O homem primitivo, não conseguindo explicação para os vários fenómenos naturais, entre os quais a chuva, o relâmpago, o trovão, a germinação da semente, o nascimento e a morte, atribuía-os a uma potência superior. Além disso, os fenómenos mediúnicos, caracterizados pelas comunicações de espíritos entre os povos primitivos, concorreram para que essa potência ou essas potências superiores fossem, de alguma forma, reverenciadas, quer pelo temor que inspiravam quer pelo carácter maravilhoso ou sobrenatural de que eram revestidos pelas concepções daquelas mentes primitivas. Nasciam, assim, as primeiras formas de adoração, através dos mais diferentes cultos, que deram origem a muitas religiões do passado. Nesses cultos sobressaíam determinados indivíduos, alguns, quem sabe, portadores de certas faculdades medianímicas, e que ganhavam notoriedade. Eram os sacerdotes, que recebiam os mais variados nomes nos diferentes povos em que se enquadravam.
O estudo de algumas religiões leva a concluir que muitas delas são instituições bem caracterizadas pelo culto exterior, onde preponderam os sacerdotes, como executores desse culto e, entre eles (sacerdotes), uma estrutura hierárquica. É uma característica remanescente das religiões primitivas, que atingiu o próprio cristianismo, desfigurando-o, a partir do seu aspecto simples e informal, pela intromissão do politeísmo romano e de outras influências dos povos que constituíam o Império Romano, a partir do reconhecimento dele, cristianismo, como religião oficial.
O espiritismo, não tendo formas exteriores de adoração, nem sacerdotes, nem liturgia, não é entendido como religião, mas sim, de acordo com Kardec, como moral ou ética (ciência do bem). Trata-se de uma opção pela clareza de linguagem, fundamental para que não se propiciem confusões, que seriam lamentáveis e poderiam comprometer o futuro.
Todavia, anote-se que há também quem admita que, tendo como exemplo o cristianismo no seu nascedouro, para uma doutrina ter carácter religioso não é necessária nenhuma estrutura complicada, senão um conjunto de princípios, capazes de transformar o homem para melhor. Exactamente como Allan Kardec defende em "O Evangelho Segundo o Espiritismo", como veremos daqui a pouco.
A doutrina espírita, como ciência e como filosofia, esclarece os grandes enigmas da vida, dentro de princípios lógicos. Através dela ficamos a saber o que somos, de onde viemos, que fazemos aqui, para onde iremos após a morte do corpo físico e como respondemos pelo comportamento mau ou bom que aqui tivermos, desde já ou no futuro.
Por reconhecer essa gama de consequências morais, que afectariam, por certo, os seguidores do espiritismo, e por inspiração de entidades superiores, Allan Kardec publicou, em 1864, "O Evangelho Segundo o Espiritismo", admitindo que a moral espírita é a moral do Evangelho, entendido este no seu sentido lógico, e não desfigurado, quer pela letra quer pelo dogma, aceitando-o nos pontos não controversos e que pudessem atender à melhoria do comportamento humano: «Todas as religiões têm por base a existência de Deus e por fim o futuro do homem depois da morte. Esse futuro, que é de capital interesse para a criatura, acha-se necessariamente ligado à existência do mundo invisível, pelo que o conhecimento desse mundo constituiu, desde todos os tempos, objecto de suas pesquisas e preocupações. A atenção do homem foi, naturalmente, atraída pelos fenómenos que tendem a provar a existência daquele mundo e nenhum houve jamais tão concludente como o das manifestações dos espíritos, por meio das quais os próprios habitantes de tal mundo revelaram a sua existência. Por isso foi que esses fenómenos se tornaram básicos para a maior parte dos dogmas de todas as religiões».
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