por Carlos Pereira
O grande propósito da Doutrina Espírita não é outro senão o de edificar a melhoria moral da humanidade centrado na proposta de desenvolvimento da capacidade de amar das pessoas. Todo o resto, a investigação científica dos fenômenos espirituais, a especulação filosófica do conteúdo espírita e a própria existência do movimento espírita não terá sentido se não for para se buscar a convergência a este princípio maior.
A tarefa de unificação do movimento espírita passa necessariamente, portanto, pela criação de mecanismos salutares de relacionamento e pela vivência prática do ato de amar entre os seus participantes e adeptos. Se não conseguirmos efetivamente nos amar - ou ao menos sinceramente tentar - não poderemos conceber qualquer idéia unificacionista.
Eis a premissa fundamental.Não é admissível que queiramos falar de amor para todos aqueles que procuram alento para seus sofrimentos nas nossas casas de auxílio se o exemplo não é dado, sobretudo, por nós mesmos. Falar sem agir nos insere no mesmo patamar dos “sepulcros caiados” classificados por Jesus.Nos dias de hoje, a concepção básica sobre o tema unificação começa pela convivência fraternal.Conviver de maneira fraterna não deveria significar um objetivo para os espíritas, pois está no cerne do relacionamento cristão que tanto pregamos, principalmente quando nos tratamos informalmente na qualidade de irmãos que verdadeiramente somos.
Mais uma vez a prática difere da teoria, mas compreendamos que faz parte do atual estágio evolutivo que todos vivemos e que devemos superar.
A convivência fraternal, porém, requer que seja acompanhada de uma série de ações concretas como o tratamento igualitário, a liberdade de pensar e expressar, o respeito às diferenças, o relacionamento afetivo e o compromisso de união.O tratamento entre irmãos, se realmente são irmãos, não pode acontecer num clima de superioridade ou inferioridade entre as partes envolvidas. Irmãos são iguais por natureza, pois somente assim poderá se travar um diálogo construtivo e respeitoso, sem subserviência ou timidez na colocação de seus pontos de vista, uma vez que “valeria” menos o seu do que o do outro.
Em conseqüência da relação igualitária é que surge a possibilidade efetiva da liberdade de pensar e de se expressar, sem o receio de ver constrangido ou vetado o seu posicionamento. Como as diferenças são inevitáveis, há que se ter entre irmãos o respeito à opinião do outro. A convivência fraterna tem como uma das vigas de sustentação a prática da alteridade. Compreender o pensamento diferente do seu, sem que seja preciso a assimilação automática ou a imposição do outro.
O exercício alteritário possibilitará a convergência de formas de pensar, mas também haverá alguns pontos que temporariamente ficarão no impasse, o que é natural. Por isso é que irmãos necessitam desenvolver a afetividade entre si. Poderá haver a divergência de idéias, mas nunca do ideal fraterno. Passados os embates ideológicos, o sorriso largo, o forte aperto de mãos, o abraço caloroso e a conversa descontraída de amigos devem ser o comportamento obrigatório, porque o mais importante é estarem e continuarem juntos, já que temos a consciência que as diferenças são minoritárias comparadas com aquilo que nos une.
União entre os espíritas, este sim é o conceito verdadeiro de unificação
A união é um ato espontâneo e informal e, portanto, mais consistente e duradouro. Este deve ser o caminho a ser perseguido, em oposição a um paradigma predominante e equivocado, por enquanto, que é o da unidade institucional. O que mais importa: estarmos formalmente juntos numa mesma Casa, e distantes, ou estarmos informalmente unidos numa mesma Causa, e próximos? Foi exatamente para combater as aparências que o Cristo se fez presente entre nós e que o Espiritismo veio resgatar esta proposta original.
O conceito diferente que se propõe é o da unificação ética
Ética para romper com equilíbrio ao tradicionalismo que desagrega; ao apego a rótulos que escraviza; às convenções que aprisionam; ao exclusivismo que separa; ao orgulho que ainda impera na maioria de nossos corações.A unificação ética tem igualmente como parâmetro a casa espírita e a exata compreensão de seu papel na sociedade que se pretende construir. A casa espírita deve ser a “célula áurea” da unificação, de onde ocorrerá naturalmente a aproximação de irmãos, o compartilhamento de experiências, a criação de novas metodologias de trabalho e a realização conjunta de iniciativas.
Tudo isso para fazer frente às crescentes demandas individuais e sociais, num mundo que passa por uma crise de valores e por uma profunda perturbação espiritual em decorrência da transição que nele se opera, exigindo da casa espírita uma ação rápida de resposta transformando-se num centro de reeducação e formação de homens de bem.
Não haverá outra saída senão a descentralização e a conseqüente delegação de atribuições como fez Jesus com os seus apóstolos e discípulos. A dinâmica que naturalmente será criada neste intercâmbio produtivo é que proporcionará a união tão desejada.
Conjugando-se a este processo de integração e complementaridade surgem como bases de apoio as entidades de atuação específica que facilitarão a propagação da boa nova renovada à sociedade.A meta inicial não é a unidade institucional, mas a unidade sentimental que se junta à unidade de propósito e à unidade de trabalho. Não fixemos tempo nem precondições, a não ser o desejo sincero de estarmos juntos e unidos.
Mais do que nunca o lema do mestre Kardec se faz oportuno entre os espíritas: trabalho, tolerância e solidariedade. Lembrando novamente Jesus, neste instante de reaproximação de irmãos, não custa orar e vigiar para que não se caia na tentação da crítica destrutiva, nem que se dê cabo aos inimigos espirituais que irão aturdir as mentes imprevidentes e refratárias a mudança.É imprescindível a formulação de uma nova agenda de ações, construída em parceria, aliando objetivos comuns a planos comuns. Sem pressa, mas firmemente.
Que tal seguir a estratégia dos cinco Os: conversar, conviver, convergir, compartilhar e confraternizar?Como proclama Bezerra de Menezes, “estamos em campanha. Campanha pela unificação com amor.
Campanha pela renovação de atitudes”. A unificação ética proposta, em suma, é a unificação pelo Evangelho.
Por esta razão, a inspiração que deve reunir os espíritas é aquela já conhecida, mas ainda pouco vivenciada: “Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros”. (fonte de pesquisa: www.espirito.org.br)
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