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Estudando o Espiritismo
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segunda-feira, 17 de dezembro de 2012
Sede Perfeitos - Gregório
Sérgio Biagi Gregório
SUMÁRIO: 1. Introdução. 2. Conceito. 3. Progresso Material e Progresso Moral. 4. Do Ato Puro
à Potência do Ser: 4.1. Deus como Ato Puro; 4.2. Fomos Criados Potencialmente Perfeitos;
4.3. Causalidade. 5. O Imperativo da Perfeição: 5.1. Sede Perfeitos como Vosso Pai Celestial é
Perfeito; 5.2. A Caridade como Amor ao Próximo; 5.3. A Participação na Sociedade. 6.
Anotações de Obras Espíritas. 7. Conclusão. 8. Bibliografia Consultada.
1. INTRODUÇÃO
Jesus disse: "Sede perfeitos como vosso Pai celestial é perfeito". Como
analisar o imperativo da perfeição, contido nesta frase? Devemos estar sempre
nos aperfeiçoando? Não seria melhor fazer corpo mole, deixando o encargo
para outra encarnação? Trataremos, neste estudo, do progresso material e do
progresso moral, da potência e do ato e da correta ordenação da nossa
perfectibilidade.
2. CONCEITO
Perfeição – de perfectio designa o estado de um ser cujas virtualidades se
encontram plenamente atualizadas ou realizadas. Em teologia, plena
realização, sob o ponto de vista moral, consumação no bem que compete a
cada um possuir e atuar. Assim: "Todo o homem é chamado à perfeição ou
santidade".
Perfeccionismo – Psicologia. Excessiva exigência de perfeição para consigo
mesmo ou de outrem. O perfeccionismo manifesta-se numa sintomatologia
neurótica de colorido obsessivo.
Sede – Imperativo do verbo ser. Implica a idéia de ordem, de comando.
3. PROGRESSO MATERIAL E PROGRESSO MORAL
A humanidade tem sido influenciada, ao longo do tempo, por pensadores de
todos os matizes. Vejamos como isso se deu para nos desviar dos
ensinamentos de Jesus.
No início da era cristã, o progresso material era ainda rudimentar. Com avanço
da ciência, novas tecnologias se desenvolveram rapidamente. Isso não
deveria deturpar a boa convivência entre progresso material e progresso moral
evangélico. Contudo, a história mostra o contrário.
O racionalismo de Descartes (1596-1650), em que a razão sobrepuja todos os
outros tipos de conhecimento, foi a mola propulsora de todo o progresso
material subseqüente. A idéia central era a de que o progresso técnico,
propiciando maior produção e produtividade, traria maior bem-estar para
humanidade. Esta tese coloca o esforço de consciência (característico do
Cristianismo) em segundo plano. Um dos maiores defensores da influência do econômico sobre a religião e as artes foi Marx. Isso não quer dizer que outros
também não o defenderam. Observe o Contrato Social de Rousseau. Para
Rousseau, o homem é fundamentalmente bom (no que aproxima do
Cristianismo) mas é a sociedade que o faz mau. Portanto, se melhorarmos a
sociedade, melhoraremos o homem. E como a sociedade é passível de ser
mudada por leis e decretos, o progresso seria a conseqüência inevitável
dessas mudanças assim orientadas. Um exemplo típico é a Revolução
Francesa, que se fundamentou em Leis para justificar as "violências
necessárias". Hobbes, por seu turno, afirma que "o homem é lobo do próprio
homem". A seleção natural das espécies, de Charles Darwin, em que as
espécies mais fortes resistem ao tempo, é passada para a sociedade como
uma corrida desenfreada e violenta na busca do melhor, de estar sempre
suplantando o outro, numa mostra clara da exclusão dos mais fracos. Tudo
isso nos fez esquecer dos ensinamentos de Cristo. (Enciclopédia Polis)
4. DO ATO PURO À POTÊNCIA DO SER
4.1. DEUS COMO ATO PURO
A Filosofia proporciona-nos um raciocínio lógico, que pode nos auxiliar a
entender o processo de evolução do Espírito. Ela nos informa que todas as
coisas estão tanto em ato (que é) como em potência (que poderá vir a ser).
Quando Aristóteles definiu Deus como ato puro, fê-lo porque tinha certeza que
não havia nenhum ato anterior a Deus, o Criador. A palavra Je-ho-vá (Jeová,
Deus dos Judeus), por exemplo, é um ato puro, pois, em hebraico, quer dizer é,
foi, será. Do exposto, depreende-se que o Espírito não pode ser ato puro,
mas um ato criado por um Ser Supremo. O Espiritismo nos ensina que de Deus
vertem-se dois princípios: o princípio espiritual e o princípio material, que
individualizados formam, respectivamente, o Espírito e a Matéria. Em seu
processo evolutivo, o Espírito vai sempre precisar da matéria, pois dela se
serve para a sua manifestação.
4.2. FOMOS CRIADOS POTENCIALMENTE PERFEITOS
Deus, quando nos criou, criou-nos simples e ignorantes, ou seja,
potencialmente perfeitos. Os Espíritos superiores, no início de nossa
caminhada espiritual, guiaram os nossos passos como um pai segura as mãos
de seu filho. Com o passar do tempo, eles nos deixaram entregues ao nosso
livre-arbítrio, com a responsabilidade pelas ações realizadas. Assim sendo, em
cada encarnação nós vamos atualizando a potência de perfeição que existe
em cada um de nós.
Nota: se Deus é o Criador, e o Criador é todo bondade e misericórdia, como
poderia ter criado um ser defeituoso, monstruoso?. Não faz sentido assim
pensar.
4.3. CAUSALIDADE
Há, na natureza, uma lei de causalidade, que nos mostra uma relação de
causa e efeito. A causa é ato anterior que tinha uma possibilidade de se atualizar. Para que a causa se atualize, ela precisa de fatores emergentes e de
fatores predisponentes. Os fatores emergentes dizem respeito à ordem interna
da causa; os fatores predisponentes, à ordem externa. Explicando melhor:
fatores emergentes – para que tenhamos uma pereira, precisamos lançar ao
solo uma semente de pereira, pois se lançarmos uma semente de abacate não
nascerá nenhuma pereira; fatores predisponentes – a semente de pereira,
apesar de ter potência de tornar-se pereira, precisa de terra, de ar, de sol, de
água. Sem estes, a pereira não surgirá. (Santos, s. d. p.)
Tomemos um indivíduo qualquer. Ao reencarnar ele traz em seu bojo os fatores
emergentes (prova pela qual deverá passar). Para passar por essa provação
precisa também dos fatores predisponentes (parentes, amigos, pessoa que
fabrica o alimento etc.)
5. O IMPERATIVO DA PERFEIÇÃO
"Amai os vossos inimigos; fazei o bem àqueles que vos odeiam e orai por
aqueles que vos perseguem e que vos caluniam; porque se não amais senão
aqueles que vos amam, que recompensa com isso tereis? Os publicanos não o
fazem o também? E se vós não saudardes senão vossos irmãos, que fazeis
nisso ais que os outros? Os Pagãos não o fazem também? Sede pois, vós
outros, perfeitos, como vosso pai celestial é perfeito". (Mateus, 5, 44, 46 a 48)
5.1. SEDE PERFEITOS COMO VOSSO PAI CELESTIAL É PERFEITO
A frase "Sede perfeitos como vosso Pai celestial é perfeito" mostra uma ordem,
uma ordenação dada por Jesus a todos os habitantes do Planeta Terra,
independente da seita ou da religião que professe. Pergunta-se: não sabia
Jesus que somos fracos e imperfeitos? Como pode Ele dar essa ordem
peremptória? Lógico que Ele sabia e sabe ainda, mas o problema é que fomos
criados à imagem e semelhança de Deus. Diante desta verdade, devemos
prestar contas ao Pai dentro do melhor nível de evolução que pudermos
alcançar. O modelo para chegarmos ao Pai é Jesus, porque, dentre os
encarnados, ele foi o Espírito mais evoluído que desceu neste Planeta. A sua
missão foi a de nos mostrar o caminho da salvação. Qual o exemplo que nos
deu? Sofreu perseguições, sarcasmos, blasfêmias e morreu na cruz. Tudo isso
para nos ensinar que o reino de Deus está dentro de nós e que só o
alcançaremos se seguirmos as suas pegadas.
5.2. A CARIDADE COMO AMOR AO PRÓXIMO
A perfeição de que Jesus nos ordena está centrada na caridade que fizermos
ao nosso próximo. Esta caridade deve ser exaltada para que culmine até no
amor ao inimigo. Quando ele nos conta a Parábola do Bom Samaritano, por
exemplo, faz-nos uma apologia do amor ao próximo, isento de preconceitos, de
segundas intenções. Evoca, também, a idéia de que a humanidade é mais
importante do que as crenças particulares.
5.3. A PARTICIPAÇÃO NA SOCIEDADE
Ninguém é uma ilha. Cada um de nós tem responsabilidade para com próximo
em termos dos pensamentos emitidos, tanto verbais como mentais. Nesse
mister, a aura do Planeta Terra nada mais é do que a soma de todas as
vibrações que emanam de seus habitantes. Assim, um único pensamento de
melhoria, lançado ao globo, pode ser fator desencadeante de perfeição do
planeta e do universo. Contudo, para que possamos emitir bons fluidos, é
necessário que saibamos ouvir com clareza a palavra de Deus; para isso,
devemos estar constantemente purificando o nosso vaso interior, pois o
conhecimento, que é sempre lançado puro, precisa de condições propícias
para o seu crescimento.
6. ANOTAÇÕES DE OBRAS ESPÍRITAS
1) O Evangelho Segundo o Espiritismo, de Allan Kardec, capítulo XVII
"Uma vez que Deus possui a perfeição infinita em todas as coisas, esta
máxima: "Sede perfeitos como vosso Pai celestial é perfeito", tomada ao pé da
letra, pressuporia a possibilidade de se atingir a perfeição absoluta. Se fosse
dado à criatura ser tão perfeita quanto o Criador, ele tornar-se-lhe-ia igual, o
que é inadmissível. Mas os homens aos quais Jesus se dirigia não teriam
compreendido essa nuança; ele se limitou a lhes apresentar um modelo e lhes
disse para se esforçarem por alcançá-lo."
2) O Mestre na Educação, de Pedro Camargo (Vinícius), páginas 37/47.
O Espírito do homem foi criado à imagem e semelhança de Deus: almeja
sempre o melhor. O Espírito não se acomoda com o menos: quer,
invariavelmente, mais.
Não se trata de uma modificação parcial ou relativa, porém contínua e
progressiva demandando a perfeição suprema.
"Os verdadeiros sacerdotes do Cristianismo de Jesus, não são, portanto, os
que se dedicam às cerimônias e aos ritualismos do culto exterior, mas sim os
educadores, cônscios do seu papel, que procuram pela palavra e pelo
exemplo, despertar os poderes internos, as forças espirituais latentes dos seus
educandos".
3) O Sermão da Montanha, de Rodolfo Calligaris, página 101.
"Em seu desvario, cada qual cuida apenas de salvar as aparências, de evitar
escândalo, procurando ocultar ou disfarçar habilmente seus erros e defeitos,
para ser tido por pessoa de bem, para que a sociedade forme dele um bom
conceito, e, satisfeito com isso, assim atravessa toda a existência, mascarado,
aparentando o que não é".
4) Contos Desta e de Outra Vida, de Irmão X, capítulo 40 (Grupo Perfeito).Dona Clara, dama inteligente e distinta, faz diversas inquirições ao Espírito
Júlio Marques, incorporado na médium Maria Paula, a respeito de se criar um
grupo perfeito. Depois de muito diálogo, disse:
"— Posso contar com o senhor?
— Ah! Filha, não me vejo habilitado...
— Ora essa! Porquê?
— Sou um Espírito demasiadamente imperfeito... Ainda estou muito ligado à
Terra.
— Mas, recebemos tantos ensinamentos de sua boca!
— Esses ensinamentos não me pertencem, chegam dos mentores que se
compadecem de minha insuficiência... brotam em minha frase como a flor que
desponta de um vaso rachado. Não confunda a semente, que é divina, com a
terra que, às vezes, não passa de lama...
— Então, o irmão Júlio ainda tem lutas por vencer?
— Não queira saber, minha filha... Tenho a esposa, que prossegue viúva em
dolorosa velhice, possuo um filho no manicômio, um genro obsedado, dois
netos em casa de correção... Minha nora, ontem, fez duas tentativas de
suicídio, tamanhas as privações e provocações em que se encontra. Preciso
atender aos que o Senhor me concedeu... Minhas dívidas do passado
confundem-se com as deles. Por isso, há momentos em que me sinto fatigado,
triste... Vejo-me diariamente necessitado de orar e trabalhar para restabelecer
o próprio ânimo... Como verifica, embora desencarnado, sofro abatimentos e
desencantos que nem sempre fazem de mim o companheiro desejável."
Continuando a sua conversa, pergunta se o irmão Júlio não sabe de algum
grupo sem defeito. Ele responde que algum grupo como esse solicitado só
pode ser o grupo de Nosso Senhor Jesus-Cristo".
7. CONCLUSÃO
O progresso material, pelas suas facilidades, tem nos distanciado de nós
mesmos, de nossa interioridade. Convém, para o nosso próprio bem, que
saibamos nos isolar do corre-corre e do diz-que-diz, a fim de acharmos tempo
para o cultivo de nossa alma imortal.
8. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
CALLIGARIS, Rodolfo. O Sermão da Montanha. 3. ed., Rio de Janeiro: FEB,
1974.
CAMARGO, Pedro (Vinícius). O Mestre na Educação. Rio de Janeiro: FEB,
1976.
KARDEC, A. O Evangelho Segundo o Espiritismo. 39. ed. São Paulo: IDE, 1984.
POLIS - ENCICLOPÉDIA VERBO DA SOCIEDADE E DO ESTADO. São
Paulo: Verbo, 1986.
XAVIER, F. C. Contos Desta e Doutra Vida, pelo Espírito Irmão X. 4. ed., Rio
de Janeiro: FEB, 1978.
São Paulo, setembro de 2003
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