Os aprendizes do Evangelho de Jesus são convidados ao despertamento do pensamento crítico quando o Mestre nos convida a desafiar a nós mesmos sendo pessoas diferentes daquilo que o meio social vivencia. Indaga Jesus de modo provocativo, conforme narra Mateus em seu capítulo 5, versículo 44: “porque se não amais senão aqueles que vos amam, que recompensa com isso tereis? Os publicanos não fazem também”?
Assim sendo, somos convidados a ter um ponto de vista, baseado no ideal filosófico de profundo impacto moral que nos leva mesmo a adotar postura de seres pacíficos, disciplinados e benevolentes. Contudo, um ponto de vista quando baseado em ideias materialistas, imediatistas e que pressupõe personalismo, algo há de equívoco e pode ser muito prejudicial em nossa vida. Sobre isso assevera-nos Joanna de Ângelis[1] que: “Dominador, o ego mascara-se no personalismo, em que se refugiam as heranças grosseiras, que levam o indivíduo à prepotência, à dominação dos outros, em face da dificuldade de fazê-lo em relação a si mesmo, isto é, libertar-se da situação deplorável em que se encontra”.
Emmanuel[2] comenta que: “Reportando-se aos espíritos transviados da luz, asseverou Paulo que têm a garganta semelhante a sepulcro aberto e, nessa imagem, podemos emoldurar muitos companheiros, quando se afastam da Estrada Real do Evangelho para os trilhos escabrosos do personalismo delinquente”. É que, para o benfeitor espiritual, o movimento espírita concentra considerável número de profitentes que ainda não bem compreenderam as lições do Evangelho de Jesus e encaram a missão da Doutrina Espírita de ser O Consolador Prometido por Jesus, como instrumento de poder, qual fosse um partido político. De tal postura surgem as dissensões, isolacionismos e contendas desnecessárias se tivéssemos a compreensão de que o nome que deve aparecer de modo destacado é o de Jesus.
Quantas Casas Espíritas não surgiram após discussões infrutíferas oriundas de disputas de poder onde questionava-se quem sabia ou podia mais? Quantas reuniões, quantos trabalhos, quantas atividades deixaram de ser realizadas por divergências que poderiam ser solucionadas com terapêuticas doses de tolerância, indulgência e perdão? Quantos pontos de vistas poderiam ter se tornado visão, se se respaldassem no Evangelho de Jesus explicado pelos benfeitores espirituais. E mesmo depois de quase 160 anos de Doutrina Espírita, de inúmeras mensagens mediúnicas amplamente difundidas, como as de Bezerra de Menezes que nos compara a varas, informando-nos que sozinhas somos frágeis, mas unidas seríamos inquebrantáveis, e ainda assim, continuamos assistindo disputas de quem sabe mais, faz mais, qual obra é maior e que “quem manda aqui sou eu”.
Relata algo desgosto Emmanuel[3] referindo-se aos que buscam demandam nos serviços do Senhor: “Apenas disputam louvor e destaque no terreno das considerações passageiras. Analisando as letras sagradas, não atraem recursos necessários à própria iluminação e, sim, os meios de se evidenciarem no personalismo inferior. Combatem os semelhantes que lhes não adotam a cartilha particular, atiram-se contra os serviços que lhes não guardam o controle direto, não colaboram senão do vértice para a base, não enxergam vantagens senão nas tarefas de que eles mesmos se incumbem […]. Contendem acerca de todas as particularidades da edificação evangélica e, quando surgem perspectivas de acordo construtivo, criam novos motivos de perturbação”.
Contudo, já conseguimos identificar que estamos incorrendo neste erro e a própria literatura espírita, já dispõem de significativas reflexões para que, de modo particular, mas também em grupo, possamos abrir espaço para vivência do “trabalho, solidariedade e tolerância”, que nos pede Allan Kardec.
Por fim, cito André Luiz[4], numa frase que talvez pudesse dar título a este artigo, mas que, seguramente serve como lema espírita aos trabalhadores da última hora, quando, com muita propriedade, o benfeitor pontua dizendo que: “O personalismo estreito ensombra o serviço”.
[1] FRANCO, Divaldo Pereira. Em busca da verdade. Pelo Espírito Joanna de Ângelis. Salvador: Leal, 2009. Cap. 01.
[2] XAVIER, Francisco C. Fonte Viva. Pelo Espírito Emmanuel. Rio de Janeiro: FEB, 1952. Cap. 51.
[3] XAVIER, Francisco C. Pão Nosso. Pelo Espírito Emmanuel. Rio de Janeiro: FEB, 1950. Cap. 98.
[4] VIEIRA, Waldo. Conduta Espírita. Pelo Espírito André Luiz. 32. ed. 6. Imp. Brasília, DF: FEB, 2015. Cap. 15.
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