Estudando o Espiritismo

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terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

O Bem e o Mal



Muitas questões acerca do bem e do mal podem surgir em nossos pensamentos. Vejamos como algumas dessas questões, formuladas em linguagem coloquial, são explanadas pela Doutrina Espírita.

Sugerimos, contudo, a leitura dos textos completos em “O Livro dos Espíritos” e demais obras a seguir citadas, pois não apenas as respostas, mas também as próprias perguntas de Allan Kardec aos Espíritos devem ser estudadas com atenção. A fim de obtermos os esclarecimentos que procuramos, devemos planejar e estudar as questões que formulamos.

O que é o mal?
“Pode dizer-se que o mal é a ausência do bem, como o frio é a ausência do calor. Assim como o frio não é um fluido especial, também o mal não é atributo distinto; um é o negativo do outro. Onde não existe o bem, forçosamente existe o mal. (...)” [1]

Foto: Hendrio Belfort
Deus criou o mal?
“Deus não criou o mal; Ele estabeleceu leis, e estas são sempre boas, porque Ele é soberanamente bom; aquele que as observasse fielmente, seria perfeitamente feliz; porém, os Espíritos, tendo seu livre-arbítrio, nem sempre as observam, e é dessa infração que provém o mal.” [2]

“Sendo Deus o princípio de todas as coisas e sendo todo sabedoria, todo bondade, todo justiça, tudo o que dele procede há de participar dos seus atributos, porquanto o que é infinitamente sábio, justo e bom nada pode produzir que seja ininteligente, mau e injusto. O mal que observamos não pode ter nele a sua origem.” [3]

Quais são as causas e origens do mal que aflige a Humanidade na Terra?
“A imperfeição dos Espíritos que aqui se encarnam, é a origem do mal na Terra (...). O nosso mundo pode ser considerado, ao mesmo tempo, como escola de Espíritos pouco adiantados e cárcere de Espíritos criminosos. Os males da nossa humanidade são a consequência da inferioridade moral da maioria dos Espíritos que a formam. Pelo contacto de seus vícios, eles se infelicitam reciprocamente e punem-se uns aos outros.” [4]

Mas, se Deus não criou o homem perfeito, não terá criado, ao menos, a causa do mal?
“Se fora criado perfeito, o homem fatalmente penderia para o bem. Ora, em virtude do seu livre-arbítrio, ele não pende fatalmente nem para o bem, nem para o mal. Quis Deus que ele ficasse sujeito à lei do progresso e que o progresso resulte do seu trabalho, a fim de que lhe pertença o fruto deste, da mesma maneira que lhe cabe a responsabilidade do mal que por sua vontade pratique. (...)” [5]

Deus não poderia ter criado a Humanidade mais avançada moralmente?
“Já te dissemos: os Espíritos foram criados simples e Ignorantes. (...) Deus deixa que o homem escolha o caminho. Tanto pior para ele, se toma o caminho mau: mais longa será sua peregrinação. (...) É preciso que o Espírito ganhe experiência; é preciso, portanto, que conheça o bem e o mal. Eis por que se une ao corpo.” [6]

Então somos destinados ao mal em algumas existências?
“Ninguém nasce destinado ao mal, porque semelhante disposição derrogaria os fundamentos do Bem Eterno sobre os quais se levanta a Obra de Deus. (...) Desse modo, ninguém recebe do Plano Superior a determinação de ser relapso ou vicioso, madraço ou delinquente, com passagem justificada no latrocínio ou na dipsomania, no meretrício ou na ociosidade, no homicídio ou no suicídio. Padecemos, sim, nesse ou naquele setor da vida, durante a recapitulação de nossas próprias experiências, o impulso de enveredar por esse ou aquele caminho menos digno, mas isso constitui a influência de nosso passado em nós, instilando-nos a tentação, originariamente toda nossa, de tornar a ser o que já fomos, em contraposição ao que devemos ser.” [7]

“É preciso fazermos uma distinção entre a alma e o homem. A alma é criada simples e ignorante, isto é, nem boa nem má, porém suscetível, em razão do seu livre-arbítrio, de seguir o bom ou o mau caminho, ou, por outra, de observar ou infringir as leis de Deus. O homem nasce bom ou mau, segundo seja ele a encarnação de um Espírito adiantado ou atrasado.” [8]

De onde vem a doutrina da luta entre forças do bem e do mal?
“(...) Durante muito tempo o homem não compreendeu senão o bem e o mal físicos; os sentimentos morais só mais tarde marcaram o progresso da inteligência humana, fazendo-lhe entrever na espiritualidade um poder extra-humano fora do mundo visível e das coisas materiais. Esta obra foi, seguramente, realizada por inteligências de escol, mas que não puderam exceder certos limites.
Provada e patente a luta entre o bem e o mal, triunfante este muitas vezes sobre aquele, e não se podendo racionalmente admitir que o mal derivasse de um benéfico poder, concluiu-se pela existência de dois poderes rivais no governo do mundo. Daí nasceu a doutrina dos dois princípios, aliás lógica numa época em que o homem se encontrava incapaz de, raciocinando, penetrar a essência do Ser Supremo. (...)
Para compreender como do mal pode resultar o bem, é preciso considerar não uma, porém, muitas existências; é necessário apreender o conjunto do qual — e só do qual — resultam nítidas as causas e respectivos efeitos.” [9]

Não podemos cometer um mal, pensando estar fazendo o bem?
“Jesus disse: vede o que queríeis que vos fizessem ou não vos fizessem. Tudo se resume nisso. Não vos enganareis.” [10]


Temos um guia a seguir para nos indicar estarmos fazendo o mal?
“Quando comeis em excesso, verificais que isso vos faz mal. Pois bem, é Deus quem vos dá a medida daquilo de que necessitais. (...) Se atendesse sempre à voz que lhe diz — basta, evitaria a maior parte dos males, cuja culpa lança à Natureza.” [11]

Bem e mal são absolutos para todos?
“(...) O bem é sempre o bem e o mal sempre o mal, qualquer que seja a posição do homem. Diferença só há quanto ao grau da responsabilidade.” [12]

Como se afigura essa graduação de responsabilidade do mal?
“(...) a sua responsabilidade é proporcionada aos meios de que ele dispõe para compreender o bem e o mal. Assim, mais culpado é, aos olhos de Deus, o homem instruído que pratica uma simples injustiça, do que o selvagem ignorante que se entrega aos seus instintos.” [13]

Mas não pode haver algo que pareça um mal, e que depois vê-se ter sido um bem (do dito popular “há males que vêm para bem”)?
“(...) O homem, cujas faculdades são restritas, não pode penetrar, nem abarcar o conjunto dos desígnios do Criador; aprecia as coisas do ponto de vista da sua personalidade, dos interesses factícios e convencionais que criou para si mesmo e que não se compreendem na ordem da Natureza. Por isso é que, muitas vezes, se lhe afigura mau e injusto aquilo que consideraria justo e admirável, se lhe conhecesse a causa, o objetivo, o resultado definitivo. Pesquisando a razão de ser e a utilidade de cada coisa, verificará que tudo traz o sinete da sabedoria infinita e se dobrará a essa sabedoria, mesmo com relação ao que lhe não seja compreensível.” [14]

Como fica a situação de quem faz um mal pelas circunstâncias que outras pessoas o impuseram?
“O mal recai sobre quem lhe foi o causador. Nessas condições, aquele que é levado a praticar o mal pela posição em que seus semelhantes o colocam tem menos culpa do que os que, assim procedendo, o ocasionaram. Porque, cada um será punido, não só pelo mal que haja feito, mas também pelo mal a que tenha dado lugar.” [15]

Se eu não fiz um mal, mas tive proveito dele, tenho responsabilidade pelo mesmo?
“É como se o houvera praticado. Aproveitar do mal é participar dele. (...) Há virtude em resistir-se voluntariamente ao mal que se deseja praticar, sobretudo quando há possibilidade de satisfazer-se a esse desejo. Se apenas não o pratica por falta de ocasião, é culpado quem o deseja.” [16]

Somente não fazer o mal é o que Deus espera de nós?
“Não; cumpre-lhe fazer o bem no limite de suas forças, porquanto responderá por todo mal que haja resultado de não haver praticado o bem.” [17]

“(...) não fazer o bem já é um mal.” [18]

“Figurando o mal pelo negativo (-1) e o bem pelo positivo (+1), e o perdão pelo 0 (zero), temos as seguintes equações:
(-1) + (-1) = -2 - mal feito mais mal retribuído = mal duplo
(-1) + 0 = -1 - mal feito mais perdão = 1 mal
(-1) + (+1) = 0 - mal feito mais benefício prestado = mal anulado.
Então, matematicamente se prova que só o bem praticado em favor de quem nos faça o mal é que consegue extirpar a dor e o sofrimento da face da Terra.” [19]

A fixação no mal tem um mecanismo para acabar, ou o mal se autoalimenta indefinidamente?
“(...) Deus, todo bondade, pôs o remédio ao lado do mal, isto é, faz que do próprio mal saia o remédio. Um momento chega em que o excesso do mal moral se torna intolerável e impõe ao homem a necessidade de mudar de vida. Instruído pela experiência, ele se sente compelido a procurar no bem o remédio, sempre por efeito do seu livre-arbítrio. (...)” [20]

Há maior ou menor mérito no bem que se faça?
“O mérito do bem está na dificuldade em praticá-lo. Nenhum merecimento há em fazê-lo sem esforço e quando nada custe. Em melhor conta tem Deus o pobre que divide com outro o seu único pedaço de pão, do que o rico que apenas dá do que lhe sobra, disse-o Jesus, a propósito do óbolo da viúva.” [21]

(Passagem do óbolo da viúva: Marcos 12:41-44 e Lucas 21:01-04. Algumas traduções desses trechos bíblicos mantiveram as denominações originais da moeda da época, quais sejam, lepton e quadrante. Óbolo é uma unidade de massa padronizada na Grécia antiga, correspondente a 0,6 g. Um lepton, menor unidade monetária da época, tinha massa de 1,55 g; um quadrante, correspondente a dois lepta e a um quarto de um asse, tinham massa de 3 g; um asse ou as, massa de 10 g. Fonte: http://www.capuchinhos.org/siteantigo/porciuncula/biblia/suplementos.htm. A título de comparação com moedas atuais: a moeda de 1 real tem massa de 7 g, e a moeda de 1 centavo, massa de 2,43 g)
O que podemos fazer para melhor entender o bem e o mal e nos aperfeiçoarmos?
“Não somos perfeitos, eis o que é positivo; sabemos que nossas imperfeições são o único obstáculo à nossa felicidade futura; portanto, estudemo-nos, a fim de nos aperfeiçoarmos. No ponto em que estamos a inteligência está bastante desenvolvida para permitir ao homem julgar sensatamente o bem e o mal, e é também deste ponto que a sua responsabilidade é mais seriamente empenhada, já que não mais se pode dizer o que dizia Jesus: ‘Perdoai-lhes, Senhor, porque não sabem o que fazem.’” [22]

Eu fazer o bem, também faz bem para mim?
“A caridade jamais se acaba.
O bem que praticares, em algum lugar, é teu advogado em toda parte.
Através do amor que nos eleva, o mundo se aprimora.
Ama, pois, em Cristo, e alcançarás a glória eterna.” [23]

“Não será lícito, porém, esquecer que o bem constante gera o bem constante e, que, mantida a nossa movimentação infatigável no bem, todo o mal por nós amontoado se atenua, gradativamente, desaparecendo ao impacto das vibrações de auxílio, nascidas, a nosso favor, em todos aqueles aos quais dirijamos a mensagem de entendimento e amor puro, sem necessidade expressa de recorrermos ao concurso da enfermidade para eliminar os resquícios de treva que, eventualmente, se nos incorporem, ainda, ao fundo mental.
Amparo aos outros cria amparo a nós próprios, motivo por que os princípios de Jesus, desterrando de nós animalidade e orgulho, vaidade e cobiça, crueldade e avareza, e exortando-nos à simplicidade e à humildade, à fraternidade sem limites e ao perdão incondicional, estabelecem, quando observados, a imunologia perfeita em nossa vida interior, fortalecendo-nos o poder da mente na autodefensiva contra todos os elementos destruidores e degradantes que nos cercam e articulando-nos as possibilidades imprescindíveis à evolução para Deus.” [24]

Quando o bem prevalecerá na Terra?
“O exame daqueles que já viveram, provando que a soma da felicidade futura está na razão do progresso moral efetuado e do bem que se praticou na Terra; que a soma de desditas está na razão dos vícios e más ações, imprime em quantos estão bem convencidos dessa verdade uma tendência, assaz natural, para fazer o bem e evitar o mal.
Quando a maioria dos homens estiver convencida dessa ideia, quando ela professar esses princípios e praticar o bem, este, impreterivelmente, triunfará do mal aqui na Terra; procurarão os homens não mais se molestarem uns aos outros, regularão suas instituições sociais — tendo em vista o bem de todos e não o proveito de alguns; em uma palavra, compreenderão que a lei da caridade ensinada pelo Cristo é a fonte da felicidade, mesmo neste mundo, e assim basearão as leis civis sobre as leis da caridade.” [25]


Leia também, neste blog, as postagens “O Céu e o inferno”, “A lei de talião”, “Pecado — Hamartia — Peccatu”, “A Influência de ‘Maus’ Espíritos” , “Maus Pensamentos”, “Amar o Próximo” e “A Prova da Escolha das Provas”.


Bons estudos!
Carla e Hendrio


Referências:

[1] KARDEC, Allan. “A Gênese”. 34ª ed. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 1991. Capítulo III (“O Bem e o Mal”), item 8.
[2] KARDEC, Allan. “O Que É o Espiritismo”. 53ª ed. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 2005. Capítulo III (“Solução de alguns problemas pela Doutrina Espírita”), item 129.
[3] KARDEC, Allan. “A Gênese”. 34ª ed. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 1991. Capítulo III (“O Bem e o Mal”), item 1.
[4] KARDEC, Allan. “O Que É o Espiritismo”. 53ª ed. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 2005. Capítulo III (“Solução de alguns problemas pela Doutrina Espírita”), itens 131 e 132.
[5] KARDEC, Allan. “A Gênese”. 34ª ed. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 1991. Capítulo III (“O Bem e o Mal”), item 9.
[6] KARDEC, Allan. “O Livro dos Espíritos”. 66ª ed. Rio de Janeiro: RJ, FEB: 1987. Questão 634.
[7] XAVIER, Francisco Cândido. “Evolução em Dois Mundos”. Pelo Espírito André Luiz. 14ª ed. Rio de Janeiro, RJ: 1995. Capítulo XVIII, “Evolução e destino”.
[8] KARDEC, Allan. “O Que É o Espiritismo”. 53ª ed. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 2005. Capítulo III (“Solução de alguns problemas pela Doutrina Espírita”), item 130.
[9] KARDEC, Allan. “O Céu e o Inferno”. 37ª ed. Rio de Janeiro, RJ: 1991. 1ª Parte, Capítulo IX (“Os Demônios”), itens 3 e 4.
[10] KARDEC, Allan. “O Livro dos Espíritos”. 66ª ed. Rio de Janeiro: RJ, FEB: 1987. Questão 632.
[11] Ibidem, Questão 633.
[12] Ibidem, Questão 636.
[13] Ibidem, Questão 637.
[14] KARDEC, Allan. “A Gênese”. 34ª ed. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 1991. Capítulo III (“O Bem e o Mal”), item 3.
[15] KARDEC, Allan. “O Livro dos Espíritos”. 66ª ed. Rio de Janeiro: RJ, FEB: 1987. Questão 639.
[16] Ibidem, Questões 640 e 641.
[17] Ibidem, Questão 642.
[18] Ibidem, Questão 657.
[19] PASTORINO, Carlos Torres. “Sabedoria do Evangelho”. Rio de Janeiro, RJ: Sabedoria, 1964. Volume 2, capítulo “Amor ao Próximo”.
[20] KARDEC, Allan. “A Gênese”. 34ª ed. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 1991. Capítulo III (“O Bem e o Mal”), item 7.
[21] KARDEC, Allan. “O Livro dos Espíritos”. 66ª ed. Rio de Janeiro: RJ, FEB: 1987. Questão 646.
[22] KARDEC, Allan. “Revista Espírita de janeiro de 1864”. São Paulo, SP: IDE, 1993. Questões e Problemas – Progresso nas Primeiras Encarnações.
[23] XAVIER, Francisco Cândido. “Vinha de Luz”. Pelo Espírito Emmanuel. 14ª ed. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 1996. Capítulo 168.
[24] XAVIER, Francisco Cândido. “Evolução em Dois Mundos”. Pelo Espírito André Luiz. 14ª ed. Rio de Janeiro, RJ: 1995. Capítulo XX, “Invasão microbiana”.
[25] KARDEC, Allan. “O Que É o Espiritismo”. 53ª ed. Rio de Janeiro, RJ: FEB, 2005. Capítulo II (“Noções elementares de Espiritismo”), item 100 (“Consequências do Espiritismo”).


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