Ora, em Jerusalém há, próximo à Porta das Ovelhas, um tanque, chamado em hebreu Betesda, o qual tem cinco alpendres. 3 Nestes jazia grande multidão de enfermos: cegos, coxos e paralíticos, esperando o movimento das águas. 4 Porquanto um anjo descia em certo tempo ao tanque e agitava a água; e o primeiro que ali descia, depois do movimento da água, sarava de qualquer enfermidade que tivesse. 5 E estava ali um homem que, havia trinta e oito anos, se achava enfermo. 6 E Jesus, vendo este deitado e sabendo que estava neste estado havia muito tempo, disse-lhe: Queres ficar são? 7 O enfermo respondeu-lhe: Senhor, não tenho homem algum que, quando a água é agitada, me coloque no tanque; mas, enquanto eu vou, desce outro antes de mim. 8 Jesus disse-lhe: Levanta-te, toma tua cama e anda. 9 Logo, aquele homem ficou são, e tomou a sua cama, e partiu. E aquele dia era sábado.
Ora em Jerusalém há, próximo à porta das ovelhas, um tanque, chamado em hebreu Betesda, o qual tem cinco alpendres.
Ora em Jerusalém há, próximo à porta das ovelhas…
- Recordando o que já dissemos em outro momento; Jerusalém era a capital dos judeus; cidade de grande importância, era onde situava-se o Templo de Salomão. Era o centro de toda movimentação religiosa.
Hoje, buscando o sentido espiritual do Evangelho, é importante entendermos o significado do termo Jerusalém no que diz respeito às nossas necessidades em matéria de conquistas definitivas do Espírito.
Assim temos, que Jerusalém é o centro de nossas cogitações espirituais. Todas as vezes que nos situamos próximos dos valores imperecíveis, ou de acordo com as Leis Universais, estamos em nossa Jerusalém particular. A Nova Jerusalém da mensagem apocalíptica, nada mais é do que a edificação em nós do Reino do Senhor, ou seja, o momento em que o Filho do homem não estiver mais fora, mas dentro de cada um de nós.
Ora em Jerusalém há, próximo à porta das ovelhas…; havia a porta das ovelhas como também muitas outras, isto mostra-nos que se geograficamente esta era a realidade da "Cidade Santa", no campo íntimo podemos dizer que o mesmo se dá; ou seja, muitas são as portas em que podemos adentrá-la.
Torna-se importante não confundirmos porta com caminho. Este é um só, o do Evangelho. Entretanto, muitos são os meios de chegarmos até ele. O próprio Centro Espírita é uma porta para a nossa Jerusalém íntima; e quantas não são as portas por onde podemos adentrá-lo? Só para lembrarmos podemos dizer que temos a porta escola; a porta hospital; a porta caridade; e muitas outras de acordo as necessidades.
João, o mais rico em espiritualidade entre os evangelistas, nos diz que, em Jerusalém há… a porta das ovelhas.
A ovelha é um símbolo, de grande importância, do sacrifício cristão. Se a docilidade, a resignação, a paciência e a compreensão, são virtudes a serem conquistadas pelos discípulos do Nazareno de todas as épocas, nela encontramos todas estas qualidades. Todos os animais ao serem sacrificados reagem de forma negativa e até violenta, a ovelha aceita com tranquilidade e simplesmente chora em silêncio. O próprio Jesus foi o "Cordeiro" que Se deixou imolar.
Em Jerusalém há a porta das ovelhas, isto define que as nossas conquistas espirituais passam pela prática de todas as virtudes que este dócil animal representa; e podemos afirmar que esta não é uma simples porta, mas uma das mais significativas.
… um tanque, chamado em hebreu Betesda… - O tanque ou piscina, como em algumas traduções, era um reservatório destinado ao banho.
Havia uma crença na época, de que a água daquele tanque tinha poderes curativos; por isto, muitos enfermos iam ali buscar o alívio para suas dores.
A cura se dava pela imersão do enfermo na água. Esta é realmente muito utilizada como tratamento a várias doenças; já que devido à simplicidade de sua composição química, pode ser manipulada pela espiritualidade sem maiores dificuldades.
Tem também este líquido Divino, uma simbologia interessante no que diz respeito à cura; porque sendo a enfermidade uma sujidade do Espírito, tem ela o poder de lavá-lo, tirando-lhe as impurezas. Não é à toa que no livro "Nosso Lar", do Espírito André Luiz, temos a informação de que todos temos no tanque da vida uma roupa suja para lavar, referindo-se o orientador às nossas próprias imperfeições e compromissos mais imediatos.
Outra simbologia importante tem a água referindo-se ao processo reencarnatório. Jesus em Seu famoso diálogo com Nicodemus, afirmava que aquele que não nascesse de novo, não poderia ver o Reino de Deus, isto é, purificar-se. Dizendo ainda que, era preciso nascer da água e do espírito.
Se nascer do espírito podemos entender como renovar-se em valores relativos à espiritualidade do Ser, nascer da água nos fala mais propriamente da reencarnação, como meio de atingir este fim. Havia uma crença entre os judeus de que a vida vinha da água; o próprio Livro Sagrado nos diz em seus primeiros movimentos que no princípio, o Espírito de Deus se movia sobre a face das águas.
Além disto é fato conhecido de todos, que o nosso aparelho físico contém mais de setenta por cento de água em sua composição, e que ao reencarnarmos, todos viemos em uma bolsa envolvidos no líquido amniótico, que nada mais é do que água.
Betesda, que era o nome deste tanque, significa "casa de misericórdia", e podemos afirmar que nada expressa mais a Misericórdia do Criador do que a própria oportunidade reencarnatória, porque além de permitir a correção do que fizemos de errado, possibilita também que através deste processo nos curemos de todas as enfermidades, que na realidade são do Espírito e não do corpo.
…o qual tem cinco alpendres. – O alpendre era uma construção ao estilo da época, que além de proteger os que ali estavam, permitiam um relacionamento entre eles.
Seguindo o curso que estamos dando ao nosso estudo, podemos compará-los aos cinco sentidos, que durante o período de encarnação do Espírito, permite o contato com as criaturas e o mundo em si.
Importante salientar que este bom uso dos sentidos, gerando um relacionamento satisfatório, é prudente ao Espírito mesmo antes de encarnar, visto que muitas vezes, é através dele que o interessado consegue abono para efetivar o processo libertador.
Nestes jazia uma grande multidão de enfermos; cegos, mancos e ressicados, esperando o movimento das águas.
Nestes jazia uma grande multidão de enfermos… - Nestes, ou seja, no processo reencarnatório; jazia, isto é estava, ou ainda estão, numa posição não muito confortável; grande multidão de enfermos.
Grande multidão, porque são muitos, e de todas as espécies; de enfermos, ou ainda, de necessitados.
A encarnação do Espírito tem por principal objetivo a evolução deste. Acontece que, devido aos erros cometidos durante as oportunidades de volta à carne, a criatura se manifesta enferma em seu psiquismo, gerando com isso, a somatização destas moléstias, e, consequentemente, um processo expiatório, onde aquele que adoeceu no mundo, tem de nele buscar sua cura. Desta forma, o mundo físico, em planetas atrasados como o nosso, torna-se um gigantesco hospital, jazendo nestes uma grande multidão de enfermos.
…cegos, mancos e ressicados… - Na realidade entre os que se acham necessitados do processo palingenésico – os "filhos de mulher" referenciado pelo próprio Cristo -, acham-se enfermos de todas as modalidades, não só os aqui citados. Entretanto, cegos, mancos e ressicados, representam bem a totalidade de nossas deficiências.
Cegos são os de imperfeita visão espiritual, os que não têm bem desenvolvida a virtude da compreensão. Não enxergando bem, não veem os acontecimentos como eles se dão, deturpando muitas vezes os fatos, gerando males cada vez maiores.
Mancos são os que caminham com dificuldade. Possuem muitas vezes as duas pernas, mas não se equilibram bem nelas. Representam aqueles que não têm bem harmonizados as questões do sentimento e da razão. Ora erram pela excessiva predominância de um, ora de outro.
Ressicados são os secos de sentimento, os sem amor. Por serem excessivamente egoístas, agem somente de acordo com o interesse próprio, em prejuízo dos demais. Desta forma também têm dificuldades de se movimentarem, não tendo assim, bom trânsito entre as criaturas.
…esperando o movimento das águas. – Como já dissemos anteriormente, todos os males têm na reencarnação do Espírito seu melhor remédio.
Deste modo, temos no movimento das águas – processo reencarnatório -, o alívio de que necessitamos. Por sermos ainda bastante imperfeitos, estamos escravizados aos nossos próprios erros, não sendo assim, senhores dos acontecimentos.
O Evangelho é claro: esperando …, ou seja, temos de aguardar pelo instante propício, e pela Misericórdia do Criador, trabalhando em nós a virtude da paciência. Portanto, se estamos tendo a oportunidade agora, não a desprezemos, pois não sabemos quando será novamente o momento oportuno, ou quando a teremos de novo.
Porquanto um anjo descia em certo tempo ao tanque, e agitava a água, e o primeiro que ali descia, depois do movimento de água, sarava de qualquer enfermidade que tivesse.
Porquanto um anjo descia… - O anjo é um Espírito que já conquistou um determinado padrão evolutivo. Em vista disso, suas ações são caracterizadas pela liberdade, e pela consciência do que faz.
O verbo "descer" expressa uma ação feita de cima para baixo. Não de uma forma impositiva, mas demonstrando uma atitude comum entre os mais evoluídos. Ou seja, a criatura deixa seu patamar de conquistas superiores já realizadas, em favor de um auxílio àqueles que por acharem-se em condições inferiores necessitam desta ajuda.
A evolução é assim, seu sentido é para cima, mas em sua mecânica temos que descer atendendo àqueles que estão abaixo, para que possamos alcançar níveis mais altos.
…em certo tempo ao tanque, e agitava a água… - Em certo tempo, porque em se tratando de ação feita por Espíritos mais evoluídos, tudo é programado, tem sempre a hora certa.
Esta ação do anjo descendo ao tanque, e agitando a água, representa bem a atitude dos guias espirituais organizando a reencarnação, auxiliando seus tutelados a conseguirem condições adequadas, visando as conquistas necessárias no plano físico; objetivando assim, escaladas a planos superiores; pois estes – os guias ou anjos da guarda – estudam minuciosamente cada caso, oferecendo o que há de melhor a seus protegidos.
…e o primeiro que ali descia… - Esta expressão define uma condição para receber o auxílio. Era preciso descer, ou seja, reencarnar. O verbo "descer" é mais uma vez bem empregado; pois a ação é mesmo de descida, visto que o plano espiritual é o de origem, o de condições melhores. Nascer, segundo os próprios Espíritos, é muito mais difícil e pior do que "morrer".
O advérbio primeiro, em matéria de reencarnação, não define que só este será o beneficiado, e sim nos adverte para a necessidade de esforço e de seleção; pois do mesmo modo que para chegar em primeiro no mundo é preciso passar por uma batalha e esforçar-se, no que se refere à reencarnação também é necessário o sacrifício e a renúncia de determinados valores.
…depois do movimento de água… - Depois do movimento de água, é findo o processo reencarnatório. É quando este já tiver cumprido o seu papel e não for mais necessário. Primeiro o trabalho, depois o salário. Aliás, como diz uma canção popular, "só fecha o seu livro quem já aprendeu…"
…sarava de qualquer enfermidade que tivesse. – Confirmação do que já dissemos; a reencarnação é remédio para qualquer enfermidade. Qualquer, aqui, designa todas; e sobre a enfermidade fica claro, todas podem e serão curadas, não havendo nas palavras de Jesus nada que abone o sofrimento eterno, pois este tendo origem em uma causa, cessa assim que se extinga o fato gerador.
E estava ali um homem que, havia trinta e oito anos, se achava enfermo.
E estava ali um homem… - Havia ali muitos enfermos, Jesus não curou a todos, mas na multidão destaca um. O texto evangélico não informa a quanto tempo ele aguardava, nem como tinha chegado àquele local, simplesmente diz: E estava ali um homem…
Muitas vezes, nós que também podemos auxiliar, visto que há muitos mais necessitados que nós mesmos, encontramos com um homem ou com outro, que merecendo atenção de nossa parte, não é apercebido. Em outros instantes, temos até o impulso de algo fazer, mas diante daquele que sem dúvida é instrumento de nosso progresso, insistimos em questionar: de onde veio? Por quê? Para onde? Será mesmo merecedor? Será que estamos agindo com prudência? E não nos deixando envolver na "compaixão samaritana", passamos de largo, e, criticando levitas e sacerdotes, fazendo uso de filosofias e ciências, simplesmente esquecemos, que estava ali um homem…
…que, havia trinta e oito anos, se achava enfermo. – Trinta e oito anos não são trinta e oito dias, mas tempo de longo sofrimento.
A enfermidade não é eterna, teve início e terá fim. Para aquele homem, iniciara a trinta e oito anos, este era o tempo que estava afastado das Leis Universais.
Em nossa faixa de evolução não fazemos ideia das coisas se não as sentirmos na própria pele. Assim, só valorizamos o alimento em períodos de fome; o companheirismo na solidão; a saúde, na doença.
Não temos como avaliar quais necessidades teve aquele paralítico; entretanto, durante aquele longo período de enfermidade, estamos certo de que, passando por dificuldades soube refletir, valorizar o bem, trabalhar seu sentimento, se preparar para um futuro melhor. …se achava enfermo, porém, estava pronto para a cura.
…e Jesus, vendo este deitado, e sabendo que estava neste estado havia muito tempo, disse-lhe: queres ficar são?
E Jesus, vendo este… - Jesus não viu apenas este, Seus olhos têm longo alcance; assim, viu a todos; entretanto, percebeu que este, era o que estava mais preparado para receber o que Ele tinha para dar. Era em quem a Vida já tinha trabalhado melhor os recursos divinos.
…deitado… - Apesar de já ver nele possibilidades, o Sublime Terapeuta detecta a causa de tanto sofrer: sua posição. Estava deitado, isto é, ocioso.
A Providência nos supre com os recursos de que necessitamos, porém, se não fazemos bom uso do que recebemos, criamos em nós verdadeira paralisia espiritual, e como tudo que não produz, também deterioramos.
A oportunidade desperdiçada trará portanto, a dificuldade restauradora, o silêncio reflexivo, a escassez necessária.
Só assim, necessitando do que já tivemos, aprenderemos, para o dia em que, certamente, de novo formos fartos.
…e sabendo que estava neste estado havia muito tempo… - Aquele que é maior sabe perfeitamente o que se passa com o menor. Deste modo, Jesus sabia através de um simples olhar, o que ia no íntimo de cada um, ou ainda, o de que ele realmente necessitava. Assim, vendo aquele homem deitado, tinha perfeito conhecimento de suas dores, e por quanto tempo estava naquele estado.
Da mesma forma acontece conosco, não adianta nos fazermos de cordeiros, quando na realidade ainda possuímos um lobo dentro de nós. Jesus, representado pelos nossos guias e mentores espirituais, sabe o de que necessitamos, e atende-nos do melhor modo visando nosso progresso. Portanto, ao invés de nosso habitual inconformismo, melhor seria demonstrarmos esforço em melhorarmo-nos, pois se o Senhor sabe nosso real estado, também saberá perceber nossas disposições em progredir.
Hoje, já mais conscientes também da nossa situação, é importante inquirir desde quando nos achamos nela; porém, mais urgente se faz perguntar-nos: até quando exigiremos daqueles que nos assistem espiritualmente, a paciência cristã?
É bom lembrar, que a vida é dinâmica, e tudo evolui, e que se não acompanharmos esta mecânica, estagnando-nos por muito tempo, grandes dificuldades virão, pois conforme nos afirma Aquele que conhece o princípio e o fim, toda a planta que meu Pai celestial não plantou, será arrancada.
…disse-lhe: queres ficar são? – Importante observar a pergunta feita por Jesus ao necessitado. O Mestre não lhe inquiriu sobre o seu passado, sobre sua posição social, nem muito menos sobre os erros que teria cometido, e que possivelmente dera origem àquele mau. Disse-lhe simplesmente, queres ficar são?
Isso mostra Sua objetividade em atendê-lo, e a Imensa Misericórdia de que se fazia portador.
Outro fator que deve ser notado, é que o Senhor coloca nas mãos do enfermo sua própria cura. Queres ficar são? Diz Ele, ensinando-nos que nossa felicidade, ou vitória sobre os momentos difíceis, depende de nós mesmos, a partir do modo em que conjugarmos o verbo querer.
A saúde é resultado do que fizermos; e a nossa ação será sempre direcionada pelo desejo, que se alimentado pela Boa Vontade de nos encaminharmos segundo a segurança cristã, trará benefícios plenos.
Portanto, a pergunta pode ser feira por qualquer um, até mesmo pelo Cristo, mas a resposta é individual, cabe a cada um de nós.
O enfermo respondeu-lhe: Senhor, não tenho homem algum que, quando a água é agitada, me meta no tanque; mas, enquanto eu vou, desce outro antes de mim.
O enfermo respondeu-lhe… - Enfermos somos todos nós que, habitando neste vale de sombras, temos imensas mazelas a sanar.
A uma pergunta ou a uma expectativa, sempre respondemos, independente de por quem é feita. Mas se numa ação mostramos um ponto que ainda podemos atingir, é na reação, ou melhor dizendo, na resposta, que demonstramos quem realmente somos.
Deste modo, ao sermos advertidos pela Vida com determinados chamamentos, lembremos que é ao Cristo que estamos respondendo, pois Ele é nosso Protetor e Amigo, é quem realmente cuida de tudo para que tenhamos sucesso em todas as nossas aspirações maiores.
…Senhor, não tenho homem algum que, quando a água é agitada, me meta no tanque… - Questões importantes devem ser por nós levantadas nesta resposta, fazendo um paralelo com a nossa situação atual.
Quantas vezes em nosso cotidiano, já possibilitados de algo fazer, ficamos simplesmente aguardando que o outro, ou um homem algum, venha por nós realizar, quando esta atitude cabe é a nós mesmos? Em outras situações, não muito diferentes, se não queremos que o semelhante tudo faça, aguardamos pelo menos que ele tome a iniciativa, para se for do nosso agrado, darmos continuidade. Ou ainda, em quantas ocasiões não responsabilizamos quem quer que seja pelos nossos fracassos, dizendo que se ele não agisse de tal forma nós não estaríamos passando por isso ou aquilo?
Lembremos sempre que o cristão tem por diferencial agir de acordo com o Bem e pelo Bem, e que se algo nos acontece, é da Lei que a causa foi gerada por nós mesmos, apesar de que momentaneamente possa não transparecer.
Outro fator que não podemos deixar de considerar, é quanto ao processo reencarnatório. Sabemos que reencarnar é uma necessidade devido às nossas complicações espirituais. Em contra partida sabemos também, que este não é um processo aleatório, e que dependa exclusivamente de nós mesmos; há interesses globais a serem atendidos.
Portanto, o mínimo que nos cabe fazer, é cultivar amizade e confiança entre aqueles com quem convivemos, pois podemos precisar deles para tomarmos um novo corpo; porque na condição de interventores, ou mesmo de pais ou irmãos, quem quererá abonar ou sacrificar-se por uma pessoa intransigente, intolerante e que ao invés de auxiliar, dificulta sempre as coisas? Não podemos esquecer, que tudo na vida, inclusive o companheirismo, deve ser cultivado.
Caso não realizemos de uma forma positiva, estaremos sempre na condição daquele enfermo, que diante da oportunidade da sua vida, disse:
Senhor, não tenho homem algum que, quando a água é agitada, me meta no tanque…
… mas, enquanto eu vou, desce outro antes de mim. – Outra situação que muito nos atrapalha é a questão da indecisão.
A vida, em se tratando das conquistas individuais, não é uma competição; pois o que temos de realizar cabe só a nós mesmos, e cada um tem o seu espaço e as suas necessidades.
Porém, do mesmo modo que em relação às conquistas materiais, no que se refere às do Espírito, temos de nos esforçar, perseverar, e acima de tudo ter decisão, porque uma oportunidade perdida, é sempre algo que se esvai, e que pode ser indício de muitas dores.
A tentativa daquele enfermo de justificar sua ociosidade, não pode se repetir conosco. Ele apesar de já trabalhado pelo sofrimento, ainda se mostrava indeciso, necessitado de despertamento.
De nossa parte é bom deixarmos a Boa Nova ressoar na acústica de nossa alma, a fim de que o Cristo interno se exteriorize em atitudes renovadas e produtivas, lembrando sempre a alerta do Senhor à igreja de Laodicéia:
Eu sei as tuas obras, que nem és frio nem quente: oxalá foras frio ou quente! Assim, porque és morno, e não és frio nem quente, vomitar-te ei da minha boca.
Jesus disse-lhe: Levanta-te, toma a tua cama, e anda.
Jesus disse-lhe: Levanta-te, toma a tua cama, e anda. – A orientação de Jesus é clara. Aquele homem estava enfermo havia trinta e oito anos, por se posicionar de maneira indevida diante da vida, O Mestre então lhe pergunta: queres ficar são? Ao que ele responde se desculpando, mostrando suas dificuldades.
Suas razões são até certo ponto lógicas e justas, mas isto se levarmos em consideração os valores do mundo. Entretanto, saúde não é conquista mundana, e sua aquisição é proporcional às virtudes conquistadas no que diz respeito aos bens do Reino. É então que o Divino Médico lhe propõe: esquece o mal, desvincule-se da retaguarda, saia da ociosidade, do comodismo; levanta-te… As dificuldades são reais, porém não desanime. Dificuldade não é empecilho, antes de tudo é oportunidade de exercitarmos nossa capacidade de resolvê-la. Só aquele que vence os obstáculos está realmente preparado e amadurecido para seguir adiante. Portanto, não só levante, mas também toma a tua cama, carregue a sua cruz, vença as intempéries. E anda, pois só tomando direção contrária aos erros, resgataremo-nos para a Vida, para a saúde, para a felicidade. Andar é caminhar, seguir adiante, para frente; é dinamizar toda a capacidade e recursos que dispomos, com um só objetivo: nos reintegrarmos na Vida Plena.
Logo aquele homem ficou são; e tomou a sua cama, e partiu. E aquele dia era Sábado.
Logo aquele homem ficou são… - O Evangelho se completa e se explica momento a momento. O evangelista não fala explicitamente que aquele homem se levantou, mas diz em outras palavras a mesma coisa: logo aquele homem ficou são.
Esta afirmativa vem confirmar a nossa anterior interpretação quando afirmamos que a causa da enfermidade era a própria ociosidade em que se achava aquele homem.
Conforme dizemos alhures segundo colocação do Espírito Joseph, saúde é a perfeita conexão entre a criatura e o seu Criador. Sendo Este, dinamismo constante – o meu Pai trabalha até agora, e eu trabalho também -, se quisermos estar integrados Nele, é imperioso que também estejamos nos movimentando em favor do Bem.
O fato se deu deste modo: Jesus percebendo a causa, disse ao enfermo: levanta-te… E ele influenciado pelo magnetismo superior do Divino Terapeuta, levantou e logo, isto é imediatamente, ficou são. Em outras palavras, curou-se daquele mal.
…e tomou a sua cama… - Curar-se não significa estar com saúde. Pode simplesmente ser um alívio temporário, que se não devidamente cuidado, venha a se tornar problema num instante próximo.
Uma das grandes dificuldades da medicina atual, é que geralmente ela trata da doença, quando na realidade deveria tratar é do "doente". O ser humano não é simplesmente um aglomerado de células, mas um ser complexo onde Espírito, perispírito, corpo, meio ambiente, experiências pregressas e muitas outras coisas interagem, criando necessidades e soluções numa só direção: o progresso do Espírito.
Portanto, ao levantar, isto é, decidir pela movimentação, é necessário dar uma direção segura à caminhada; e assim, tomar a sua cama. Sua, porque é a de cada um, necessidade individual; e desta forma não só curar-se, mas também manter seu estado de saúde. A cama é a dificuldade, é o compromisso particular, inadiável.
…e partiu… - Isto é, saiu deixando para trás as lamentações, as dificuldades que o impediam caminhar e foi, segundo orientação do próprio Jesus, buscar uma nova vida, baseado em princípios diferentes daqueles que conhecia anteriormente.
O mesmo acontece conosco toda vez que, reconhecendo um erro, ou determinadas vinculações ligadas à retaguarda, e que atrasam o nosso processo evolutivo, desligamos delas, interessando-nos por construir um homem novo, partindo-nos assim para vencer o velho que ainda existe em nós.
E aquele dia era Sábado. – Dia ou momento em que completamos um determinado ciclo em matéria de evolução. Não é ociosidade, mas a paz de termos cumprido um dever, qualificando-nos para realizações futuras. Paz esta que normalmente vem após uma "Sexta-feira" de crucificação de valores que até então eram considerados importantes, mas que hoje sabemos prejudiciais à efetivação do homem do Reino.
(Retirado do livro: "Jesus Terapeuta". Editora Itapuã)
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