Nossa Vida no Além
1) A Experiência de Quase Morte (EQM) (=NDE (Near Death Experience ) e o Processo do Morrer;2) A Travessia (percorrendo as várias dimensões); 3) Adaptação à Vida Espiritual. A EXPERIÊNCIA DE QUASE MORTE E O PROCESSO DO MORRER Um sem-número de pessoas, no mundo todo, já passou e outro tanto está passando, ou ainda vai passar, pela Experiência de Quase-Morte (EQM). Segundo um estudo notável feito pelo Instituto Gallup, tendo por base a população adulta dos EUA, 35% dos americanos que estiveram próximos da morte (o que corresponde a 8 milhões de pessoas) tiveram essa experiência.(1) Mas, o que é na verdade uma EQM? Raymond Moody Jr deu-nos um "modelo" para que tivéssemos uma idéia do que ocorre a uma pessoa que passa por essa vivência: (2) "Um homem está morrendo e, quando chega ao ponto de maior esgotamento ou dor física, ouve seu doutor declará-lo morto. Começa a escutar um ruído desagradável, um zumbido estridente, e, ao mesmo tempo, sente que se move rapidamente por túnel longo e escuro. Em seguida, encontra-se, de repente, fora do corpo físico, todavia em torno dele, vendo seu corpo do lado de fora como um espectador. Nesta posição privilegiada, observa a tentativa de ressuscitá-lo e encontra-se em um estado de excitação nervosa. Em um momento, fica calmo e começa a acostumar-se à sua estranha condição. Dá-se conta de que segue tendo um 'corpo', ainda que de natureza diferente, com poderes diferentes dos do corpo físico que deixou para trás. Em seguida, começa a acontecer algo. Outros vêm recebê-lo e saudá-lo. Vê os espíritos de parentes e amigos que já tinham morrido e aparece diante dele um espírito amoroso e cordial que nunca antes havia visto - um ser luminoso - . Este ser, sem utilizar a linguagem, pede-lhe que avalie sua vida e o ajuda, mostrando-lhe uma panorâmica instantânea dos acontecimentos mais importantes. Em determinado momento, encontra-se aproximando-se de uma espécie de barreira ou fronteira que parece representar o limite entre a vida terrena e a outra. Descobre que deve regressar à Terra, que o momento de sua morte ainda não chegou. Resiste porque começou a acostumar-se às experiências da outra vida e não quer regressar. Está inundado de intensos sentimentos de alegria, amor e paz. Apesar de sua atitude volta ao seu corpo físico e vive. Posteriormente, trata de falar com os outros, mas é problemático fazê-lo, já que não encontra palavras humanas adequadas para descrever os episódios não terrenos. Tropeça também com as piadas dos demais, por isso deixa de falar-lhes. Mas a experiência afeta profundamente a sua existência, sobretudo, as suas idéias sobre a morte e a sua relação com a vida". Nesse modelo, Moody procurou colocar os quinze elementos mais comuns encontrados nas muitas histórias que ouviu dos depoentes, apresentando-o como uma idéia preliminar e geral do que pode experimentar uma pessoa que está morrendo. No entanto, nunca encontrou ninguém que tivesse tido todos esses elementos na experiência do morrer. Segundo suas observações, não existe uma EQM idêntica à outra, ainda que as semelhanças sejam notáveis. Às vezes, podem ser encontrados somente dois desses elementos ou mais; em outros casos, a ordem não segue rigorosamente à do modelo. Quanto ao grau de profundidade da experiência, isto vai depender da real ocorrência de uma morte clínica e, neste caso, do tempo em que o paciente permanece nesse estado; quanto mais longo esse período, mais profunda será. Em geral, as pessoas que estiveram "mortas" dão um relato mais vívido e completo da experiência do que as que só estiveram próximas da morte. George G. Ritchie, psiquiatra norte-americano, relatou no livro Voltar do Amanhã, a EQM pela qual passou, aos 22 anos, nos 9 minutos em que foi considerado clinicamente morto (3). Ele conta, com todos os detalhes, a sua desabalada corrida, na tentativa de apanhar o trem e voltar para sua casa, no Estado da Virgínia, sem sucesso; o encontro com espíritos diversos, mas principalmente com o Ser de Luz, que emanava amor incondicional e que conhecia cada aspecto negativo do seu ser, cada pensamento, cada ação má e egoísta, desde o dia em que nasceu e o aceitava tal como era. Na presença desse Ser de Luz, recapitulou todas as cenas, que havia vivido em sua curta existência, em retrospectiva perfeita e detalhada. Enquanto fazia essa revisão total, uma pergunta insistente apresentava-se-lhe, com nitidez: O Que fez você de sua vida? A pergunta referia-se a valores, não a fatos: o que Você realizou com as cotas de tempo que lhe foram dadas ? O que fez do Amor em sua vida ? E ele tinha certeza de que o Amor solicitado era no sentido mais universal que essa palavra encerra. Ritchie tinha consciência de que ainda não sentia esse Amor . A psicóloga inglesa Margot Grey foi acometida de uma estranha doença que teve a duração de três semanas, e nunca chegou a ser verdadeiramente diagnosticada. Em um momento impreciso, no curso dela, teve uma experiência única em sua vida, uma EQM. Viu-se flutuando na escuridão total, encontrou-se com um "ser" do espaço infinito; depois viajou por um túnel sem fim; ao término, emergiu para a luz; parecia-lhe estar perto da "fonte" de vida e amor. Após essa experiência a dra Grey visitou a Universidade de Connecticut, onde colheu informações junto ao excelente material de pesquisa do dr. Kenneth Ring, e tornou-se a primeira pesquisadora de EQM do Reino Unido, investigando 38 casos característicos. Entre estes, ouviu o relato de um senhor , contando o tipo de ligação entre o dois corpos: (4) "Foi como se um cordão me ligasse ao meu corpo na cama e eu não podia sair. Pensei que estava preso lá, e então tive a impressão de que o cordão tinha sido cortado e eu cheguei a esse lugar." Uma mulher que tinha tido uma experiência negativa também comenta: "Ao voltar para o meu corpo, tive a sensação de um cordão elástico, que é esticado até o limite e então solto. Eu como que me choquei de volta contra meu corpo, e tudo parecia vibrar com o impacto" Segundo suas observações, as EQMs relacionadas às tentativas de suicídio(5) não atingem a etapa final mas tendem a desvanecer-se antes de atingir os elementos transcendentais característicos da "experiência total". Nesses casos, a EQM tende a terminar em um vácuo sombrio, um sentimento de confusa flutuação na escuridão. Com base em sua pesquisa, a dra. Grey aponta também, tal como já o fizera Maurice Rawlings, para a incidência das EQM negativas, chamadas assim porque, em alguns casos, essas ocorrências, no limiar da morte podem tornar-se um verdadeiro pesadelo: o sobrevivente descreve lugares nevoentos, sensações desagradáveis, sentindo-se mesmo nos prenúncios do próprio inferno.(6) Assistindo, em todo o mundo, cerca de trinta mil pacientes em estado terminal, a psiquiatra dra Elizabeth Kübler- Ross teve oportunidade de constatar que muitos deles tiveram "experiências fora do corpo"(EFC) ou de quase morte . Nesta última, o denominador comum é a Experiência Fora do Corpo; as pessoas tiveram plena consciência de abandonar seu corpo físico, muitas vezes, flutuando em torno dele. E pincela, com detalhes gerais, como as pessoas descreveram esses momentos, vendo-se nas proximidades de onde foram originalmente abatidas: o cenário do acidente, a sala de emergência, o próprio leito de sua casa etc. Não sentiram dor nem ansiedade. Muitas descreveram a cena do acidente, detalhando-a, minuciosamente, inclusive a chegada da ambulância e de pessoas que trataram de tirá-las do automóvel, ou de apagar o fogo. De acordo com o que observou, no curso de uma EQM, as pessoas deficientes sentiam-se completas: "as mutiladas tinham seus membros intactos, as que estavam em cadeiras de rodas, podiam dançar e mover-se de um lado para outro sem esforço algum, e as pessoas cegas podiam ver." Havia também "a percepção da presença de seres amados, entre os quais figuravam parentes próximos, que os haviam precedido na morte. Sempre havia uma avó querida esperando uma netinha, um tio em especial que havia morrido há dez meses, ou um companheiro de classes (...)" (7) Com base em suas observações, a dra. Kübler-Ross desenvolveu um projeto científico interessante, estudando a incidência de EQM em cegos, sobretudo nos que não tiveram nenhum vislumbre de luz pelo prazo mínimo de dez anos. Aqueles que vivenciaram a EQM foram capazes de descrever, com detalhes, como as pessoas estavam vestidas, a cor das roupas, o modelo e assim por diante. (8) Há também um caso impressionante descrito em dois de seus livros: Una Luz que se Apaga e Morte: Um Amanhecer. (9) Em uma de suas conferências, um senhor pediu um aparte para narrar a sua própria história, e a dra. Ross concedeu-lhe a palavra. Ele teve oportunidade, então, de descrever um episódio muito triste de sua existência, de uma só vez, havia perdido toda a família: a mulher e os cinco filhos, quando a perua em que viajavam fora colhida por um caminhão que transportava gasolina, todos os corpos ficaram carbonizados. Desde o pavoroso desastre, viveu em estado de choque, de entorpecimento, com dificuldade em aceitar a idéia de estar sozinho no mundo, de não ter ninguém. Incapaz de enfrentar a situação, passou a beber e a drogar-se. Assim, de cidadão decente e trabalhador passou à condição de mendigo que bebia de manhã até de noite. Vejamos o relato da dra Ross: "A última lembrança que tinha era a de que, depois de dois anos de mendicância, encontrava-se numa estrada suja à margem de uma floresta, bêbado e dopado, tentando, desesperadamente, encontrar-se com a família". Lembrava-se de ter avistado um enorme veículo que vinha na sua direção e passava sobre seu corpo. Nesse momento, viu-se jogado na estrada, seriamente ferido, ao mesmo tempo que, do alto, de poucos centímetros acima do chão, podia observar a cena do acidente. Nesse estado,(...) começou a sentir que estava saindo do seu corpo , sem dor nem ansiedade. Apartou-se flutuando e viu acercar-se uma luz. De pronto, dessa luz surgiu sua família: sua esposa e seus filhos, tão felizes , saudáveis e sorridentes como os recordava a todos". E o senhor que pediu para dar o testemunho ressaltou: "Não falaram , mas pude compreender tudo. Subitamente soube que eles estavam bem". "Não tinham cicatrizes nem marcas de queimaduras. Só estavam ali para mostrar-me que estavam bem e juntos". "Tive consciência de que havia passado todo esse tempo tratando de destruir minha vida, porque pensava que havia perdido toda minha família, meus filhos..." E o anônimo narrador voltou voluntariamente ao corpo, reiniciando sua vida de homem decente e trabalhador. Este depoimento foi a resposta de Deus às preces feitas pela dra. Ross: ela havia pedido que alguém pudesse dar um testemunho vivo sobre a importância da EQM na conferência que ia pronunciar. ESTÁGIOS DO MORRER Melvin Morse, pediatra de Seatle, EUA, pesquisou tanto sobreviventes crianças, quanto adultos. Em estudo que obedeceu a protocolo científico, acompanhou, por oito anos, 26 crianças que passaram pela EQM e verificou que o fenômeno é o mesmo em qualquer fase da vida humana. No prefácio do seu livro, Transformados pela Luz ,consta o caso de um menino de dez anos que sofreu uma parada cardíaca, viu-se depois em um túnel, encontrando no final dele um grupo de pessoas: "Todas brilhavam interiormente como lanternas. Todo o local resplandecia (...)Eu não conhecia nenhuma das pessoas que encontrei ali, mas todas pareciam me amar muito", afirmou. Entre os adultos que entrevistou nesse mesmo livro , há o caso de um senhor que foi atingido por um raio, enquanto jogava golfe; flutuou, então, acima do seu corpo e sentiu-se sugado por um túnel, nada conseguia ver, mas a sensação era a de avançar muito depressa dentro dele, vendo a luz do final, tornar-se cada vez maior. Para Morse, basicamente, existem nove indícios de EQM: 1) Uma sensação de estar morto; 2) Paz e Ausência de dor; 3) Experiência Fora do Corpo (EFC); 4) Experiência do túnel; 5) Seres da luz; 6) Ser de luz; 7) Recapitulação da vida; 8) Relutância em voltar; 9) Transformação da personalidade. (10) Com seus estudos, concluiu que "a EQM é um acontecimento lógico e ordenado que compreende flutuar para fora do corpo, entrar na escuridão e vivenciar uma luz maravilhosa e indescritível. As pessoas que as têm sabem o que está acontecendo." (11) Para o respeitado psicólogo social Kenneth Ring, existem cinco estágios da experiência básica: paz, separação do corpo, entrada na escuridão, visão da luz e entrada na luz. (12) O sobrevivente pode ter vivenciado dois ou mais desses estágios, como já vimos nos exemplos anteriores. Dr Ring e equipe colheram mais de uma centena de depoimentos, entre estes, o de uma paciente que sofreu um ataque de asma quase fatal. Nele, a paciente descreveu o túnel pelo qual passou, uma espécie de tubo de água muito largo, do qual emergiu para a luz. (13) Michael Sabom, cardiologista de Atlanta, Georgia, EUA, investiga EQM desde 1977. Em seu livro, Recollections of Death, relata os resultados de 100 pacientes pesquisados (71 do sexo masculino e 29 do feminino). Ele próprio entrevistou cada um deles, segundo um modelo muito semelhante ao do dr. Ring. Nas entrevistas, recolhia os dados demográficos dos sobreviventes, consultava os registros médicos fornecidos pelo Hospital, para confrontá-los com as informações colhidas e ouvia a descrição da EQM vivenciada pelo paciente. Baseado em suas pesquisas, dr. Sabom conclui que 27 a 42 por cento dos sobreviventes à morte clínica, haviam passado pela EQM. As pesquisas de Ring apontam para algo próximo aos 40%, enquanto a pesquisa do Gallup indica 35%. A maioria dos pacientes foi ressuscitada depois de poucos momentos da parada cardíaca. Segundo as observações do dr. Sabom, quando o paciente ficava inconsciente por mais de 60 segundos tendia mais comumente a induzir a EQM (14). Esta descoberta levou o pesquisador de Atlanta a algumas conclusões: a) os que estão mais próximos da morte passam com maior freqüência pela experiência; b) as que passam por ela não sentem mais medo da morte ou diminuem muito esse receio. A equipe do dr. Ring chegou a essas mesmas conclusões, confirmando-se, assim, os resultados dos dois pesquisadores, fato raro em pesquisa parapsicológica. Interessante observar também, nos casos do dr. Sabom, a descrição feita pelos sobreviventes a respeito dos sofisticados procedimentos utilizados nas cirurgias cardíacas que eles tiveram oportunidade de observar, enquanto flutuavam ao redor de seus corpos físicos, na sala cirúrgica. Alguns descreveram a retirada da costela, o peito aberto e as inúmeras e delicadas incisões, pinçamentos , aplicação de injeções intra-cardíacas, manobras de ressuscitamento, etc. Essas descrições são ainda mais incríveis quando comparadas ao grau de conhecimento demonstrados pelos pacientes quando em estado "normal". Esses depoimentos são evidências a mais de que algo se desliga do corpo físico e é capaz de observar tudo o que se passa ao seu redor. Ainda recentemente, dezembro de 2001, a conceituada revista Lancet publicou um artigo científico de autoria de uma equipe de médicos da Holanda, chefiados pelo cardiologista Pim Van Lommel, sobre a investigação de EQM (NDE), realizada em 344 pacientes que sofreram parada cardíaca e foram ressuscitados, com sucesso, em dez hospitais holandeses. Os pacientes foram entrevistados, logo nos primeiros dias, após terem tido a experiência, e acompanhados, 2 e 8 anos depois, para a devida avaliação. Do total de sobreviventes pesquisados, 41 pacientes (12%) descreveram uma experiência profunda, com elementos que caracterizam uma EQM. A média de idade foi de 62,2 anos (26 a 92 anos); 73% eram homens. Os autores concluíram que, quanto menor a idade do paciente, maior a freqüência de EQM; verificaram, também, que a percentagem de ocorrência de EQM foi menor do que em outros estudos, que revelaram a incidência de 30%, provavelmente porque a média de idade, na investigação da Holanda, era muito elevada. As pesquisas de EQM levam a muitos questionamentos: Consciência e memória estariam, realmente, localizadas no cérebro, como querem os reducionistas materialistas, ou estariam na alma e teriam, no encéfalo, o seu reflexo, o seu instrumento de expressão, conforme pensam os espiritualistas? Como poderia o paciente experimentar uma clara consciência, fora do corpo, no momento em que o cérebro é afetado por uma parada cardíaca e o eletroencefalograma mostra-se plano?! A explicação transcendental, espiritualista, sustenta que a EQM estaria ligada a um estado alterado de consciência , durante o qual a alma se deslocaria do corpo, conservando, porém, a sua capacidade de percepção não sensorial, a sua identidade, cognição e emoção, independentemente, do corpo inconsciente. Aliás, esta é a explicação mais aceita por todos os que passaram por este tipo de experiência. Segundo as conclusões do dr. Ring, a EQM parece não ocorrer, aleatoriamente, ela tende a se desdobrar em vários estágios seqüenciais. Quanto mais profundamente o paciente penetra nela, mais estágios experimenta; suas observações coincidem, portando, com as do dr. Moody e dr. Sabom. Ainda segundo as pesquisas de Ring, "a maioria das experiências do limiar da morte parecem se desdobrar de acordo com um único padrão, quase como se a perspectiva de morte servisse para liberar um "programa" armazenado comum de sentimentos, percepções e experiências."(15) As comunicações mediúnicas parecem confirmar as observações do dr. Ring: tudo indica que há um "programa" para o morrer, que pode ser melhor acompanhado com as informações dos Espíritos, daqueles que já passaram para o "outro lado da vida" NOTAS: 1) A respeito da pesquisa do Instituto Gallup ver o livro Aventuras na Imortalidade (Adventures in Immortality), de George Gallup Jr., citado por Ring em Rumo ao Ponto Ômega. 2) Vida Despues de La Vida - cap. 2. 3) Voltar do Amanhã, pp. 45 a 48. 4) Voltando da Morte, pp.109 e 110. 5) Voltando da Morte, p. 43. 6) Voltando da Morte, p. 34. 7) Dra. Elisabeth Kübler-Ross - Una Luz que se Apaga, pp. 198 e 199. 8) Elisabeth Kübler-Ross - A Morte: Um Amanhecer, p. 16. 9) Una Luz que se Apaga, pp. 202 e 203; Morte: Um Amanhecer, p. 76. 10) Prefácio de Transformados pela Luz 11) Transformados pela Luz p. 207 12) Rumo Ao Ponto Ômega, p. 38.13) Citado por Scott Rogo - Volta à Vida, p. 90. 14) Veja Scott Rogo - Volta à Vida, p. 98. 15) Veja também as observações de Rogo, Volta à Vida, pp. 91 e 92 COMO É MORRER Embora obedeça a leis gerais que a tornam automática (16), a desencarnação, para efetivar-se completamente, envolve lapsos de tempo variáveis, conforme a evolução do Espírito. (17) Allan Kardec detalhou o mecanismo de desprendimento da alma, valendo-se dos ensinos do Espíritos benfeitores e das próprias entrevistas que fez com centenas de desencarnados. Com o Codificador aprendemos que morrer é relativamente fácil, complicado, porém, é desencarnar, desprender-se a alma dos laços que a retém ao plano material. Vejamos os tópicos principais listados por Kardec no estudo da desencarnação: (18) . A extinção da vida orgânica acarreta a separação da alma, em conseqüência do rompimento do laço fluídico que a une ao corpo, mas esse desprendimento nunca é brusco e só se completa quando não mais reste um átomo do perispírito unido a uma molécula do corpo. . O número de pontos de contato existentes entre o corpo e o perispírito é responsável pela maior ou menor dificuldade na separação. Se a união permanecer, a alma poderá sentir a decomposição do próprio corpo, como freqüentemente acontece nos casos dos suicidas. Na morte natural, resultante da extinção das forças vitais por velhice ou doença, a separação é gradual: para aquele que se desmaterializou durante a própria existência, completa-se antes da morte real; para o homem materializado e sensual, cujos laços com a matéria são estreitos, é difícil, podendo durar "algumas vezes dias, semanas e até meses" (O Livro dos Espíritos, Q. 155, nota). Na morte violenta, o desprendimento só começa depois que ela se efetiva, e não se completa rapidamente (OLE, Q. 162, nota). Na transição da vida corporal para a espiritual, produz-se um fenômeno de perturbação, considerado como estado natural. Nesse instante, a alma experimenta um torpor que paralisa, momentaneamente, as suas faculdades, neutralizando, ao menos em parte, as sensações. É por isso que ela quase nunca testemunha, conscientemente, o derradeiro suspiro. Quando sai desse estado, o Espírito pode ter um despertar calmo ou agitado, dependendo do tipo de sono no qual se envolveu. A causa principal da maior ou menor facilidade de desprendimento é o estado moral da alma. Influem, pois, no processo de desencarnação: o número de encarnações já vividas, as conquistas mentais ou o patrimônio no campo da ideação, os valores culturais, o grau de apego aos bens terrenos, enfim, as qualidades morais e espirituais, que constituem seu patrimônio. A preparação para a morte incluiria todo um programa existencial: fé ativa, aceitação da vontade divina nos impositivos da existência, desprendimento dos bens terrenos, busca da expansão do amor, na vida diária. É, por isso, que não existe uma desencarnação igual à outra, do mesmo modo que não há EQMs idênticas, apenas similares. As desencarnações tanto quanto as reencarnações obedecem simplesmente à Lei natural: ambas são automáticas. Há um "programa" nos dois processos que, em linhas gerais, é igual para todos os seres viventes. A proximidade da morte física simplesmente detona a abertura desse "programa", que se desdobra, então, em estágios definidos, mas cuja duração varia em graus muito diversificados, porque depende da aquisição evolutiva de cada ser. O CASULO E A BORBOLETA: Em 1958, o espírito André Luiz explicou o processo do morrer (19), comparando-o à metamorfose dos insetos . Imaginemos a larva dos insetos de transformação completa, como a da borboleta, por exemplo. Chega um determinado momento em que a lagarta começa a diminuir os seus movimentos, até paralisá-los completamente; esvazia, então, os intestinos e não mais suporta a alimentação. Nesse estágio, permanece imóvel, transformando-se em crisálida ou pupa. Fica, então, dentro do casulo, protegida das intempéries pelos fios que produz com a secreção das glândulas salivares, e pelos tecidos vegetais e pequenos gravetos do meio ambiente. Nesse estado, pode ficar alguns dias e até meses. Na posição de pupa, o organismo da lagarta sofre modificações consideráveis com o aniquilamento de determinados tecidos (histólise), ao mesmo tempo que elabora órgãos novos (histogênese). Principalmente, o aparelho digestivo e os músculos sofrem as alterações de cunho degenerativo, reconstruindo-se, depois, em novas bases. Nessa reconstrução (histogênese), forma-se um novo sistema bucal e os elementos dos músculos estriados são reutilizados, já agora para a configuração de outros órgãos. Assim, um belo dia, uma linda borboleta deixa o casulo. Ao deixar o corpo físico, a alma humana passa por um processo semelhante. É discutível se será uma bela borboleta ou uma mariposa escura e sem graça, mas de todo modo vai se apresentar com um envoltório diferente. Somente após o esgotamento da força vital, em virtude da idade avançada, da enfermidade ou de algum outro fator destrutivo externo, pouco a pouco, declinam as forças fisiológicas, paralisam-se os movimentos corpóreos. O paciente em estado terminal não mais tolera a alimentação. A imobilização no cadáver lembra a crisálida. Assim como a lagarta produz os filamentos com que se enovela no casulo, também o homem envolve-se nos fios dos próprios pensamentos. Nesse estado, há o predomínio das forças mentais, tecido com as próprias idéias reflexas dominantes do Espírito. Este pode ficar nesse estado de pupa por um período que varia entre minutos, horas, dias, meses ou decênios. Com a cadaverização, os catalizadores químicos e outros recursos próprios do quimismo orgânico operam a destruição dos tecidos corpóreos (histólise). Com isso, afetam os tecidos do corpo espiritual, principalmente a morfologia dos músculos e dos aparelhos da nutrição, com escassa influência sobre os sistemas nervoso e circulatório. Ao mesmo tempo, dá-se a reconstrução (histogênese) do corpo espiritual, com a elaboração de órgãos novos. Assim, o perispírito ou corpo espiritual inicia a formação dos seus "tecidos" a partir dos elementos vivos, desagregados do tecido citoplasmático que se mantinham, até então, ligados à organização fisiológica entregue à decomposição. Pela histogênese espiritual, os órgãos novos vão recompor o perispírito, para que ele possa continuar servindo de veículo à atuação do Espírito, já agora em nova dimensão. Somente ao término desse processo, a borboleta abandona o casulo, isto é, o Espírito larga o corpo físico, ao qual se uniu, temporariamente, e que lhe serviu de sagrado instrumento de aprendizado. Enverga, então, um veículo mais sutil, com novo peso específico, segundo a densidade da vida mental em que se gradua, dispondo de novos elementos para atender à própria alimentação e locomoção. Tal como o organismo da borboleta, esse corpo sutil passou por modificações no sistema muscular e no aparelho bucal. Assim, vai ostentar as chamadas trompas fluídico-magnéticas de sucção, novo meio através do qual vai se alimentar no além. Com esses órgãos novos, esse corpo estará muito mais ligado às emanações das coisas e dos seres que o cercam. É sempre bom repetir que todo esse processo vai depender da evolução espiritual do desencarnado. O grau evolutivo alcançado vai se refletir nos processos mentais que, por sua vez, vão conferir "peso específico" ao psicossoma ou perispírito. Em última análise, esse "peso específico" é quem vai determinar a morada ou a dimensão em que o Espírito viverá no além. Desde que iniciou seus Seminários sobre a Morte e o Morrer, em 1965, a dra. Elisabeth Kübler-Ross tem aprendido muito com os que estão se despedindo deste mundo. Em seus livros e conferências, a grande mensageira da Esperança, legítima representante da psiquiatria iluminada, tem utilizado bastante as mesmas imagens veiculadas por André Luiz: a lagarta, o casulo e a borboleta.(20) Nas suas observações no leito de morte, a dra. Ross constatou essa posição de pupa referida por André Luiz: o doente não deseja mais conversar, pára de se alimentar, enfrentando os pródromos da passagem. Nesse estágio, a dra. Ross conservava-se, silenciosamente, ao lado do agonizante, mantendo a posição de companheirismo e solidariedade. Muitos clarividentes têm descrito o que se passa no momento da morte, em observações que puderam fazer assistindo a moribundos; essas informações coincidem com as descritas nos livros da coleção André Luiz. LIBERAÇÃO GRADATIVA: Em Obreiros da Vida Eterna,(20) aprendemos que existem três regiões orgânicas fundamentais a merecer todo cuidado nos momentos de liberação da alma: 1) O centro vegetativo ( sede das manifestações fisiológicas), ligado ao ventre; 2) O centro emocional (zona dos sentimentos e desejos), sediado no tórax; 3) O centro mental: sede da alma (o mais importante), situado no cérebro. Após a liberação desses três centros, dá-se a morte , mas não a desencarnação, porque, em geral, por um período que varia de 50 a 72 horas, permanece um liame fluídico, o chamado cordão de prata, ligando o cérebro do perispírito ao cérebro do corpo físico. Através desse cordão prateado, o Espírito absorve os últimos remanescentes dos princípios vitais que ainda circulam no campo fisiológico. RECAPITULAÇÃO: As informações do mundo espiritual referem-se ao fenômeno da recapitulação ou hipermnésia post-mortem, através do qual o Espírito tem uma visão panorâmica de toda a existência que acabou de deixar. Trata-se de um filme único, que contem milhares de cenas, com todos os detalhes minuciosos da existência finda e que cada ser revive, no silêncio de sua posição de crisálida, como uma espécie de balanço ou de julgamento de sua própria consciência. Mesmo alguns daqueles que voltaram a viver, após uma EQM, contam que passaram por essa recapitulação. Já citamos o caso do psiquiatra George Ritchie, no livro Voltar do Amanhã, relatando uma EQM, aos 22 anos, quando foi considerado clinicamente morto por nove minutos (21) : "Tudo o que se passara comigo ali estava, visível a olho nu, situado no tempo e animado de vida, parecendo acontecer no mesmo instante. (...) Cada pormenor de vinte anos de existência estava ali para ser visto. (...) no meio dessa visão de tudo o que ocorrera, surgiu uma questão. (...) "Que fez você de sua vida?" (...) A pergunta parecia dizer respeito a valores, não a fatos: "O que você realizou com as cotas de tempo que lhe foram dispensadas?" Nas 500 cartas-mensagens, enviadas pelos desencarnados aos seus familiares, por intermédio de Chico Xavier, que tivemos a oportunidade de analisar no livro Nossa Vida no Além, há também relatos de hipermnésia ou recapitulação. Foi o que descreveu Luiz Antonio Biazzio, residente do Departamento de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto, que teve morte súbita, aos 29 anos, em carta-mensagem, enviada à sua mãe, Leda, quando ela visitou o médium Xavier, em Uberaba (22): "Rememorei meus estudos de medicina, revisei os meus doentes, os meus apuros na psiquiatria para definir-lhes as emoções e, em seguida, querida mãezinha, as recordações da infância e do lar desfilaram diante da minha visão íntima. "De tudo me lembrei (...) De seus sacrifícios e dos sacrifícios do papai Caetano para que eu pudesse cumprir o meu ideal num curso superior; revi a querida irmãzinha Maria Clara, a perguntar-me sobre o que eu preferia para essa ou aquela merenda, e não me esqueci de nossas preces do tempo de criança.(.. ) tudo, tudo estava ali comigo naqueles instantes (...)" Essa recapitulação faz parte do "morrer" ou do "programa" natural da desencarnação e é conhecida nos círculos espirituais como síntese mental. SONO ARRASADOR: As 500 mensagens pesquisadas confirmam as questões 163 a 165 de O Livro dos Espíritos , que nos instruem sobre o estado de perturbação pelo qual a alma passa, após a morte, em tempo variável, conforme a elevação de cada um. Este estado de torpor manifesta-se no sono profundo, irresistível, arrasador, a que se entrega o Espírito, no momento da morte, podendo permanecer nele por horas, dias, meses e anos. Vejamos um pequeno trecho da mensagem de Carlos Alberto Andrade Santoro, jovem de 20 anos, residente na cidade paulista de Votuporanga, falecido de acidente de avião, enviada em 11/3/1977: Chorei, dentro de uma imobilidade que eu não saberia descrever, e, em seguida, notei que mãos de enfermagem me anestesiavam. Era o sono, o sono da bênção, porque, entre a morte do corpo e o renascimento na Vida Espiritual, Deus colocou um desmaio providencial. Quando acordei, me vi sem qualquer ligação com nosso amigo Denizard ( falecido também no desastre) e com a nossa gente amiga de Votuporanga (23) CORDÃO DE PRATA: Fazendo uma correlação entre o estudo da metamorfose da alma, de crisálida a borboleta, e o desligamento dos três centros de força mais importantes, concluímos que a manutenção do cordão de prata está diretamente relacionada ao processo de histogênese espiritual. O perispírito que serviu de intermediário ao espírito para modelar o organismo biológico e atuar sobre ele, tem, agora, de passar, por modificações estruturais, especialmente no sistema digestório (aparelho digestivo) e nos músculos, para servir-lhe de veículo na vida do além. (24) O Benfeitor Espiritual Emmanuel afirma que a grande maioria das criaturas humanas necessita de 50 a 72 horas para que haja o desligamento do cordão prateado. (25) O sono, a revisão panorâmica e o cordão de prata estão diretamente implicados nessas modificações, ou seja, na construção dos órgãos novos do perispírito; a duração dessas etapas obedecerá sempre ao estado mental ou ao patrimônio espiritual alcançado pelo desencarnado. Aprendemos que esse processo transformador do corpo sutil não termina, necessariamente, aí, no limiar da vida nova, mas prossegue ao longo da vida espiritual. Enquanto esses órgãos novos do corpo espiritual não estiverem concluídos, pelo menos na sua tecitura básica, a alma permanece em estado de pupa ou crisálida, incapaz de sair do próprio casulo. FÉ TRANSFORMADORA: Aí está sumarizado o processo do morrer. São vários estágios a percorrer, que podem ocorrer simultaneamente e cujas dimensões, no tempo, variam ao infinito, em decorrência da grande heterogeneidade evolutiva, característica do nosso planeta. Cremos que é preciso aprofundar o estudo do transe, ou dos estados alterados de consciência, uma vez que a morte física representaria, por assim dizer, o clímax desse processo. Basta lembrarmos o estado cataléptico e a sua simulação da morte para compreendermos a relação com esses desacoplamentos progressivos do Espírito. Neste final de milênio, três quartas partes dos terráqueos continuam negando a morte e, infelizmente, cultuando a matéria como gozadores contumazes. Temos necessidade imperiosa de escolas que ensinem as criaturas a morrer, mas que possuam janelas escancaradas para o infinito, apontando para a perenidade da vida espiritual e a necessidade de vivência do amor ao próximo. A dra. Kübler-Ross tem chamado a atenção sobre esse aspecto. Ela observou, em seus Seminários, que algumas pessoas que cultivavam religiões tradicionais, diferiam pouco das outras não religiosas, quanto à aceitação da morte. Segundo o que observou, a variável importante não é o "quê" se acredita, mas sim o "quanto" se acredita essencial e genuinamente. Constatou que as pessoas que acreditam na reencarnação, ou que descendem de culturas e religiões orientais, geralmente, aceitam a morte com mais paz e serenidade , mesmo na juventude, enquanto que muitos dos pacientes cristãos sentem dificuldade de aceitar a morte. (26) Ter uma religião, portanto, por si só não basta. Antes de tudo, é preciso que a pessoa tenha uma fé transformadora. E só a vivência do amor aos semelhantes consegue esse estágio superior de consciência, no qual o título religioso é o que menos importa. 15) Obreiros da Vida Eterna - cap. XI, p. 172. 16)Ver O Livro dos Espíritos - todo o cap. III. 17)O Céu e O Inferno - cap. I da segunda parte. 18) Evolução em Dois Mundos - cap. XI. 19) A Morte: Um Amanhecer - pp.11 e 12 20) Ver Obreiros da Vida Eterna, cap. XI e XV 21) Voltar do Amanhã, pp. 45 a 48 22) Vozes da Outra Margem, p.47 23) Ver A Vida Triunfa, caso 14; Viajores da Luz, 1ª carta-mensagem, p.17 24) Quanto à função do cordão de prata, veja Obreiros da Vida Eterna, cap. XV 25) Ver os livros O Consolador e Caminhos de Volta 26) Perguntas e Respostas sobre a Morte e o Morrer, p. 167 NO LIMIAR DA VIDA NOVA A TRAVESSIA (PERCORRENDO AS VÁRIAS DIMENSÕES) Uma vez liberta do casulo, a alma está preparada para a grande travessia? Qual o seu destino? Ficaria na crosta terrestre ou demandaria outras paragens? São muitas as questões, mas, basicamente, a resposta é sempre a mesma: tudo depende da condição evolutiva do Espírito. Em última análise, o "peso específico" do perispírito, fruto da elaboração mental, determinará o lugar que o desencarnado ocupará nas várias dimensões da vida espiritual. Antes, porém, de abordarmos alguns estudos sobre a Travessia, é preciso discutir um aspecto importante: o momento exato em que o espírito se desprende do corpo físico, para que tenhamos uma posição diante da cremação e dos transplantes. Sabemos que somente o desligamento do cordão prateado determina, de fato, a desencarnação, e que o tempo é muito variável de alma para alma. No livro Obreiros da Vida Eterna, vimos que esse desligamento pode se dar no mesmo momento da morte física, como no caso Adelaide; após oito horas, caso Fábio, ou cerca de vinte e quatro horas depois, caso Dimas. Mas pode demorar muito mais. Para efetuar-se a cremação, é preciso, aguardar-se, pelo menos 72 horas, como já vimos na recomendação de Emmanuel, para evitar-se que o perispírito sofra repercussões negativas. Nos casos de suicídio, porém, o sofrimento estará presente seja qual for a destinação do cadáver, para a decomposição ou a cremação, dada a ligação estreita que persiste entre os corpos físico e espiritual. De fato, "morrer é fácil, mas desencarnar não é fácil" (27) Irmão X, nome adotado pelo ilustre escritor Humberto de Campos, é ainda mais cauteloso na análise da cremação(28). Ele pensa que seria justo conferir algumas semanas de preparação e refazimento ao Espírito recém-liberto, tendo em vista os costumes a que está afeiçoado. E explica os motivos: para o comum dos mortais, afeitos aos "comes e bebes" de cada dia, para os senhores da posse física, para os campeões do conforto material e para os exemplares felizes do prazer humano, na mocidade ou na madureza, a cadaverização não é serviço de algumas horas... Demanda tempo, esforço, auxílio e boa vontade. Ficam aí expostas as explicações dos dois Benfeitores Espirituais. Que cada um medite sobre o assunto e tire suas próprias conclusões. REPERCUSSÕES DOS TRANSPLANTES Por onde quer que falemos sobre Transplantes, as perguntas são, invariavelmente, as mesmas: "Há repercussão, no perispírito, quando se retiram os órgãos do corpo físico?" "E se a equipe médica estiver apressando a minha morte?" "Devo doar, não devo?". Evidentemente, não há como decidir por ninguém. Esta é uma questão que, como todas as que concernem à vida humana, está relacionada com o livre-arbítrio, com a livre decisão da alma. Para tomarmos uma posição, é preciso interrogarmos a nossa consciência, procurando saber até que ponto estamos vinculados à existência corpórea. Certa vez, Chico Xavier deu-nos uma orientação importante sobre esta questão, que publicamos no livro Lições de Sabedoria (29), uma coletânea com todas as entrevistas que o médium deu, durante 23 anos, para o jornal Folha Espírita. Ele afirmou: sempre que a pessoa cultiva desinteresse absoluto por tudo aquilo que ela cede para alguém, sem perguntar ao beneficiado o que fez da dádiva recebida, sem desejar qualquer remuneração, nem mesmo aquela que a pessoa humana habitualmente espera com o nome de compreensão, sem aguardar gratidão alguma, isto é, se a pessoa chegou a um ponto de evolução em que a noção da posse não mais a preocupa, esta criatura está em condições de doar, porque não vai afetar o perispírito em coisa alguma Das 500 mensagens pesquisadas, destacamos duas com informações sobre transplantes, de modo a favorecer a reflexão e o debate. Roberto Igor Porto Silva foi o doador do primeiro transplante cardíaco realizado em Porto Alegre, Rio Grande do Sul. Após o acidente, deu entrada no hospital, com morte encefálica, sua irmã, Magali, foi consultada pelos médicos e consentiu na retirada do seu coração para doação. O receptor morreu algumas horas depois do transplante. No livro, Vozes da Outra Margem, há uma mensagem psicográfica do jovem Roberto, dirigida à sua mãe, Izar, que ficara muito preocupada, com medo de que o gesto de sua filha houvesse prejudicado o Espírito do filho. Nela, ele afirma: (30) senti uma dor muito grande no tórax, relatando ainda que os amigos espirituais que o assistiam, pediam para que esquecesse o vigor daquela agulhada que me transtornava todo o ser, ajudando-o a livrar-se da dor, através do magnetismo curativo. Para Roberto, seu coração, ainda pulsante, fora arrancado ( este o termo usado por ele) para servir ao transplante; só depois de aceitar o ocorrido, apaziguou-se interiormente. Esta mensagem traz muitos questionamentos quanto ao transplante cardíaco. Estaríamos, realmente, preparados para a retirada do coração de forma tão cruenta? Wladimir Cezar Ranieri - outro jovem - também foi doador. Conta-nos Rubens S. Germinhasi, co-autor do livro Amor e Saudade: Wladimir deixou a Terra num gesto de infelicidade. Disparou um tiro de revólver contra o peito. Reconheceu no seu gesto infeliz estar envolvido, em hipnose, por parte de criaturas espirituais e entende a sua responsabilidade, considerada pelo livre- arbítrio. Por esse gesto nefasto, reconhece-se, na mesma posição de tantos outros irmãos em situação análoga, como um encarcerado sem algemas e sem prisão real, porque ninguém consegue fugir de si mesmo. Desencarnado em 12 de maio de 1981,aos 25 anos, enviou carta aos seus pais, Dalva e Francisco, na qual reconhece o desgosto que deu a eles, contando que só melhorou dos sofrimentos, quando (31) as preces de uma pessoa que se beneficiara com a córnea que doei ao Banco de Olhos se haviam transformado para mim num pequeno tampão que, colocado sobre o meu peito no lugar que o projétil atingira, fez cessar o fluxo do sangue imediatamente. Reconhece que o bem, mesmo feito involuntariamente, por uma pessoa morta é capaz de revigorar as forças da alma que parte. Evidentemente, o nosso objetivo não é discutir, nesta palestra, de forma detalhada, a questão dos transplantes. Nem poderia ser diferente. Particularmente, cremos que a retirada do coração para doação representa violência muito maior do que a que se tem com a retirada de qualquer outro órgão, dada a sua importância como constituinte do centro emotivo. Sem dúvida, é preciso que a pessoa tenha bastante preparo mental e desprendimento dos bens terrenos para doá-lo, sem riscos de desequilíbrio. 27) Expressão do jovem Ivinho, dirigindo-se à sua mãe, in Retornaram Contando, cap. 4, p.51 28) Taça de Luz, pp. 57 a 59 (mensagem de 26/7/1952) 29) Lições de Sabedoria, p.47. 30) Vozes da Outra Margem, pp. 95 e 96 31) Amor e Saudade, pp. 110 e 111 COMISSÃO DE RECEPÇÃO Se há algo realmente confortador na morte, é a presença dos seres amados, dos parentes e amigos queridos, domiciliados no mundo espiritual, os que fizeram antes a grande romagem, estendendo os braços para acolher o viajante cansado, ao término da jornada terrestre. Eles fazem parte da comissão de recepção, no limiar da Vida Nova, e associam-se às equipes encarregadas dos traslados para a grande travessia. Às vezes, essa comissão resume-se apenas a um único parente ou amigo, mas há sempre alguém acenando do "outro lado". Os Espíritos Superiores esclareceram a Allan Kardec que esse encontro do desencarnado com os amigos e familiares que o antecederam dá-se imediatamente após a morte, de acordo com a afeição que se votavam, reciprocamente, sendo que muitos o ajudam a desligar-se das faixas da matéria. É uma graça concedida aos bons Espíritos o lhes virem ao encontro dos que o amam, ao passo que aquele que se acha maculado permanece em insulamento, ou só tem a rodeá-lo os que lhe são semelhantes.(32) Nas pesquisas de William Barrett e Hyslop no início do século XX, e naquelas efetuadas por Karlis Osis e Haräldson, nas décadas de 1960 e 1970, as visões no leito de morte nada mais são do que a presença dos familiares no limiar da Vida Nova, com a tarefa precípua de receber os entes queridos nos momentos de transição. Assistindo a milhares de agonizantes ao redor do mundo, a dra. Kübler-Ross detectou-os de forma muito clara: Na hora da transição, os seus guias, os seus anjos da guarda, as pessoas que você amou e que já se foram estarão ali para ajudá-lo. Podemos comprovar isso, sem sombra de dúvida, e é na qualidade de cientista que faço essa afirmação (...) Às vezes, são pessoas que você nem sabia que já estavam "do outro lado" (33). William F. Barrett iniciou suas pesquisas exatamente por causa de uma observação semelhante à da dra. Ross. A esposa de Barrett era obstetra e relatou ao marido o caso de uma paciente em estado terminal que vira, em seu leito de morte, o pai, desencarnado há algum tempo, e a irmã que falecera enquanto ela estava no hospital. A família a havia poupado, devido ao agravamento do seu estado, e nada lhe contara acerca do falecimento dessa irmã, somente quando a viu agonizante soube que ela já estava "do outro lado". Vejamos alguns trechos dos comunicantes para compreendermos melhor como os parentes e amigos atuam, e quais os meios de resgate de que se utilizam, para o recolhimento dos doentes. Angelo Di Sarno dirigia-se à cidade de Valinhos, quando, no viaduto de entrada da Rodovia dos Bandeirantes, acidentou-se com o seu veículo, vindo a falecer aos 25 anos. Em carta dirigida à sua mãe Rosa, descreveu o acidente e falou da situação estranha de estar vendo tudo (34): Os desconhecidos que me rodeavam lamentavam o meu desconforto, outros queriam ver o veículo e se puseram a examiná-lo, até que os agentes da polícia do trânsito chegassem e me anotassem a posição de imobilidade e falaram em morte, o que realmente me assustou. Quis reagir, explicar que eu estava vivo, que decerto as escoriações deviam estar vertendo muito sangue, mas não consegui. Uma inesperada fraqueza me assaltou e perdi o controle de mim próprio. Eu devia estar muito quebrado e ferido, porque não pude articular palavra. Mais adiante, prossegue: Então, senti que mãos amigas me carregavam e me puseram dentro de outro carro, sem que eu pudesse saber, de momento, que era uma ambulância. Notei vagamente que o carro se pusera em movimento e que me transportavam para algum lugar. Uma senhora, falando um harmonioso italiano, convidou-o ao repouso: Você está cansado e precisa repousar. Durma. Pode dormir sem medo (...) Você será transportado, durante o sono, para o lugar de nossa moradia. Durma... Durma! Dormi pensando que eu ainda teria chance de ir a nossa casa para abraçá-la e abraçar o Papai Aniello, e os irmãos Giovani e André, mas acordei numa outra paisagem. Não mais me senti dentro do carro e, sim, numa casa acolhedora cercada por um bonito "giardino". Embora muito fraco, perguntei quem era aquela senhora que me socorrera no veículo, dirigindo-me a ela mesma. Ela me disse sorrindo: - Meu filho, somos tantos corações aqui reunidos que para alcançar a sua compreensão, direi apenas que sou avó da avó de sua avó Ana Maria e deixei a Itália há muitos anos. Esta visão dos parentes é muito confortadora. Na EQM, que é um ensaio para a morte, isto também ocorre. Os sobreviventes que passaram por ela, lembram-se, perfeitamente, de todos os detalhes, especialmente do reencontro com os entes queridos. Nos casos acompanhados pela dra. Kübler-Ross, da Austrália à Califórnia, os que passaram por essa experiência têm plena consciência de ter deixado o corpo físico e de que a morte, como a entendemos em linguagem científica, na realidade não existe. (35) O mesmo podemos acompanhar nos relatos dos sobreviventes de todos os outros pesquisadores - Moody, Ring, Sabom, Morse, Grey - daí a transformação que ocorre na vida deles: o maior desapego aos bens materiais, a ausência de medo da morte etc. Laura Maria Machado Pinto, acompanhada das filhas, do pai, João Evangelista Lana, e da afilhada de casamento, Zélia Aparecida Lana Fontes, retornava, na noite de 22 de julho de 1982, à fazenda de seu genitor, em São Sebastião do Paraíso, pela rodovia Cândido Portinari, quando um caminhão colidiu frontalmente com o carro que dirigia. Com o choque terrível, o carro pegou fogo, e tudo virou chamas em questão de minutos. De um momento para outro, o sr. Henrique Pinto perdeu toda a sua família. Segundo declarou a Rubens Germinhasi, autor do livro Continuidade, tinha idéia de acabar com tudo, inclusive com a própria vida. A mensagem da esposa , porém , trouxe-lhe calor, ânimo e vida: Vamos destacar um trecho da carta de Laura ao marido (36): Tivemos instantes de lucidez, fora da vestimenta corpórea, no entanto, a Providência Divina jamais nos abandona. Lá mesmo, ante a visão do campo aberto, uma equipe de enfermeiros nos aguardava. Agarradas comigo, as nossas queridas filhas Patrícia e Beatriz me tomavam a alma toda. Gritos e lamentações surgiam próximos de nós, no entanto, as ambulâncias que não conhecíamos nos recolhiam com pressa. (...) Sentia-me exausta, com o cérebro tangido por alucinações de pavor(...), quando uma senhora de semblante simpático se abeirou de mim e notificou-me que o acidente imprevisível na Terra, fora anotado na Vida Espiritual antes de vir a ser e que ela estava junto de nós, com o fim de estender-nos mãos amigas. Apesar do espanto que me arrasava diante daquele montão de cinzas e objetos fumegantes, ainda tive meios de perguntar-lhe a que vinha e quem era que com tanta bondade se interessava por nós. Ela me informou ser a vovó Carmela. (...) Abracei-me a ela, a avó que naquele momento se me fazia plenamente desconhecida e só então consegui dar vazão às lágrimas que meu peito represava. Rodrigo Junqueira Alves de Souza e mais quatro jovens, todos adolescentes de tradicionais famílias de Frutal (MG), faleceram em um trágico acidente que abalou a cidade, no dia 3 de fevereiro de 1985, quando um "fusca" em que viajavam foi colhido por um caminhão "Scânia". Rodrigo, conhecido como Didido, de 14 anos, um dos atingidos, voltou, através do médium Chico Xavier, trazendo notícias confortadoras para seus pais. Eis como descreveu o socorro (37): Lembro-me de que saltamos do corpo, tão de improviso, que a cena me lembrou o amendoim quando salta da casca. Vimo-nos todos de pé, ao lado de pessoas que pareciam nos esperar. Estávamos tontos e inseguros. (...) Fomos então carregados para uma ambulância de grande tamanho, mas o ambiente estava diferente. As pessoas que nos aguardavam, ao que parece, sabiam que nós todos íamos tombar ali mesmo, porque nos abraçaram qual se fôssemos crianças, e seguiram conosco, à pressa, na direção da ambulância. (...) Assim, que a ambulância deu partida, caímos todos num sono esquisito(...) Quando acordei, (....) vim a saber que o homem que carregara o Português (...) era o dr. Sandoval de Sá. (...) Ele me esclareceu que estávamos sob a proteção de nossas parentas, e falou-me que a vovó Minerva me havia suportado nos braços; que o Romêro havia sido transportado do carro para a ambulância pela nossa avó ou bisavó Filhuca; que a tia Geralda carregara o Guto desmaiado; e a tia Luizinha havia se encarregado de conduzir o Nadinho nos próprios braços. 32) O Livro dos Espíritos, Q. 160 e 289 33) Morte: Um Amanhecer, p. 41 34) Novos Horizontes, pp.25 a 30 35) A Morte, Um Amanhecer, p. 39 36) Continuidade, pp. 10 a 24 37) Estamos Vivos, pp. 28 a 32 MEIOS DE TRANSPORTE Pelas descrições anteriores, vimos que o socorro prestado pelo mundo espiritual às vítimas de acidentes, é feito, através de ambulâncias e automóveis, presentes no campo da desencarnação, mesmo antes da ocorrência da tragédia, como se obedecessem a uma organização perfeita. E, de fato, assim é. Em geral, o recém-desencarnado, traumatizado por morte física violenta e repentina, não descreve a travessia propriamente dita. Nas mensagens dirigidas aos familiares, não há referências a ela, a não ser por um ou outro detalhe apreendido posteriormente, na fase de adaptação ao novo plano. Verifica-se a travessia, enquanto eles adormecem, pesadamente. Somente alguns dias ou mesmo meses depois, o desencarnado vai tomar conhecimento de sua nova situação. Na coleção André Luiz, há descrição de carros puxados por animais, automóveis e ônibus de modelos diversos, helicópteros e aeronaves de formatos variados; uma destas, é utilizada para visita aos encarnados, como se pode acompanhar no livro E a Vida Continua... Celso Maeda desencarnou, aos 39 anos, de acidente aéreo, no dia 18 de agosto de 1992, em Navegantes, Estado de Santa Catarina, juntamente com seu irmão Francisco. Na mensagem enviada aos seus familiares, depois de descrever todos os lances do triste acontecimento, patrocinado por um ciclone de grandes proporções, Maeda referiu-se à fugaz esperança que tiveram vendo o mar à frente, para logo depois caírem sobre um banco de areia, onde todos os ocupantes do avião morreram. Mas eles não estavam esquecidos de Deus (38): A água marinha encharcada de areia penetrava-nos os pulmões e quando me vi totalmente esmagado, nada sabendo de meu irmão e dos companheiros que nos aguardavam a viagem, quando no auge do meu desespero íntimo, vi que uma senhora caminhava naturalmente sobre as águas e, ao abraçar-me, solicitou-me concentrar na fé em Deus e me disse: "Meu filho, você está conosco. Sou a sua avó Ai, que venho retirá-lo da areia. Seu avô Tsunezaemon retirará seu irmão. Haverá socorro para vocês todos. O piloto e o co-piloto serão resguardados". Depois de pronunciar estas palavras, aquela mulher que me parecia tão frágil me carregou nos braços, colocando-me em terra firme. Francisco chegou depois ao mesmo local em companhia do avô. Celso continuou descrevendo a missão de socorro que se estendia aos dois pilotos, o seu espanto ao ver dois corpos franzinos como os de seus avós conduzindo-os nos braços e acentuou: fomos transportados por outro avião mais complexo até um abrigo hospitalar que nos recebeu com espírito de inesperada beneficência, onde estamos até hoje em reajustamento, mas com a possibilidade de visitar as nossas famílias e confortar os nossos entes amados. Esperamos para bom tempo a matrícula em uma legião de trabalhadores na Seara do Bem. Vemos aqui a utilização de um avião aparelhado para salvamento que levou os desencarnados para o hospital. Quando deu esta comunicação, através do médium Chico Xavier, a 26 de fevereiro de 1993, da qual extraímos um pequeno trecho, já haviam se passado sete meses, desde o acidente, e Celso Maeda ainda estava em tratamento, embora de forma mais atenuada. O TÚNEL E A LUZ - Muitos dos sobreviventes da EQM descrevem o túnel escuro ou algo assim; alguns chegam a afirmar terem sentido como se estivessem atravessando um caminho constituído de canos muito largos, semelhantes aos colocados para a circulação de água. Creio que a volitação, nesses casos, deve ser semelhante à trajetória de um torpedo, porém com desenvolvimento de altíssima velocidade, superior à da luz, e as rotas devem ser facilmente identificáveis e reconhecidas pela prática e pelo automatismo, sobretudo, tendo em vista o assessoramento de Espíritos desencarnados tarimbados. André Albertini (1955-1981) era filho do advogado italiano Lino Sardos Albertini, que foi presidente da Academia de Estudos Jurídicos e Econômicos Cenáculo Triestino e da Junta Diocesana da Ação Católica de Trieste. Em junho de 1981, quando fazia uma curta viagem de descanso, antes das provas finais de seu curso de Direito, foi assassinado. A sua família de convicção católica foi induzida por monges católicos a procurar notícias de seu filho por meio da mediunidade, o que veio a ocorrer quando encontrou uma médium de nome Anita. A pedido da dra. Paola Giovetti, conhecida parapsicóloga, o pai submeteu algumas questões a respeito das sensações da morte e da entrada na vida espiritual, obtendo respostas significativas. Do livro que veio a publicar - l'Aldilà; Un'eccezionale Testimonianza Rigorosamente Documentata, e tornar-se um best-seller na Itália (publicado em 1988 alcançou no mesmo ano sua 12a ed., a partir da qual se fez a tradução brasileira - O Além Existe -, publicado pela editora jesuíta "Edições Loyola"), transcrevemos (39): Eu posso contar-lhe o que aconteceu a mim pessoalmente, porque há diferentes maneiras de morrer. Na verdade, a minha situação estava feia, à mercê de indivíduos perigosos. Quando fui morto, não me apercebi, porém, via a cena do alto e acompanhei todo o acontecimento com desapego e indiferença. Isso durou bastante, até a minha alma embocar pelo longo túnel. Em seguida, respondendo ao pedido de esclarecimento acerca do túnel, acrescentou: A entrada atrai porque vê-se uma grandiosa Luz que chama, mas nem sempre se consegue logo alcançar a Luz. Os mais afortunados, como eu, que são acolhidos por amigos ou parentes, sim. Outros, no entanto, devem esperar muito tempo e isso faz sofrer, porque sabe-se que, além do túnel, tudo é maravilhoso e se gostaria de chegar lá quanto antes. pp. 48-49 e 134) 38) Dádivas Espirituais, cap. 5 39) O Além Existe, testemunho extraordinário rigorosamente documentado, pp. 48-49 e 134 RUMO À PONTE ILUMINADA Tomemos agora, como exemplo, a travessia de dimensões, contada no livro Voltei, pelo irmão Jacob. Trata-se de uma excursão rumo às moradas do Pai, vivida pelo autor e alguns companheiros, após a desencarnação. (40 ) Acompanhado da filha Marta, anjo bom que viera recebê-lo nos minutos finais da existência física, Jacob (pseudônimo de Frederico Figner) demandou a praia, onde deveria encontrar-se com os benfeitores espirituais, Bezerra de Menezes e irmão Andrade. Em meia hora, congregaram-se, ali, amparados por Espíritos-guias, quinze "convalescentes da morte"; treze destes recém-desencarnados tinham o olhar vitrificado e se movimentavam maquinalmente; alguns já haviam sido liberados há alguns dias, mas não se apresentavam em condições de seguir adiante, senão naquela noite que se apresentava particularmente bela e pacífica. É muito difícil abandonar o plano dos homens sem ajuda. Os próprios pensamentos desordenados de milhões de almas encarnadas e desencarnadas do ambiente humano criam verdadeiros campos de imantação dos quais a alma não consegue livrar-se, facilmente. Em virtude das turbulências, os Espíritos superiores fizeram cordão de isolamento, a fim de que o grupo pudesse partir em paz . Andrade explicou também que, dada a circunstância adversa de estarem conduzindo irmãos quase inconscientes, a rota da expedição deveria se realizar sobre o campo ou sobre as águas, uma vez que a atmosfera, ao redor desses elementos, é mais simples , mais natural. Finalmente, o grupo completou-se com a chegada da última recém-liberta, ladeada por dois benfeitores, e plenamente desperta para seguir viagem; era respeitável senhora, de semblante calmo e sereno, que havia sido professora na existência finda e refletia invejável elevação espiritual, o que se via pela luminosidade sublime que emitia, o que não acontecia com nenhum dos outros convalescentes. Mas tal era a sua modéstia, que parecia aflita por esconder sua evidente superioridade. Bezerra de Menezes, depois de cumprimentar carinhosamente a recém-chegada, deu, então, as últimas instruções, enfatizando a necessidade de serenidade e desapego para que não caíssem em sintonia com as forças da ignorância, inimigas do bem. Era preciso centralizar os esforços em busca da sublimação da vida, porque esta travessia constituía-se no primeiro grande teste, para saber se desejavam, realmente, prosseguir para o alto, deixando para trás as coisas perecíveis do mundo. Depois da advertência, estavam, enfim, prontos para partir. O irmão Andrade e Marta sustentavam Jacob com os braços, lado a lado. Os amigos espirituais acompanhavam um a um os recém-desencarnados, a fim de que a excursão fosse feita, com êxito, pela volitação. Segundo o que aprendemos, a capacidade de volitar está intimamente associada à força mental, no caso, era o pensamento vigoroso de Bezerra de Menezes que comandava a todos. A travessia foi feita , com a utilização da capacidade de volitar; seguiram não em formação de cordão contínuo, mas em grupos de dois, três e quatro, unidos entre si. Jacob não via embaixo dos pés senão uma sombra muito espessa, rodeando o plano humano. Andrade explicou-lhe que, durante o dia, a visão é outra, porque o sol bombardeia as criações negativas dos homens e da natureza, deixando mais límpida a paisagem. A emissão dessa substância negra é diferente sobre a cidade, sobre o campo ou sobre o mar. O autor de Voltei expressou ainda a sua convicção de que não seguiam pela verticalidade ou pela esfericidade, na verdade, não possuía palavras para explicar o tipo de excursão que faziam. Ruídos de vozes desagradáveis, formas monstruosas - bem piores que as relatadas na mitologia - região vulcânica, solo com erupções, tudo isso passava sob seus pés, na singular viagem, indicando que atravessavam a vastíssima região do umbral. De repente, a expedição estacou ante uma ponte maravilhosamente iluminada. Era preciso atravessá-la para adentrar a região superior, a terceira esfera, onde os moradores eram mais felizes. Perto da ponte, Espíritos inferiores faziam muito barulho, dispostos a impedir a travessia da caravana. Um dos irmãos recém-desencarnados vacilou, acreditando não estar à altura de cruzar a ponte, porque tinha assassinado uma pessoa. Bezerra interveio, dizendo que ele havia trabalhado, durante 30 anos, em prol da regeneração íntima e do bem do próximo e que seu ato infeliz já deveria pertencer ao seu passado espiritual. Com este estímulo, o companheiro se refez. A pedido do benfeitor, Jacob proferiu sentida prece, lembrando o Salmo 23: Ainda que andemos pelo vale da sombra e da morte, não temeremos mal algum, porque Ele, o Senhor, está conosco; a sua vontade e a sua vigilância nos consolam. Logo em seguida, o grupo voltou a levitar, alcançando a magnífica ponte, atravessou-a, conservando-se o tempo todo em prece. Todos os que faziam aquela travessia pela primeira vez, choravam copiosamente. Amigos surgiram de toda parte para abraçar os caravaneiros. Afinal, haviam conseguido ultrapassar as zonas atormentadas do umbral, adentrando, finalmente, o limiar das esferas superiores. A TRAVESSIA (QUANDO O CAMINHO NÃO LEVA À LUZ) Segundo revelação do Espírito Emmanuel (41), existem mais de 20 bilhões de Espíritos compondo a humanidade desencarnada. Sabemos também que mais da metade das criaturas encarnadas é constituída de Espíritos semicivilizados ou bárbaros, enquanto apenas um terço está apto a trilhar os caminhos da espiritualidade superior(42). Torna-se fácil, portanto, compreender que a proporção se mantém igualitária para os dois planos e deduzir também que as regiões sombrias, em torno do nosso planeta, são ainda muito extensas. Para termos uma idéia, ainda que muito pálida, das faixas mais densas, onde estagiam os espíritos inferiores, vamos nos valer também das informações do Espírito Efigênio S. Vítor. (43) Acima da crosta terrestre comum, temos uma cinta atmosférica classificada por "cinta densa", com a profundidade de 50 quilômetros; além dela, estende-se a "cinta leve", com a profundidade de 950 quilômetros. Nesses 1.000 quilômetros, acima do plano onde nos encontramos, há um grande mundo aéreo composto de almas desencarnadas e variadas espécies de criaturas sub-humanas, ainda em desenvolvimento mental no rumo da Humanidade. Em toda travessia para dimensões mais altas, é preciso levar em conta essa imensa faixa, que circunda imediatamente o plano dos homens, para que se avalie melhor os imensos obstáculos a vencer. NAS ESFERAS DENSAS: Se, durante a vida terrena, a alma passou distraída, sem outra preocupação senão a de satisfazer seu próprio egoísmo, após a morte, pode não ultrapassar os planos grosseiros. Nesse caso, o estacionamento verifica-se na extensa zona a que nos referimos anteriormente, que possui 1.000 quilômetros de profundidade. Isto sem nos referirmos às zonas das trevas, em regiões ainda mais densas e inferiores. Há um certo amargor, quando isto ocorre, porque herdeiros da luz, intuitivamente, todos desejamos usufruir das moradas sublimes criadas pelo coração amoroso de nosso Pai Celestial. A verdade, porém, é que dois terços dos 20 bilhões de habitantes do mundo espiritual habitam as regiões mais densas e escuras, constituindo-se, portanto, em um contingente muito alto. Blaise Pascal, em texto claro e simples, que faz parte de O Evangelho Segundo o Espiritismo explica onde está a nossa verdadeira propriedade(44). Com ele, é possível compreender melhor a razão pela qual há tantos espíritos nas esferas escuras. Diz ele: O homem não possui de seu senão o que pode levar deste mundo. O que encontra ao chegar, e o que deixa ao partir, goza durante sua permanência na Terra; mas, uma vez que é forçado a abandoná-lo, dele não tem senão o gozo e não a posse real. Que possui ele, pois? Nada daquilo que é para uso do corpo, tudo o que é de uso da alma: a inteligência, os conhecimentos, as qualidades morais; eis o que traz e o que leva, o que não está no poder de ninguém lhe tirar, o que lhe servirá mais ainda no outro mundo do que neste; dele depende ser mais rico em sua partida do que em sua chegada, porque daquilo que tiver adquirido em bem depende sua posição futura. Temos, pois, vários pontos importantes a considerar, quando desejamos compreender a razão pela qual a alma estaciona nas zonas inferiores, conservando-se mais ligada à crosta terrestre. Allan Kardec lembra que a cada um será dado segundo as próprias obras. Na verdade, diz ele, a alma traz em si mesma o castigo ou prêmio, onde quer que se encontre (...), de modo que o inferno está por toda parte em que haja almas sofredoras, e o céu igualmente onde houver almas felizes. (45) O Codificador, valendo-se de médiuns confiáveis, entrevistou centenas de Espíritos, em graus evolutivos diversos, realizando, assim, pesquisa própria, que lhe trouxe vasto conhecimento da vida que se desdobra no além. Vejamos o que diz um dos entrevistados: Um Espírito avarento - A Revista Espírita de outubro de 1859, editada por Kardec, traz o depoimento de Pai Crépin, conhecido avarento, acerca de sua vida no além. Eis um trecho resumido de sua mensagem: Não posso mais tocar no meu ouro, contá-lo e guardá-lo(...) Ainda estou muito preso à Terra, e é difícil arrepender-me. (...) Minha única idéia estava ligada às riquezas; visando acumulá-las, jamais pensei em separar-me delas. (...) meu coração ainda é muito terreno, e ainda experimento um certo prazer em ver o meu ouro. Mas não posso apalpá-lo. Isto é um começo de punição na vida em que estou. (...) Parece que quanto mais tempo se passar, mais sofrerei por minha avareza terrena. André Luiz, médico e pesquisador desencarnado no Rio de Janeiro, passou oito anos nas zonas inferiores, antes de ser recolhido à área hospitalar de Nosso Lar, cidade situada na terceira dimensão. Ele resume, assim, a condição espiritual que o levou à região densa: (46) Filho de pais talvez excessivamente generosos, conquistara meus títulos universitários sem maior sacrifício, compartilhava os vícios da mocidade do meu tempo, organizara o lar, conseguira filhos, perseguira situações estáveis que garantissem a tranqüilidade econômica do meu grupo familiar, mas, examinando atentamente a mim mesmo, algo me fazia experimentar a noção de tempo perdido, com a silenciosa acusação da consciência. Habitara a Terra, gozara-lhe os bens , colhera as bênçãos da vida, mas não lhe restituíra ceitil do débito enorme.(...) Deliciara-me com os júbilos da família, esquecido de estender essa bênção divina à imensa família humana, surdo a comezinhos deveres da fraternidade. Em seu caso, passou diretamente do grande sono para a região umbralina. Embora não tivesse escolta visível, sua mãe o acompanhara, durante todo o tempo, das regiões superiores onde habita, enquanto o Ministro Clarêncio, ilustre morador da cidade espiritual, Nosso Lar, conhecia-lhe todos os passos na zona escura. Após oito anos, no início da década de 40, André Luiz foi, finalmente, recolhido à zona hospitalar de Nosso Lar, cidade à qual tem servido com desvelado amor por mais de 60 anos, demonstrando admirável transformação interior e alto espírito de renúncia e sacrifício. 40) Voltei, cap. 6, 7 e 8 41) Roteiro, cap. 9, p. 39 42) Voltei, cap. 9 43) Instruções Psicofônicas, mensagem de Efigênio S. Vítor: "Um Irmão de Regresso", cap. 31, pp.130 e 131 44) O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap.XVI 45) O Céu e o Inferno, 1ª parte, cap. VII 46) Nosso Lar, cap. 1 e 2 ADAPTAÇÃO À VIDA NOVA A adaptação "ao outro lado" da vida varia de conformidade com o grau evolutivo do Espírito. Para a imensa maioria dos desencarnados de evolução espiritual mediana, ela não se faz senão lentamente, influenciada por inúmeros fatores. Para os de condição inferior, a permanência nos planos da sombra representa sofrimento em graus diversos, vida desorganizada, sevícias cruéis ou aprofundamento nos caminhos improdutivos da ignorância, com requintes de maldade. (47) Os assuntos pendentes de toda ordem - financeiros, emocionais, afetivos e, principalmente, os complexos de culpa - trazidos da Crosta, vão exercer papel preponderante no estado de ânimo dos convalescentes espirituais, influindo, diretamente, na adaptação deles à Vida Nova. Quanto mais virtude o Espírito adquiriu - tolerância, perdão das ofensas, bondade e humildade - melhor adaptação terá à vida no Além. RECEBENDO ASSISTÊNCIA - Primeiramente, é preciso destacar a importância dos tratamentos específicos, no âmbito da saúde, que o Espírito recebe, logo após a morte física, nas diversas instituições do mundo espiritual, quando tem merecimento para isso. São Postos de Socorro, Hospitais-Escolas, Institutos de Saúde Mental, Hospitais de grande porte, etc. à disposição do desencarnado. (48) Vejamos alguns depoimentos das cartas-mensagens para que possamos compreender melhor como os desencarnados conseguem essa adaptação. Carlos Alberto Andrade Santoro contou aos pais: Acordei, achava-me num educandário-hospital dirigido por antigos benfeitores de São José do Rio de Preto. Meu bisavô Santoro me afagava e minha tia Maria me falava com bondade, mas não precisaram doutrinar-me quanto à Grande Renovação.(...) compreendi que, mesmo nós, os espíritas da mocidade e da madureza, ao que penso, não nos achamos assim tão preparados para transferência de plano, como julgamos, porque o choro do Antoninho Carlos me arrasava e as lágrimas do senhor e de minha mãe caíam sobre minha alma como se fossem gotas de algum ácido que me queimava por dentro todas as energias do coração. (49) Wellington Ramon Monteiro Rodrigues - cursava a Faculdade de Engenharia de Bauru, no interior paulista, quando veio a desencarnar de acidente automobilístico na rodovia Piratininga, aos 21 anos. Filho caçula de d. Helena (Edna) e do dr. André Monteiro Rodrigues, enviou várias mensagens através do médium Chico Xavier. Eis um trecho de uma delas, na qual relata a necessidade de tratamento do corpo espiritual (50): Posso dizer-lhes que o nosso corpo aqui não está isento dos resultados difíceis que remanescem dos acidentes. Não temos um corpo de impressões e, sim, um veículo de manifestação com fisiologia maravilhosamente organizada. E a qualquer estrago obtido no mundo, nos casos de impacto, somos obrigados a tratamentos laboriosos, como acontece em qualquer hospital de Ourinhos. ( cidade onde sua família vivia) As observações de Wellington são justas. Em muitos casos, o perispírito ou psicossoma demora meses e até anos para se recompor, de acordo com a posição mental do desencarnado. Como vemos nas cartas-mensagens, são inúmeras as referências a hospitais e postos de socorro, onde os recém-desencarnados recebem assistência. Essas instituições oferecem excelente qualidade de atendimento, como podemos constatar por vários testemunhos. Carlos Gataz Stur, desencarnado aos 17 anos, em São Paulo, dirigiu-se aos pais, contando sobre o tipo de assistência que recebeu (51): aí no mundo temos apenas um xerox da pessoa que realmente somos. Tudo aqui mudou e, ao mesmo tempo, preciso dizer que a mudança não é assim sensacional. Estou muito bem tratado num hospital maior que o Sírio Libanês, e onde os aparelhos para as minhas melhoras não me castigam tanto o estômago e os intestinos. O jovem refere-se ao Hospital Sírio-Libanês, da cidade de São Paulo, um dos mais bem-equipados do Brasil, onde esteve internado em seus últimos dias terrestres. Wilson William Garcia - estava casado há pouco mais de 12 meses, completaria 25 anos de existência uma semana depois de sua morte, quando desencarnou, no incêndio do edifício Joelma, no dia 1o de fevereiro de 1974. Na carta aos familiares, referiu-se ao Edifício Joelma como sendo um templo de transformação para Deus. A princípio, conforme explicou, deixou-se conduzir pelo desejo natural de escapar, de lutar pela sobrevivência. (52) Depois, foi a tosse, o cérebro toldado, como se houvesse sorvido uma bebida forte e , em seguida, um sono com pesadelos (...) Os pesadelos das telas em derredor que vocês podem imaginar como tenham sido (...) Posso dizer a você, Mamãe, que pensávamos em helicópteros que nos retirassem das partes altas do edifício e com espanto, quando acordei ainda estremunhado, fui transportado para um aparelho semelhante, junto de outros amigos. Era assim tão perfeita a situação do salvamento que fui alojado num hospital, como se estivéssemos num hospital da cidade para recuperação, antes do regresso à nossa casa. Relatou , então, que viu o avô, recordou cenas dos tempos de criança, viu-se menino, na memória, e compreendeu que estava na Vida Espiritual. O hospital não era mais daqueles que conhecemos no mundo. Viu e abraçou os antigos mestres do Colégio São Bento, entre eles dom Lourenço Zeller. Os que acreditam aí no mundo que a morte seja uma cortina de sombra e esquecimento, saibam que das cinzas do mundo surgem os nossos agradecimentos e os grandes benfeitores delas renascem para ajudar aos que caminham em passos vacilantes para as verdades maiores. Segundo informações mediúnicas, no mundo espiritual, são feitas cirurgias, tratamentos clínicos e psicoterápicos, além de terapias de vanguarda , com vistas à recuperação dos pacientes, sempre contando com tecnologia avançada, que inclui alguns aparelhos ainda desconhecidos na Terra. Esse período de tratamento e convalescença em Instituições de Saúde, que inclui a presença de parentes e amigos, com seus conselhos e diálogos terapêuticos, ao lado da modificação mental do recém-desencarnado, constituem fatores importantes na sua adaptação. COMANDO MENTAL E REJUVENESCIMENTO: No mundo espiritual, só teremos rugas ou sinais de envelhecimento se habitarmos as regiões densas e escuras, do contrário, poderemos treinar a mente, a fim de adquirirmos a aparência desejada. Poderemos escolher a cor dos cabelos e o aspecto do rosto, se mais maduro ou mais jovem, de conformidade com a preferência pessoal. Sem dúvida, não deixa de ser muito alentadora a possibilidade de livrarmo-nos das rugas, um dos desgostos da vida terrena, com o simples poder do pensamento. A aparência rejuvenescida já espelha, em certo grau, a adaptação do Espírito à Vida Nova, conforme nos explicam os comunicantes. Carmelo Grisi, faleceu aos 86 anos (1894 - 1980). Natural da bela província de Trecchina, próxima ao Golfo de Policastro, no sul da Itália, abandonou sua terra natal, com seus irmãos, ainda adolescente, para fixar-se no Brasil, particularmente, no interior do Estado de São Paulo, na cidade de São José do Rio Preto. Em 1918, já casado com Elvira Grisi, portadora de grande potencial mediúnico destinado à cura dos obsediados, converteram-se ao Espiritismo, trabalhando ambos, desde então, extensamente, na seara das boas obras, em Rio Preto e região. Em 1954, enviuvou, tendo se consagrado inteiramente aos familiares e às tarefas do Lar Irmã Elvira, fundado com o auxílio dos filhos, na cidade de Votuporanga. Em seu livro - Carmelo Grisi, Ele Mesmo - que contém cartas dirigidas aos seus familiares, através do médium Xavier, ele continua a expressar-se com a mesma alegria e simplicidade, como demonstrara na vida terrena. Ele conta, em uma das mensagens, quais os exercícios que tem de fazer para o seu rejuvenescimento no mundo espiritual: Acho engraçado chegarmos aqui tão envelhecidos e recebermos instruções para pensar em mocidade e saúde, robustez e agilidade mental e os professores e médicos dos setores em que me vejo ensinam que tudo isso está dentro de nós mesmos e que somos obrigados a reviver as células adormecidas de nosso envoltório espiritual. Em muitas ocasiões, chego a rir de mim, no entanto, faço o que me mandam. Não nego que certas energias em mim estão acordando como se estivessem paradas num grande sono (53). 47) Leia o excelente livro de André Luiz, Libertação, para informar-se mais sobre os planos espirituais inferiores. Aliás, em toda coletânea deste autor, há descrições das atividades nas diversas dimensões extrafísicas. 48) Na coletânea André Luiz, leia, entre outros, E a Vida Continua... 49) A Vida Triunfa, caso no. 14 50) Assuntos da Vida e da Morte, p. 103 51) Vivendo Sempre, p. 56 52) Somos Seis, pp. 231 e 232 53) Carmelo Grisi, Ele Mesmo, pp. 6,38,43,104, 120,127-129. Dos filmes que abordam a vida no Além, Shangri-La, o Paraíso Perdido, com Peter Finch, foi o que melhor retratou o rejuvenescimento ou a aparência sempre jovem dos habitantes do Além. REPERCUSSÕES DA VIDA TERRENA DESPREPARO PARA A MORTE: É muito comum os Espíritos não se darem conta de que morreram. No livro E a Vida Continua..., observa-se que extensa comunidade atendida, no plano espiritual, em vários pavilhões hospitalares, não tinha idéia de que havia desencarnado. Para muitos, pairava uma dúvida no ar... Um fenômeno mui freqüente entre os Espíritos de certa inferioridade moral é o acreditarem-se ainda vivos, podendo esta ilusão prolongar-se por muitos anos, durante os quais eles experimentarão todas as necessidades, todos os tormentos e perplexidades da vida, escreveu Kardec(54), tomando por base também suas investigações pessoais no trato com os desencarnados. A dúvida quanto à própria morte está relacionada, com a formação religiosa e o tipo de vida expresso nas atitudes. Infelizmente, as religiões falam em sono ou descanso eterno e na impossibilidade de comunicação entre os que partiram e os que ficaram, tornando muito difícil a compreensão do que seja imortalidade e vida espiritual. Nas esferas extrafísicas mais evoluídas, os sacerdotes das várias religiões não são aferrados a dogmas, concepções estreitas, preconceitos e fanatismos; todos trabalham em harmonia e entendimento, visando o bem dos semelhantes; os que não agem dessa forma, ficam de fora das regiões iluminadas, restritos às áreas das inteligências rebeldes e perturbadas (55) Os negócios pendentes, dívidas e transações não solucionadas, constituem obstáculos à adaptação, do mesmo modo, como os transplantes e a cremação, conforme já vimos. Outra dificuldade também são os maus hábitos alimentares, porque na pátria extrafísica o corpo espiritual tem necessidade de outros tipos de alimento e o Espírito terá de deixar de lado os velhos desregramentos. SEXO NO ALÉM: A heterogeneidade evolutiva no planeta Terra é muito grande. Na sua psicosfera medram Espíritos de toda natureza, sendo que dois terços do total deles apresentam graus predominantes de inferioridade. Desse modo, os problemas sexuais inferiores pululam por toda parte. E não há ninguém que possa considerar-se totalmente isento de comprometimentos nessa área, praticamente, toda a comunidade humana encarnada e desencarnada precisa evoluir na expansão do amor e diminuição da animalidade inferior. Embora não exista a procriação ou a geração de filhos, no mundo espiritual há casamentos e relacionamento sexual entre os cônjuges, mesmo nos planos superiores. André Luiz ressalta : (56) Enganam-se lamentavelmente quantos possam admitir a incontinência sexual como regra de conduta nos planos superiores da Espiritualidade.(...) Nos planos enobrecidos, realiza-se também o casamento das almas, conjugadas no amor puro, verdadeira união esponsalícia de caráter santificante, gerando obras admiráveis de progresso e beleza, na edificação coletiva(...) . Na Terra dá-se o mesmo. Para os casais que buscam a elevação espiritual, a união sexual tem conotação diferente daquela que impulsiona a grande maioria das criaturas humanas, eles não só produzem filhos carnais, mas também se alimentam, mental e afetivamente, produzindo obras generosas. Infelizmente, porém, esta vivência é para bem poucos. Dante Alighieri na Divina Comédia reporta-se, entre as suas visões dos vários planos da vida espiritual, às regiões de licenciosidade, onde as relações sexuais entre Espíritos assemelham-se à poligamia desenfreada de muitas paisagens terrestres. No devido tempo, todos os seres humanos desregrados sexualmente serão defrontados com a retificação natural, gerada pela Lei Universal do Amor, uma vez que, por esse dispositivo, o próprio desregramento gera sofrimento e perturbação. Somente a evolução espiritual vai melhorar a qualidade da vida sexual no planeta. CASAMENTO: O Caso Tobias, descrito no livro Nosso Lar (57), ilustra perfeitamente bem o tema do matrimônio. Ele vivia com Hilda, apresentando-a como esposa, mas em sua casa morava outra mais jovem, Luciana, nomeada como irmã. Todos moravam ali, em clima de fraternidade, mas na Terra ambas haviam sido esposas de Tobias. Quando Hilda faleceu, deixou-o com filhinhos pequenos, e ele veio a desposar Luciana que cuidou deles e da família que se tornara maior. A princípio, Hilda não compreendeu a substituição, mas depois de muita luta íntima e da colaboração de uma Benfeitora Espiritual conseguiu vencer o monstro do ciúme e vivem agora em perfeita harmonia. O Caso Odila-Zulmira, relatado no do livro Entre a Terra e o Céu , foi semelhante. Odila, a primeira esposa de Amaro, falecera, e depois de algum tempo fora substituída por Zulmira. Inconformada com o que considerou traição do marido, transformou-se em obsessora da substituta, contribuindo para o seu desequilíbrio mental. Com a interferência de Clara, anjo bom que a chamou à responsabilidade, Odila retrocedeu na conduta e passou a proteger Zulmira e seu lar. No final do livro E a Vida Continua... assistimos a um casamento no mundo espiritual. Evelina e Fantini casaram-se, sob as bênçãos do irmão Ribas e de todos os amigos da cidade onde residem.(57) Mas, no mundo espiritual, há muitas inquietações quanto à libido. Ivo de Barros Correia Menezes, o Ivinho, enviou vinte cartas para sua mãe, através do médium Chico Xavier, seis delas estão no livro Retornaram Contando, cinco outras em Gratidão e Paz, e algumas esparsas. Em 1983, cinco anos após a sua desencarnação, ocorrida aos 18 anos, desabafou com a mãe Neide (58), dizendo que tinha anseio de casar e ser pai de família. LIBERAÇÃO DE COMPROMISSOS AFETIVOS: O cônjuge ou o noivo que parte precisa ser muito desprendido para liberar o parceiro que deixou na Terra, a fim de que ele venha a assumir outros compromissos afetivos. Vejamos alguns testemunhos. Elisabete Aluotto Scalzo Palhares - desencarnada em 1976, em mensagem enviada à sua querida tia Nenem (Maria Philomena Aluotto Berutto), liberou o esposo, José Maria, para uma nova união (59): Aqui, se aceitamos Jesus, as afeições possessivas desaparecem, dando lugar a uma compreensão que se nos afigura verdadeira bênção de Deus. De muito pouco nos valeria uma dedicação agressiva, pronta a se prender nos entes amados, sem liberá-los para que possam viver por si mesmos. Graças a Deus entrei nessa embarcação do amor espiritual e tenho a felicidade de verificar que o lar vai se reajustando, como é preciso. Entregar, porém, o ser amado não é nada fácil. Francisco Eduardo de Oliveira - tragado, aos 21 anos, pelas águas do Rio Grande, reconhece essa dificuldade, diante da noiva que deixou (60): Tantos esportes praticamos no plano físico, a resistência nos remos, a agilidade no futebol, a força no salto, a energia nas corridas a pé; entretanto, agora reconheço que estou aprendendo um esporte mais importante, o esporte da renúncia, no qual devo entender que você é uma valorosa menina de Deus e não propriamente minha. Maria Cristina Summo - confessa essa dificuldade na carta que escreveu aos pais: (61) Era tão difícil dividir o esposo que me dera a alegria de viver e o dom de esperar o melhor que houvesse no mundo... Cristina confessa que se exercitou ao máximo, chorou, no íntimo, lágrimas pesadas e só conseguiu superar com preces. Finalmente, enviou o recado para o marido: Digam por mim ao Milton que isso não é renúncia, e, sim, compreensão. Ele que é tão sincero e tão digno de amor, encontrará quem me substitua para formar ou reformar o lar com que sonhávamos. 54) O Céu e o Inferno, cap. VII, p. 97 55) E a Vida Continua... , cap.9 56) Evolução em Dois Mundos, 2ª parte, p. 169 57) E a Vida Continua, cap. 26 58) Ver Retornaram Contando, cap. 4; Gratidão e Paz, cap. 23; Caravana de Amor, cap. 11, Anuário Espírita, 1988 e Jornal Folha Espírita. 59) Assuntos da Vida e da Morte, pp. 143 a 155 60) Novamente em Casa, p. 51 61) Continuidade, pp. 63-64 INFLUÊNCIA RECÍPROCA DE ATOS E PENSAMENTOS No período que se segue à morte física, os habitantes dos dois planos da vida continuarão a exercer influência recíproca acentuada, em geral insuspeitada pelos encarnados. É claro que essa influência perdurará sempre, mas não terá o grau de intensidade dos primeiros tempos de separação. É natural que seja assim porque nós nos alimentamos do magnetismo das pessoas amadas. Quando a morte nos impõe a separação provisória, sentimo-nos lesados no âmago do ser, necessitados de recompor energias básicas, de rearranjar o circuito de forças magnéticas no qual nos equilibramos. Esse raciocínio é válido para os que se encontram nos dois planos da vida. A influência dos pensamentos e ações dos que permanecem na Crosta é tão significativa que, muitas vezes, os desencarnados não conseguem se adaptar à Vida Nova, vagando sem rumo, perturbados, sem condições de assumir suas funções na verdadeira pátria. Isso acontece porque há um despreparo generalizado diante da crise da morte. Encarnados e desencarnados sofrem profundos desequilíbrios psicológicos e espirituais, diante da separação que julgam definitiva, porque, para a imensa maioria, sem "olhos de ver", somente o silêncio dolorido responde aos apelos de parte a parte. Tudo se passa como se os primeiros chorassem, desesperadamente, em um compartimento da casa e os últimos em outro, unidos pelos laços indestrutíveis do pensamento, mas incapazes de se entenderem, apesar da proximidade, por absoluta falta de preparo em lidar com esse novo tipo de comunicação. Todos gritam, mas ninguém se entende. João Jorge de Lima - falecido aos 25 anos, próximo de Mogi-Guaçu (SP), em carta aos familiares, afirma que ninguém morre, mas há um total despreparo para essa realidade (62): Aí, não somos preparados na Terra para enfrentar o problema da vinda para cá. Penso que a falta de conhecimento coloca 90% de dificuldades nos problemas que a morte do corpo nos obriga a aceitar. Muitos encarnados clamam, desesperadamente, pelos que partiram, vertendo lágrimas de fel, quando não acalentam idéias de suicídio na enganosa ilusão de reencontrá-los. Muitas vezes, ouvi Chico Xavier referir-se à sua preocupação de bem cumprir os seus deveres como médium, os quais sempre considerou como simples obrigação, sobretudo, em relação às pessoas que o procuravam firmemente determinadas ao suicídio. Ronaldo Malafronto - as notícias de Ronaldo, falecido aos 23 anos, por ruptura de aneurisma cerebral, foram decisivas na recuperação de sua mãe Tereza, uma vez que, desde sua morte, ela quase não se alimentava mais, sustentada praticamente por injeções. Na carta, ele respondeu a uma pergunta que transtornava o coração materno: por que o seu corpo, já sem vida, chorara durante o velório? Muito cansada, dona Tereza não conseguira ficar para a reunião do Grupo Espírita da Prece, apenas deixara uma carta, com essa pergunta, que o médium não tivera tempo de ler. Na mesma noite, Ronaldo mandou a resposta, dando detalhes impressionantes de sua desencarnação, em uma evidência extraordinária da sobrevivência. Eis um trecho da mensagem (63): Mamãe, porque a gente não pensa em dizer tudo o que se quer enquanto a palavra pode sair da boca? Não sei. Aquilo tudo, com aquela impressão de fim de existência, me fez chorar por dentro, mas as lágrimas eram iguais às vozes que se mantinham presas comigo. Minhas pálpebras também estavam cerradas e aquele orvalho de dor que me nascia no coração ficou estancado... Por isso , mãezinha, é que a senhora e os nossos tiveram a impressão de que eu chorava no corpo imóvel. Ver, eu não vi, mas as suas perguntas nesse sentido eram muitas e minha bisavó Philomena, que me tomou por outra mãe, explicou-me o que se passara. Quando me retiraram da forma física extenuada, as comportas se abriram e as lágrimas que eram em mim preces a Deus, rogando forças em vão para dizer alguma coisa, rolaram pela face. Não pense que seu filho estava sofrendo. Acontece que dormi e só acordei em outro lugar com as suas exclamações. Respondendo à dúvida angustiante de sua mãe, Ronaldo pediu-lhe fortaleza de ânimo, abandono da idéia de solidão e transformação da saudade em tarefas de amor ao próximo. Essa fortaleza de ânimo lhe era necessária à própria adaptação ao mundo espiritual LÁGRIMAS DE FEL: Há chuvas que arrasam a plantação e outras, "criadeiras" que estimulam o crescimento da lavoura. Assim também, são os efeitos das lágrimas dos encarnados sobre os que partiram. Maurício de Lima Basso - falecido em 5 de dezembro de 1972, aos 21 anos, de acidente rodoviário, pede, na mensagem, a compreensão dos pais para o seu sofrimento (64): Venho (...) rogar ao senhor e à mamãe não chorarem mais assim, com tanto peso no coração. (...) quando choram fitando o meu retrato ou recompondo os meus objetos não consigo estancar o pranto que me verte do peito, complicando as melhoras que obtenho e perco (...) Inúmeros outros comunicantes falam da dificuldade de adaptação ao mundo espiritual por causa da perturbação dos familiares. Esse desequilíbrio, muitas vezes intenso, não lhes permite a própria renovação no plano em que se encontram. Jair Presente - nasceu em Campinas a 10 de novembro de 1949 e faleceu antes de completar 25 anos, a 3 de fevereiro de 1974, vítima de afogamento. Cursava o 4o ano de Engenharia Mecânica na Unicamp. Aluno exemplar, alegre, jovial, trabalhava para o próprio sustento, lecionando em colégios de Campinas, ao mesmo tempo que prosseguia o curso e fazia outros de extensão universitária. Madrugava todos os dias, para dar conta do recado. A 15 de março de 1974, 42 dias após sua morte, seu pai, ralado de saudade, demandou Uberaba em busca de notícias do filho. As apresentações foram rápidas, sem tempo para muitas informações ou detalhes. E qual não foi a surpresa do sr. José Presente quando Jair escreveu contando: (65). As vozes de casa chegam ao meu coração e, como se continuássemos juntos, vejo-os no quarto, guardando-me as lembranças como se devesse chegar a qualquer instante. E o meu pensamento não sai de onde me prendem. Agradeço, sim, o amor em suas lágrimas. Agradeço o carinho em suas preces, mas venho pedir-lhes para viverem. Viverem! E viverem felizes, porque assim serei feliz. Nesta primeira carta, Jair Presente afirmou que não desencarnou por afogamento, mas porque o coração parou, ao modo de um motor, de que não se descobre imediatamente o defeito.E enfatizou: Lembrem-me estudando, e não morto, porque a vida não admite a morte. CULTIVO DA CARIDADE: este é um pedido constante dos comunicantes aos que ficaram na Terra, para que eles próprios tenham paz e tranqüilidade íntima, realizando, juntos, um trabalho de amor ao próximo. Roberto Salas - conhecido pelo apelido de Garibaldo, ressaltou, por sua vez, a necessidade do serviço em favor do próximo para encontrar a paz interior (66): (...) procuremos povoar o tempo com a felicidade para os outros, porque nesse tipo de felicidade encontraremos a nossa Sérgio Calamari - A melhor maneira de lembrar os que morrem é justamente adquirir um espaço na Terra, para abrigar meninos e meninas que começam a vida, às vezes rejeitados pelos próprios pais (15). É dessa forma que Sérgio deseja ser lembrado. Rosemari Daurício - afirma em carta dirigida à mãe, Terezinha de Jesus Beraldo (67): O fardo mais pesado que se carrega no mundo somos nós mesmos , quando não dividimos , o tempo e a vida, em favor de outras pessoas . Roberto Muszkat - também tem muito a agradecer. Primogênito do casal David Muszkat e Sonia Golcman Muszkat, constituía, com seus irmãos Rachel, Renato, Rosana, Moises Aron e Ricardo, a alegria da constelação familiar. Aos 19 anos, recém-admitido, após êxito no vestibular, no primeiro ano da Faculdade de Medicina, preparava-se para seguir a carreira do pai, quando fez-se o ponto e vírgula em sua linha existencial terrena. No dia 14 de março de 1979, depois de fazer uso de um tópico nasal, foi acometido de um choque anafilático - reação alérgica súbita e extremamente grave - vindo a falecer imediatamente. Todo o drama familiar e o intercâmbio através do médium Xavier estão no livro Quando se Pretende Falar da Vida, realizado em parceria com seu pai, David. Sua segunda mensagem também está coletada em A Vida Triunfa. Nas cartas aos familiares, Roberto deixa transparecer a elevação de sua alma Nelas, encontramos dezenas de expressões judaicas, bem como referências a rituais e costumes multimilenares de seu amado povo. Uma prova extraordinária da sobrevivência!(68) Sua mãezinha Sonia, seu pai e irmãos, desde a sua partida para a pátria espiritual, têm comemorado o seu aniversário de nascimento em Uberaba, no Lar da Caridade, anteriormente conhecido por "Hospital do Fogo Selvagem", e em um dos bairros pobres da cidade, distribuindo mantimentos, roupas e brinquedos. Sonia e amigas realizam, também, o mesmo movimento, desde 1987, todas as quintas-feiras, no Cantinho do Leite Roberto Muszkat, na sede do Lar do Alvorecer, em Diadema. PERDÃO DAS OFENSAS Há muito desassossego na vida psíquica dos desencarnados, toda vez que os familiares não aceitam a separação ou procuram vingança, nos casos de desencarnação por assassinato, alimentando os sentimentos inferiores, muitas vezes, envolvidos nos processos penais. Walter Perrone - jovem assassinado aos 23 anos de idade, agradeceu aos pais e irmãos o terem desenvolvido idéias pacíficas que o vieram fortalecer na vida além-túmulo: Agradeço tudo o que meu pai e os meus fizeram contra as idéias de ódio e ressentimento (69). Nas mensagens recebidas por Chico Xavier, os "mortos" nunca incriminam os "vivos" e nem apontam culpados à polícia. Já os vimos, por diversas vezes, pedir clemência à Justiça pelos inocentes, que respondiam a processo criminal nos tribunais terrenos. Constatamos também a súplica de alguns, pedindo aos pais e amigos que perdoem o assassino. Carlos Teles Sobral Jr. - No livro A Vida Triunfa, (caso 43), consta o caso deste jovem, que, embora nascido no Brasil, morava em Portugal, onde apareceu morto aos 25 anos. A polícia de Cascais catalogou o caso como sendo de suicídio. Três meses após sua morte, enviou mensagem aos pais, pelo correio mediúnico de Uberaba, esclarecendo que tinha sido assassinado, mas não revelou o nome do autor do crime e aconselhou-os a dar o caso por encerrado. Gilson Gravena de Souza - assassinado por um desconhecido, aos 26 anos, praticamente vetou qualquer tipo de ação judicial contra o algoz, caso os familiares viessem a descobri-lo (70): Se eles souberem de algum detalhe do sucedido, que me façam a caridade de não cultivarem qualquer ressentimento. Estou bem, melhorando sempre, e não desejo cair em depressões por motivo de ações que forem movidas contra alguém, seja quem seja, em nome de minha memória.(...) 62) A Vida Triunfa, caso no. 12 63) A Vida Triunfa, caso no. 10 64) Novamente em Casa, p.98 65) Jovens no Além, pp. 108 a 113; A Vida Triunfa, caso no. 2 66) A Vida Triunfa , caso no. 31 67) A Vida Triunfa , caso no. 19 68) A Vida Triunfa, caso no. 33 69) A Vida Triunfa, caso no. 9. Ver ainda Amor Sem Adeus, com várias cartas desse jovem. 70) Renascimento Espiritual, pp. 70 a 74 COMUNICAÇÃO DO ESPÍRITO MODIFICA SENTENÇA - A ausência de perdão e as injustiças constituem motivo de desequilíbrio para os desencarnados, impedindo-lhes a adaptação à Vida Nova. Por isso, alguns Espíritos voltaram pelo lápis mediúnico, preocupados em esclarecer fatos relativos à sua desencarnação, na ânsia de inocentar os encarnados, levados à barra dos tribunais, por terem sido instrumentos, muitas vezes involuntários, da morte deles. Maurício Garcez Henrique - desencarnou em maio de 1976, aos 15 anos, vítima de um tiro acidental. Morava com seus pais em Goiânia de Campinas, cidade próxima da capital de Goiás. Dois anos depois, enviou comovente carta-mensagem à sua mãe, pedindo-lhe que inocentasse o amigo, José Divino Nunes, que respondia a processo, acusado de tê-lo assassinado (71): Peço-lhes não recordar a minha vinda para cá, criando pensamentos tristes. O José Divino e nem ninguém teve culpa em meu caso. Brincávamos a respeito da possibilidade de se ferir alguém, pela imagem do espelho: e quando eu passava em frente da minha própria figura, refletida no espelho, sem que o momento fosse para qualquer movimento meu, o tiro me alcançou, sem que a culpa fosse do amigo ou minha mesmo. (...) Se alguém deve pedir perdão, sou eu mesmo, porque não devia ter admitido brincar, ao invés de estudar. A assinatura de Maurício ao final da mensagem é idêntica, podendo ser estudada grafoscopicamente. À época do julgamento de José Divino, em 1979, o dr. Orimar de Bastos, era o Juiz de Direito da Sexta Vara Criminal da capital goiana, onde corria o processo. Na sentença que proferiu, a 16 de julho de 1979, dr. Orimar inocentou o réu, levando em consideração, entre outras peças dos autos, a carta psicografada por Chico Xavier. Consta da sentença os seguintes tópicos (72): Lemos e relemos depoimentos das testemunhas, bem como analisamos as perícias efetivadas pela polícia, e ainda mais, atentamos para a mensagem espiritualista enviada do além, pela vítima, aos seus pais. (...) Temos de dar credibilidade à mensagem de fls. 170 , embora na esfera jurídica ainda não mereceu nada igual, em que a própria vítima, após sua morte, vem relatar e fornecer dados ao julgador para sentenciar. Na mensagem psicografada por Francisco Cândido Xavier, a vítima relata o fato e isenta de culpa o acusado. Fala da brincadeira com o revólver e o disparo da arma. Coaduna este relato, com as declarações prestadas pelo acusado, quando de seu interrogatório, às fls 100/vs. Foi esta a primeira sentença judicial em que o depoimento de um desencarnado foi considerado como válido e importante. Como afirmou Freitas Nobre pela Folha Espírita: O Juiz Orimar Bastos teve o privilégio de iniciar uma nova visão interpretativa do crime (73). CRIANÇAS E JOVENS NO ALÉM: No mundo espiritual, há evidentes sinais de crescimento do corpo espiritual, tanto de crianças quanto de jovens. Artur Francisco Köller - o garotinho de Porto Alegre, caçula da família, nasceu em 28 de maio de 1979 e desencarnou aos três anos e três meses de idade, a 23 de agosto de 1982, em conseqüência de um câncer do fígado. Na primeira comunicação, enviada cinco meses depois, a 28 de janeiro de 1983, enviou uma longa carta à sua mãe, da qual extraímos a frase (74): Mãezinha Terezinha, o pintinho amarelo tomou a feição da estrela pequenina novamente, mas quem diz que conseguirei voltar ao azul do Céu sem a estrela que me deu a vida? Por detrás desta linda estória está todo um testemunho de amor e de certeza da sobrevivência. Quando Artur estava muito doente, sua mãe perguntou-lhe se ele iria morar com o Papai do Céu, e o menino respondeu afirmativamente. Mãe e filho tiveram, então, o seguinte diálogo: - Quando tu fores morar com o papai do Céu e a mamãe do Céu, a mãezinha vai lá no Chico Xavier e tu prometes escrever para a mamãe? - Sim, eu prometo. - Mas vamos fazer um segredinho: se me escreveres pelo Chico ou por qualquer outro médium, eu vou acreditar se falares estas palavrinhas: estrela, estrelinha ou Estrela de Belém. Selado este acordo, o segredo foi mantido, nem a mãe nem a criança falaram dele a quem quer que seja. Eis que, pela extraordinária mediunidade de Chico Xavier, Artuzinho voltou por inteiro ao coração da mãe, contando a estorinha com todos os elementos de identificação. Na segunda e terceira cartas , enviadas aos pais, Terezinha e Erny, publicadas no livro Caravana de Amor, Arthur já se revelava um adulto, tendo crescido, rapidamente, no mundo espiritual. Carlos Augusto Ferraz de Lacerda (75) - desencarnou a 16 de setembro de 1951, aos quinze anos e meio, em Campinas, quando o teto do cinema Rink desabou em plena matinê, matando também dezenas de outros jovens. Era um débito coletivo, uma conta do destino, desde a Idade Média, que eles tiveram a oportunidade de resgatar, conforme Carlos Augusto explicou à sua mãe, Inayá Ferraz de Lacerda, em carta psicografada por Chico Xavier. Neste caso, desejamos ressaltar um fato comum na erraticidade: o crescimento do corpo espiritual de crianças e jovens. No caso de Carlos Augusto, podemos dizer que esse crescimento foi palpável. Expliquemos: entre as inúmeras fotos de espíritos materializados nas sessões ocorridas em Pedro Leopoldo, com a presença de Chico Xavier, e tendo como médium principal de efeitos físicos Francisco Peixoto Lins, o Peixotinho, podemos ver a de Carlinhos, nome pelo qual era mais conhecido. Estava em plena maturidade, indicando o seu crescimento na vida espiritual. Dá para comparar as duas fotos, vendo a estampada no livro Luz Bendita, pouco antes de sua desencarnação e a obtida na sessão de materialização publicada no livro de Lamartine Palhano Júnior e Wallace Fernando Neves, o Dossiê Peixotinho. Observa-se, claramente, o processo de crescimento e maturidade do Espírito no Além. ESCOLAS NO PLANO ESPIRITUAL Nas várias dimensões extrafísicas, há cidades, aldeias, postos de socorro, e, sobretudo, muitas escolas. Vejamos o que estas representam na recuperação das crianças no mundo espiritual Andréa Lodi - tinha nove anos quando partiu da Terra, vítima de desastre automobilístico, na avenida dos Bandeirantes, em São Paulo. Escrevendo a seus pais, Armando e Edinah, afirmou (76): Sei que estou melhor e com o apoio do meu avô Sílvio estou num grande colégio cercado de jardins (...) Nossos professores, aqui, muitos deles informam que possuem filhos na Terra e que nos amam da mesma forma como as crianças deles são estimadas e protegidas por muita gente boa no mundo. Eduardo Zibordi Camargo (Dudu) - faleceu a 6 de fevereiro de 1966, no Hospital Samaritano, em São Paulo, em conseqüência de tumor cerebral. Na primeira mensagem, falou do lugar aprazível onde se encontra (77): Nossa escola é um parque marcado de fontes e flores. Céu azul e muita beleza em tudo. Paz e ensinamentos, estamos amparados (...) Indicamos aqui dois preciosos livros, Crianças no Além e Escola no Além, com mensagens muito esclarecedoras sobre a vida infanto-juvenil na erraticidade. 71) A Vida Triunfa, caso no. 21 72) Lealdade, pp. 25 a 28 73) A Vida Triunfa, caso no. 21 74) Vozes da Outra Margem, pp. 15 a 28; ver também Caravana de Amor, cap. 3 75) Ver Luz Bendita, p.118 e Dossiê Peixotinho, p.241 76) A Vida Triunfa, caso 25 77) Vida nossa Vida, pp. 56 a 69 NINGUÉM MORRE (CONCLUSÃO) Um dos benefícios que o Espiritismo vem trazendo à humanidade é ensiná-la a saber morrer. Argemiro Acayaba de Toledo (Presença de Chico Xavier) Afinal, o que é a morte? O que pensamos quando dizemos destino, acaso, azar? Parece que uma série de eventos inexplicáveis se abate sobre nós, algo que não conseguimos compreender. Tudo parece não ter lógica, aquela lógica que nos guia em nossas ações cotidianas. Experimentamos uma sensação de desconforto, de dor, diante de acontecimentos que não nos parecem naturais. No entanto, o que pode haver de mais "natural" do que a morte de uma pessoa querida? Por que não conseguimos "aprender" de uma vez por todas que os corpos e as coisas do mundo são perecíveis, transitórias? Por uma razão muito simples: porque em nosso íntimo, acreditamos que as coisas permanecem. É assim que agimos em nossa vida diária. Dizemos para nós mesmos que, por trás das aparentes alterações, há algo que não muda, há algo permanente. É, por isso, que podemos dizer que somos a "mesma" pessoa, o mesmo "eu" de há dez anos atrás, embora tenhamos envelhecido, sofrido, aprendido coisas novas. Este livro vem mostrar que não há razão para nos desfazermos das nossas crenças cotidianas. Não há razão para abandonarmos essa idéia tão comum de que as coisas permanecem apesar de estarem em contínua mudança. Não há razão para pensarmos que os eventos de nossa vida não podem ser explicados racionalmente. Afinal de contas, não deve ser obra do simples acaso que essa seja a maneira como pensamos. (78) Reconhecemos, no entanto, que o ser humano convive com essa contradição dilacerante: no seu inconsciente, não conhece o evento morte, intuitivamente sabe que as coisas permanecem, apesar da contínua mudança, no entanto, teme o "outro lado", a continuidade. Fecha-se à outra face da mudança. Por falta de maturidade espiritual, perturba-se, acreditando que somente a existência física é permanente, quando, na verdade, a vida no Além é a única eterna, primitiva, pre-existente. Se ao invés de fugirem ao debate, os seres humanos discutissem mais os assuntos da vida e da morte, procurando facear, com naturalidade, a questão da sobrevivência, a violência diminuiria em muito no planeta, porque compreenderiam melhor a relatividade e a transitoriedade das coisas terrenas. A maioria, porém, ainda prefere agarrar-se à concretude da vida material. Faz um século, no entanto, que a matéria deixou de ser trincheira inexpugnável, apresentando-se, hoje, como "cordas" tangidas por energias sutis. A física quântica encarregou-se de ampliar os horizontes humanos, ressaltando o oceano imenso de energia pura em que estamos mergulhados; a maioria, porém, permanece fixada em redutos inflexíveis, em suas "realidades tangíveis". Nesta palestra, citamos lições de Espíritos, que foram gente como a gente, reconhecidos como autênticos pelos familiares, quando voltaram, claramente vivos, para abraçá-los, através do correio mediúnico, reiterando-lhes o amor imorredouro. A certeza que temos da imortalidade, não podemos passar a ninguém, no entanto, o volume de informações corretas que os desencarnados trouxeram aos familiares, através da mediunidade de Francisco Cândido Xavier, é tão impressionante que está a merecer um estudo científico desapaixonado para que se desvende mais amplamente a Vida no Além. Emmanuel ensina que devemos cuidar do corpo como se ele fosse viver eternamente e do Espírito como se fosse morrer amanhã. Cremos que isto resume todo e qualquer preparo para a fatalidade da vida, seja em que plano for. Fundamentalmente, o grande obstáculo à nossa felicidade espiritual é o egoísmo. As nossas maiores dificuldades, tanto no processo do morrer quanto do despertar para a Vida Nova, estão nas nossas vinculações e desvinculações afetivas, em geral, calcadas no egoísmo. Ainda não sabemos amar sem escravizar, nem nos empenhamos em vencer ódios milenares, incompatíveis com a Bondade Divina, porque nos acomodamos à lei do menor esforço. Na verdade, os habitantes da Terra não necessitam de outra regra áurea para seguir, senão aquela exemplificada, há dois mil anos, pelo Mestre Jesus: "Amar ao próximo como a si mesmo". Nela resume-se toda felicidade real e duradoura do Espírito, seja qual for a região do Universo que lhe sirva de morada.
Trecho do release feito por Marcos Nobre para apresentação do livro A Vida Triunfa
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terça-feira, 6 de novembro de 2012
Nossa Vida no Além
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