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Estudando o Espiritismo
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terça-feira, 13 de novembro de 2012
Relacionamento entre pais e filhos
JOSÉ ARGEMIRO DA SILVEIRA
de Ribeirão Preto, SP
Um dos sérios problemas da atualidade é o relacionamento entre pais e filhos. O chamado conflito de gerações ocorre por toda parte, tanto nas classes pobres como nas mais altas e, mesmo, nas famílias que se empenham em dar boa formação moral aos filhos. Os desentendimentos, os atritos que surgem constituem, muitas vezes, verdadeiros desafios para os pais, Há casos em que se perguntam: "Onde foi que errei?"
Por que isto ocorre? Em primeiro lugar, é bom lembrar que "o corpo procede do corpo, mas o Espírito não procede do Espírito" 1. Pais de um bom nível evolutivo, intelectual e moralmente, podem receber como filhos Espíritos em estágio de evolução bem inferior, e vice-versa, seja por vinculações existentes, originadas no passado, seja como um trabalho que os mais evoluídos se dispõem a realizar em favor dos mais atrasados, para auxiliá-los. O agrupamento familiar nem sempre é constituído por almas afins; pode ocorrer o parentesco, a aproximação familiar de Espíritos em situação evolutiva diferente para que os mais atrasados aprendam na companhia dos mais adiantados.
Contudo, devemos ter sempre presente o importante papel da educação. Allan Kardec indagou aos instrutores espirituais se os pais exercem influência sobre os filhos, e obteve a seguinte resposta: "Exercem, e muito, pois como já dissemos, os Espíritos devem concorrer para o progresso recíproco. Pois bem: O Espírito dos pais tem a missão de desenvolver o dos filhos pela educação; isso é para ele uma tarefa. Se nela falhar, será culpado" 2. Portanto, a responsabilidade dos pais na formação moral dos filhos é grande, não só pelo que se ensina, ou se deixa de ensinar, mas, sobretudo, pelos exemplos, pois os filhos tendem a copiar o que os pais fazem, e não o que ensinam. Na Revista Espírita, de fevereiro/1864, o codificador do Espiritismo publicou um artigo sobre as "primeiras lições de moral da infância", em que comenta as atitudes incorretas dos pais, desenvolvendo nas crianças exatamente aquilo que deveria ser combatido. Inicia dizendo: "(...) De todas as chagas morais da sociedade parece que o egoísmo é a mais difícil de desarraigar. Com efeito, ela o é tanto mais quanto mais é alimentada pelos mesmos hábitos da educação. Parece que se toma a tarefa de, desde o berço, excitar certas paixões que, mais tarde, tornam-se uma segunda natureza". No caso dos pais espíritas, se efetivamente interessados em proporcionar uma boa formação moral aos filhos, a Doutrina oferece abundante material que pode facilitar bastante o trabalho. Além de muitos livros existentes sobre o assunto, recentemente foram lançados mais dois excelentes trabalhos que podem auxiliar os pais nas tarefas de educação. Educação do Espírito, de Walter Oliveira Alves (IDE de Araras) e A Educação Segundo o Espiritismo, de Dora Incontri, publicado pela Federação Espírita do Estado de São Paulo.
Se os pais podem aperfeiçoar o trabalho de educação dos filhos, por outro lado, os filhos - e aqui nos referimos aos jovens espíritas - devem refletir mais sobre os seus deveres para com os pais. O jovem espírita não se deve deixar influenciar pelas atitudes comportamentais dos seus colegas e amigos, que não possuem os esclarecimentos do Espiritismo. "O mandamento: Honra a teu pai e a tua mãe" é uma conseqüência da lei geral da caridade e do amor ao próximo, porque não se pode amar ao próximo sem amar aos pais. Mas o imperativo "honra implica um dever a mais para com eles: o da piedade filial" 3. Acentua, ainda, Allan Kardec, no texto citado: "(...) ao amor é necessário juntar o respeito, a estima, a obediência e a condescendência, o que implica a obrigação de cumprir para com eles, de maneira ainda mais rigorosa, tudo o que a caridade determina em relação ao próximo". Se o Espiritismo nos ensina a perdoar, a tolerar, a relevar as faltas do nosso semelhante, em se tratando dos pais esses ensinamentos devem ser observados de maneira mais cuidadosa, porque o filho, quer queira, quer não, é um devedor dos pais. É necessário considerar que os pais receberam outro tipo de educação, viveram sua mocidade em outra época, conseqüentemente suas experiências, o modo de analisar determinadas situações, é diferente. Muitas vezes os filhos não consideram as dificuldades que seus genitores viveram, os esforços que fizeram para proporcionar-lhes melhores condições de vida. Em vez de ser grato, reconhecido, muitas vezes o filho se torna um azedo crítico dos próprios pais.
Divaldo Franco, numa de suas palestras, contou a história verídica de uma mãe, em Salvador, mulher pobre, que vivia do seu modesto salário de lavadeira. Com enormes sacrifícios, conseguiu proporcionar ao filho a oportunidade de fazer uma faculdade. O filho se formou em medicina e, para surpresa de sua mãe, impediu que ela comparecesse à sua formatura, pois tinha vergonha de apresentá-la aos seus colegas e professores. Nós, filhos espíritas, é bom recordarmos sempre, através da leitura refletida, o conteúdo dos itens de n.° 1 a 4, cap. 14, do Evangelho Segundo o Espiritismo, para errarmos menos no nosso relacionamento com os nossos pais. E nos tornarmos mais atenciosos, mais amigos, compreensivos, respeitando-os como convém. "infeliz daquele que se esquece da sua dívida para os que o sustentaram na infância, os que, com a vida material, lhes deram também a vida moral e que freqüentemente se impuseram duras privações para lhes assegurar o bem-estar! Ai do ingrato, porque ele será punido pela ingratidão e o abandono; será ferido nas suas mais caras afeições, às vezes desde a vida presente, mas de maneira certa noutra existência, em que terá de sofrer o que fez os outros sofrerem!" 4
1 - O Livro dos Espíritos - A. Kardec, questão 207
2 - Idem, idem - questão 208
3 e 4 - Evangelho Segundo o Espiritismo -A. Kardec, cap. 14 - item 3
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