Infelizmente, o personalismo espírita, e mediúnico, vem se tornando, cada vez mais, uma realidade dentro da Doutrina, com dirigentes, oradores e médiuns procurando os ilusórios holofotes da fama.
Tal personalismo, porém, estende-se, ainda, aos espíritos, que, assistindo determinados médiuns, transmitem, por seu intermédio, as mais esdrúxulas orientações, fazendo com que o Espiritismo, a pouco e pouco, se afaste de sua prática mais simples.
Os adeptos do Espiritismo, em geral, necessitam deixar de achar que o espírito, pelo fato de estar desencarnado, comunicando-se por esse ou aquele médium, detém autoridade para propor inovações de ordem doutrinária, chegando, por exemplo, a efetuar reformas nas tarefas de um Centro que o descaracterizam completamente.
Passados não mais que 14 anos dos exemplos que Chico Xavier nos legou, muitos adeptos da Doutrina, instigados pela vaidade, carentes de assumirem posição de uma suposta liderança, estão extrapolando, ao proporem, por exemplo, inovações em seu campo mediúnico, chegando a “incorporar” práticas de outros seguimentos espiritualistas, não comprometidos com o Cristo, em sua proposta de renovação íntima para o espírito humano.
Assim é que, de algum tempo a esta parte, temos visto companheiros combaterem, inclusive, as atividades assistenciais mantidas pelos Centros Espíritas, chegando ao cúmulo de, quase ditatorialmente, abolirem a confecção da sopa que é distribuída com os mais carentes.
Todas essas ações – é bom que se diga – derivam da praga do elitismo, contra o qual, sistematicamente, temos alertado os companheiros fieis à Causa.
Necessário se torna que os confrades verdadeiramente idealistas não recuem, defendendo a Doutrina desses “modismos” com que as trevas pretendem transformar os Centros Espíritas em templos de práticas esotéricas, reeditando, no Brasil, o que foi feito ao Espiritismo em França, logo após a desencarnação do Codificador.
Se Allan Kardec reencarnou no Brasil, segundo Chico Xavier, aquele que se apropriou de seu espólio, usurpando-o de Amélie Boudet, Pierre-Gatën Leymarie, também estava reencarnado em terras brasileiras. Todos nós sabemos que, Leymarie, após a desencarnação de Kardec, arvorando-se em líder da Terceira Revelação, vendeu-se à Teosofia, sendo, ainda de acordo com as palavras de Chico, “o coveiro do Espiritismo na França”.
Portanto, infelizmente, a aplicação da Doutrina que o médium e apóstolo Chico Xavier procurou nos ensinar durante 75 anos, jaz quase completamente esquecida, por ser, por parte de alguns seguidores do Espiritismo, considerada simplória demais, ou evangélica demais.
Tudo começou com o advento dos Congressos pagos, nos quais um orador, dependendo de sua expressão, por imposição da venda de suas obras “doutrinárias” no ato da inscrição, chega a faturar, por uma única participação sua, de 20.000 a 30.000 mil reais!…
O “dai de graça o que de graça recebestes”, lamentavelmente, tornou-se obsoleto para a grande maioria, que, através dos veículos de comunicação, já começa a rivalizar com os pastores evangélicos nas campanhas por obtenção de dinheiro.
Tempos difíceis, não há dúvida. Não obstante, os fiéis seguidores da Doutrina são chamados a perseverar, recordando as palavras que, em referência ao final dos tempos, o Senhor pronunciou em advertência: “E, por se multiplicar a iniquidade, o amor se esfriará de quase todos…” Tais iniquidades não se circunscrevem apenas à maldade humana, através da violência e da guerra, da injustiça e da corrupção, mas também àquelas que, sutilmente, são praticadas em nome da fé.
Se não vigiarmos as nossas Casas Espíritas, dentro de muito pouco tempo, não haveremos de encontrar um único exemplar de “O Evangelho Segundo o Espiritismo” sobre a sua mesa de reuniões, porque tal dirigente ou médium passou a considerar o Cristo coisa do passado.
INÁCIO FERREIRA
Uberaba – MG, 26 de setembro de 2016.
Fonte: http://inacioferreira-baccelli.zip.net/arch2016-09-01_2016-09-30.html
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