justiça, tudo o que dele procede há de participar dos seus
atributos, porquanto o que é infinitamente sábio, justo e bom nada pode produzir que seja ininteligente, mau e injusto. O mal que observamos não pode ter nele a sua origem.
RELATIVIDADE DO MAL
Após apontar a existência de dois tipos de Mal, (os evitáveis e os inevitáveis), Kardec propõe que o conceito em si de Mal é relativo. Uma circunstância muitas vezes pode aparentar ser um mal, quando, na verdade, se conhecidos fossem a causa, o objetivo e o resultado definitivo, seria tida como um bem.
O homem, cujas faculdades são restritas, não pode penetrar, nem abarcar o conjunto dos desígnios do Criador; aprecia as coisas do ponto de vista da sua personalidade, dos interesses factícios e convencionais que criou para si mesmo e que não se compreendem na ordem da Natureza. Por isso é que, muitas vezes, se lhe afigura mau e injusto aquilo que consideraria justo e admirável, se lhe conhecesse a causa, o objetivo, o resultado definitivo. Pesquisando a razão de ser e a utilidade de cada coisa, verificará que tudo traz o sinete da sabedoria infinita e se dobrará a essa sabedoria, mesmo com relação ao que lhe não seja compreensível.
(A Gênese – pág. 70)
É bem nesse contexto que podemos entender, pois, que a experiência no Mal leva ao Bem: dir-se-ia que circunstâncias tidas como males leva a um bem. Mesmo no que se refere à livres opções do ser, que freqüentemente o relega à dor por sua própria escolha, temos fatos e circunstâncias de aprendizado pela experiência. Muitos são os aspectos da vida em que o aprendizado não se opera senão à conta do treinamento inafastável e o respectivo esforço e dedicação. Vejamos adiante:
Um momento chega em que o excesso do mal moral se torna intolerável e impõe ao homem a necessidade de mudar de vida. Instruído pela experiência, ele se sente compelido a procurar no bem o remédio, sempre por efeito do seu livre-arbítrio. Quando toma melhor caminho, é por sua vontade e porque reconheceu os inconvenientes do outro. A necessidade, pois, o constrange a melhorar-se moralmente, para ser mais feliz, do mesmo modo que o constrangeu a melhorar as condições materiais da sua existência. (Grifei)
(A Gênese – pág. 72)
Tanto é verdade, que Kardec pronuncia uma das pedras basilares da conceituação espírita: o mal é a ausência do bem. Esse aspecto é de grande relevância por evidenciar que o Mal não é um atributo distinto do Bem.
Pode dizer-se que o mal é a ausência do bem, como o frio é a ausência do calor. Assim como o frio não é um fluido especial, também o mal não é atributo distinto; um é o negativo do outro. Onde não existe o bem, forçosamente existe o mal. Não praticar o mal, já é um princípio do bem. Deus somente quer o bem; só do homem procede o mal. Se na criação houvesse um ser preposto ao mal, ninguém o poderia evitar; mas, tendo o homem a causa do mal em SI MESMO, tendo simultaneamente o livre-arbítrio e por guia as leis divinas, evitá-lo-á sempre que o queira.
(A Gênese – pág. 72)
PAIXÕES
Ainda mais compreensível se torna a referida necessidade de experiência do ser tanto no Bem como no Mal quando verificamos o que Kardec fala das paixões e dos vícios:
Estudando-se todas as paixões e, mesmo, todos os vícios, vê-se que as raízes de umas e outros se acham no instinto de conservação, instinto que se encontra em toda a pujança nos animais e nos seres primitivos mais próximos da animalidade, nos quais ele exclusivamente domina, sem o contrapeso do senso moral, por não ter ainda o ser nascido para a vida intelectual. O instinto se enfraquece, à medida que a inteligência se desenvolve, porque esta domina a matéria. O Espírito tem por destino a vida espiritual, porém, nas primeiras fases da sua existência corpórea, somente a exigências materiais lhe cumpre satisfazer e, para tal, o exercício das paixões constitui uma necessidade para o efeito da conservação da espécie e dos indivíduos, materialmente falando. Mas, uma vez saído desse período, outras necessidades se lhe apresentam, a princípio semimorais e semimateriais, depois exclusivamente morais. É então que o Espírito exerce domínio sobre a matéria, sacode-lhe o jugo, avança pela senda providencial que se lhe acha traçada e se aproxima do seu destino final. Se, ao contrário, ele se deixa dominar pela matéria, atrasa-se e se identifica com o bruto. Nessa situação, o que era outrora um bem, porque era uma necessidade da sua natureza, transforma-se num mal, não só porque já não constitui uma necessidade, como porque se torna prejudicial à espiritualização do ser. Muita coisa, que é qualidade na criança, torna-se defeito no adulto. O mal é, pois, relativo e a responsabilidade é proporcionada ao grau de adiantamento.
(A Gênese – pág. 73). (Grifei)
Eis que o mal (ou, melhor dizendo, muito do que é tido como mal) é uma fase do desenvolvimento do ser. O que outrora era um bem, torna-se um mal, conforme o ser deixa a animalidade e adentra à noção de si conforme o seu grau de adiantamento.
Todas as paixões têm, portanto, uma utilidade providencial, visto que, a não ser assim, Deus teria feito coisas inúteis e, até, nocivas. No abuso é que reside o mal e o homem abusa em virtude do seu livre-arbítrio. Mais tarde, esclarecido pelo seu próprio interesse, livremente escolhe entre o bem e o mal.
(A Gênese – pág. 74)
A situação do ser enquanto ainda nos limites mais primitivos é destacada por Kardec em O Céu e o Inferno:
Como prova da sua inocência, o quadro dos homens primitivos extasiados ante a Natureza e admirando nela a bondade do Criador é, sem dúvida, muito poético, mas pouco real. De fato, quanto mais se aproxima do primitivo estado, mais o homem se escraviza ao instinto, como se verifica ainda hoje nos povos bárbaros e selvagens contemporâneos; o que mais o preocupa, ou, antes, o que exclusivamente o preocupa é a satisfação das necessidades materiais, mesmo porque não tem outras.
O único sentido que pode torná-lo acessível aos gozos puramente morais não se desenvolve senão gradual e morosamente; a alma tem também a sua infância, a sua adolescência e virilidade como o corpo humano; mas para compreender o abstrato, quantas evoluções não tem ela de experimentar na Humanidade! Por quantas existências não deve ela passar!
(O Céu e o Inferno – pág. 115) (Grifei)
Mais adiante:
Se nos remontarmos a estes últimos (homens primitivos), então, surpreendê-los-emos mais exclusivamente preocupados com a satisfação de necessidades materiais, resumindo o bem e o mal neste mundo somente no que concerne à satisfação ou prejuízo dessas necessidades.
(O Céu e o Inferno – pág. 116)
Assim Kardec identifica a causa de prevalecer no homem primitivo, conforme ganha mais responsabilidade por seu adiantamento, uma tendência ao mal.
Mas o homem é comumente mais sensível ao mal que ao bem; este lhe parece natural, ao passo que aquele mais o afeta. Nem por outra razão se explica, nos cultos primitivos, as cerimônias sempre mais numerosas em honra ao poder maléfico: o temor suplanta o reconhecimento.
(O Céu e o Inferno – fl. 117)
É o grau de responsabilidade que vai definir se a conduta assumida pelo ser será tida à conta de bem ou mal.
636. O bem e o mal são absolutos para todos os homens?
– A lei de Deus é a mesma para todos; mas o mal depende, sobretudo, da vontade que se tenha de fazê-lo. O bem é sempre bem e o mal sempre mal, qualquer que seja a posição do homem; a diferença está no grau de responsabilidade.
637. O selvagem que cede ao seu instinto, comendo carne humana, é culpado?
– Eu disse que o mal depende da vontade. Pois bem: o homem é tanto mais culpado, quanto melhor sabe o que faz.
As circunstâncias dão ao bem e ao mal uma gravidade relativa. O homem comete, freqüentemente, faltas que, sendo embora decorrentes da posição em que a sociedade o colocou, não são menos repreensíveis; mas a responsabilidade está na razão dos meios que ele tiver para compreender o bem e o mal. E assim que o homem esclarecido que comete uma simples injustiça é mais culpável, aos olhos de Deus, que o selvagem que se entrega aos instintos.
(O Livro dos Espíritos – grifei)
Isso remete ao exame da questão do livre-arbítrio.
LIVRE-ARBÍTRIO
É muito difícil entender exatamente em que ponto o ser adquire discernimento suficiente para identificar o caráter ilícito de uma conduta, deixando de se arrastar pelos instintos para decidir sobre o que deve ou não ser feito. Kardec denomina paixões os impulsos que advêm do instinto de conservação, paixões cujo exercício constituem uma necessidade para o atendimento das necessidades materiais das primeiras fases da existência corpórea do Espírito. Em um dado momento, o ser entende que deve atender a essas necessidades ao mesmo tempo em que se vai estabelecendo uma escala de valores em sua incipiente capacidade de avaliação. O ser passa a considerar, desde os rudimentos mais simples, a idéia de certo e errado. Para cada aumento na capacidade de valorar entre certo e errado, aumenta-lhe simetricamente a responsabilidade pela decisão que tomar.
Essa responsabilidade progressiva a partir de certo grau traz a plena imputabilidade do ser humano como sujeito de acertos e desacertos, tornando-o o legítimo destinatário das conseqüências de seus atos.
O ensinamento ministrado no Capítulo VI de A Gênese foi assinado por Galileu (esse capítulo é textualmente extraído de uma série de comunicações ditadas à Sociedade Espírita de Paris, em 1862 e 1863, sob o título – Estudos uranográficos e assinadas GALILEU – nota à página 103). Ele revelou a temeridade de ofertar uma exposição clara e pretensamente completa acerca da conquista do livre-arbítrio pelos Espíritos. Ainda assim é um ensinamento profundo e que não podemos ignorar:
Até aqui, porém, temos guardado silêncio sobre o mundo espiritual, que também faz parte da criação e cumpre seus destinos conforme as augustas prescrições do Senhor.
Acerca do modo da criação dos Espíritos, entretanto, não posso ministrar mais que um ensino muito restrito, em virtude da minha própria ignorância e também porque tenho ainda de calar-me no que concerne a certas questões, se bem já me haja sido dado aprofundá-las.
Aos que desejem religiosamente conhecer e se mostrem humildes perante Deus, direi, rogando-lhes, todavia, que nenhum sistema prematuro baseiem nas minhas palavras, o seguinte: O Espírito não chega a receber a iluminação divina, que lhe dá, simultaneamente com o livre-arbítrio e a consciência, a noção de seus altos destinos, sem haver passado pela série divinamente fatal dos seres inferiores, entre os quais se elabora lentamente a obra da sua individualização. Unicamente a datar do dia em que o Senhor lhe imprime na fronte o seu tipo augusto, o Espírito toma lugar no seio das humanidades.
De novo peço: não construais sobre as minhas palavras os vossos raciocínios, tão tristemente célebres na história da Metafísica. Eu preferiria mil vezes calar-me sobre tão elevadas questões, tão acima das nossas meditações ordinárias, a vos expor a desnaturar o sentido de meu ensino e a vos lançar, por culpa minha, nos inextricáveis dédalos do deísmo ou do fatalismo.
(A Gênese – pág. 117)
ABSTER-SE DO MAL NÃO BASTA
Considerando que a experiência do ser nos evos da evolução o faz progredir, uma vez atingida a noção de si mesmo e a consciência plena da do acerto ou desacerto das atitudes, nasce para ele a responsabilidade por tudo o que faz ou que deixa de fazer.
642. Será suficiente não se fazer o mal, para ser agradável a Deus e assegurar uma situação futura?
– Não: é preciso fazer o bem, no limite das próprias forças, pois cada um responderá por todo o mal que tiver ocorrido por causa do bem que deixou de fazer.
(O Livro dos Espíritos)
Ainda mais rigorosa é a Lei, porquanto assevera que o mérito pelo bem que se faça mede-se pela dificuldade de realizá-lo.
646. O mérito do bem que se faz está subordinado a certas condições, ou seja, há diferentes graus no mérito do bem?
– O mérito do bem está na dificuldade; não há nenhum em fazê-la sem penas e quando nada custa. Deus leva mais em conta o pobre que reparte o seu único pedaço de pão, que o rico que só dá do seu supérfluo. Jesus já o disse, a propósito do óbolo da viúva.
(O Livro dos Espíritos)
O ÓBOLO DA VIÚVA
E estando Jesus assentado defronte donde era o gazofilácio, observava ele de que modo deitava o povo ali o dinheiro; e muitos, que eram ricos, deitavam com mão larga. E tendo chegado uma pobre viúva, lançou duas pequenas moedas, que importavam um real. E convocando seus discípulos, lhes disse: Na verdade vos digo, que mais deitou esta pobre viúva do que todos os outros que deitaram no gazofilácio. Porque todos os outros deitaram do que tinham na sua abundância; porém esta deitou da sua mesma indulgência tudo o que tinha, e tudo o que lhe restava para seu sustento. (MARCOS, XI l: 41-44-LUCAS, XXI: 1-4).
Aqueles cuja intenção está isenta de qualquer idéia pessoal, devem consolar-se da impossibilidade em que se vêem de fazer todo o bem que desejariam, lembrando-se de que o óbolo do pobre, do que dá privando-se do necessário, pesa mais na balança de Deus do que o ouro do rico que dá sem se privar de coisa alguma. Grande seria realmente a satisfação do primeiro, se pudesse socorrer, em larga escala, a indigência; mas, se essa satisfação lhe é negada, submeta-se e se limite a fazer o que possa. Aliás, será só com o dinheiro que se podem secar lágrimas e dever-se-á ficar inativo, desde que se não tenha dinheiro? Todo aquele que sinceramente deseja ser útil a seus irmãos, mil ocasiões encontrará de realizar o seu desejo. Procure-as e elas se lhe depararão; se não for de um modo, será de outro, porque ninguém há que, no pleno gozo de suas faculdades, não possa prestar um serviço qualquer, prodigalizar um consolo, minorar um sofrimento físico ou moral, fazer um esforço útil. Não dispõem todos, à falta de dinheiro, do seu trabalho, do seu tempo, do seu repouso, para de tudo isso dar uma parte ao próximo? Também aí está a dádiva do pobre, o óbolo da viúva.
(O Evangelho Segundo o Espiritismo – págs. 216/217 – grifei).
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