Estudando o Espiritismo

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terça-feira, 24 de agosto de 2010

2. Filosofia - Novos campos para o conhecimento


A partir do século VI a.C., surgia na Grécia uma nova maneira de propor e solucionar problemas, com a libertação das formas tradicionais de explicação da realidade, baseadas em crenças religiosas e apresentadas através de mitos. Essa nova maneira consistia no uso da razão para se descobrir a causa dos fenómenos.
Começavam a surgir teorias atinentes a todos os tipos de indagações, desde a origem do universo, à natureza do homem, até às mais diversas actividades humanas, conduta moral, etc. Essa forma de pensar foi chamada filosofia, que significa «amor à sabedoria». (4)
Dentre os vários filósofos gregos, destacam-se as figuras de Sócrates e o seu discípulo Platão, considerados por Allan Kardec como precursores da ideia cristã e do espiritismo.
Na introdução de «O Evangelho Segundo o Espiritismo», ele faz um resumo da doutrina desses filósofos, que admitiam a existência e a imortalidade do espírito, a reencarnação, a necessidade da prática do bem, etc. (5)
Não obstante o grande avanço da filosofia grega e as lições imorredouras do próprio Cristo, as grandes questões da alma permaneceram por muito tempo encobertas pelo mistério do véu e do dogma. Na Idade Média, quando a religião predominava, os valores da fé prevaleciam sobre a razão. Não que a humanidade deixasse de receber a contribuição de pensadores lúcidos. Mas estes, quando não eram envolvidos pela sociedade vigente, muitas vezes eram obrigados a silenciar. Alguns foram sacrificados em holocausto à verdade, seja no campo da religião, da filosofia ou até da ciência.
Como consequência da libertação do pensamento nos tempos modernos, o homem passou a questionar os princípios filosóficos impostos de forma dogmática, considerados incontestáveis e indiscutíveis. De um lado, o ateísmo científico; do outro, a ilusão religiosa. O avanço alcançado pelas ciências, especialmente a química, a física e a astronomia, o surgimento dos grandes pensadores, nos séculos XVIII e XIX, concorreram para mostrar a fragilidade dos princípios defendidos pela teologia. Da crença cega saltava-se para a negação absoluta.
No campo materialista merece destaque o positivismo, criado por Augusto Comte, que chegou ao exagero de afirmar que a ciência aposentara o Pai da Natureza, e acabava de «reconduzir Deus às suas fronteiras, agradecendo os seus serviços provisórios». (6)
Foi nesse clima que surgiu a revelação espírita, trazendo ao mundo a explicação lógica para os grandes enigmas da vida, da morte, da sobrevivência, da dor, etc.
As bases da doutrina espírita foram estabelecidas por Allan Kardec através da análise e selecção das comunicações dos espíritos, usando os critérios da universalidade e concordância do ensino dos espíritos, à luz da razão.
Como não poderia deixar de ser, o espiritismo é uma doutrina de livre exame, propugnando pela fé raciocinada. No capítulo XIX de «O Evangelho Segundo o Espiritismo», Kardec diz-nos que «fé inabalável só o é a que pode encarar de frente a razão, em todas as épocas da humanidade». Nascia uma nova filosofia, estribada na ciência, cujas consequências morais, do mais alto alcance, preparam a humanidade para uma nova era, em que os valores espirituais preponderarão sobre os valores materiais.
A filosofia espírita está consubstanciada em «O Livro dos Espíritos», obra apresentada por Allan Kardec como filosofia espiritualista.
Este livro divide-se em quatro partes: 1 - Das causas primárias; 2 - Do mundo espírita ou do mundo dos espíritos; 3 - Das leis morais; 4 - Das esperanças e das consolações.
Essa obra enquadra-se numa das formas mais livres da tradição filosófica: o diálogo. Por conseguinte, todo o ensinamento é apresentado através de perguntas e respostas, seguindo-se, às vezes, alguns comentários do codificador (Allan Kardec).
Como quase todas as partes do livro serão estudadas em outras aulas desta curso básico, deter-nos-emos aqui apenas a ressaltar alguns pontos da filosofia espírita, para darmos dela uma visão de conjunto.
O espiritismo não mostra Deus pela imagem antropomórfica - feita à imagem e semelhança do homem - que dele faziam as religiões. «Deus é a inteligência suprema, causa primária de todas as coisas».
O universo define-se pela tríade Deus, espírito e matéria. A matéria, porém, não é somente o elemento palpável, havendo o fluido universal, intermediário entre o plano espiritual e o plano material.
«... Tudo se encadeia na Natureza, desde o átomo primitivo ao arcanjo, que também começou por ser átomo», como vemos na questão n.º 540. Para chegar à perfeição, terá que passar pelas provas da existência material, através do mecanismo das reencarnações, ao qual se associa a lei de causa e efeito, que permite ao espírito compensar a sua própria consciência dos erros passados, à medida que o seu progresso lhe permite estabelecer a diferenciação entre o bem e o mal.
As condições de vida após a morte do corpo físico são estudadas com detalhes, ressaltando desse estudo o processo natural de aprendizado do espírito, através da experiência. A morte, simplesmente, não o liberta das paixões, dos vícios, da ignorância, como também não define o seu futuro, tal como ensinava, até então, a teologia. Cai por terra a falsa concepção de inferno, céu e purgatório.
Podemos dizer que a doutrina espírita se resume nos seguintes princípios fundamentais: Deus, o espírito e a sua imortalidade, a comunicabilidade dos espíritos, a reencarnação e a pluralidade dos mundos habitados; as leis morais.

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