Palestra "Esquecimento do Passado"
Ednilsom Montanhole
Data: 16/Nov/1996
Local: Grupo Espírita Batuíra - Núcleo Assistencial Vila Brasilândia
Público: Pessoas carentes de baixo nível social e de escolaridade
Bibliografia:
- Livro dos Espíritos - Pergunta 392 e 393
- Evangelho Segundo o Espiritismo - Capítulo V, item 11
- Livro dos Médiuns - Item 290 - pergunta 15
Notas de Leitura:
- Deus esconde o passado para não nos ofuscar com a verdade.
- Se lembrasse do passado, não haveria mérito àquele que pratica o bem, pois o faria de caso pensado.
- Quando já no plano espiritual, o indivíduo lembra-se do seu passado e pede nova vida para repara-lo.
- As tribulações que passamos são escolhidas para reparar nossas faltas e ensinar a não mais falhar.
- A voz da consciência é, muitas vezes, a lembrança intuitiva do passado que freia os nossos erros do presente.
- A lembrança do passado poderia humilhar-nos ou exaltar nosso orgulho, tudo sem utilidade para a existência atual.
- Estamos sempre junto daqueles que convivemos no passado, seria difícil perdoar um antigo assassino, mesmo que hoje estivesse na forma de pai, ou nos humilharia a presença dos que haveríamos ofendido.
- Deus já nos deu o necessário, a consciência, e tira-nos o que atrapalha, que é a lembrança total do passado.
- O homem traz, ao nascer, aquilo que adquiriu, mas de forma inconsciente e indireta.
- Não importa saber o que se foi, o que importa é aproveitar a atual existência e corrigir as más tendências que todos possuímos.
- O esquecimento do passado só existe na vida corpórea, pequena interrupção, logo vencida.
- Deus nos permite a revelação do passado, mas sempre com um propósito, nunca por pura curiosidade.
- As revelações vãs e casuísticas devem ser vistas com cuidado.
- Podemos saber muito do passado estudando o presente.
Palestra
Apresentação: (apresentar, inicialmente, o tema e a bibliografia)
Reencarnação: Para falar de esquecimento do passado, devemos entender de que passado estamos falando. O espiritismo tem como uma de suas premissas, a sobrevivência da alma e sua passagem pelo plano material. Não vamos entrar aqui no mérito desta questão. Reencarnação e vida espiritual constituem sozinhas um tema inteiro de palestra. Assim, peço para aceitarem estes conceitos como verdadeiros, para que possamos entender o tema da palestra de hoje.
Assim, então, cada um de nós já esteve aqui, neste mesmo mundo, encarnado da mesma forma que hoje, apenas que com um corpo material diferente, filho de pais diferentes, em uma época e um local diferentes. Teve as mesmas necessidades materiais, diversos anseios, desejos e etc. Conviveu com diversas pessoas, tomou muitas decisões, cometeu erros, acertou outras vezes. Tudo isso aconteceu, diversas e diversas vezes, e somou experiência a cada um de nós, somou lições que são incorporadas e nunca perdidas.
Porque esquecemos ?: Surge então, naturalmente, a todos nós a questão: Se eu passei por tudo isso, porque não me lembro de nada ?
Deus, em sua imensa sabedoria, sabe muito bem o que é melhor para nós, como crianças espirituais que somos. Temos necessidades específicas, muitas delas nem sequer conhecemos ou gostamos. Todo pai sabe muito bem que tem que impor, certas vezes, coisas às crianças. Ninguém gosta de ver uma criança chorando, mas sabe que isso não é importante se o choro vem do fato dela ter tomado uma vacina. O pequeno mal causado a ela é, em muito, compensado pelos benefícios da imunização às doenças. Assim também age Deus conosco. Sabe que muitas coisas nos são necessárias, por isso no-las impõe.
O conhecimento excessivo pode ofuscar as pessoas. Tal como a uma criança, não se fala de morte, doença e etc. sem o devido cuidado e na correta medida, saber coisas do nosso passado pode ser muito doloroso, de nenhum proveito à nossa evolução.
Oportunidade de Remissão: Cada vida que passamos encarnados é uma oportunidade de redimir as faltas que cometemos. Somos colocados nas mesmas situações, frente a frente com as mesmas pessoas e locais, para podermos corrigir os erros e aprender a não comete-los mais. Se nos lembrássemos de todas as existências anteriores, teríamos uma vantagem injusta. Faríamos as coisas não porque aprendemos, mas apenas porque lembramos do erro. Não teríamos o mérito da atitude que tomamos, sem o qual não evoluímos efetivamente. Assim, Deus nos dá a chance de tentarmos de novo, mas não nos tira o mérito da boa ação.
Está tudo perdido ?: Também surge a questão: Não nos lembraremos mais do nosso passado ?
Devemos nos lembrar que a vida principal é a do espírito, que cada encarnação é apenas um processo de aprendizado, mas que sempre voltamos ao plano maior. É assim que, após cada encarnação, quando do outro lado da vida, lembramo-nos das existências anteriores, como quem lembra cada ano passado na escola. Claro que a lembrança completa de todas as existências só ocorrerá quando estivermos bastante evoluídos, pois a pessoa não deixa de ser em nada o que ela é apenas por ter alterado seu estado, de modo que nem todos estão prontos para suportar, mesmo que desencarnados, as revelações do passado.
Assim, o espírito só tem lembrança de alguns fatos mais relevantes de suas existências, fatos estes que ele usa para definir como será sua próxima existência, escolhendo os problemas, situações, pessoas que conhecerá e demais dados, visando sempre seu aprendizado e aprimoramento. Não se importa com as dificuldades, prefere-as mesmo, pois sabe que elas o levarão adiante.
E Nesta Existência: Nova pergunta nos aparece, então: Toda a nossa experiência, tudo o que passamos, é perdido a cada nova encarnação ?
Se olharmos o esquecimento do passado sem o devido cuidado, podemos pensar que sim. Já que ele diz que esquecemos de tudo, então tudo o que aprendemos foi perdido, temos que aprender tudo de novo.
A experiência de vida nos prova o contrário. Quem nunca ouviu falar daquelas crianças que são pequenos gênios, que sem que ninguém ensinasse nada, ou com um pequeno aprendizado, são capazes de fazer coisas como se fossem adultos ?
De onde viria esta experiência, senão de vidas passadas.
Porque dois irmãos, criados na mesma casa, expostos aos mesmos estímulos, educados da mesma forma, podem ser tão diferentes entre si ?
Acontece que o passado está esquecido, sim, mas não perdido. Está gravado em nossa mente num local que não nos permite ir lá e lembrar o que houve, mas permite usar aquilo para o nosso bem. É o nosso subconsciente. Assim, a voz intuitiva de nossa consciência, é muitas vezes a lembrança adormecida e escondida do nosso passado que vem à tona para refrear nossos erros do presente.
Assim também ocorre com as pessoas que convivemos. Todos nós não temos aqueles com quem nós afinamos imediatamente ? Não temos aquela pessoa que conhecemos no trabalho, vizinha da nova casa ou até mesmo no ônibus, e imediatamente gostamos ? Não temos aqueles que queremos estar sempre juntos deles, mesmo que sem saber o porque ? E não há o inverso ? Aqueles que imediatamente não gostamos ? Que tudo o que fazem parece errado ? Pois bem estes são os amigos e inimigos do passado que reencontramos. Não nos lembramos deles, até porque podem estar bem diferentes do que eram. Mas guardamos lá dentro de nós o secreto conhecimento de sua existência, e dos motivos que temos para estarmos juntos de novo.
Lembrar do Passado Ajuda ?: Outro aspecto interessante ocorre quando pensamos o que faríamos com o conhecimento do passado, se lembrássemos de tudo ? Todos devem conhecer todos os aspectos da vida. Assim, todos passam por etapas como ricos, pobres, saudáveis, doentes e etc. Não importa como vivemos, e sim o que fazemos de nossas vidas. Mas cá entre nós, quem não gostaria de saber que já foi rei ?
Não seria bom, quando conversasse com outra pessoa, mencionar, assim por cima, que já governamos todo um reino. Que tínhamos mil serviçais ao nosso dispor, para atender todos os nossos desejos. Não seria bom ?
Claro que seria, mas isso seria útil ? Aí está a grande questão. Deus respeita nossa vontade, através do livre arbítrio, mas quer o melhor para nós, impõe-nos limites para evitar que nosso orgulho e vaidade nos atrapalhe. Responda-me você, como se sentiria, sabendo que já foi rainha um dia, na hora de lavar roupa ? Lembrando, enquanto toma o ônibus lotado, que houve época em que homens fortes lhe carregavam para todo lado onde fosse ? Será que ajuda ? Ou atrapalha ?
E não são só as coisas boas não. Imagine então como se sentiria ao falar com alguém que você soubesse que matou em outra vida ? Não se sentiria humilhado ? Não ficaria imaginando se ele não quereria vingança ? Não teria sua consciência lhe cobrando o tempo todo ?
Orgulho e humilhação. Estes seriam os resultados destas lembranças. Em nada ajudariam para nossa evolução. Só atrapalhariam. Deus sabe o que faz.
Estamos Sempre Juntos: Se encarnamos, como já dissemos, é para aprender coisas novas e corrigir os erros do passado. Por isso estamos sempre cercados daqueles com quem convivemos em outras vidas. Mas seria fácil perdoar uma pessoa que nos fez um grande mal no passado, mesmo que hoje fosse alguém próximo, como um pai, um irmão ou mesmo um filho ?
Voz da Consciência: Deus nos deu o que realmente necessitamos. É a capacidade de saber o que é certo e errado. Tira-nos a lembrança do passado, que em nada nos auxilia. É aquilo que chamamos de consciência, é a lembrança interior do que fizemos, é dela que precisamos. Assim, não importa saber quem fomos ou o que fizemos em outras vidas. O que importa é aproveitar o tempo de encarnado, que é curto e raro, para corrigir nossas más tendências, nossos defeitos. Sim porque mudar maus hábitos é coisa difícil e complicada. Não é de um dia para outro que paramos de fumar, de comer demais, de falar mal do próximo, de ser preguiçosos. Ninguém se torna santo de um dia para o outro. É um trabalho árduo, difícil, lento, que começa com a atitude, e que com a repetição dessa atitude torna-se um hábito, e que com mais repetição torna-se sentimento, para aí sim incorporar-se de modo definitivo.
Podemos Lembrar ?: Finalmente, uma última questão nos surge: Podemos lembrar, de alguma forma, do passado ? A resposta é sim. Antes, devemos considerar que Deus só quer o melhor para nós. Em função disso, Ele sabe que, algumas vezes, uma pequena revelação aqui, um clarão do passado ali, podem auxiliar alguém que esteja perdendo o rumo, que não esteja ouvindo bem o que sua consciência lhe diz. Tudo sempre com um propósito definido, e não para apenas suprir curiosidade sem uso prático.
Isso significaria que nunca poderíamos saber de nada. Os tempos atuais mostram que não é bem assim. Como já disse, Deus, em seu infinito amor e bondade, respeita nossa vontade, até quando queremos algo que pode nos prejudicar. Ele indica o caminho, mas os passos são sempre nossos. Com o aumento do conhecimento da ciência, naturalmente o homem vai entrando em caminhos antes intransponíveis. Hoje temos técnicas desenvolvidas por médicos e psicanalistas, conhecidas como "Regressão a Vidas Passadas" que permitem ir muito além do que normalmente seria possível.
As pessoas que estão envolvidas nestes processos nem sempre são tão esclarecidas quanto às verdades e necessidades do indivíduo perante sua vida espiritual, de modo que podem fornecer revelações nem sempre úteis para as pessoas. É bom, ou é ruim ? Só Deus e a pessoa que passa por isso é que pode dizer. Não podemos julga-los, mas se pensarmos um pouco no que já foi discutido, da utilidade de saber de detalhes das outras vidas, vamos concluir que este conhecimento deve ter limites, do contrário ficaremos ofuscados com a verdade.
Olha o Teu Presente: Para aqueles que tiverem curiosidade de saber o que foram no passado, mas não queiram enfrentar as conseqüências do excesso de informação, os livros da codificação nos dão uma dica preciosa. Preciosa porque é baseada em informações que já temos, portanto sem medo de saber o que não é bom. O Espírito da Verdade nos diz, literalmente: "Se queres saber como foi teu passado, olha teu presente, tudo o que passas hoje é resultado do que fizestes ontem".
Como é isso então ? Basta lembrar das Leis de Deus, da Lei de Causa e Efeito e da Lei de Justiça. A primeira diz que tudo o que fazemos tem um efeito, se fazemos coisas boas, resultam em coisas boas, se fazemos coisas não tão boas, resultam em coisas não tão boas. A segunda garante que tudo o que fizemos, de bom ou de mau, retornará para nós na exata medida. Ora, olhemos nossa vida, que nos acontece de ruim ? Foram as coisas ruins que fizemos. Que nos acontece de bom ? Foram as coisas boas que fizemos. O que gostamos de fazer ? Foram as coisas que mais fizemos no passado. O que não gostamos de fazer ? Foram as coisas que falhamos no passado. O que nos acontece sempre e sempre ? É a lição que não aprendemos e somos expostos para gravar. O que nunca nos acontece ? São as lições aprendidas, que não precisam mais ser repetidas.
Conclusão: O passado é bom, porque nos trouxe até aqui, onde estamos hoje. De acerto em acerto, de erro em erro, foi o que nos fez o que somos hoje. E se devemos aprender a nos amar, a nos aceitar como somos, devemos então aceitar nosso passado. Mas o melhor do passado é onde ele está, no passado, fechado aos nossos olhos até o momento em que poderemos encara-lo. Assim, olhar para ele para evitar cair em nossos erros é bom, mas nosso foco deve ser sempre o Futuro. Se Deus preferiu esconder de nós, Ele, o Criador do Universo, o Pai Amoroso, o Princípio Fundamental de todas as coisas, então é porque isso é melhor para nós. Devemos pois aprender a aceitar Seus desígnios, entender o que ele quer de nós, e fazer isso, pois melhor não há.
Transparências: Nas páginas seguintes seguem as transparências para serem usadas durante a palestra. A primeira consta apenas do tema e da bibliografia, deve ser apresentada logo no início e recolocada ao final, para que a audiência possa anotar os livros. A segunda contém uma lista de temas. Funciona como "cola", para auxiliar o palestrante a lembrar-se de cada tópico a ser falado e como referência para a audiência não se perder. Foram formatados para impressora jato de tinta colorida com transparência especial para este tipo de impressora. É preferível evitar a simples leitura da palestra. Recomenda-se que o palestrante leia a mesma diversas vezes, ensaie diante de um espelho pelo menos uma vez e, durante a apresentação, use apenas a transparência como referência. Pode-se ter o texto à mão para consulta, mas em geral paradas para leitura quebram o ritmo da palestra, desviando a atenção da audiência.
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