A Cruz de Cristo
"Quem quiser vir após mim, negue-se a si mesmo, tome sua cruz e siga-me."
Jesus nos chama com as nossas respectivas cruzes. Sem estas, não poderemos segui-lo.
O interesse próprio e a causa do Cristo são incompatíveis. Havemos de renunciar àquele, para
nos acomodarmos a esta.
Renunciar, segundo o critério cristão, não importa na indiferença e na inércia, no abulismo e na apatia, mas, sim, na força moral capaz de colocar a justiça e a verdade acima de todos os interesses, de todas as cobiças, de todas as prerrogativas, até mesmo da própria vida. Paulo reporta-se, numa de suas epístolas, aos inimigos da cruz do Cristo. Estes indivíduos talvez fossem admiradores do Cristo; mas do Cristo sem a cruz. Ser, porém, adversário da cruz, é ser adversário do Cristo.
Não há Cristianismo sem cruz, isto é, sem renúncia, sem dificuldades, sem sacrifícios. Religião cômoda e fácil, pronta a amoldar-se às veleidades e ao egoísmo humano, não é Cristianismo, embora se rotule com tal denominação.
Em matéria de moral evangélica, a questão não é de rotulagem, nem de aparências: é de fato. A cruz do Cristo, na vida humana, é um fato concreto e positivo em toda a força da expressão. A cada passo, a cada momento, a palavra da cruz se ergue em nosso íntimo, reclamando que a tomemos sobre os ombros. Ou carregamo-la, renunciando; ou a desprezamos, dando ganho de causa às razões do nosso egoísmo.
Assim está urdida a trama da nossa vida. Com a cruz ou sem a cruz, isto é, pela justiça e pela verdade, ou pelo interesse e pela hipocrisia do século. Não há que vacilar. "Seja o teu falar sim, sim; não, não."
Toda a autoridade vem da cruz. O Enviado de Deus não impôs aos homens a sua autoridade; conquistou-a na cruz. Quando eu for levantado, dizia ele, atrairei todos a mim. O fulgor imperecível de sua glória vem da renúncia máxima, vem do seu sacrifício voluntário em prol dos pecadores. O seu poder não dimana de outra fonte também. E' a conseqüência natural de sua máscula energia moral, capaz de triunfar sobre todos os obstáculos, renunciando a tudo pelo ideal acalentado.
A autoridade do homem, sua glória e seu poder não podem, a seu turno, ser conquistados de outra maneira. Jesus é o modelo, é o Verbo que serve de paradigma a todos os verbos. E' só renunciando ao inferior que se logra o superior. A verdadeira glória, o verdadeiro poder, a verdadeira riqueza e a verdadeira sabedoria só se alcançam renunciando ao falso poder, à falsa glória, à falsa autoridade, à falsa riqueza e ao falso saber do século presente. Sem a cruz não se vence na vida. Ela é a arma indispensável no combate cotidiano. Com ela, marchamos para a vitória, de fronte serena, de cabeça levantada. Sem ela, caminhamos para a derrota, cabisbaixos, humilhados, envilecidos.
Com a cruz do Cristo, finalmente, conquistamos a vida; sem ela, seremos tragados pela morte. "Quem quiser salvar a sua vida, perdê-la-á; e quem perder (renunciar) a sua vida por amor de mim e do Evangelho, salvá-la-á."
LIVRO: EM TORNO DO MESTRE
AUTOR: PEDRO DE CAMARGO – PSEUDÔNIMO VINICIUS
EDITORA: FEDERAÇÃO ESPÍRITA BRASILEIRA - 6ª EDIÇÃO – BRASILIA – DF
ANO DE PUBLICAÇÃO: 1939 (PAG. 249-250).
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