PENAS E GOZOS TERRENOS
Na maioria das vezes o homem é o artífice da sua própria infelicidade.
1.1. Felicidade e infelicidade relativas
Se praticasse a lei de Deus, livrar-se-ia de muitos males e gozaria da felicidade tão grande quanto o comporta a sua existência num plano grosseiro.
O homem ciente do seu destino futuro vê, na existência corpórea, apenas uma rápida passagem; ele consola-se facilmente depois de alguns aborrecimentos passageiros.
Recebemos, nesta vida, os efeitos das infracções que cometemos às leis da existência corpórea, pelos próprios males decorrentes dessas infracções e pelos nossos próprios excessos. Se remontamos, pouco a pouco, à origem do que chamamos infelicidade terrena, veremos esta como consequência de um primeiro desvio do caminho certo. Em virtude desse desvio inicial, entramos num mau caminho e, de consequência em consequência, caímos no infortúnio.
A felicidade terrena é relativa à posição de cada pessoa. Entretanto, podemos dizer que há uma medida comum de felicidade para todos os homens, expressa da seguinte forma: para a vida material, é a posse do necessário; para a vida moral, a consciência pura e a fé no futuro.
Todavia, a medida do necessário e do supérfluo varia segundo as pessoas. Há algumas que têm muito e acham que não têm aquilo de que necessitam, enquanto outras se contentam com o pouco. "O homem criterioso, a fim de ser feliz, olha sempre para baixo e não para cima, a não ser para elevar sua alma ao infinito." *
Os males que dependem da maneira de agir, e que ferem o homem mais justo, devem ser encarados com resignação e sem queixas para se poder progredir. Este homem tira sempre uma consolação da sua própria consciência, que lhe dá a esperança de um futuro melhor.
Aos olhos de quem apenas vê o presente, certas pessoas parecem favorecidas pela fortuna sem o merecer. Porém, a fortuna é uma prova, geralmente mais perigosa do que a miséria.
De ordinário, os males da vida terrena estão relacionados directamente com as necessidades artificiais que criamos. Aquele que soubesse restringir os seus desejos, e olhasse sem inveja os que estivessem acima dele, livrar-se-ia de muitos desenganos nesta vida. O mais rico seria o que menos necessidades tivesse.
Deus permite que o mau prospere algumas vezes, mas a sua felicidade não é de causar inveja porque a pagará com lágrimas amargas. "Quando um justo é infeliz, isso representa uma prova que lhe será levada em conta, se a suportar com coragem."
O homem só é verdadeiramente infeliz "quando sofre da falta do necessário à vida e à saúde do corpo. Todavia, pode acontecer que essa privação seja de sua culpa. Então, só tem que se queixar de si mesmo. Se for ocasionada por outrem, a responsabilidade recairá sobre aquele que lhe houver dado causa."
Muitos dos males originam-se de não seguirmos a vocação que determina as nossas aptidões naturais. "Muitas vezes são os pais que, por orgulho ou avareza, desviam os seus filhos da senda que a natureza lhes traçou, comprometendo-lhes a felicidade. Por efeito desse desvio, responderão por eles."
"Em afastarem-se os homens da sua esfera intelectual reside indubitavelmente uma das mais frequentes causas de decepção. A inaptidão para a carreira abraçada constitui fonte inesgotável de reveses. Depois, o amor-próprio, sobrevindo a tudo isso, impede que o que fracassou recorra a uma profissão mais humilde... Se uma educação moral o houvesse colocado acima dos tolos preconceitos do orgulho, jamais se teria deixado apanhar desprevenido."
Há pessoas em cujo derredor reina a fartura e, apesar disso, encontram-se baldas de todos os recursos e têm diante de si apenas a perspectiva da morte. Todavia, ninguém deve reter a ideia de se deixar matar de fome. Achariam "sempre meio de se alimentar, se o orgulho não se colocasse entre a necessidade e o trabalho... Não há ofício desprezível; o seu estado não é o que desonra o homem."
"Com uma organização social criteriosa e previdente ao homem, só por culpa sua pode faltar o necessário. Porém, as suas próprias faltas são frequentemente resultado do meio em que se acha colocado. Quando praticar a lei de Deus, terá uma ordem social fundada na justiça e na solidariedade e ele próprio também será melhor."
Na sociedade, geralmente, as classes sofredoras são mais numerosas que as chamadas felizes. Mas, na verdade, nenhuma é perfeitamente feliz, pois, muitas vezes, há ocultas pungentes aflições. As classes a que chamamos "sofredoras são mais numerosas por ser a Terra lugar de expiação. Quando houver transformação em morada do bem e de espíritos bons, o homem deixará de ser infeliz aí e ela será para ele o paraíso terrestre."
Diz-se que no mundo, muito amiúde, a influência dos maus sobrepõe-se à dos bons, por fraqueza destes. "Os maus são intrigantes e audaciosos, os bons são tímidos. Quando estes o quiserem, preponderarão."
Algumas vezes os sofrimentos materiais independem da vontade do homem, que quase é o próprio causador deles. Porém, mais do que estes, os sofrimentos morais são gerados pelo orgulho ferido, pela ambição frustrada, pela ansiedade da avareza, pela inveja, pelo ciúme e todas as paixões que são torturas da alma.
"De ordinário, o homem só é infeliz pela importância que liga às coisas deste mundo... Se se colocar fora do círculo acanhado da vida material, se elevar os seus pensamentos para o infinito, que é seu destino, mesquinhas e pueris lhe parecerão as vicissitudes da humanidade, como o são as tristezas da criança que se aflige pela perda de um brinquedo que resumia a sua felicidade suprema."
"Como civilizado, o homem raciocina sobre a sua infelicidade e a analisa. Por isso é que esta o fere. Mas, também, é-lhe facultado raciocinar sobre os meios de obter consolação e de os analisar. Essa consolação, ele a encontra no sentimento cristão, que lhe dá a esperança de melhor futuro - o espiritismo dá-lhe a certeza desse futuro."
1.2. Perdas de entes queridos
A perda dos entes que nos são caros constitui para nós uma legítima causa de dor. Essa dor atinge o rico como o pobre e representa uma prova ou expiação.
Temos, porém, por vezes a consolação de nos comunicarmos com eles através dos médiuns, enquanto não dispusermos de outros meios mais directos e mais acessíveis aos nossos sentidos.
Os espíritos dos entes queridos, quando já se encontram em condições espirituais para isso, colocam-se ao nosso lado e respondem-nos, através das leis naturais da comunicação. Auxiliam-nos com os seus conselhos, testemunham-nos o afecto que nos guardam e a alegria que experimentam por nos lembrarmos deles.
O espírito é sensível à lembrança e às saudades dos que lhe eram caros na Terra. Porém, as dores inconsoláveis e desarrazoadas o tocam penosamente, pois nessa dor excessiva ele vê falta de fé no futuro e de confiança em Deus e, por isso, um obstáculo ao adiantamento dos que o choram e talvez à sua reunião com estes. O espiritismo dá-nos suprema consolação ao explicar-nos o porquê da vida!
"Estando o espiritismo mais feliz no Espaço que na Terra, lamentar que ele tenha deixado a vida corpórea, é deplorar que seja feliz...".
"Pelas provas patentes que ministra da vida futura, da presença em torno de nós, daqueles a quem amamos, da continuidade da afeição e da solicitude que nos dispensavam; pelas relações que nos faculta manter com eles, a doutrina espírita oferece a suprema consolação por ocasião de uma das mais legítimas dores. Com o espiritismo, não há mais solidão, nem abandono: o homem, por muito insulado que esteja, tem sempre perto de si amigos com quem pode comunicar-se."
1.3. Decepções, ingratidão, afeições destruídas
"Para o homem de coração, as decepções oriundas da ingratidão e da fragilidade dos laços da amizade são também uma fonte de amargura." Porém, devemos lastimar os ingratos e os infiéis; serão muito mais infelizes. A ingratidão é filha do egoísmo e o egoísta topará com corações insensíveis, como o seu próprio o foi.
O bem deve ser praticado sem exigências; a ingratidão é uma prova à nossa perseverança no exercício do bem. Os ingratos serão punidos na proporção exacta do seu egoísmo. Por isso, o homem não deve endurecer o seu coração e tornar-se insensível ao topar com a ingratidão. Ao contrário, deve sentir-se feliz pelo bem que faz.
É verdade que a ingratidão lhe ulcera o coração. Porém, não deve preferir a felicidade do egoísta e tornar-se indiferente pela ingratidão que recebe. "Saiba, pois, que os amigos ingratos não são dignos de sua amizade e que se enganou a respeito deles. Assim sendo, não há de que lamentar o tê-los perdido. Mais tarde achará outros que saberão compreendê-los melhor." Os ingratos merecem ser lastimados, pois bem triste se lhes apresentará o reverso da medalha.
"A natureza deu ao homem a necessidade de amar e de ser amado. Um dos maiores gozos que lhe é concedido na Terra é o de encontrar corações que com o seu simpatizem. Dá-lhe ela, assim, as primícias da felicidade que o aguarda no mundo dos espíritos perfeitos, onde tudo é amor e benignidade. Desse gozo está excluído o egoísta."
1.4. Uniões antipáticas
Como podemos observar acima, os espíritos simpáticos buscam-se reciprocamente e procuram unir-se. Todavia, é muito frequente que entre os encarnados na Terra, a afeição exista só de um lado e o mais sincero amor se veja colhido com indiferença e até com repulsão. E, além disso, encontramos situações em que a mais viva afeição de dois seres se transforma em antipatia e mesmo em ódio.
Estas ocorrências, sob o ponto de vista da lei moral, constituem uma punição passageira. Além disso, "quantos não são os que acreditam amar perdidamente porque apenas julgam pelas aparências, e que, obrigados a viver com a pessoa amada, não tardam a reconhecer que só experimentaram um encantamento material!".
"Não basta uma pessoa estar enamorada de outra que lhe agrada e em quem supõe belas qualidades. Vivendo realmente com ela é que poderá apreciá-la. Tanto assim que em muitas uniões que a princípio parecem destinadas a nunca ser simpáticas, acabam, os que as constituíram, depois de se haverem estudado bem e de bem se conhecerem, por votar-se, reciprocamente, duradouro e terno amor, porque assente na estima! Cumpre não esquecer de que é o espírito quem ama e não o corpo, de sorte que, dissipada a ilusão material, o espírito vê a realidade."
"Há duas espécies de afeição: a do corpo e a da alma, acontecendo, com frequência, tomar-se uma pela outra. Quando pura e simpática, a afeição da alma é duradoura; efémera a do corpo. Daí vem que muitas vezes os que julgavam amar-se com eterno amor passam a odiar-se, desde que a ilusão se desfaça."
A falta de simpatia entre seres destinados a viver juntos constitui igualmente fonte de amargos dissabores que envenenam toda a existência. Todavia, essa é uma das infelicidades de que os seres humanos, na maioria das vezes, são a causa principal. Primeiramente pelo erro das leis. Deus não constrange ninguém a permanecer junto dos que o desagradam. "Depois, nessas uniões, ordinariamente buscais a satisfação do orgulho e da ambição, mais do que a ventura de uma afeição mútua. Sofreis então as consequências dos vossos prejuízos."
Nesse caso há quase sempre uma vítima inocente, o que lhe constitui uma dura expiação. "Mas, a responsabilidade da sua desgraça recairá sobre os que a tiverem causado. Se a luz da verdade já lhe houver penetrado a alma, em sua fé no futuro haurirá consolação. Todavia, à medida que os preconceitos se enfraquecerem, as causas dessas desgraças íntimas também desaparecerão."
1.5. Temor da morte
"Para muitas pessoas, o temor da morte é uma causa de perplexidade." Porém, falta-lhes fundamento para semelhante temor. Isto provém da infância, quando procuram persuadi-lo "de que há inferno e um paraíso e que mais certo é irem para o inferno, visto que também lhes disseram que o que está na natureza constitui pecado mortal para a alma! Sucede então que, tornadas adultas, essas pessoas, se algum juízo têm, não podem admitir tal coisa e se fazem materialistas. São assim levadas a crer que, além da vida presente, nada mais há."
Quem tem fé tem a certeza do futuro. Quem tem esperança conta com uma vida melhor. Quem tem caridade sabe que não tem de temer o mundo para onde vai.
"O homem carnal, mais preso à vida corpórea do que à vida espiritual, tem na Terra penas e gozos materiais. A sua alma, constantemente preocupada e angustiada pelas vicissitudes da vida, conserva-se numa ansiedade e numa tortura aparentemente perpétuas. A morte o assusta porque ele duvida do futuro e porque tem de deixar no mundo todas as suas afeições e esperanças."
"O homem moral, que se colocou acima das necessidades fictícias criadas pelas paixões, já neste mundo experimenta gozos que o homem material desconhece. A moderação dos seus desejos dá-lhe ao espírito calma e serenidade. Ditoso pelo bem que faz, não há para ele decepções e as contrariedades lhe deslizam por sobre a alma, sem nenhuma impressão dolorosa deixarem."
1.6. Desgosto da vida, suicídio
O desgosto da vida que, sem motivos plausíveis, se apodera de certos indivíduos nasce da ociosidade, da falta de fé e, também, da saciedade.
"Para aquele que usa de suas faculdades, com fim útil e de acordo com as suas aptidões naturais, o trabalho nada tem de árido e a vida se escoa mais rapidamente. Ele lhe suporta as vicissitudes com tanta mais paciência e resignação, quanto obra com o fito da felicidade mais sólida e mais durável que o espera."
O homem não tem o direito de dispor da sua vida; "só a Deus assiste esse direito. O suicídio voluntário é uma transgressão desta lei."
Nem sempre o suicídio é voluntário. "O louco que se mata não sabe o que faz."
O suicídio que decorre do desgosto da vida é uma insensatez. O trabalho torna a existência menos pesada.
Há os que se suicidam para fugirem às misérias e às decepções deste mundo. São "pobres espíritos que não têm a coragem de suportar as misérias da existência! Deus ajuda os que sofrem e não os que carecem de energia e coragem. As tribulações da vida são provas ou expiações. Felizes os que as suportam sem se queixar, porque serão recompensados! Ai, porém, daqueles que esperam a salvação do que, na sua impiedade, chamam acaso ou fortuna! O acaso ou a fortuna, para me servir da linguagem deles, podem com efeito, favorecê-los por um momento, mas para lhes fazer sentir mais tarde, cruelmente, a vacuidade dessas palavras."
Os que hajam conduzido o infeliz do desesperado até ao suicídio sofrerão as consequências de tal proceder. "Ai deles! Responderão por um assassínio."
"Pode ser considerado suicida aquele que, a braços com a maior penúria, se deixa morrer de fome. Mas, os que lhe foram causa, ou que teriam podido impedi-lo, são mais culpados do que ele a quem a indulgência espera. Todavia, não penseis que seja isto em absoluto, se lhe faltaram a firmeza e perseverança e se não usou de toda a sua inteligência para sair do atoleiro. Ai dele, sobretudo se o seu desespero nasce do orgulho." Há pessoas que preferem morrer de fome a sacrificar o que chamam a sua posição social e se envergonhariam de dever a existência ao trabalho das suas mãos. "Haverá mil vezes mais grandeza e dignidade em lutar contra a adversidade, em afrontar a crítica de um mundo fútil e egoísta que só tem boa vontade para com aqueles a quem nada falta."
"É tão reprovável como o que tem por causa o desespero o suicídio daquele que procura escapar à vergonha de uma acção má." Isto porque "o suicídio não apaga a falta. Ao contrário, em vez de uma, haverá duas. Quando se teve a coragem de praticar o mal, é preciso ter-se a de lhe sofrer as consequências. Deus, que julga, pode, conforme a causa, abrandar os rigores da sua justiça."
Outra loucura é o caso daquele que se mata, na esperança de chegar mais depressa a uma vida melhor, pois, assim agindo, "retarda a sua entrada num mundo melhor e terá que pedir para voltar, para concluir a vida a que pôs termo sob o influxo de uma ideia falsa. Uma falta, seja qual for, jamais abre a alguém o santuário dos eleitos."
O sacrifício da vida, quando aquele que o faz visa salvar a de outrem, ou ser útil aos seus semelhantes, constitui uma atitude sublime, "conforme a intenção, e, em tal caso, o sacrifício da vida não constitui suicídio. Mas Deus opõe-se a todo o sacrifício inútil e não o pode ver de bom grado se tem o orgulho a manchá-lo. Só o desinteresse torna meritório o sacrifício e, não raro, quem o faz guarda oculto um pensamento que lhe diminui o valor aos olhos de Deus."
O homem que perece vítima de paixões que ele sabia lhe haviam de apressar o fim, porém a que já não podia resistir, por havê-las o hábito mudado em verdadeiras necessidades físicas, comete um suicídio moral. Nesse caso é duplamente culpado. Há nele falta de coragem e bestialidade, acrescidas do esquecimento de Deus.
"É sempre culpado aquele que não aguarda o termo que Deus lhe atribuiu à existência." É erro, portanto, alguém que vê diante de si um fim inevitável e horrível, querer abreviar de alguns instantes os seus sofrimentos e apressar voluntariamente a sua morte. E quem poderá estar certo de que, mau grado as aparências, esse termo tenha chegado; de que um socorro inesperado não venha no último momento?
Mesmo no caso em que a morte é inevitável e em que a vida só é encurtada alguns instantes, "é sempre uma falta de resignação e de submissão à vontade do criador." A consequência de tal acto será "uma expiação proporcional, como sempre, à gravidade da falta, de acordo com as circunstâncias."
Aqueles que não podem conformar-se com a perda de pessoas que lhes eram caras e se matam na esperança de juntar-se a elas, muito diverso do que esperam é o resultado que colhem. "Em vez de se reunirem ao que era objecto da sua afeição, dele se afastam por longo tempo, pois não é possível que Deus recompense um acto de covardia e o insulto que lhe fazem com o duvidarem de sua providência". Sofrerão, com isso, aflições maiores do que as que pensavam abreviar e não terão a satisfação que esperavam.
Com relação ao estado do espírito, as consequências do suicídio são muito diversas. "Não há penas determinadas e, em todos os casos, correspondem sempre às causas que o produziram. Há, porém, uma consequência a que o suicida não pode escapar: é o desapontamento. Mas a sorte não é a mesma para todos; depende das circunstâncias. Alguns expiam a falta imediatamente, outros em nova existência que será pior do que aquela cujo curso interromperam."
"A observação, realmente, mostra que os efeitos do suicídio não são idênticos. Alguns há, porém, comuns a todos os casos de morte violenta e que são a consequência brusca da vida. Há, primeiro, a persistência mais prolongada e tenaz do laço que une o espírito ao corpo, por estar quase sempre este laço na plenitude da sua força no momento em que é partido, ao passo que, no caso de morte natural, ele se enfraquece gradualmente e muitas vezes se desfaz antes que a vida se haja extinguido completamente. As consequências deste estado de coisas são o prolongamento da perturbação espiritual, seguindo-se a ilusão em que, durante mais ou menos tempo, o espírito se conserva de que ainda pertence ao número dos vivos."
"A afinidade que permanece entre o espírito e o corpo produz, nalguns suicidas, uma espécie de repercussão do estado do corpo no espírito, que, assim, a seu mau grado, sente os efeitos da decomposição, donde lhe resulta uma sensação cheia de angústias e de horror, estado esse que também pode durar pelo tempo que devia durar a vida que sofre interrupção. Não é geral esse efeito; mas, em caso algum, o suicida fica isento das consequências da sua falta de coragem e, cedo ou tarde, expia, de um modo ou de outro, a culpa em que incorreu."
"A religião, a moral, todas as filosofias condenam o suicídio como contrário às leis da natureza... Ao espiritismo estava reservado demonstrar, pelos exemplos dos que sucumbiam, que o suicídio não é uma falta, somente por constituir infracção a uma lei moral, mas também um acto estúpido, pois que nada ganha quem o pratica, antes o contrário é o que se dá."
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