Estudando o Espiritismo

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domingo, 14 de outubro de 2012

A Morte nas Diferentes Sociedades



A Morte nas Diferentes Sociedades
Autores: Sara Santos


Introdução

A morte é o génio inspirador, a musa da filosofia, sem ela provavelmente a humanidade não teria filosofado.
Desde os primórdios da civilização, a morte é considerada um aspecto que fascina e, ao mesmo tempo, aterroriza a humanidade. A morte e os supostos eventos que a sucedem são, historicamente, fonte de inspiração para doutrinas filosóficas e religiosas, bem como uma inesgotável fonte de temores, angústias e ansiedades para os seres humanos.
Falar sobre morte, provoca um certo desconforto, pois damos de caras com uma finitude, o inevitável, a certeza de que um dia a vida chega ao fim.

A Morte Nas Diferentes Sociedades

A morte não se refere apenas ao envelhecimento contínuo, às doenças constantes, á perda de forças... ela refere-se também a um outro mundo, aterrador “ aquele da confusão, do caos, onde não existe mais nada nem ninguém.”
Nas principais civilizações da antiguidade, eram muitas as diferenças que existiam sobre o significado ético – religioso da morte, mas em todas as civilizações existe uma semelhança: a morte é um lugar inacessível para os vivos.
Todos nós possuímos uma herança cultural que define a nossa visão da morte, as nossas interpretações actuais sobre a morte, constituem parte da herança que as gerações anteriores, as antigas culturas, nos deixaram.
A visão da morte ao longo do tempo, e a construção da sua própria identidade colectiva constitui um dos elementos mais relevantes para a formação de uma tradição cultural comum.
Iremos de seguida, mostrar os rituais de sepultamento dos corpos dos defuntos – inumação – praticados por sociedades antigas.

Sociedade da antiga Mesopotâmia

Os povos mesopotâmios tinham por costume enterrar os corpos dos mortos da maneira mais escrupulosa, sendo o cadáver cuidadosamente acompanhado de todas as marcas da sua identidade pessoal e familiar, como os seus pertences, objectos de uso, roupa e até mesmo as suas comidas predilectas.
Era tido muito cuidado, para que nada faltasse na travessia, nada perturbasse, ou violasse, o espaço sagrado do túmulo, antes de ser enterrado era escolhido o local, tendo em conta a pertença do morto a uma determinada família ou importância Social. Situados junto às cidades, os cemitérios a elas pertenciam de modo essencial, marcando uma espécie de margem entre os limites do mundo dos vivos e o mundo dos mortos.

Sociedade Hindu

Na sociedade hindu, era praticada a incineração crematória.
O cadáver não era conservado com as marcas da sua identidade, personalidade e inserção social, mas completamente consumido pelo fogo, destruído até às cinzas, que eram lançadas ao vento, ou nas águas dos rios, sendo o morto privado de todos os seus traços identitários. Sendo tratado como vítima de um sacrifício, a destruição do cadáver marcava a Destruição integral da sua existência, Ficando livre de todos os seus pecados.
Nesta sociedade a morte era interpretada como a via de acesso ao Absoluto, ao Eterno, e à paz originária:
As comunidades hindus não procuravam a sua permanência na terra.
A lenda desta sociedade, diz que quando a “mãe terra” se encontrava sobrecarregada de pessoas vivas, apelava ao deus Brahma, que enviava a “mulher de vermelho” (que representa a morte, na mitologia ocidental) para levar pessoas, aliviando assim, os recursos naturais e a sobrecarga populacional da “mãe-terra”.

Sociedade Grega

Os antigos gregos praticavam o mesmo gesto cultural – a incineração – com um sentido completamente diferente da cremação entre os hindus. No caso dos gregos, as cinzas não eram lançadas ao anonimato dos ventos, mas cuidadosamente guardadas em memória dos mortos, como os hindus, os antigos gregos cremavam os corpos dos mortos, como sacrifício de tudo o que era mortal e findável, para preparar a passagem dos mortos para uma outra condição de existência, a condição social de mortos.
No entanto, em sentido totalmente oposto ao dos hindus, o sacrifício não tinha a intenção de apagar por completo as memórias do falecido, de dissolver para sempre sua identidade, fundindo-a com o Absoluto, mas de determinar dois tipos diversos, de mortos: de um lado, a morte regular, uniforme e anónima, que afrontavam o comum dos mortais. Esses eram os cadáveres cremados colectivamente e depositados numa vala comum. De
Outro lado, eram levados à pira crematória os corpos falecidos dos grandes heróis, na cerimónia da bela morte, a morte precoce no campo de batalha – aquela cuja marca distintiva estava em ser a atestação mais efectiva da virtude e da excelência.
Essa morte tornava distinto, tornava aristocrático e, em sentido grego, verdadeiramente imortal o morto. Era somente por ela – pela prova da virtude na morte – que um autêntico grego antigo se tornava um indivíduo, passava a ser alguém, cuja vida era digna de lembrança. O principal exemplo dessa situação foi a morte de Aquiles, morto na flor da idade e no campo de combate mais perigoso.

A elaboração do luto

A elaboração do luto – em casos de mortes – não pode ser considerada completa sem os rituais fúnebres. Essas celebrações, além de possibilitarem contactos afectivos e de conforto entre parentes, apresentam simbologias que pretendem concretizar o ocorrido. Em todas as sociedades existem ritos e mitos sobre a morte, pois ela implica a tomada de providências práticas e a reordenação das relações sociais. Existem também questões lógicas que os rituais têm que resolver.
A morte é um grande desorganizador cultural; e a cultura encontra respostas para ela por meio dos rituais, que juntam as pessoas, dão uma condição segura para a expressão dos afectos e ajudam no processo de construção do significado.
Os rituais fúnebres – e a elaboração do luto em si – sofrem mudanças de acordo com os processos económico-sociais vividos pelas sociedades. A tendência, hoje, é fazer tudo depressa, o mais indolor possível, reduzindo-se a simbologia ao mínimo necessário. As pessoas, por exemplo, não usam mais o preto para significar a morte, cor que tem uma função importante, pois comunica ao mundo uma situação especial vivida pela pessoa, que merece um tratamento diferente, a nossa cultura actual desqualifica os rituais e tira um pouco do seu valor. Isso tem consequências: as pessoas não conseguem fazer o processo de luto.
Nos antigos ritos em casos de mortes familiares, as pessoas participavam no ritual, que era um evento público. Hoje os rituais fúnebres tendem a ser escondidos, muito mais secos e assépticos.
As principais tradições religiosas existentes no mundo – judaísmo, cristianismo, islamismo, budismo e hinduísmo – possuem seus próprios rituais e explicações para a morte.

As religiões e os seus preceitos

Judaísmo

A mais antiga das religiões ocidentais fundamenta-se nas escrituras deixadas pelos profetas na Bíblia Sagrada. A vida é preparação para um mundo vindouro; a cremação é proibida. Judeus não velam mortos com caixão aberto, pois a exibição do corpo é considerada desrespeito. Os homens são enterrados com seu xale de oração. Durante a cerimonia, o rabino discursa e os filhos homens recitam oração (kadish). O luto judaico acontece em três fases: shivá – sete primeiros dias; shloshim – período de 23 dias; avelut – estende-se até o primeiro ano após o falecimento, porém só deve ser observado pelos filhos

Cristianismo

Abrange as religiões que professam os preceitos deixados por Jesus Cristo, crê nos profetas bíblicos e no Novo Testamento dos profetas cristãos. Inclui Católicos, Evangélicos, Pentecostais e Ortodoxos (o Espiritismo, que reúne os seguidores de Alan Kardek, é uma tradição particular nesse contexto, pois crê na reencarnação do espírito, que é eterno e evolui). Os cristãos crêem que após a morte o espírito vai para o céu ou para o inferno (os católicos crêem no purgatório), de acordo com os pecados que cometeu. Crêem no Juízo Final, quando os mortos ressuscitarão para uma vida eterna junto a Deus. Os rituais de morte e luto têm similaridades, incluindo: unção, velório, enterro e orações (cultos, missas).

Islamismo

Pertence à tradição dos profetas bíblicos, mas tem Maomé como último grande profeta. Vê a morte como passagem para uma próxima etapa; no Juízo Final acontecerá a ressurreição, todas as almas retornarão a corpos jovens e sem defeitos. A cremação voluntária é proibida. O caixão serve apenas para transportar o corpo até o cemitério; deve ser simples. O velório apenas serve para cumprir a burocracia ou aguardar um parente. Quanto antes for realizado o sepultamento melhor. Não há luto; para o islamita a morte deve ser vista como natural.

Budismo

Equipara a vida presente a uma situação de “sono”, motivada pela ignorância que mantém o homem inconsciente de sua verdadeira natureza e preso a um ciclo de renascimentos e mortes (tudo é transitório e interligado). Ao obter a “Verdadeira Sabedoria”, ele se liberta, alcançando o Nirvana ou estado de perfeição espiritual. Os budistas adoptam prioritariamente a cremação. Durante o luto é importante cultivar sentimentos de gratidão com relação aos familiares que se foram e aprender com o morto sobre a inevitabilidade da morte

Hinduísmo

Crê na reencarnação. A vida na terra é parte de um ciclo eterno de nascimentos, mortes e renascimentos. A pessoa pode levar uma vida voltada para o bem e se libertar desse ciclo. O cumprimento correcto do drama (dever prescrito) pode levar o praticante à mukti (liberação) do karma (ciclo repetitivo de nascimento e morte). Os mortos são cremados em uma pira aberta, acesa pelo filho mais velho do falecido.
Candomblé

De origem africana, entende que a vida continua por meio da força vital imperecível de cada um: o ori, que volta a reencarnar em outro corpo da mesma família. O rito funerário (axexé) começa após o enterro e pode durar dias; objectos pessoais do morto são quebrados e jogados em água corrente. A morte leva tempo para ser superada e mais tarde o ente que se foi interfere na energia do grupo ao qual esteve ligado.
As Diferenças Entre a Civilização Negro Africana Tradicional e a Civilização Ocidental No Que Se Refere à Morte

Esta diferença assenta no tipo de sociedade ou civilização. Enquanto na sociedade negro-africana predomina a acumulação dos homens, uma economia de subsistência com o primado do valor de uso, a riqueza de sinais e símbolos, a preocupação com as relações pessoais, o espírito comunitário, o papel do mito e do tempo repetitivo, na sociedade ocidental o que predomina é a acumulação dos bens, a riqueza em objectos e técnicas, uma economia com o primado do valor de troca e da sociedade de consumo, a exaltação do individualismo, o papel da ciência, da técnica, do tempo explosivo.
Nesta visão, compreende-se que o significado do Homem também será distinto. Se, na sociedade negro-africana, o Homem se encontra no centro, sendo altamente socializado, e os velhos são valorizados, até porque representam a tradição e a sabedoria, na sociedade ocidental, o Homem aparece sobretudo como produto, mercadoria, inserido no círculo da produção-consumo, altamente individualizado e alienado, e os velhos são desvalorizados e abandonados.
Como consequência, também se entende que sejam profundas as diferenças quanto às atitudes face à vida, ao corpo, à morte, aos moribundos, aos defuntos.
Se a sociedade africana tradicional promove a vida em todas as suas formas (biológica, sexual, espiritual) e tem respeito pelo corpo, a sociedade ocidental, por mais paradoxal que pareça, menospreza a vida, pois é uma sociedade mortífera e tem uma atitude equívoca quanto ao corpo.
Na sociedade africana há uma atitude de aceitação e transcendência frente à morte, que é integrada como elemento natural e necessário no circuito vital, e o que constitui a morte ideal é a "boa morte". Para com o moribundo, a atitude é de pacificação maternal, até porque há forte integração na natureza e no grupo. Frente aos mortos, sublinha-se a importância do luto e dos rituais funerários e dos tabus. Os mortos estão omnipresentes e os antepassados ocupam um lugar decisivo na hierarquia do ser e do grupo.
Em contraposição, na sociedade ocidental predomina a angústia mais ou menos recalcada frente à morte, que é negada e considerada um acidente que um dia a ciência talvez possa superar. A morte ideal é a "morte bela". Morre-se só, a maior parte das vezes no hospital, sem a ajuda de uma palavra e de uma mão amiga. O luto foi abandonado e, por paradoxal que pareça, a morte, rejeitada, pode tornar-se obsessiva.
Conclui-se então que na sociedade negro-africana tradicional, a pedagogia da morte é permanente, desde a infância. Na sociedade ocidental, não há qualquer pedagogia oficial. Aliás, quando alguém da família morre, a primeira preocupação é ocultar a morte às crianças.
Conclusão

Com este trabalho pode-se concluir que nas civilizações da antiguidade, eram muitas as diferenças que existiam sobre o significado ético – religioso da morte, mas em todas as civilizações existe uma semelhança: a morte é um lugar inacessível para os vivos, e que cada Sociedade, tem o seu código de condutas, a sua hierarquia de valores, e as suas tradições.
 Os rituais fúnebres e a elaboração do luto sofrem mudanças de acordo com os processos económico-sociais vividos pelas sociedades, e que diferentes regiões têm diferentes preceitos
Conclui-se ainda que os rituais fúnebres eram de essencial importância, fazendo parte das preocupações quotidianas de muitas sociedades antigas, pois deles dependiam o direito ao repouso eterno.

Bibliografia

· Http://pt.wikipedia.org/wiki/Morte
· Http://molhoshoyu.blogspot.com/2007/06/morte-nas-sociedades-antigas.html
· Http://ocanto.esenviseu.net/morte.htm
· Http://pt.wikipedia.org/wiki/Luto

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