Causas das Misérias Humanas
Palestra Virtual
Promovida pelo Canal #Espiritismo
http://www.irc-espiritismo.org.br
Palestrante: Ricardo Bicudo
Rio de Janeiro
21/08/1998
Organizadores da palestra:
Moderador: "Dejavu" (nick: |Moderador|) "Médium digitador": "jaja" (nick: Ricardo_Bicudo)
Oração inicial:
<Caminheiro> Pai amoroso! Nosso Pai que nos ama e nos concede sempre uma nova chance! Como é bendito o teu amor! Como é maravilhosa a ternura com que nos trata, nos observa, nos olha! Louvado seja, Pai, pela maravilhosa obra da criação, pelo dom da vida! Suplicamos neste momento, Paizinho, a tua luz para nosso palestrante e para cada um de nós aqui participantes! Que possamos entender o plano maravilhoso de evolução que Você prepara para cada um de nós! Que consigamos perceber que a vida concorre sempre para o melhor em nossas vidas! E que nosso aprendizado faça a árvore de nossas vidas render frutos: 100 por 1, 10000 por 10! Em nome de Jesus! Que assim seja!
Apresentação do palestrante:
<Ricardo_Bicudo> Sou carioca, tenho 49 anos. Espírita, freqüentador e trabalhador da Casa de Maria de Nazaré, na Rocinha e do Grupo Rita de Cássia de Estudos Espíritas, no Leblon. (t)
Considerações iniciais do palestrante:
<Ricardo_Bicudo> Tem sido difícil para todos conviver com as desgraças e misérias que têm assolado o ambiente do nosso planeta. É comum até para alguns de nós, espíritas, que temos a possibilidade de estudar a vida sob um enfoque mais amplo, diante de fatos muitos tristes, deprimentes, vacilarmos um pouco em nossa esperança. Mas, se formos consolidando, interiorizando, o entendimento da Doutrina dos Espíritos, certamente ela ocupará o espaço que lhe está destinado como alavanca de progresso da humanidade terrena, como o consolador prometido por Jesus. Pois é um fato incontestável para todos que a estudam seriamente, que ela traz os fundamentos para a compreensão das misérias humanas. Não traz ela em seu bojo doutrinário todos os conceitos acerca da vida humana, mas, certamente, traz a medida precisa dos que são necessários à regeneração da condição humana na Terra, o que somente será alcançado, a partir da compreensão das nossas dores e do fortalecimento de nossa fé na justiça e bondade de Deus, nosso Pai. Que Jesus, nosso mestre maior, possa abençoar nossa reflexão esta noite. Paz a todos! (t)
Perguntas/Respostas:
<Moderador__> [1] <neeg> Caro amigo Ricardo: vemos, atualmente, pessoas revoltadas com a vida que levam, afirmando serem injustiçadas. Você acredita que possam haver aqui na Terra pessoas injustiçadas?
<Ricardo_Bicudo> Essa justiça tem que ser vista sob duas óticas. Sob a ótica humana, vemos a injustiça em todo canto do planeta. No entanto, quando buscamos uma compreensão da vida, envolvendo a Lei das reencarnações, causa e efeito, começamos a compreender que, na realidade, os nossos sofrimentos encontram sua justificativa nas vidas passadas. Ainda complementando: podemos dizer que existem pessoas e situações "injustas", mas sabemos que não existe injustiça perante a Lei de Deus. (t)
<Moderador__> [2] <neeg> Amigo Ricardo, podemos afirmar que pessoas de nossas relações que nunca sofreram misérias desde o nascimento até próximo ao desencarne podem ser consideradas espíritos elevados, já que as tribulações da vida são provações para espíritos endividados?
<Ricardo_Bicudo> Não! Não sabemos o que a vida nos reserva até que haja o desligamento final do nosso espírito até o termo final de nossa encarnação. Não esqueçamos também de que temos o livre-arbítrio em determinadas oportunidades de vida para programarmos aquela existência. E Deus, em sua misericórdia, permite, às vezes, que passemos por uma vida inteira "perdendo o nosso tempo" para que passemos por esta experiência. Ao voltarmos, nos damos conta de que fizemos a escolha errada. Com relação ao espírito superior, ele não sofre, mas sua vida é sempre marcada por atividades úteis à sociedade em que vive. (t)
<Moderador__> [3] <Brab> Caro Ricardo: Jesus nos disse: "É necessário que o escândalo venha, mas ai daquele por quem o escândalo vier". Devemos entender então que o erro e o mal são necessários ao mundo? Ou seja, que só o mal é capaz de agir para evoluir certas criaturas?
<Ricardo_Bicudo> As novas versões do Evangelho já não trazem mais esta menção de que o escândalo é "necessário", mas sim "inevitável", o que nos dá uma interpretação bastante diferente e bem de acordo com o que nos ensina a Doutrina Espírita acerca do nível evolutivo do nosso planeta aonde predomina ainda o sentimento do mal em seus habitantes. O mal nunca é um instrumento para o progresso, mas o sofrimento que lhe é decorrente sim. Infelizmente, tem sido esse o instrumento escolhido pela maioria da humanidade. (t)
<Moderador__> [4] <Dejavu> Por "misérias humanas", deve-se entender todo tipo de aflição, ou mais especificamente a pobreza de bens materiais?
<Ricardo_Bicudo> Podemos entender como as "misérias humanas" todo tipo de aflição, conforme você mesmo coloca, mas gostaríamos de ressaltar a fome, as guerras, as doenças, a violência indiscriminada, tudo que é causado ainda pelo predomínio do mal em nosso planeta. No entanto, é bom esclarecer que as misérias têm sua origem no íntimo das criaturas, nos seus vícios, na ignorância, na ambição, no egoísmo, no orgulho, na inveja, no ódio, no medo e poderíamos falar muito mais. (t)
<Moderador__> [5] <damago> Devemos entender que a depuração de nosso espirito advém em maior com a dor e o sofrimento? <Marcelo3> É necessário sofrer para evoluir?
<Ricardo_Bicudo> A depuração do nosso espírito para o progresso pode vir pela compreensão das Leis de Deus sem que para isso necessitemos sofrer. O sofrimento, por ser uma característica de uma imperfeição do espírito, caracteriza uma necessidade de aprendizado. A Doutrina Espírita nos ensina que o sofrimento tem a duração necessária para sua compreensão. Infelizmente, não nos esforçamos, suficientemente pela compreensão das Leis e acabamos por tomar o caminho do sofrimento. (t)
<Moderador__> [6] <Caminheiro> Boa noite! Diante das misérias que presenciamos em nosso meio, muitas vezes nos conformamos passivamente, justificando uma atitude nula, acreditando que "nada se pode fazer contra o carma!" Qual nossa obrigação como espíritas, como cristãos diante do próximo que sofre? <neeg1> amigo Ricardo, diante das misérias dos nossos irmãos, qual a melhor atitude que podemos tomar, não obstante sabermos ser necessário tal sofrimento, principalmente em determinados casos de pessoas que insistem na prática do mal?
<Ricardo_Bicudo> O homem tem uma pulsão natural para a busca da felicidade e deve buscar sair sempre da passividade em busca de uma solução para a sua vida. Caso não consiga esta solução, ainda que continue tentando, sem desanimar, isto é um indício de que este sofrimento faz parte da sua programação de vida e lhe cabe, além de continuar tentando, porque não conhecemos a vontade de Deus, ao mesmo tempo não se revoltar e buscar caminhar com resignação. Com relação ao próximo que sofre, o Senhor Jesus nos ensinou a que devemos buscar sempre apoiá-lo com todas as nossas possibilidades de ajuda, em qualquer situação, sem julgamentos de quaisquer natureza. Deus ajuda o homem através do próprio homem, e muitas vezes, a solução daquele irmão Deus coloca em nossas mãos. (t)
<Moderador__> [7] <damago> Poderemos acreditar que nossa miséria é fruto somente de vidas passadas ou temos também resgates nesta mesma encarnação?
<Ricardo_Bicudo> Nos Capítulo "Bem-aventurados os aflitos", em "O Evangelho segundo o Espiritismo", Kardec discorre sobre as causas atuais e as causas anteriores das aflições, ressaltando que a maior parte das nossas aflições são o resultado da nossa imprevidência, da nossa incúria, ou seja, das nossas imperfeições em manifestação no dia a dia de nossas vidas. (t)
<Moderador__> [8] <damago> Podem estar as misérias do alcoolismo, drogas e outros similares associadas a obsessões?
<Ricardo_Bicudo> Ainda que o gérmen do vício exista na própria pessoa, sabemos, através dos trabalhos em mesas mediúnicas e pelos vários depoimentos dos espíritos, que os obsessores potencializam e exploram as nossas fraquezas. (t)
<Moderador__> [9] <neeg1> Ricardo, dentre as misérias porque passa a humanidade, qual a que mais assola o homem, a miséria moral ou a miséria material? Para aliviar, das misérias humanas, qual tem mais peso: a caridade moral ou a caridade material?
<Ricardo_Bicudo> À luz da mensagem do Senhor Jesus, entendemos que a solução para os problemas materiais que o homem enfrenta na sociedade, como a fome, o desemprego, etc. Não passa necessariamente pela mudança de sistemas políticos, mas por uma reforma e transformação moral das pessoas desta sociedade. Entendemos, então, para respondê-lo, que as misérias morais da humanidade trazem como conseqüência as misérias materiais. Com relação à caridade material ou moral, essa deve ser particularizada em função da necessidade do momento daquele que é o alvo da nossa ação. Se ele estiver com fome, antes de lhe dar o Evangelho, é necessário um prato de comida. (t)
<Moderador__> [10] <Peppinha_> Ricardo, como o espírita deve se portar perante a "miséria" de um irmãozinho seu se este não deseja encontrar o caminho da paz e do amor? O que fazer? <Marcelo3> Ainda que trilhemos no bem, como suportar a dor que nos abate por aqueles que sofrem, pelos quais ainda nada, ou quase nada podemos fazer?
<Ricardo_Bicudo> Em primeiro lugar, é preciso buscar a compreensão do outro em suas limitações, em suas possibilidades de compreender a vida em sua verdadeira intencionalidade. Em segundo lugar, a compaixão, porque nem todos já conseguem perceber que a mensagem de amor e de perdão do Senhor Jesus é a mensagem de libertação de nossas almas sofridas e do caminho para a paz e para o amor que você menciona. Quando não percebemos uma maneira ostensiva de auxiliá-lo, através de uma ação direta, o recurso da oração será sempre um auxílio, e valioso, acreditemos. (t)
<Moderador__> [11] <Maroisa> Se a vida material é necessária para nosso aprendizado e evolução, por que isso se dá com tanta luta, com tanto sofrimento?
<Ricardo_Bicudo> Santo Agostinho, no ESE, nos diz algo que é importantíssimo para que entendamos o ambiente deste planeta em que vivemos como um planeta ainda de expiações e provas. Explica ele que este é um local de exílio para espíritos obstinados ainda no mal, espíritos rebeldes à Lei de Deus e que vieram (viemos) parar por aqui para aprendermos através dos contrastes que aqui encontramos: o bem/o mal, a luz/a sombra, a saúde/a doença, a percebermos o caminho para a regeneração de nossas almas rebeldes. Precisamos, através destes contrastes, lutar contra os nossos vícios e perceber o caminho de volta para a harmonia com a Lei de Deus. (t)
<Moderador__> [12] <damago> Baseado na Lei de causa e efeito, podemos dizer que as vítimas do Sudão seriam avaros em encarnações pretéritas?
<Ricardo_Bicudo> Não sei, exatamente, qual o delito que praticaram aquele grupo de espíritos que hoje sofrem no Sudão. Mas podemos, refletindo sobre o que já aprendemos, dizer que são espíritos em débito com a Lei de Deus. (t)
<Moderador__> [13] <Dengsa_> Você acha que a causa da miséria está em nós? <neeg1> Ricardo, as misérias humanas podem ser consideradas com criação do próprio homem quando infrige as leis divinas ou efeito desses mesmos desregramentos?
<Ricardo_Bicudo> Sem dúvida, o sofrimento é inerente à imperfeição humana. Ninguém sofre pela imperfeição do outro. As "misérias humanas" são decorrência do mau uso do livre-arbítrio. (t)
<Moderador__> [14] <neeg1> Ricardo, vemos verdadeiras populações sofrendo todo tipo de misérias, notadamente a fome, como verdadeiro carma coletivo, e esses sofrimentos, muitas vezes, são imputadas por governantes inescrupulosos. Podemos considerar esses governantes, verdadeiros ditadores, diante da lei de causa e efeito, como JUSTICEIROS?
<Ricardo_Bicudo> Voltamos à questão do mal "necessário", mas que, na verdade, devemos entender como "inevitável". A justiça de Deus não necessita de governantes inescrupulosos para agir. Todos serão educados para a Lei de Deus sem que Deus para isso precise de lançar mão de um de seus filhos para a prática do mal. (t)
<Moderador__> [15] <neeg1> Ricardo, O "Bom Sofrer "de que fala nossa doutrina, deve ser encarado como aceitação do sofrimento como irreversível ou sua aceitação sem revolta, mas sempre procurando alivio para os sofrimentos?
<Ricardo_Bicudo> A aceitação do sofrimento como irreversível não deve ser uma postura do espírita, porque não temos como perscrutar a vontade de Deus. Como saberemos qual o termo final para os nossos sofrimentos? Só Deus o sabe. Aceitar o sofrimento, sim, com resignação, mas buscando persistentemente uma solução para ele. (t)
<Moderador__> [16] <Macroz> Mas, amigo Ricardo, não seria, igualmente para uma mãe (por exemplo), um motivo de aflição, ao ver seu filho caminhando erradamente, mesmo depois de todas as suas tentativas de auxiliá-lo? Neste caso, a mãe, sofre pela imperfeição do filho, não?
<Ricardo_Bicudo> O trabalho de educação de uma mãe por um filho difícil pode ser aliviado com a compreensão maior acerca da finalidade da família num contexto espiritual. Os nossos sofrimentos e preocupações, quando educamos os nossos filhos, são o resultado do nosso nível evolutivo, da nossa compreensão do nosso papel nesta missão. A medida que ampliamos esta compreensão, as nossas angústias e preocupações diminuem. Este é o entendimento que temos quando Kardec diz em "O Céu e O Inferno" que todo sofrimento é inerente a uma imperfeição. (t)
<Moderador__> [17] <neeg1> Ricardo, como sabemos, antes de reencarnar, os espiritos programam, quando em condições, sua nova existência na Terra. As misérias por que têm que passar também são programadas? E fatalmente passarão?
<Ricardo_Bicudo> Algumas das misérias que passamos são realmente programadas por nós mesmos para resgatarmos as nossas consciências em débito. No entanto, devemos entender, como nos ensina "O Livro dos Espíritos", que não existe fatalidade nos atos da vida moral. Programamos condições de vida e acontecimentos que nos são muito penosos, com a finalidade de reeducarmos nossos espíritos. (t)
<Moderador__> [18] <Peppinha> Por que a Terra é vista como um grande hospital para a miséria humana e como nós, doentes, podemos nos portar? Figuradamente, devemos encontrar os médicos, não?
<Ricardo_Bicudo> A Terra vista como um hospital é bem do que nos fala a nossa Doutrina, pois somos, em grande maioria, doentes da alma, mas podemos também entendê-la como uma grande escola e também como uma penitenciária. Mas, no entanto, não estamos abandonados pela misericórdia de Deus e convivemos com os médicos e professores que necessitamos para o nosso aprendizado. "Sou o grande médico das almas e venho trazer-vos o remédio que vos há de curar." (Espírito da Verdade - ESE, capítulo VI) (t)
Considerações finais do palestrante:
<Ricardo_Bicudo> Para finalizar, gostaria de ressaltar o ensinamento da nossa Doutrina acerca da destinação da Terra num processo evolutivo em que ela se encontra, sendo apenas o segundo degrau de uma escala de 5 para chegarmos aos mundos felizes e que, nesse estágio, mundo de expiações e provas, temos ainda que conviver com a predominância do mal sobre o bem e devemos entender que, como Deus, é bom e justo que estejamos no lugar certo e de acordo com as nossas necessidades de aprendizado. Não nos esqueçamos também de que está próximo o momento em que esse estágio do nosso planeta estará concluído e que, em breve, descansaremos de todas as nossas lutas. Falta pouco, perseverança com Jesus e todos estaremos juntos neste mesmo planeta vivendo, então, a predominância do bem sobre o mal. Paz para todos! (t)
Oração final:
<|CNumiers|> Não olvides que somos partes de vasto grupo de almas, como pontos integrantes de um círculo. Além da família consangüínea, temos a equipe.espiritual a que nos imantamos pelos mais fortes laços do coração. Ninguém odeia sem haver amado profundamente e ninguém experimenta animosidade sem haver conhecido antes a benção da simpatia - Emmanuel - Que assim seja!(t)
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