Estudando o Espiritismo

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terça-feira, 24 de agosto de 2010

1. Ciência — método científico

Associação de Divulgadores de Espiritismo de Portugal


Os fenómenos mediúnicos, tão antigos quanto o ser humano à face da Terra, sempre chamaram a atenção para a realidade da vida espiritual. Todavia, foram sempre revestidos pelo carácter do maravilhoso e do sobrenatural, tão ao gosto das religiões primitivas, e das tradicionais. Outras vezes, as manifestações dos espíritos eram explicadas como obra demoníaca, por princípios religiosos que persistem até hoje, desencorajando, e mesmo proibindo, através do poder religioso constituído, toda a pesquisa ou estudo que visasse esclarecer a causa dos referidos fenómenos. Tornou-se necessário que o tempo passasse, que o homem amadurecesse e, como consequência, houvesse a libertação do conhecimento, para que a explicação racional desses factos pudesse ser encontrada.
No estudo dos fenómenos que concorreram para a elaboração do espiritismo, Allan Kardec, da mesma forma que nas ciências positivas, aplicou o método experimental. Não criou nenhuma teoria preconcebida e nem apresentou a priori, como hipótese a existência e a intervenção dos espíritos, concluindo pela existência destes quando ela foi evidenciada pela observação dos factos. «Não foram os factos que vieram, a posteriori, confirmar a teoria, a teoria é que veio, subsequentemente, explicar e reunir os factos.»
Como vimos na sessão anterior, foi a partir dos fenómenos das mesas girantes que Allan Kardec iniciou a sua pesquisa, em busca da explicação para esse facto tão singular, e de tantos outros compreendidos na fenomenologia mediúnica.
Nascia, assim, uma nova ciência, que viria romper vínculos a quaisquer resíduos mágicos e superstição, demonstrando a existência do princípio espiritual, as propriedades dos fluidos espirituais e a acção deles sobre a matéria. Demonstrou a existência do perispírito - ou corpo espiritual -, assinalado por diversos pensadores, em várias épocas, reconhecendo nele o corpo fluídico da alma, mesmo depois da destruição do corpo físico.
Esse invólucro é inseparável da alma, é um dos elementos constitutivos do ser humano, é o veículo de transmissão do pensamento e serve de laço entre o espírito e a matéria.
A parte experimental do espiritismo está contida em «O Livro dos Médiuns », editado em 1861, que, segundo Allan Kardec, na apresentação da referida obra, «contém o ensino especial dos espíritos sobre a teoria de todos os géneros de manifestações, os meios de comunicação com o mundo invisível, o desenvolvimento da mediunidade, as dificuldades e os escolhos que se podem encontrar na prática do espiritismo».
Nesta obra, Kardec dá ênfase ao perispírito, elemento indispensável para a explicação da mediunidade, e faz também um relato da evolução dos processos de comunicação com os espíritos, desde as mesas girantes até à psicografia, ou seja, a escrita através da mão do médium.
O espiritismo, enquanto ciência, tem o seu objecto e o seu método.
O seu objecto centra-se "nas relações que se estabelecem entre nós e os espíritos". É "uma ciência de observação".
O método científico, assim é ensinado nas escolas, decompõe-se em várias fases: 1. Observação; 2. Formulação de hipóteses explicativas do fenómeno; 3. Fase em que se testa experimentalmente a hipótese tida como reveladora do mecanismo do fenómeno; 4. Enunciar a lei.
Quem estuda a história da codificação do espiritismo vai encontrar este percurso a ser percorrido por Kardec. Evidentemente que este tipo de fenómenos não tão simples de pesquisar como uma experiência química processada em laboratório. Há que fazer adaptações. Os espíritos são pessoas sem corpo físico, que têm a sua vontade própria, podem não estar dispostos a tentar as experiências que os experimentadores pretendem fazer; a isto acresce a necessidade de se verificar todo um conjunto complexo de circunstâncias físicas, psicológicas e outras, para que o fenómeno possa ocorrer.

1.1. Esclarecimento de conceitos diversos: empirismo, dogmatismo, cepticismo, agnosticismo

Há vários conceitos que importa aclarar, a fim de que a prática espírita não se transtorne com eles e, diante da dificuldade de estudar mais profundamente estes fenómenos, não possam eles tornar-se companhias indesejáveis, susceptíveis de subverter, das maneiras mais confusas, os objectivos de serviço e fraternidade à luz do espiritismo, que estarão sempre por detrás do centro espírita.
Comecemos pelo empirismo. Segundo o dicionário, "conjunto de conhecimentos colhidos apenas na prática" e "doutrina filosófica segundo a qual todo o conhecimento humano deriva, directa ou indirectamente, da experiência". Vejamos um exemplo comum de uma constatação empírica - "Enquanto escrevo, olho pela janela. Vejo o céu azul e o Sol. Ainda há pouco ele estava mais alto. Porém, agora, passadas umas duas horas, ele está mais baixo". A leitura empírica deste fenómeno aparente de deslocação do Sol é esta: o Sol move-se no céu, e os meus olhos bem viram isso. A leitura científica deste mesmo fenómeno seria feita mais ou menos assim: "Porque a Terra rola no espaço e eu me encontro, à vista desarmada, sem referencial fixo para determinar o movimento da Terra em relação ao Sol, os meus sentidos enganam-me e fazem-me pensar erradamente, que é o Sol que se move, embora seja, de facto, a rotação da Terra que me causa esse lapso". Exemplos de empirismo, e mais grave do que isso, na prática espírita: "Não cruze as pernas numa reunião espiritual, porque isso basta para quebrar a corrente fluídica"; "Se eu não for ao passe magnético não me sinto bem", etc.
Dogmatismo: "Atitude de quem afirma com intransigência, de quem afirma sem prova nem crítica prévia"; admite a possibilidade do conhecimento absoluto. É próprio das religiões e é a moldura perfeita para qualquer exercício de fé cega. Responsável por graves crimes contra a humanidade - ex: Inquisição.
Quanto ao cepticismo, o dicionário define-o assim: "Doutrina filosófica que defende que o homem não é capaz de alcançar a certeza" e "descrença".
agnosticismo é um "sistema filosófico segundo o qual o espírito humano ainda se encontra impossibilitado de alcançar, sobre certos fenómenos, um conhecimento absoluto. O agnóstico, sem provas, não acredita nem descrê - aguarda pela oportunidade de recolher dados que lhe permitam retirar conclusões racionais.

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