Estudando o Espiritismo

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segunda-feira, 4 de junho de 2012

Educação e felicidade - Parte II


Educação e felicidade - Parte II


Por Maria Ribeiro

A definição de lei natural dada pelos Espíritos na questão 614 de O Livro dos Espíritos, que abre assim o estudo sobre as leis morais, elucida: "a lei natural é a lei de Deus e a única verdadeira para a felicidade do homem. Ela lhe indica o que deve fazer e o que não deve fazer, e ele não é infeliz senão quando se afasta dela.” Mais adiante, na questão 621, com a confirmação de que esta lei se encontra na consciência do homem, conclui-se que a felicidade que este busca alhures, está interiorizada em si, bastando-lhe apenas a satisfação dos desejos espirituais para que possa senti-la. 

Em outras palavras, pode-se afirmar que o homem age em desacordo com sua natureza, apenas para satisfazer um desejo, geralmente fruto do egoísmo, que lhe trará um gozo intenso, mas momentâneo. O agir em desacordo é uma demonstração de imaturidade, mesmo que esta esteja por trás da obstinação, uma vez que um Ser devidamente amadurecido não se presta a cenas de caprichos e teimosia. Assim, a presente análise pretende dividir a Humanidade em obstinados – Espíritos mais experientes que ainda, mesmo sob alguma corrente religiosa, deixam que os vícios morais os dominem; e em imaturos – os que estão desprovidos do aprendizado e experiência que os primeiros já gozam.

A infelicidade do homem é conseqüência das más escolhas; e se a lei de Deus é a única verdadeira para a felicidade e está na consciência de cada um, logo infere-se que todos foram dotados de uma fórmula para ser felizes. Não uma fórmula mágica, não uma felicidade pueril, mas o mínimo de vontade firme, e uma felicidade na medida desta firmeza, desta perseverança. Logo, a consciência não pode indicar o mau caminho; ou seja, o senso moral desenvolvido dá ao homem todo o poder sobre sua liberdade.

Para comprovar tal tese, citem-se o que os Codificadores registram na questão 921 de O Livro dos Espíritos ...”o homem é o artífice de sua própria infelicidade. Praticando a lei de Deus, ele se poupa dos males e chega a uma felicidade tão grande quanto o comporta sua existência sobre a Terra.”

As encarnações sucessivas são a causa do aprimoramento da inteligência humana em todos os aspectos. Um homem verdadeiramente inteligente jamais negará o perdão àquele que lhe ofendeu ou magoou, aliás, quanto mais inteligente, menor será a sensação de ofensa ou mágoa, e por isso será mais feliz, porque pratica a lei Divina. 

Todos conhecerão e compreenderão cada qual a seu turno, as leis divinas. Os Amigos da Espiritualidade, na questão 619, vem esclarecer que “...os que a compreendem melhor são os homens de bem e aqueles que querem procurá-la.” Querer procurar as leis divinas, embora que fora de si mesmo, tem sido o comportamento de uma maioria, mas que representa grande passo para o encontro desejado. O diferencial está, francamente, no QUERER. De acordo com a questão 797 da mesma obra magnânima, a influência das pessoas de bem é que impulsionam as sociedades a reformularem suas leis, e por extensão, sua conduta. 

Quando os Espíritos dizem ser o egoísmo a maior das chagas humanas, também o vinculam à educação,¹ e na questão 914 eles advertem que depende da educação reformar as instituições que o entretêm e excitam. Kardec vê na educação a cura para o estado calamitoso em que as sociedades se encontram, e a chave para o progresso moral.² Mas a educação de que o mestre francês se refere é“aquela que consiste na arte de formar caracteres”.³ Paulatinamente fica à descoberto o quanto a formação de caracteres promove sociedades mais perfeitas, povos mais felizes.  

Nas últimas décadas as sociedades elegeram o consumismo como estilo de vida, ao aceitar e seguidamente manter as instituições que se aproveitam dos vícios humanos para enriquecerem. Personalidades viram sandálias que não duram mais do que duas estações; ou promovem a venda de produtos, seja de uso pessoal seja de uso doméstico, que nem sempre correspondem às expectativas dos ávidos consumidores. Quase todos podem comprar quase tudo hoje em dia, devido às facilidades oferecidas pelas empresas, inclusive as empresas financeiras. De repente as pessoas não param para pensar se sabem o que compram e por que compram. Este retrato das sociedades atuais, principalmente das deslumbradas do terceiro mundo, mostra que as instituições não tem se preocupado com outras questões, senão, as econômicas. Há algumas que ousam fazer apologias à preservação da vida; mas são as mesmas que se utilizam de personalidades em evidência, e muito comumente de mulheres seminuas, para venderem suas marcas de alcoólicos. Seria um acinte à inteligência humana, ou será que não temos homens inteligentes o bastante para perceberem a armadilha cruel à qual se expõem e auxiliam a conservar?

Somente recentemente as escolas se viram coibidas de vender alimentos menos agressivos à saúde das crianças e jovens. Até essas por longo tempo  aderiram ao desenfreado comércio de balas, refrigerantes, frituras, e todo o tipo de empacotado: batatas, chips para todos os gostos, etc que, apesar de conter conservantes, excesso de cloreto de sódio, são relativamente caros, conseguem atrair a preferência da criançada. Parece banal, mas o fato mereceu a atenção das autoridades que terminaram por proibir o comércio destes “alimentos” nas escolas. 
São poucos os que resistem a esta força que arrasta a tantas extravagâncias; mesmo sabendo-se da transitoriedade do momento, a Humanidade tem optado por manter a pose, enquanto intimamente sabe o preço que terá que pagar. 

O consolo é que tudo está submetido à lei de progresso. A função de tudo é progredir em todas as nuances, e muito embora o orgulho ache que não, existe outra força verdadeiramente capaz de conduzir o homem a outros páramos.

De acordo com a questão 625 de O Livro dos Espíritos, nosso guia e modelo é mesmo o Mestre Jesus. A maioria dos que se dizem cristãos, ainda não sabe disso, nem mesmo os Espíritas que têm acesso a esta informação assim de forma tão escancarada. Porque as sociedades elegeram outros modelos: é a estrela da música, ou do cinema, ou das passarelas, ou das revistas... Sempre os mais bem sucedidos materialmente. O carpinteiro de Nazaré ainda não é muito atraente para grande parte dos homens.

Mas já é percebida a necessidade de algo mais incisivo para conter o rumo que as coisas têm tomado. Os homens estão insatisfeitos, infelizes, mas descobriram que o Evangelho pode diminuir as forças mais abrasivas; timidamente a idéia parece convencer, embora ainda não prevaleça. A adesão à moral cristã, capaz de elevar os sentimentos de qualquer que dela se aproxime, faz-se urgente, pois é insustentável continuar num mundo onde todas as instituições estão falidas: a polícia não é confiável; o sistema carcerário é um terror; saúde e educação tratadas com indiferença. 
Mas é a partir das experiências adquiridas que um Espírito obtém a capacidade de traçar o próprio caminho. Sem esta experiência, ele nada sabe, não possui uma bagagem. Sob esta ótica fica fácil compreender a razão de tantos bons conselhos não serem ouvidos – ninguém aprende com a experiência do outro. Portanto, as reflexões são para obstinados e imaturos propriamente ditos, porém as exigências serão mais para os primeiros do que para os segundos, evidentemente.

Pode-se, inclusive, pensar que o grupo dos obstinados conte com maior número de adeptos das várias religiões, especialmente das espiritualistas. Esta reflexão é devido ao resultado que a própria experiência tem demonstrado: muitos companheiros da lide Espírita se confessam, seja por palavras, seja por atitudes, portadores de dificuldades que bem seriam julgadas já por vencidas, dado o tempo de estudos. É evidente que é muito mais fácil a correção dos defeitos materiais do que morais, embora nem todos encontrem a mesma facilidade, mas há que se ponderar sobre alguns pontos. Primeiro: aos portadores de vícios deve ser dado todo o apoio moral, para que se sintam fortes a fim de que também recorram ao auxílio psicológico e tratamentos convencionais. Segundo: não se deve exigir dos outros uma conduta inatacável, por motivos óbvios. E pensar que em muitos casos, o colega que ainda bebe ou fuma, mesmo que socialmente, pode já ter vencido vícios morais, como a maledicência, ou a inveja, por exemplo, vícios que muitos abstêmios ainda cultivam. Terceiro: não ser hipócrita, principalmente com relação aos próprios defeitos e dificuldades para vencê-los. E é exatamente neste ponto que se encontra a maior de todas as dificuldades humanas. Jesus repudia a hipocrisia em várias passagens evangélicas. A recomendação citada na questão 919 de O Livro dos Espíritos –conhece-te a ti mesmo – imprime mais profunda reflexão a respeito, quando cada qual se permite tal ensejo. Entender aquelas palavras dos amigos Espirituais é o mesmo que reconhecer a senectude da raça humana, pois eles dizem: “Um sábio da antiguidade vos disse”. 

A mensagem do Cristo deve atravessar as fronteiras dos livros e dos lábios. Sua magnânima essência não deve permanecer nos romances nem nas ilusões, porque todos precisam da sua vivacidade, da sua realidade tornada presente e ativa. As orientações de Jesus estão todas fundamentadas na Ética, ciência estudada desde muitos séculos antes e que fez muitos adeptos sinceros, leva muitos homens a pensarem sobre seus atos e corrige muitas condutas equivocadas. A educação que Kardec pontuou como primordial para liquidar com os problemas humanos vige em todas as concepções que o termo é capaz de abranger. 

As mensagens evangélicas trazidas para o palco da vida convencerão que é através da simplicidade que o Ser se torna honrado; é cumprindo a vontade do Pai que a criatura se eleva, porque disso se alimenta: “Minha comida é fazer a vontade daquele que me enviou”.(João 4, 34) E tudo isto se faz no dia a dia, na convivência com os semelhantes. Faz-se urgente tornar o Cristo uma personagem tão conhecida quanto um jogador de futebol, tão querido quanto um astro de Hollywood e tão plagiado quanto um modelo das passarelas. É preciso exemplificar, na medida da condição de cada um, o amor puro que Ele ensinou. É necessário que os Espíritas aprendam a rever conceitos, a mudar de opinião sobre si mesmos. Atitudes cristãs são lições que influenciam em algum grau, o mundo em redor. 

A Terra, conforme dissertam os Codificadores, em O Evangelho segundo o Espiritismo, é uma escola, é uma prisão, é um hospital4. Com um pouco de reflexão, ver-se-á que nos três ambientes é possível promover a reeducação de hábitos, ou mesmo a educação primária, básica de vários aspectos da personalidade humana. O planeta se encontra como uma dona de casa que faz uma faxina para aguardar por uma comitiva que breve se aportará. O período é angustiante, a espera fastidiosa, mas o trabalho, embora pouco apreciável, não pode parar: ela segue dia a dia fiel na sua incumbência. 
Agora é momento de Jesus ficar em evidência por meio das atitudes dos seus seguidores.

¹ Questão 913 – O Livro dos Espíritos
² ------------- 917 – ------------------
³ --------- 685 - ----------------------
4- O Evangelho segundo o Espiritismo – Capítulo III – item 7.

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