Estudando o Espiritismo

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domingo, 8 de setembro de 2019

ESPIRITISMO E PERSONALISMO

ESPIRITISMO E PERSONALISMO

Um dos mais graves e difíceis problemas de qualquer grande coletividade é o personalismo. Ele perturba a tranquilidade de que necessitam os que continuam trabalhando pelo fortalecimento do ideal que os congrega, dissemina o descontentamento, espalha a dissensão, promove desentendimentos, lança a discórdia, estabelece prevenções, enfim, realiza obra verdadeiramente diabólica, muito mais destruidora do que a ação maléfica dos adversários declarados e ostensivos.
Fora de dúvida, o Espiritismo, principalmente pela natureza extremamente liberal da sua Doutrina, está muito sujeito às consequências ruinosas do personalismo. Os espíritas que se conservam fiéis aos princípios doutrinários, que se esforçam por seguir as determinações evangélicas, podem, e o vêm fazendo, neutralizar em grande parte os efeitos dissolventes do personalismo. É preciso, contudo, que haja permanente vigilância, porque o movimento espírita, por sua alta e nobre finalidade, não deve sofrer alternativas decorrentes da incompreensão daqueles que são brilhantes na exteriorização de seus talentos, mas pouco eficientes no que diz respeito à exemplificação dos ensinamentos contidos nas obras codificadas por Allan Kardec.
O legítimo espírita se define pelos atos e atitudes em sua vida pessoal. Na horas aflitivas, em que a tolerância e a fraternidade devem surgir de mãos dadas, ele procede com serenidade e desejo conciliador. Não busca jamais criar embaraços ao trabalho dos companheiros, e se, porventura, algo se fizer passível de crítica ou censura, há maneiras adequadas para a análise profunda, o exame imparcial e a conclusão necessária ao esclarecimento justo. Dentro do Espiritismo não deve haver lugar para o culto personalista, porque este envolve o egoísmo, a vaidade, o orgulho, o despeito e a revolta. Um espírita, na verdadeira acepção do termo, deve ser despido desses atributos negativos ou, se os tem, realizar até ao sacrifício os maiores esforços para dominá-los. Quando há humildade, há Espiritismo cristão. Quando há personalismo, não há Espiritismo, porque o antagonismo entre os dois é evidente e irremediável.
Muitas vezes, os mais perigosos entraves ao progresso do Espiritismo são causados, não pelos inimigos conhecidos da Terceira Revelação, mas por pessoas que, havendo ingressado no movimento, trouxeram consigo preconceitos e erros velhos, dos quais não souberam desvencilhar-se ainda, porque, embora suponham o contrário, não conseguiram assimilar as lições da Doutrina e do Evangelho segundo o Espiritismo. Mantêm-se na superfície, convencidos de haverem já penetrado o âmago de tão profundos ensinamentos. Em tais condições, em lugar de ajudarem o Espiritismo a superar os obstáculos naturais, criam-lhe outros obstáculos, mais difíceis, por se encontrarem camuflados pela condição de amigos e adeptos da Terceira Revelação. E eles não se apercebem do mal que fazem ao movimento, perturbando a unificação, realizando a dissociação através de divergências que o personalismo acoroçoa e desenvolve e acumpliciando-se inconscientemente com os inimigos do Espiritismo.
Tudo isto, porém, fora previsto por Allan Kardec em “Obras Póstumas”. Quer dizer que, nestas condições, os que têm noção real das responsabilidades assumidas pelo espírita consciente de seus deveres, estão prevenidos e juntos na defesa dos princípios básicos da Doutrina, formando uma barreira à obra destrutiva do personalismo. Mas, enquanto tal acontece, perde-se precioso tempo, que poderia ser utilizado para a ampliação cada vez maior do Espiritismo. O espírita não ataca, não trai, não intriga, não se revolta, não mente, não calunia, não falseia os preceitos da Doutrina nem se mostra indiferente aos postulados evangélicos. A criatura humana está neste dilema: ou é espírita ou não é espírita. Se o é, cumpre a Doutrina e o Evangelho; se age de maneira diversa, evidentemente não é espírita. Demais, é perfeitamente natural que sobrevenham tantos empecilhos, porque nem mesmo Jesus pôde subtrair-se às perfídias e à traição.

Boanerges da Rocha (Indalício Mendes)
Reformador (FEB) Abril 1959

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