“...honra a teu pai e a tua mãe.” Lucas, 18:20.
Ninguém, em sã consciência, desprezaria aqueles que foram fundamentais para sua reencarnação, oportunidade de aprendizagem, crescimento e redenção espiritual. Os pais, conscientes ou não, são responsáveis pelo corpo físico de seus filhos. Razão primeira para que estes lhes sejam sempre gratos, independente das circunstâncias em que se deram gestação e nascimento.
Devemos obediência aos nossos pais e, quando da velhice, se não podem prover suas necessidades, é dever dos filhos prestar-lhes o auxílio necessário. No ciclo da Vida, amanhã, numa nova encarnação, poderemos recebê-los como parentes, na posição de seus pais, de seus filhos, companheiros, etc. A alternância de papéis proporciona o aprendizado de lições importantes para a evolução do Espírito.
Pai e mãe são os primeiros referenciais de que nos utilizamos para entender o mundo. São, independente de se fazerem presentes, os nossos guias psicológicos da infância e que nos acompanham e influenciam a vida adulta. Quando não os temos, tomamos aqueles que nos criam como se fossem nossos pais para que formemos o ego.
Quando fomos criados por Deus, simples e ignorantes, não tínhamos consciência da própria existência.
À medida que a evolução se processava, criava-se a consciência e estruturava-se o ego. A consciência é gerada pelo inconsciente, e não o inverso como afirmam algumas escolas psicológicas. Os comportamentos típicos desse começo eram: a busca por uma proteção e a necessidade de conhecer o mundo. A necessidade de realizar esses padrões típicos de comportamento se devem à existência, no psiquismo inconsciente, de uma estrutura arquetípica materna e paterna. Essas estruturas divinas deram origem ao modelo familiar matriarcal ou patriarcal.
Honrar pai e mãe não se trata apenas de lhes fazer reverência, mas, principalmente, de perceber que são
atitudes típicas do inconsciente, que, como sabemos, influenciam sobremaneira nossa vida consciente. A afirmação do Cristo nos leva a entender que devemos considerar a tendência interna de agir como pai e como mãe, uma forma coletiva de atuar. Muitas vezes, equivocadamente, levamos para nossas relações amorosas essa formas de atuar com o outro.
Saber ser pai e ser mãe representa uma conquista do Espírito. Não é apenas ter ou educar os filhos. São atitudes para com a Vida. Constantemente estamos sendo colocados nessa ou naquela posição, a fim de aprender, guiados pela tendência coletiva, a vivenciar aqueles papéis e, assim, apreender as leis de Deus.
Quem é pai sabe das responsabilidades para com filhos, do dever em lhes suprir as necessidades básicas, entre elas as de carinho e amor. Porém, além dessas, ser pai se constitui em assumir comportamentos típicos de quem se sente responsável pelo crescimento do outro, da sociedade e de si mesmo. É agir considerando que a felicidade em geral é sua responsabilidade pessoal, assumindo a responsabilidade pelo bem estar próprio e coletivo. É uma atitude para com o futuro. A atitude paterna é a de quem orienta, de quem ensina o sim e o não, de quem impulsiona para fora, de quem ensina a construir, de quem educa para a responsabilidade.
Ser mãe é acolher e proteger. As responsabilidades maternas são imensas e maiores que as de um pai, face, principalmente à responsabilidade pela gestação e nutrição da criança. Do ponto de vista espiritual, não se destaca o sentimento materno do paterno, pois o Espírito pode ter laços afetivos mais fortes tanto para com a mãe como para com o pai. Diz-se que ser mãe é representar a Deus na Terra. Independente das considerações positivas que se possa fazer ao papel da mãe, devemos considerar que essa é uma atitude que se pode adotar independentemente de ter filhos. A atitude materna é a de quem compreende, de quem nutre, de quem dá esperança, de quem ensina a sentir, de quem impulsiona para dentro, de quem acolhe, etc.
Portanto, ser pai ou ser mãe, são atitudes psíquicas coletivas com as quais devemos aprender a lidar na vida, a fim de conquistar o conhecimento de aspectos importantes das leis de Deus. Não são comportamentos que se tenha em face da existência de filhos, mas são tendências arquetípicas para com a Vida.
Quem sabe ser pai ou ser mãe, o é independente de ter filhos ou de que eles lhe pertençam, não sendo, portanto, imprescindível gerar filhos. O Espírito quando reencarna num corpo masculino não perde o sentimento de ser mãe, tampouco, quando retorna num corpo feminino o de ser pai. A capacidade de sê-los independe do corpo, por ser arquetípica no Espírito.
Honrar pai e mãe é valorizar a tendência arquetípica como um processo de aquisição de importantíssimas leis de Deus. Trata-se de uma forma de aquisição de conhecimento de como se processam certas leis de Deus. A sinalização do Cristo para esse particular da relação com as figuras parentais, nos faz crer que aquela atitude representa uma preparação para a percepção da possibilidade do ser humano co-criar no Universo. Ser pai e ser mãe é criar com Deus.
Geralmente as psicoterapias redutivas tentam colocar a culpa de nossos conflitos nos pais, principalmente na mãe. Como se ela fosse responsável direta pelos conflitos do Espírito, o qual, como sabemos, já traz suas problemáticas ao reencarnar. Nem sempre são os pais responsáveis pelos problemas dos filhos. Eles servem apenas como modelos vivos de representação para nossas projeções. São referenciais que, na maioria das vezes, prestam-se, sem o querer, a se tornarem símbolos vivos de nossos conteúdos inconscientes.
Quem é minha mãe e meus irmãos? Essa pergunta nos leva a entender que o Cristo quis mostrar de forma bem clara que as pessoas que nos servem de pai e mãe são distintas das imagens míticas que conservamos no consciente e no inconsciente. Os Espíritos que hoje são nosso pai ou nossa mãe possuem personalidades distintas daquelas que acreditamos que tenham, face à imagem que fazemos deles. Essas imagens diferem da realidade deles. Temos em nós modelos míticos de nossos pais. Temos um pai e uma mãe psicológicos que nem sempre correspondem àqueles Espíritos que eles são. Muitas vezes cobramos deles comportamentos ideais e não os perdoamos quando descobrimos que eles não atenderam às nossas expectativas.
Ao longo da reencarnação, o Espírito deve ir se desligando das relações dependentes com os pais e parentes sem se distanciar afetivamente deles. Eliminar aos poucos as projeções e começar a lidar com as verdadeiras personalidades que são, vendo-os como Espíritos em evolução. As dependências psicológicas das figuras parentais provocam a criação de expectativas quanto aos comportamentos que devam ter conosco, o que pode provocar frustrações e atritos diversos. Muitas vezes acreditamos que nossos pais são mais do que eles mesmos se mostram e lhes cobramos atitudes que correspondam aos modelos que idealizamos.
Muitas vezes, pela relação transferencial que tínhamos com pessoas, colocando-as em alta conta, afirmávamos idéias e tomávamos certas posições como se fossem dirigidas a qualquer ouvinte, porém o fazíamos por causa da afeição que a elas devotávamos. Quando nos desencantamos com aquelas pessoas, passamos a negar as mesmas idéias e posições que antes afirmávamos, dirigindo-nos psicologicamente, em nosso discurso, a elas. Criamos a fantasia e as derrubamos em função dos referenciais que constituímos, e isso fazemos, muitas vezes, com nossos pais.
Com as palavras do Cristo devemos aprender que existem uma figura paterna e uma figura materna no psiquismo humano. É um equívoco acreditar que elas sejam iguais entre si e ao que queremos que sejam.
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