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Estudando o Espiritismo
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domingo, 9 de dezembro de 2012
Desigualdades Sociais
Filosofia Social Espírita: análise das desigualdades sociais e das riquezas
1. Desigualdades Sociais
Os homens, incrédulos da providência divina se debatem em idéias materialistas sobre muitos pontos, e, no caso das desigualdades sociais culpam da divindade pelos seus infortúnios no âmbito social. Mas um exame apurado de questão nos revela outra situação bem diferente: as desigualdades sociais são “obra do homem” e não de Deus. A Lei de Igualdade, que é uma lei natural não poderia ter uma contrária à ela, Deus não poderia ser contraditório em suas leis, por isso, a desigualdade das condições sociais é uma lei anti-natural e contingente.
Allan Kardec interpela os Espíritos Superiores sobre a contingência das desigualdades sociais, ao que eles responderam: “De eterno não há senão as leis de Deus. Cada dia, não a vedes diminuir pouco a pouco? Essa desigualdade desaparecerá juntamente com a predominância do orgulho e do egoísmo, e não ficará senão a desigualdade de mérito. Um dia virá em que os membros da grande família filhos de Deus não se avaliarão pelo sangue mais ou menos puro. Não há senão o Espírito que é mais ou menos puro, e isso não depende da posição social”.
Todos os Espíritos têm o mesmo princípio e foram criados “simples e ignorantes”, então as desigualdades sociais não têm a sua gênese na origem dos Espíritos e sim no livre-arbítrio de que se serviram e as diferenças de aptidões oriundas da maior ou menor vivência do Espírito. Sobre isso, os Espíritos Superiores nos dizem: “Deus criou todos os Espíritos iguais, mas cada um deles, tem menor ou maior vivência e, por conseguinte, maior ou menor experiência. A diferença está no grau da sua experiência e da sua vontade, que é o livre-arbítrio: daí, uns se aperfeiçoam mais rapidamente e isso lhes dá aptidões diversas. A variedade das aptidões é necessária, a fim de que cada um possa concorrer aos objetivos da Providência no limite do desenvolvimento de suas forças físicas e intelectuais: o que um não faz, o outro faz. É assim que, cada um, tem um papel útil. Depois, todos os mundos sendo solidários uns com os outros, é preciso que os habitantes dos mundos superiores – e que, na maioria, foram criados antes do vosso -, venham aqui habitar para vos dar o exemplo”.
Urge compreendamos que, qualquer que seja a posição em que se achem situados, todos os homens são proletários da evolução e que a diversidade de funções no complexo social é tão indispensável à sua harmonia quanto as variadas finalidades dos órgãos o são ao equilíbrio de nosso organismo (As Leis Morais, Calligaris, pág. 138).
Muitos políticos, sociólogos, filósofos e pensadores de toda a ordem imaginam ser a igualdade absoluta uma boa resolução para sanar os problemas sociais, sobre isso, Emmanuel[1] aludi: “A concepção igualitária absoluta é um erro grave dos sociólogos, em qualquer departamento da vida. (...) Nessa questão existe uma igualdade absoluta de direitos dos homens perante Deus que concede a todos os seus filhos uma oportunidade igual nos tesouros inapreciáveis do tempo. Esses direitos são os da conquista da sabedoria e do amor, através da vida, pelo cumprimento do sagrado dever do trabalho e do esforço individual”.
Ainda sobre isso, Allan Kardec[2] pergunta aos Espíritos se a igualdade absoluta das riquezas sendo impossível, ocorre o mesmo com o bem-estar? E obteve a seguinte resposta: “Não, mas o bem-estar é relativo a seria possível a cada um, um dia, se todos o entendessem bem... porque o verdadeiro bem-estar consiste no emprego do tempo de acordo com a vontade, e não em trabalhos para os quais não se sente nenhum gosto. Como cada um tem aptidões diferentes, nenhum trabalho útil ficaria por fazer. O equilíbrio existe em tudo, é o homem quem quer alterá-lo”.
2. Desigualdade das Riquezas
Mesmo a desigualdade das riquezas não sendo obra de Deus, por ser perfeito, ele tudo aproveita para a evolução dos Espíritos, permitindo-os reencarnar na riqueza ou na miséria “para provar a cada um de maneira diferente, aliás, (...) são os próprios Espíritos que escolheram essa prova e, freqüentemente, nela sucumbem”, explica o item 814 de O Livro dos Espíritos.
Muitos se enganam quando tomam ao pé da letra as seguintes palavras de Jesus: “É mais fácil um camelo[3] passar pelo buraco de uma agulha, do que um rico entrar no reino dos céus[4]”, veremos que, conhecendo bem as paixões humanas Jesus sabia bem o que disse, mas, isso é mais um alerta do que um fato determinista.
Se a riqueza devesse ser um obstáculo absoluto à salvação daqueles que a possuem, assim como se poderia inferir de certas palavras de Jesus interpretadas segundo a letra e não segundo o Espírito, Deus, que a dispensa, teria colocado nas mãos de alguns um instrumento de perdição sem recursos, pensamento que repugna a razão. A riqueza, sem dúvida, é uma prova muito difícil, mais perigosa que a miséria pelos arrastamentos, as tentações que da e a fascinação que exerce; é o excitante supremo do orgulho (...) Mas do fato de tornar o caminho difícil, não se segue que o torne impossível, e não possa tornar-se um meio de salvação nas mãos daquele que dela sabe se servir, como certos venenos podem devolver a saúde, se são empregados a propósito e com discernimento (O Evangelho Segundo o Espiritismo, Kardec, cap. XVI, item 7).
Sobre as tentações a que o rico está exposto, Allan Kardec[5] perguntar aos Espíritos, se, por um lado ele não tem maiores meios para fazer o bem? A que os mesmo responderam: “É justamente isso o que sempre não faz. Ele se torna egoísta, orgulhoso e insaciável. Suas necessidades aumentam com sua fortuna, e crê não haver jamais o bastante só para ele”.
Allan Kardec[6] comenta: “A posição elevada neste mundo e a autoridade sobre seus semelhantes são provas tão grandes e tão difíceis quanto a miséria, porque, quanto mais se é rico e poderoso, mais se tem obrigações a cumprir e maiores são os meios para se fazer o bem e o mal. Deus experimenta o pobre pela resignação, e, o rico pelo uso que faz dos seus bens e do poder”.
A desigualdade das riquezas tem a sua origem no mesmo móvel que gerou todas as desigualdades sociais: o mau uso do livre-arbítrio e a imperfeição gerada pelo egoísmo.
A desigualdade das riquezas é um desses problemas que se tenta em vão resolver, se não se considera senão a vida atual. A primeira questão que se apresenta é essa: Por que todos os homens não são igualmente ricos? Não o são por uma razão muito simples: é que eles não são igualmente inteligentes, ativos e laboriosos para adquirir, nem moderados e previdentes para conservar. Aliás, é um ponto matematicamente demonstrado que a fortuna, igualmente repartida, daria a cada qual uma parte mínima e insuficiente; que, supondo-se essa repartição feita, o equilíbrio estaria rompido em pouco tempo, pela diversidade dos caracteres e das aptidões; que, supondo-se possível e durável, cada um tendo apenas com o que viver, isso seria o aniquilamento de todos os grandes trabalhos que concorrem para o progresso e o bem-estar da Humanidade; que, supondo-se que ela desse a cada um o necessário, não haveria mais o aguilhão que compele às grandes descobertas e aos empreendimentos úteis (...) (O Evangelho Segundo o Espiritismo, Allan Kardec, cap. XVI, item 8).
O homem não possui de seu senão o que pode levar deste mundo. O que encontra ao chegar, e o que deixa ao sair, goza durante a sua permanência na Terra; mas, uma vez que é forçado a abandoná-lo, dele não tem senão o gozo e não a posse real. Que possui ele, pois? Nada daquilo que é para uso do corpo, tudo o que é de uso da alma: a inteligência, os conhecimentos, as qualidades morais (...)[7]. Os bens da Terra pertencem a Deus, que os dispensa à sua vontade, e o homem deles não é senão o usufrutuário, o administrador mais ou menos íntegro e inteligente. Eles são tampouco a propriedade individual do homem, porque Deus, freqüentemente, frustra todas as previsões, e a fortuna escapa daquele que crê possuí-la pelos melhores títulos[8].
Não podeis servir a Deus e a Mamon; retende bem isto, vós a quem o amor ao ouro domina, vós que venderíeis vossa alma para possuir tesouros, porque eles podem vos elevar acima dos outros homens e vos dar as alegrias das paixões; não, não podeis servir a Deus e a Mamon! Se, pois, sentis vossa alma dominada pelas cobiças da carne, apressai-vos em sacudir o jugo que vos oprime, porque Deus, justo e severo, vos dirá: Que fizeste, dispenseiro infiel, dos bens que te confiei? Esse poderoso móvel das boas obras, não fizeste servir senão à tua satisfação pessoal. Qual é, pois, o melhor emprego da fortuna? Procurai nestas palavras: “Amai-vos uns aos outros”, a solução do problema (...)[9].
Para aquele que se coloca, pelo pensamento na vida espiritual que é indefinida, a vida corporal não é mais que uma passagem, uma curta estação num país ingrato. As vicissitudes e as tribulações da vida não são mais que incidentes que recebe com paciência, porque sabe que não são senão de curta duração, e devem ser seguidos de um estado mais feliz (...)[10]. Aquele que, enfim, está compenetrado de sua essência como Espírito, vê as provas da riqueza e da miséria como simples obstáculos a serem cumpridos para o seu aperfeiçoamento.
[1] O Consolador, Emmanuel, item 56.
[2] O Livro dos Espíritos, Allan Kardec, item 812.
[3] Corda robusta fabricada com fibras vegetais.
[4] São Mateus, cap. XIX, v de 16 a 24.
[5] O Livro dos Espíritos, Allan Kardec, item 816.
[6] O Livro dos Espíritos, Allan Kardec, comentário ao item 816.
[7] O Evangelho Segundo o Espiritismo, Allan Kardec, cap. XVI, item 9.
[8] O Evangelho Segundo o Espiritismo, Allan Kardec, cap. XVI, item 10.
[9] O Evangelho Segundo o Espiritismo, Allan Kardec, cap. XVI, item 11.
[10] O Evangelho Segundo o Espiritismo, Allan Kardec, cap. II, item 5.
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