Estudando o Espiritismo

Observe os links ao lado. Eles podem ter artigos com o mesmo tema que você está pesquisando.

domingo, 22 de agosto de 2010

A Antiguidade

Gabriel Dellane - O Fenômeno Espírita 


As crenças na imortalidade da alma e nas comunicações entre os vivos e os mortos eram gerais entre os povos da antiguidade.
Mas, ao contrário do que acontece hoje, as práticas pelas quais se conseguia entrar em relação com as almas desencarnadas, eram o apanágio exclusivo dos sacerdotes, que tinham cuidadosamente monopolizado essas cerimônias, não só para fazerem delas uma renda lucrativa e manterem o povo em absoluta ignorância quanto ao verdadeiro estado da alma depois da morte, como também para revestirem , a seus olhos, um caráter sagrado, pois só eles podiam revelar os segredos da morte.
Encontramos nos mais antigos arquivos religiosos a prova do que avançamos. Os anais de todas as nações mostram que, desde épocas remotíssimas da História, a evocação dos Espíritos era praticada por certos homens que tinham feito disso uma especialidade.
O mais antigo código religioso que se conhece, os Vedas, aparecido milhares de anos antes de Jesus Cristo, afirma a existência dos Espíritos.  Eis como o grande legislador Manu se exprime a respeito: “Os Espíritos dos antepassados, no estado invisível, acompanham certos brâmanes, convidados para as cerimônias em comemoração  dos mortos, sob uma forma aérea; seguem-nos e tomam lugar ao seu lado quando eles se assentam”. 
Um outro autor hindu declara: “Muito tempo antes de se despojarem do envoltório mortal, as almas que só praticaram o bem, como as que habitam o corpo dos sannyassis e dos vanaprastha (anacoretas e cenobitas) adquirem a faculdade de conversar com as almas que as precederam no Swarga; é sinal que, para essas almas, a série de suas transmigrações sobre a Terra terminou”.
Desde os tempos imemoriais, os padres iniciados nos mistérios preparam indivíduos chamados faquires para a evocação dos Espíritos e para a obtenção dos mais notáveis fenômenos do magnetismo.  Louis Jacolliot, em sua obra – “Lê Spiritisme dans lê Monde” - expõe amplamente a teoria dos hindus sobre os Pitris, isto é, Espíritos que vivem no Espaço depois da morte do corpo. Resulta das investigações deste autor que o segredo da evocação era reservado àqueles que pudessem ter quarenta anos de noviciado e obediência passiva.
A iniciação comportava três graus: No primeiro, eram formados todos os brâmanes do culto vulgar e os ecônomos dos pagodes encarregados de explorar a credulidade da multidão.
Ensinava-se-lhes a comentar os três primeiros livros dos Vedas, a dirigir as cerimônias e a cumprir os sacrifícios;  os brâmanes do primeiro grau estavam em comunicação constante com o povo:  eram seus diretores imediatos.  O segundo grau era composto de exorcistas, adivinhos, profetas, evocadores de Espíritos, quem em certos momentos difíceis, eram encarregados de atuar sobre a imaginação das massas, por meio de fenômenos sobrenaturais.
Eles liam e comentavam o Atharva-Veda, repositório de conjurações mágicas. No terceiro grau os brâmanes não tinham mais relações diretas com a multidão;  o estudo de todas a forças físicas e naturais do Universo era a sua única ocupação, e, quando se manifestavam exteriormente, faziam-no sempre por meio de fenômenos aterrorizadores, e de longe.
Desde os tempos imemoriais, o povo da China entregava-se à evocação dos Espíritos dos Avoengos. O missionário Huc refere grande número de experiências, cujo fim era a comunicação dos vivos com os mortos, sendo que, em nossos dias, essas práticas estão ainda em uso em todas as classes da sociedade.  Com o tempo e em conseqüência das guerras que forçaram parte da população hindu a emigrar, o segredo das evocações espalhou-se em toda a Ásia, encontrando-se ainda entre os egípcios e entre os hebreus a tradição que veio da Índia.
Todos os historiadores estão de acordo em atribuir aos sacerdotes do antigo Egito poderes que pareciam sobrenaturais e misteriosos.  Os magos dos faraós realizavam estes prodígios  que são referidos na Bíblia;  mas, deixando de parte o que pode haver de legendário nessas narrações, é bem certo que eles evocavam os mortos, pois Moisés, seu discípulo, proibiu formalmente que os hebreus se entregassem a essas práticas: “Que entre nós ninguém use de sortilégios e de encantamentos, nem interrogue os mortos para saber a verdade”.  A despeito dessa proibição, vemos Saul ir consultar a pitonisa de Endor e, por seu intermédio, comunicar-se com a sombra de Samuel, e o que em nossos dias denomina-se materialização.  Veremos, mais adiante, como se podem obter essas manifestações superiores.
Apesar da proibição de Moisés, houve sempre investigadores que foram tentados por essas evocações misteriosas;  instituíam uma doutrina secreta a que chamavam Cabala, mas cercando-se de precauções e fazendo o adepto jurar inviolável segredo para o vulgo.  “Qualquer pessoa que – diz o Talmud -, sendo instruída nesse segredo(a evocação dos mortos), o guarda com vigilância em um coração puro pode contar com o amor de Deus e o favor dos homens;  seu nome inspira respeito, sua ciência não teme o olvido, e torna-se ele herdeiro de dois mundos: aquele em que vivemos agora e o mundo futuro”.
Na Grécia, a crença nas evocações era geral. Todos os templos possuíam mulheres chamadas pitonisas encarregadas de proferir oráculos, evocando os deuses;  mas, às vezes, o consultante queria, ele próprio, ver e falar à sombra desejada, e, como na Judéia, conseguia-se pô-lo em comunicação com o ser ao qual desejava interrogar.
Homero, na Odisséia, descreve, minuciosamente, por meio de que cerimônias Ulisses pôde conversar com a sombra do divino Tirésias. Este caso não é isolado; tais práticas eram freqüentemente empregadas por aqueles que desejavam entrar em relação com as almas dos parentes ou amigos que tinham perdido. Apolônio de Tiana, sábio filósofo pitagórico e taumaturgo de grande poder, possuía vastos conhecimentos referentes às ciências ocultas; em sua vida, há abundância de fatos extraordinários;  ele acreditava firmemente nos Espíritos e em suas comunicações com os encarnados.  As sibilas romanas, evocando os mortos, interrogando os Espíritos, são continuamente consultadas pelos generais, e nenhuma empresa importante foi decidida sem se receber previamente aviso dessas sacerdotisas.
Na Itália sucede o mesmo que na Índia, no Egito e entre os hebreus.  O privilégio de evocar os Espíritos, primitivamente reservado aos membros da classe sacerdotal, espalhou-se pouco a pouco entre o povo e, se cremos em Tertuliano, o Espiritismo era exercido entre os antigos pelos mesmos meios que, hoje, entre nós.
“Se é dado – diz ele – aos magos fazer aparecer fantasmas, evocar as almas dos mortos, poder forçar a boca das crianças a proferir oráculos; se eles realizam grande número de milagres, se explicam sonhos, se têm às suas ordens Espíritos Mensageiros e demônios, em virtude dos quais as mesas que profetizam são um fato vulgar, com que redobrado zelo esses Espíritos poderosos não se esforçarão por fazer em próprio proveito o que eles fazem em serviço de outrem?”.
Em apoio das afirmações de Tertuliano, pode-se citar uma passagem de Amiano Marcelino sobre Patrício e Hilário, levados perante o tribunal romano por crime de magia, acusação esta de que eles se defenderam referindo que tinham fabricado, com pedaços de loureiro, uma mesinha (mensulam) sobre a qual colocaram uma bacia circular feita de vários metais, tendo um alfabeto gravado nas bordas.  Em seguida, um homem vestido de linho, depois de ter recitado uma fórmula e feito uma evocação ao deus da profecia, tinha suspendido por cima da bacia um anel preso a um fio de linho muito fino e consagrado por meios misteriosos. O anel, saltando sucessivamente, mas sem confusão, sobre várias letras gravadas, e parando sobre cada uma, formava versos perfeitamente regulares, em resposta às questões propostas.
Hilário acrescentou:
“Um dia, ele tinha perguntado quem sucederia ao imperador atual, e o anel, designando as letras, deu  a sílaba: Theo. Nada mais inquiriram, persuadidos de que se tratava da palavra Theodoro”.
Os fatos, diz Amiano Marcelino, desmentiram os magos, mais tarde, porém não a predição, porque esta foi Theodósio.
A interdição de evocar os mortos, que vemos estabelecida por Moisés, foi gerada na antiguidade.  O poder teocrático e o poder civil estavam muito intimamente ligados para que esta prescrição fosse severamente observada. Não convinha que as almas dos mortos viessem contradizer o ensinamento oficial dos sacerdotes e lançar a perturbação entre os homens, fazendo-os conhecer a verdade.
A Igreja Católica, mais do que qualquer outra, tinha a necessidade de combater essas práticas, para si detestáveis, e, portanto, durante a Idade Média, milhares de vítimas foram queimadas sem piedade, sob o nome de feiticeiros e mágicos, por terem evocado os Espíritos. Que sombria época essa em que Bondin, os Delancre, os Del-Rio assanhavam-se.
Sobre as carnes palpitantes  das vítimas para aí encontrarem o vestígio do diabo!  Quantos miseráveis alucinados pereceram no meio das torturas, cuja narração causa arrepios de horror e desgosto, e isto para maior glória de um Deus de amor e de misericórdia!
A heróica e casta figura de Joana D'Arc, a grande Lorena, mostra como as comunicações com os Espíritos podem dar resultados tão grandiosos quão inesperados.  A história dessa pastora expulsando o estrangeiro de seu país, guiada pelas potências espirituais, pareceria maravilhosa ficção, se a História não a tivesse recolhido sob seu pálio inatacável.
Apesar de todas as perseguições, a tradição conservou-se;  é possível segui-la na História com os nomes de Paracelso, Cornellius Agripa, Swedenborg, Jacob Boehm, Martinez Pascalis, Conde de Saint-Germain, Saint-Martin, etc.  Às vezes, as manifestações eram públicas e atingiram desenvolvimento extraordinário.  Não é sem terror que se lêem as narrações relativas aos possessos de Loudun, os fatos estranhos atribuídos aos convulsionários  de Cevenas e aos visionários do cemitério de Saint-Médard, mas essa demonstração levar-nos-ia muito longe.
É suficiente termos demonstrado que, em todos os tempos, a evocação dos mortos foi praticada universalmente, e que todos esses fenômenos, na realidade, são tão velhos quanto o mundo.
Delanne, Gabriel - O Fenômeno Espírita

Nenhum comentário:

Postar um comentário