Estudando o Espiritismo

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domingo, 4 de setembro de 2011

Como trabalhar intimamente




33 - Como trabalhar intimamente

"Não existem paixões de tal maneira vivas e irresistíveis, que a vontade seja impotente para as superar?
— Há muitas pessoas que dizem 'EU QUERO', mas a vontade está somente em seus lábios. Elas querem, mas estão muito satisfeitas que assim não seja. Quando o homem Julga que não pode superar suas paixões, é que o seu Espírito nelas se compraz, por consequência de sua própria inferioridade. Aquele que procura reprimi-las, compreende a sua natureza espiritual; vencê-las é para ele um triunfo do Espírito sobre a matéria."
(Allan Kardec. O Livro dos Espíritos. Capítulo XII. Perfeição Moral. II. Das Paixões. Pergunta 911.)

O nosso trabalho, como acontece em qualquer processo de aprendizagem é gradual e crescente, vai de etapa a etapa, progredindo sempre. Admitimos que, seguindo-se o roteiro deste manual de aplicação, após compreendidas as bases da Transformação Intima (Parte I) e estudado o que se pode transformar (Parte II), o nosso esforço em exercitar, através dos meios apresentados (Parte III), conduziu-nos de início à auto-análise.
De algum modo fazermos, embora empiricamente, as nossas reflexões, é atributo do ser pensante e até certo ponto racional; no entanto, quando procuramos realizar esse trabalho dentro de um contexto filosófico-moral, fundamentado no conhecimento da natureza espiritual do homem, da sua origem, constituição, relacionamento e destino, quando entendemos, à luz do Espiritismo, as leis morais que nos regem, então a nossa motivação se amplia e passamos a impulsionar com a nossa vontade que, apoiada nas realidades da vida espiritual, leva-nos a marchar irreversivelmente, rumo ao progresso moral, isto é, leva-nos a contribuir decisiva e vigorosamente para avançar na nossa evolução.
Assim sendo, praticamos a auto-análise não ape­nas para livrarmo-nos de algum conflito que nos desequilibra, tentando, portanto, conhecer as suas causas, mas o fazemos como um trabalho necessário para alcançar transformações dentro de padrões compatíveis com os ensinamentos do nosso modelo de perfeição: Jesus de Nazaré. (Id. ibid. Pergunta 625.) A auto-análise é um trabalho que se desenvolve com o tempo e não cessa mais, pois é o meio de identificar deliberadamente o que se deve melhorar. Quem está interessado em ser melhor nunca mais pára de pro­gredir, a evolução é infinita.

Do diagnóstico propriamente dito, ou seja, da identificação das manifestações impulsivas de inferioridade às transformações, quase sempre realizadas lentamente, aplicamos a auto-observação, que é sequente e decorrente da auto-análise. Podemos comparar a auto-observação com uma ação consciente de autopoliciamento, de vigilância, interligada ao esforço de auto-aprimoramento, ou seja, de remover defeitos introduzin­do virtudes, e ainda de verificação, para que aquelas virtudes sejam autênticas, sem mesclas de orgulho ou vaidade, quer dizer, virtude sem osten­tação.

A auto-observação, vimos como fazê-la, contando com exatidão e registrando graficamente as contagens das manifestações impulsivas. Agora, o auto-aprimoramento se interrelaciona com a auto-observação e, embora silencioso, ele é desenvolvido com energia e muita atividade mental.

Como podemos trabalhar intimamente nesse auto-aprimoramento é o que vamos discutir. Calma! Tenho que parar aqui! Uma pausa necessária. Não há arrastamentos irresistíveis, há sim arrastamentos apenas (Id., Ibid. Pergunta 845) e, diante deles, o que precisamos fazer? Sair de qualquer modo, com rapidez, daquela situação de perigo. Dar um tempo, respirar fundo, afastar-se, dar uns passos atrás, pedir licença para ir ao banheiro, lavar o rosto, tomar um copo d'água, relaxar, contar até dez, desculpar-se pelo engano, morder a língua, dar-se um beliscão, num instante dizer, de si para si:
"CALMA Al', AMIGO! AQUI TENHO QUE PARAR!"
Precisamos só de um pouco de coragem para conseguir as primeiras vezes, porque nas próximas já dominaremos com maior facilidade. Esse é o processo das Pausas, que podemos aplicar todas as vezes em que o nosso vulcão interior ameaçar entrar em erupção. Temos que ser velozes e parar de imediato com uma ordem mental firme, que cada um saberá elaborar para surtir maiores efeitos.

Estabelecendo pausas, damos tempo para que o próprio tempo trabalhe a nosso favor. O que dissermos em pensamento agirá produzindo novas disposições, em substituição àquele primeiro impacto de reação, e, desse modo, quebramos o processo automático ao qual estamos condicionados ou habituados, e que nos leva às reações explosivas.
As pausas dão lugar às manifestações construtivas, renovadoras, tranquilizantes, confortadoras, portanto de efeitos reais.

Relaxamento e Meditação

Hoje, as práticas de relaxamento e de meditação não são apenas utilizadas pelos místicos orientais de vida reclusa, são largamente empregadas no Ocidente, divulgadas e ensinadas por um surpreendente número de autores estrangeiros e brasileiros: filósofos, pensadores, psicólogos, educadores, médicos e terapeutas.

Essas técnicas ajudam grandemente o homem moderno a suportar as tensões e os desgastes de seu trabalho diário.
Não queremos aqui, atrevidamente, apresentar uma técnica ou método pessoal, preferimos recomendar aos interessados que consultem algumas obras específicas e escolham por si mesmos a que lhes parecer melhor. A nossa experiência é muito relativa e temos nos utilizado simplesmente dos processos de fácil emprego, em resumo compreendidos no que segue:
1° Em local isolado e silencioso, sentado, reclinado ou deitado, com pequeno gravador cassete, tocando baixinho músicas suaves de meditação e prece, em hora conveniente;

2° Começando por relaxar pausadamente, em ordem, dos pés à cabeça, descontraindo músculos e aliviando tensões, penetrando em profunda calma;

3° Pode-se respirar compassadamente com maior profundidade, algumas vezes, imaginar-se absorvendo energias vitalizantes e envolto numa atmosfera reconfortante de vibrações azul-claro;

4° Imaginando-se às margens de um lago sereno, numa paisagem tranquila, identificado emocionalmente com aquelas irradiações, iniciamos, assim, a mentalização de algumas afirmações dentro do que esperamos alcançar, ou seja: obter equilíbrio emocional, dominar impulsos, superar tentações, vencer vícios, eliminar hábitos, transformar defeitos, adquirir virtudes, realizar o bem desinteressadamente, não reagir com violência, ser compreensivo, amigo, tolerante, benevolente, piedoso, laborioso, modesto, despretensioso, e assim por diante...

Essas afirmações devem ser claras, bem definidas e independentes umas das outras, fazendo-se uma por vez, sem se deixar saturar cansativamente por um prolongado e extenso número delas. Essas práticas contribuem de forma generalizada para obtermos uma razoável condição de equilíbrio emocional e movimentarmos nossas potencialidades espirituais, no sentido das transformações íntimas. Desse modo, nos predispomos a reagir com serenidade e a controlar nossos impulsos, como também nos auxiliando a superar ansiedades e tensões.

O mecanismo em ação é: ao trabalharmos profunda e permanentemente as raízes do inconsciente, agimos magneticamente em nossos regis­tros mentais, de maneira a modelar as suas manifestações.
Conversas consigo mesmo
Quantas vezes precisamos ponderar para nós mesmos as razões sérias em que nos apoiamos para não cometer esse ou aquele erro? As conclusões que tiramos sobre a maneira grosseira de agir para com alguém, o fazemos numa conversa silenciosa conosco mesmo.

Repreendemo-nos então, com frases articuladas mentalmente, reconhecendo nossa culpa e encorajando-nos a expressar nosso arrependimento num pedido de escusas.
Diante de um envolvimento forte, que possa nos induzir a um ato repreensível, precisamos balancear os "prós" e os "contras", trazendo à discussão íntima os conhecimentos apreendidos, pesando bem as consequências desastrosas e renunciando a algum prazer ilusório.

É como se conversássemos, persuadindo-nos amigavelmente a não nos deixar levar por esse ou aquele impulso, apelando para a própria compreensão dos prejuízos a causar, não valendo a pena, por tão pouco, destruir todo um esforço de edificação interior.
Nessa conversa bem consistente, vamos sentindo que o clima emocional muda e a fogueira que ardia vai abrandando até extinguir-se. Consegui­mos, assim, reprimir o impulso e remover a ação prejudicial.

O Espiritismo nos reforça a necessidade prática dessa conversa interior, ao mostrar a influência oculta dos espíritos sobre os nossos pensamentos e ações. (Id., ibid. Capítulo IX. Intervenção no Mundo Corpóreo. Perguntas 459 e 472.) Desse modo, distinguindo sempre o bem do mal, separamos as más influências das boas, os próprios maus impulsos, as sugestões perniciosas, e afastamo-nos do proceder transgressor, repelindo as tentativas dos espíritos que nos incitam ao mal.

O caminho seguido para que nos utilizemos desse método é aproximadamente esse:

1° Ao começar a descobrir a inclinação disfarçada para cometermos algum deslize, mesmo na forma sutil, como uma expectativa de satisfação, prazer ou algo semelhante, vamos logo ao encontro dela;

2° Vamos, então, indagando o "porquê" daquela emoção sorrateira e sondemos onde estão as suas raízes. Podemos até dizerem pensamento: "Aproxime-se, quero lhe conhecer melhor", "Por que vou seguir a sua sugestão?", "Não é preferível saber primeiro os seus motivos?", "Acontece que não espero agradar-lhe", "Quero manter meu equilíbrio e não ceder às suas tentações", "Quais as suas necessidades?", "Não serão os chamamentos corpóreos, as predominâncias do ser animal que habita em mim?"

3° Assim prosseguimos, e identificando as origens das manifestações atraentes, ponderamos as consequências: "Se eu ceder, serei levado a colher profundas tristezas, depressões, sofrerei amargamente", "Assim fazendo prejudicarei a (A) e a (B), pois sucederá (isso) ou (aquilo)", "Se­rá que eu gostaria que assim fizessem comigo?", "Ah! Não vale a pena, a minha tranquilidade é mais importante!", "Quero seguir Jesus, ele me ensina a agir nessas ocasiões, (desse) e (daquele) modo", "Ë isso que vou fazer", "Estou decidido e basta!"

4° Recorrer à leitura de algumas páginas de livros como:

Conduta Espírita. André Luiz.
Sinal Verde. André Luiz.
Rumo Certo. Emmanuel.
Coragem. Espíritos Diversos.
Segue-me. Emmanuel.
Pão Nosso. Emmanuel.
Vinha de Luz. Emmanuel.
Caminho, Verdade e Vida. Emmanuel.
Fonte Viva. Emmanuel,
e tantos outros que nos incentivam ao bem proceder, apoiados no Evangelho de Jesus.

Gritar Mentalmente
Algumas vezes, quando a conversa conosco mesmo não consegue mudar a impregnação de qualquer desejo, quando ainda ficamos alimentando-os e, apesar de compreender que não devemos e eles dar escoamento, permanecemos envolvidos sem afastá-los. Nessas ocasiões de indefinição corremos sérios riscos de cometê-los e necessitamos de um salva-vidas para não afundar.
Nesses casos é muito válido gritar mentalmente, com bastante ener­gia, expressões como:

"Saia da minha cabeça!"
"Afaste-se de mim!"
"Não me atormente!"
"Não vou cair nesse erro!"
"Basta!"
"Chega!"
"Suma!"

Podemos gritar mentalmente em qualquer situação, sem chamar a atenção dos outros, cada vez que aparece um pensamento nocivo, uma emoção caprichosa, uma imagem erótica, um desejo incontido. Podemos gritar, se for necessário repetidamente, qualquer frase de contenção vi­gorosa, como uma ordem à fonte geradora, até que a emissão perigosa desapareça.

Ao emitir mentalmente um grito de alerta, respondemos com uma reação ao impulso destruidor e derrubamos a sua força de envolvimento, saindo, portanto, daquele instante perigoso.
Com um grito, diz o adágio popular, "se salva uma boiada", e podemos salvar a nós mesmos de cair num abismo.

Evitar as ocasiões de perigo

Ao observar o que nos leva a agir de modo indesejável, podemos muito bem identificar as situações que nos cercavam ao manifestar aquela reação incontrolada.

Ora, conhecendo as circunstâncias que possam nos envolver e assim nos fazer cometer ações que procuramos evitar, qual será a disposição mais inteligente para quem conhece as suas próprias fraquezas? É afastar-se dos momentos perigosos. Assim faz o alcoólatra em recuperação: evita experimentar um gole, mesmo inofensivo, de qualquer bebida contendo álcool. O jogador que combate a sua forte inclinação não vai a rodas de amigos que praticam esse hábito. Os glutões em regime preferem fugir dos restaurantes atraentes e dos pratos suculentos. Quem não quer poluir sua imaginação com erotismo não lê revistas pornográficas nem vai assistir filmes que exploram o sexo. E assim por diante...

Conhecer os defeitos que ainda não conseguimos vencer é medida de prudência, de precaução, em lugar de querer testar a nossa fortaleza, simplesmente contornar os precipícios que possam nos fazer cair naqueles abismos.
Podemos, então, antes de ser arrastados às circunstâncias que propiciem o acontecimento dos incidentes, ou que possam nos induzir a repeti-los, não aproximarmo-nos delas. Em discussões, por exemplo, sobre posições contrárias em aspectos religiosos, nas quais dificilmente convencer alguém das nossas convicções, o melhor é não prosseguir em argumentos, mesmos que fundamentados na mais evidente comprovação, porque, conhecendo as nossas tendências, podemos terminar, no ardor do vozerio, em agressões e contrariedades que nada constróem.

Nessas eventualidades, trabalhemos como um vigilante e intimamente acendamos uma luz amarela, como sinal de atenção, colocando-nos em estado de alerta, e podemos também dizer para nós mesmos:
"Estou diante de uma situação perigosa. É preferível recuar pois mais vale um covarde vivo do que um herói morto". "Corajoso é aquele que, conhecendo os riscos de cair em erros, consegue evitá-los, afastando-se das situações que os possam provocar."

Desse modo, se soubermos modificar, contornar, evitar as ocasiões que nos cercam, poderemos com isso transformar as habituais ações defeituosas e nos aprimorar progressivamente. Conhecendo as nossas situações de perigo, por que iremos nos expor a elas? Não temos necessidade de dar ouvidos aos convites tentadores ou às sugestões hipnóticas invisíveis, de experimentar para dar provas.

Ler e orar
O livro é sempre um bom companheiro. Quase sempre os pensamentos bailam e a imaginação voa, explorando as esferas de atração, em que a nossa predominância animal se compraz, quando a mente está livre, vazia ou ociosa.
O hábito da leitura edificante sempre é salutar ao nosso espírito, com o meio de ampliação dos nossos conhecimentos, como enriquecimento do espírito na sintonia com as idéias renovadoras, como meio para encontrar respostas às nossas indagações, ou para fortalecer os nossos propósi­tos de reforma íntima.

O nosso trabalho de auto-aprimoramento pode ser grandemente intensificado pela leitura das obras que nos esclarecem e incentivam ao comportamento evangélico. É precisamente o meio que temos para renovar as nossas idéias, estimular a reflexão, saber como agir, escolher rumos e alimentar nosso espírito no trabalho permanente de efetiva aplicação.
Em quaisquer circunstâncias em que estejamos vivendo nossas provas, nos testes mais diretos dos defeitos a burilar, precisamos recorrer à leitura para comer subsídios que norteiem o nosso esforço. Isso é fundamental, é mesmo imperioso. E o orar? Por que será que o Cristo deu tanta ênfase ao "orar"? No "orai e vigiai" o Mestre da Galiléia colocou-o em primeiro lugar. "Amar a Deus sobre todas as coisas..." é outra máxima que se eleva a tudo mais.

Não será exatamente no "orar" que mais nos aproximamos do Criador e melhor expressamos a Ele o nosso amor? Evidentemente que dependerá do conteúdo, da essência das nossas preces, do que elas traduzem em profundidade. Não será por muito orar que seremos ouvidos, já o sabemos, bem como, "a oração não nos exime das faltas, o perdão rogado só se obtém mudando de conduta, e são as boas ações a melhor prece". (Id., Ibid. Pergunta 661.)

É também clara a resposta dada à pergunta 910 do mesmo livro, referindo-se à ajuda eficaz que os Espíritos possam nos dar para superarmos as paixões: "Se orar a Deus e ao seu bom gênio com sinceridade, os bons espíritos virão certamente em seu auxílio, porque essa é a sua missão".
"Orar constitui a fórmula básica da renovação íntima, pela qual o divino entendimento desce do Coração da Vida para a vida do coração." (André Luiz. Mecanismos da Mediunidade. Capítulo XXV. Oração, Prece e Renovação.)

Constantemente vemo-nos defrontados por vibrações desgastantes que nos atingem, causando depressões, fadiga, desânimo e irritação, prove­nientes de criaturas próximas ou afastadas, no próprio plano terreno ou já desencarnadas, em condições de revolta, ora curtindo ódios ocultos, inve­jas, ou mantendo desafetos recônditos, de certa forma relacionadas conos-co, nessa ou em outras experiências, com as quais tenhamos convivido no erro, e agora unidos sob o mesmo teto ou comprometidos com objetivos profissionais comuns, sentimo-nos então vulneráveis, frágeis ainda, entre o estágio ideal a conquistar e a realidade íntima que nos condiciona ao mundo dos desejos.
Encontramos, assim, na prece, o meio de renovação íntima, envolvendo-nos nas vibrações balsâmicas dos planos elevados ao estabelecer a sintonia com os Espíritos amigos e benevolentes, que nos impulsionam, convertidos em fiéis companheiros, que por já terem ascendido aos níveis sublimados, nos estendem a mão, desejosos de que os alcancemos.

Nos momentos de oração, despojados de interesses, sem repetir peditórios cansativos, abrimos simplesmente a nossa alma, desejosos de compreender mais e aceitar resignadamente as provas que escolhemos, empenhando a nossa persistência e a nossa resistência, para bem aproveitar as oportunidades de crescer interiormente, no trabalho de auto-aprimoramento e no serviço do bem comum.

O orar é espontâneo e informal. Quanto mais profundamente falar o coração, mais alto projetamos, em formas luminosas, os nossos sentimentos, sejam eles as expressões de intraduzíveis emoções, de dores dilacerantes, de súplicas aflitivas ou de sofrimentos buriladores. Nesses instantes emitimos irradiações de imenso poder transformador, que inundam a nossa alma de energias reconfortadoras, nos ajudando a caminhar e ampliando as potencialidades espirituais. (Id., ibid. Capítulo IV. Matéria Mental e Matéria Física.)

No nosso trabalho interior, as ocasiões de dificuldade em superar os defeitos arraigados ao espírito, ou os desfalecimentos do bom ânimo são precisamente os momentos para recorrermos à prece. Aí falará o nosso coração e a sinceridade nos fará chegar aos bons espíritos, que certamente virão em nosso auxílio.

A automatização do bem proceder

Até que ponto chegaremos, realizando esse trabalho interior? Sendo-nos tão dificultoso eliminar vícios e defeitos, quando nos libertaremos e concluiremos nossa empreitada?
Essas indagações que certamente faremos de início não podem ter respostas plausíveis, mesmo a contento dos nossos apressados anseios.

De certo modo, o que nos cabe fazer é desempenhar, da melhor maneira, a nossa parte, isto é, trabalhar, trabalhar e trabalhar, permanentemente e sem pretensões. A rigor, quanto mais nos conhecemos e melhor desvendamos nossos segredos seculares, mais amplamente abrem-se os horizontes da nossa compreensão, e também melhor aquilatamos as distâncias a serem galgadas.
Apesar de tudo, em lugar dos desânimos passamos a sentir incontáveis emoções sustentadoras e as expressões de humildade, de abnegação nos fazem penetrar num mundo novo de vivências.

Nada é mais animador do que as alegrias experimentadas no dever cumprido, na consciência reta.
Do mesmo modo, como os hábitos nocivos seguem um mecanismo em que nos viciamos pelos processos de respostas num sistema de reflexos condicionados — como automatismos repetitivos —, o contínuo modelar das nossas atitudes no bem proceder cria, com o tempo, respostas naturais e espontâneas, sem que para isso precisemos despender maiores esforços.
Reagimos sempre evangelicamente, em quaisquer situações, como hábitos salutares adquiridos e já automatizados, resultantes das construções íntimas, conscientemente elaboradas. Entendemos que, na condição de espíritos em vias de regeneração, muito temos a realizar, e não podemos achar que as remodelações interiores se façam todas numa única encarnação. No entanto, muito podemos transformar, mesmo numa atual existência, trabalhando de forma ordenada o burilamento das nossas diferentes facetas e ângulos de imperfeições.
No final, de regresso à pátria espiritual, com bagagem quase sempre aquém da realização desejada, é que avaliaremos os frutos do nosso esforço, e daí nos prepararemos para nova viagem ao mundo das provas. Contamos, porém, com os relativos meios de aferição dos rumos seguidos nessa vida. A bússola ainda é a nossa consciência, dela recolhemos as respostas e por ela percebemos se estamos progredindo, isto é, conseguindo articular nossos automatismos no bem proceder.
E o que periodicamente carecemos efetuar são as nossas auto-avaliações, assunto a ser abordado em capítulo próximo, de importante utilização no delineamento da trajetória em percurso, que nos solicita cotidiano exercício dos bons impulsos a se tornarem um dia espontâneos.
Ney Prieto Peres

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