A fé é um sentimento no qual estão envolvidas a razão e a intuição, ambas oriundas do Espírito. A fé cega era oriunda do medo e da ignorância, embotando a consciência para a percepção do divino.
Com a fé emocionalmente vivida temos a certeza, através de um sentimento profundo e inconfundível, da existência de Deus e de Sua presença em nós.
A importância que o Cristo deu à fé equipara-se à diferença em tamanho existente entre o grão de mostarda e uma montanha. Ele colocou a fé num patamar de potência inimaginável, pois deu-lhe um poder superlativo na vida do ser humano. Com ela seremos capazes de fazer mais do que imaginamos. Representa uma força interior mobilizadora de outras forças psíquicas. A dimensão dada pelo Cristo à fé equivale àquela que motiva a humanidade a acreditar no amanhã, a considerar que sempre há um futuro a nossa espera.
Ter fé não significa simplesmente acreditar em alguma coisa. Essa simples crença nem sempre nos coloca em contato com nossa essência divina ou mesmo com Deus.
A crença dogmática, pura e simples, serve como mecanismo de defesa, que não só impede o crescimento do Espírito, como também a mobilização de energias psíquicas a seu serviço. A fé deve ser consciente, raciocinada, como colocou Allan Kardec. Essa fé raciocinada é responsável pela motivação do Espírito para seu desenvolvimento espiritual. Ter fé é ir além da aparência externa, buscando as forças superiores da natureza. É penetrar o insondável pelas vias do corpo físico. É utilizar-se dos potenciais do Espírito, mobilizando outros Espíritos sintonizados no mesmo princípio motivador.
A fé é uma atitude psíquica consciente que coloca, através do Self, o ego em contato com a essência divina no próprio psiquismo. Ela permite uma motivação interna capaz de alavancar novas atitudes e disposições geradoras de estados psíquicos renovadores. Movimenta a energia psíquica a serviço do que existe de mais nobre no ser humano. Permite que se entre em contato consciente com a matéria prima de Deus no ser humano.
A afirmação categórica do Cristo pressupõe um grau de consciência imenso a respeito das ações humanas e suas possibilidades. Ao colocar essa afirmação na consciência do ser humano, Ele o preparou para os embates da vida, calçando-o para as provas inevitáveis do Espírito. Deu-lhe a certeza de que seu futuro não era a morte, mas a esperança de um mundo melhor e mais rico de espírito.
Essa colocação do Cristo funciona como um comando psíquico a fim de que o ser humano enraíze a certeza da existência de Deus. Funciona também como uma ponte entre o humano e o divino, entre a criatura e seu Criador.
De um ponto de vista psicológico, a fé permite a condição psíquica de redirecionar a ação dos complexos sobre a consciência. Nossos complexos existem em face dos processos vividos na atual e em encarnações anteriores, que permanecem latentes no inconsciente, atuando de forma a nos impulsionar para a vida. Todos temos complexos, não sendo necessariamente patológicos como se poderia pensar. São situações afetivas não resolvidas. O Cristo sinalizou para a fé como um mecanismo capaz de removê-los, isto é, removimentá-los para dissolvê-los. Dar-lhes nova direção a caminho da solução. A fé é capaz de fazê-lo, por ser um sentimento, isto é, ser dotada de um conteúdo emocional afetivo. Ela consegue mover o complexo, auxiliando a retirá-lo do inconsciente para a consciência.
A fé é uma importante âncora psíquica que serve de sustentáculo e base para a consolidação e eliminação das incertezas comuns ao ser humano. Prepara psicologicamente a mente para o contato com o mundo interno, preenchido pelos medos e angústias acumulados nas vidas sucessivas.
A fé remove as montanhas do orgulho, da vaidade, do egoísmo, dos medos e incertezas futuras. Por ser um sentimento, não se alcança sem a experiência. É conquista nobre do Espírito que já viveu situações onde ela foi, aos poucos, sendo estruturada. A fé bruta, cega, é fruto da ignorância, porém ela, ao ser vivida repetidas vezes, possibilita o surgimento da fé raciocinada e sentida. A fé cega, embora seja um desvio, pode ser considerada um embrião da fé raciocinada.
A fé cega cedeu lugar à fé raciocinada, que será completada com a emoção superior e a intuição do Espírito. A fé raciocinada não é o ápice do sentimento de fé. É apenas uma modalidade de fé que é qualitativamente superior à fé dogmática. Muito embora ela represente o primado da razão sobre a ignorância, não significa que se chegou ao sentimento profundo da existência e à presença de Deus.
O ser humano possui algo em sua essência psíquica que o move para a vida. Estudiosos da alma humana compararam isso a uma energia, denominando-a de energia psíquica. Na sua intimidade não se sabe o que é, porém funciona impulsionando o ser para o mundo. Todos a possuímos. Qualitativamente é da mesma espécie para todos. Quantitativamente não pode ser medida. Ela não pode ser dada ou recebida, pois cada um possui a sua como um fogo divino interior. A fé possui a propriedade de mobilizar a energia psíquica a serviço do Espírito.
Na recorrência a Deus, nos atos de humildade da vida, no respeito ao outro, na consciência da imortalidade, na percepção dos processos da Vida, na tolerância e paciência para com o semelhante, percebe-se a fé num indivíduo. São atos que envolvem o psiquismo humano numa aura de equilíbrio e harmonia, capacitando-o a viver seus processos de forma a enriquecer-se com eles, absorvendo-lhes o valor espiritual de que são portadores.
A fé mobiliza o indivíduo para objetivos nobres e superiores. Ela, como o amor, se constitui no mais alto grau de sentimento do humano, pela sua proximidade com o divino.
Disse o Cristo:”Nada vos será impossível”, referindo-se à fé. Não há dúvidas da capacidade e do poder da fé no ser humano. Transformá-la apenas em produto religioso de uma facção é diminuir-lhe o valor para a Vida como um todo. Ela foi e tem sido utilizada como instrumento a serviço da adaptação e inserção de crentes em segmentos religiosos, porém, ela é muito mais do que isso, face à sua eficácia curativa, renovadora e propulsora do progresso humano. Ela age no psiquismo desanuviando o inconsciente, mostrando à consciência suas ligações com a sombra.
A fé tem como uma das conseqüências a aproximação afetiva do obsessor e sua vítima, transformando antigas animosidades em respeito mútuo. Elimina a barreira que os complexos de ambos formavam e que impedia o entendimento e a aproximação. Constitui-se num poderoso preventivo às obsessões por colocar o Espírito em estado de paz e receptividade aos desafios da Vida. Condiciona emocionalmente o ego à percepção das intuições oriundas do Espírito, condutor real do processo evolutivo.
Ter fé é estar liberto dos receios quanto à morte, ao destino pessoal e às provas reencarnatórias. Quando colocamos a fé em Deus, na Vida, no futuro, no progresso, sentimos-nos livres para vencer os desafios inerentes ao estar encarnado. A fé predispõe o psiquismo ao amor incondicional.
A fé é certeza interna do amor de Deus.
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