O estado natural é a infância da humanidade, e o ponto de partida de seu
desenvolvimento intelectual e moral. O homem carregando em si o gérmen de seu
aperfeiçoamento, não está destinado a viver perpetuamente no estado natural, como não
viverá eternamente na infância.
O estado natural é transitório e o homem liberta-se pelo progresso e pela
civilização.
Por isso, estado natural e lei natural, não são a mesma coisa. A lei natural, rege
a humanidade inteira, e o homem se aperfeiçoa à medida que compreende e pratica
melhor essa lei.
No estado natural o homem tem menos necessidades, e não tem todas as
tribulações que ele cria para si num estado mais aperfeiçoado; mas o homem não pode
retrogradar a essa condição primitiva, pois seria negar a lei do progresso, e o homem deve
progredir sempre.
Ä Marcha do Progresso:
O homem possui em si a força de progredir. Mas, nem todos progridem ao mesmo
tempo e da mesma forma. Pelo contato social, os mais avançados ajudam o progresso dos
outros.
O progresso moral é conseqüência do progresso intelectual, não o seguindo
porém, sempre imediatamente.
O progresso intelectual pode conduzir ao progresso moral, pois lhe proporciona
melhores condições de compreender o bem e o mal, fornecendo ainda, maiores subsídios
no momento da escolha entre um e outro.
O desenvolvimento do livre-arbítrio, segue o desenvolvimento da inteligência, e,
consequentemente, aumenta a responsabilidade dos atos.
Cumpre neste momento, a importante observação de que povos muito
esclarecidos, às vezes, são os mais pervertidos porque o moral e a inteligência, são duas
forças que não se equilibram senão com o tempo. O progresso completo, é o objetivo nos
indivíduos e povos. Ao homem não é dado o poder de deter o progresso, mas pode
entravar algumas vezes.
O progresso é uma força viva, que as más leis podem retardar, mas não sufocar.
Quando essas leis se tornam incompatíveis com Justiça Divina (bem de todos), quando
feitas para o forte em prejuízo do fraco, elas serão afastadas e todos os que tentam mantê-
las.
Mesmo os homens que entravam o progresso de boa-fé, crendo favorecê-lo porque
o vêem sob seu ponto de vista, não conseguirão detê-lo. Há o progresso regular e lento
que resulta da força das coisas. Mas quando um povo não avança muito depressa, a
Providência Divina suscita, de tempos em tempos, um abalo físico ou moral, que o
transforma.
O homem não pode ficar perpetuamente na ignorância, porque deve atingir o fim
que lhe foi demarcado. As revoluções morais e sociais, se infiltram pouco a pouco e se
desenvolvem durante séculos, e de repente, estouram, trazendo abaixo os antigos hábitos. Observando o conjunto, veremos que o homem avança sempre, compreendendo
cada vez melhor o que é mal e corrigindo abusos. É preciso, às vezes, excesso do mal
para se compreender a necessidade do bem, das reformas.
O maior obstáculo ao progresso é o orgulho e o egoísmo. Referimos ao progresso
moral, porque o intelectual caminha sempre. Quanto à moralidade, está muito longe do
patamar desejado, mas os costumes sociais avançam enormemente se compararmos a
alguns séculos atrás.
Duvidar seria admitir que a humanidade já chegou à perfeição ou que não é
perfectível.
Ä Povos Degenerados:
A história nos mostra que muitos povos, após abalos que os agitaram, caíram na
barbárie. Estando pobres, habitaram um casebre; ficando ricos trocaram-no por um
palácio. Os espíritos que estão encarnados nesses povos degenerados, não são aqueles
que o compuseram ao tempo de seu esplendor. Os que avançaram, foram para habitações
mais perfeitas e progrediram, enquanto os menos avançados tomaram o seu lugar.
Há povos que são rebeldes ao progresso, por sua própria natureza. Mas, se
aniquilam corporalmente cada dia. Eles também atingiram a perfeição passando por outras
existências. Os homens mais civilizados, foram os selvagens e antropófagos de
antigamente. Como tudo passa pela infância, idade madura e decrepitude, os povos mais
avançados também passarão pelo declínio e fim. Aqueles cujas leis egoístas discordam do
progresso das luzes e da caridade, morrem; porque a luz mata as trevas e a caridade mata
o egoísmo. Mas há a vida da alma. Os que se harmonizam com as leis do Criador serão a
luz de outros povos.
Serão sempre necessárias leis adequadas a essas necessidades que caracteriza
cada povo; porém quando a Lei de Deus for a base da lei humana os povos praticarão a
caridade uns com os outros.
A humanidade progride pelos indivíduos que se aperfeiçoam e se esclarecem. De
tempos em tempos, surgem os gênios , homens com autoridade, instrumentos que fazem
avançar alguns séculos.
Quando todos os povos estiverem ao mesmo nível pelo sentimento do bem, a
Terra será ponto de encontro de espíritos bons, que viverão unidos fraternalmente.
Os obstinados no mal, encontrando-se deslocados e repelidos, irão para os
mundos inferiores que lhes convenham até transformarem-se.
Ä Civilização:
Encontramos em “O Livro dos Espíritos, na questão 790, a seguinte indagação: “A
civilização é um progresso ou, segundo alguns filósofos, uma decadência da humanidade?”
Resposta – “É um progresso incompleto. Não se passa subitamente da infância à
idade madura.”
Não é racional condenar a civilização. Devemos condenar quem dela abusa.
Quando o moral estiver tão desenvolvido quanto a inteligência, os males que a civilização
produziu desaparecerão. O fruto não pode vir antes da flor.
A civilização não realiza, imediatamente, todo o bem que poderia produzir, porque
os homens não estão ainda prontos, nem dispostos a obter esse bem.
A civilização cria novas necessidades, superexcitando paixões novas. Todas as
faculdades do Espírito não progridem ao mesmo tempo. É preciso tempo, para tudo. Não
podemos esperar frutos perfeitos de uma civilização incompleta.
Os sinais pelos quais, poderemos reconhecer, uma civilização completa, serão com
relação ao desenvolvimento moral. Acreditamos estar bem avançados porque temos feito grandes descobertas e invenções maravilhosas. Pelo fato de estarmos melhores alojados e
vestidos que os selvagens.
Mas, só seremos verdadeiramente civilizados quando tivermos banido de nossa
sociedade, todos os vícios que a desonram, e quando pudermos viver como irmãos,
praticando a caridade cristã.
Até lá seremos apenas povos mais esclarecidos.
A civilização tem seus graus, como todas as coisas. Uma civilização incompleta, é
um estado de transição que engendra males especiais, desconhecidos no universo
primitivo. À medida que a civilização se aperfeiçoa, faz cessar alguns desses males.
De dois povos chegados ao cume da escala social, só poderá dizer-se o mais
civilizado, aquele com que se encontre menos egoísmo, menos cupidez, menos orgulho;
onde os hábitos sejam mais intelectuais e morais do que materiais; onde os preconceitos
de casta e de nascimento estejam menos enraizados, pois esses preconceitos são
incompatíveis com o verdadeiro amor ao próximo; onde as leis não consagrem nenhum
privilégio; onde a justiça se exerça com menos parcialidade; onde o fraco sempre encontre
apoio contra o forte e nunca lhe falte o necessário para viver com dignidade.
Ä O Progresso da legislação Humana:
As sociedades poderiam ser regidas somente pelas leis naturais, sem o concurso
das leis humanas, se os homens as compreendessem bem e tivessem vontade de as
praticar. Mas as sociedades, tem suas exigências e precisam de leis particulares.
A instabilidade das leis humanas, resultam da falta de compreensão da verdadeira
justiça. Nos tempos da barbárie, os mais fortes faziam as leis e as faziam para eles. Foram
sendo modificadas à medida que foram compreendendo melhor a justiça. As leis humanas
são mais estáveis, à medida que se aproximam da verdadeira justiça; quer dizer, à medida
que elas são feitas para todos e se identificam com a lei natural.
A civilização criou para o homem novas necessidades. Essas necessidades estão
relacionadas com a posição social. Há que se regrar os direitos e os deveres, dessa
posição pelas leis humanas.
Mas, sob a influência de suas paixões, eles criam direitos e deveres imaginários,
que afrontam à lei natural.
A Lei Natural, é imutável é a mesma para todos.
A lei humana, é variável e progressiva. Somente esta pode consagrar na infância
das sociedades, o direito do mais forte. A severidade das leis penais, é uma necessidade
no atual estágio evolutivo. Uma sociedade corrompida, tem necessidade de leis mais
severas. Infelizmente, essas leis se interessam mais em punir o mal, quando já feito, do
que secar a fonte do mal.
Nada melhor do que a educação para reformar os homens.
O homem será levado a reformar suas leis, naturalmente, pela força das coisas e a
influência das pessoas de bem, que o conduzem no caminho do progresso. Ele já reformou
muitas e reformara outras.
Ä A Influência do Espiritismo sobre o Progresso:
Questão 798 de “O Livro dos Espíritos” -
798. O Espiritismo se tornará crença comum, ou ficará sendo partilhado, como
crença, apenas por algumas pessoas?
Resposta: "Certamente que se tornará crença geral e marcará nova era na história
da humanidade, porque está na Natureza e chegou o tempo em que ocupará lugar entre os
conhecimentos humanos. Terá, no entanto, que sustentar grandes lutas, mais contra o
interesse, do que contra a convicção, porquanto não há como dissimular a existência de
pessoas interessadas em combatê-lo, umas por amor-próprio, outras por causas inteiramente materiais. Porém, como virão a ficar insulados, seus contraditores se sentirão
forçados a pensar como os demais, sob pena de se tornarem ridículos."
Complementa Kardec: “As idéias só com o tempo se transformam; nunca de súbito.
De geração em geração, elas se enfraquecem e acabam por desaparecer, paulatinamente,
com os que as professavam, os quais vêm a ser substituídos por outros indivíduos
imbuídos de novos princípios, como sucede com as idéias políticas. Vede o paganismo.
Não há hoje mais quem professe as idéias religiosas dos tempos pagãos. Todavia, muitos
séculos após o advento do Cristianismo, delas ainda restavam vestígios, que somente a
completa renovação das raças conseguiu apagar. Assim será com o Espiritismo. Ele
progride muito; mas, durante duas ou três gerações, ainda haverá um fermento de
incredulidade, que unicamente o tempo aniquilará. Sua marcha, porém, será mais célere
que a do Cristianismo, porque o próprio Cristianismo é quem lhe abre o caminho e serve de
apoio. O Cristianismo tinha que destruir; o Espiritismo só tem que edificar.”
O Espiritismo pode contribuir para o progresso, destruindo o materialismo, que é
uma chaga da sociedade, fazendo os homens compreenderem onde está o seu verdadeiro
interesse.
A vida futura, não estando mais velada pela dúvida, possibilitará ao homem
compreender melhor que ele pode assegurar seu futuro pelo presente. Destruindo os
preconceitos de seitas, castas e de cor, há o ensinamento aos homens da grande
solidariedade que deve uni-los como irmãos.
Não é de temer que o Espiritismo possa não triunfar pela negligência dos homens e
de seu apego às coisas materiais. Não se pode transformar os homens como por encanto.
As idéias se modificam, pouco a pouco segundo os indivíduos, e é preciso gerações para
apagar completamente os velhos hábitos.
A cada geração, uma parte do véu se dissipa. O Espiritismo veio rasgá-lo
completamente. Até lá, mesmo que só tivesse o efeito de corrigir um homem, de um só dos
seus defeitos, seria um passo bem grande, pois esse primeiro passo tornaria outros mais
fáceis. Os Espíritos não ensinaram em todos os tempos o que ensinam hoje, pois não
damos a um recém-nascido um alimento que ele não possa digerir. Cada coisa em seu
tempo. Eles ensinaram muitas coisas que os homens não compreenderam ou não
quiseram.
Complementa a questão 802 de “O Livro dos Espíritos”
802. Visto que o Espiritismo tem que marcar um progresso da Humanidade, por
que não apressam os Espíritos esse progresso, por meio de manifestações tão
generalizadas e patentes, que a convicção penetre até nos mais incrédulos?
Resposta: "Desejaríeis milagres; mas Deus os espalha a mancheias diante dos
vossos passos e, no entanto, ainda há homens que o negam. Conseguiu, porventura, o
próprio Cristo convencer os seus contemporâneos, mediante os prodígios que operou? Não
conheceis presentemente alguns que negam os fatos mais patentes, ocorridos às suas
vistas? Não há os que dizem que não acreditariam, mesmo que vissem? Não; não é por
meio de prodígios que Deus quer encaminhar os homens. Em Sua bondade, Ele lhes deixa
o mérito de se convencerem pela razão."
Bibliografia:
Kardec, Allan – O Livro dos Espíritos – Parte Terceira – Das Leis Morais. Capítulos VI
e VII – perguntas 766 a 802.
Kardec, Allan – A Gênese – páginas 363-364 e 387-388.
Franco, Divaldo Pereira – Leis Morais da Vida. Pelo Espírito Joanna de Ângelis.
Capítulo 37, página 145. Franco, Divaldo Pereira - Estudos Espíritas – capítulo 9, página 79.
Calligaris, Rodolfo – As Leis Morais - páginas 107 à 132.
Apostila da FEP – Estudo Sistematizado da Doutrina Espírita – Unidade III – Das Leis
Morais – subunidades 7 e 8.
Apostila do PBDE – Programa Básica da Doutrina Espírita – CELE – Centro Espírita
Luz eterna - 9º - Sessão.
Autores Diversos – A Família, O Espírito e o Tempo – Edição USE (União das
Sociedades Espíritas do Estado de São Paulo) – 1994.
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