Estudando o Espiritismo

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sábado, 7 de setembro de 2019

O EGO E A VAIDADE, DESTRUINDO A CASA ESPÍRITA.


Douglas Rainho

Outro dia na preleção antes das giras de atendimento na Casa de Caridade Nossa Senhora Aparecida, o orador Lima abordou um assunto muito pertinente e que se mostrou imediatamente familiar a mim.

Como os leitores desse blog já sabem, fui espírita durante muitos anos, tendo passado de casa para casa sem encontrar uma a qual me sentisse bem adequado. Visitei e frequentei por longos períodos centros espíritas nos bairros do Tatuapé, da Vila Guilherme, de Vila Maria e também Vila Mariana, todos da cidade de São Paulo, mas sempre me senti um estranho nesses locais. Nunca consegui me sentir como parte da casa em nenhum desses locais e isso se deve de fato a forma como o espiritismo é praticado e como eu o aprendi.

Eu fui iniciado nas questões espíritas e espiritualistas pela minha tia materna Regina, a qual é uma figura, tanto como pessoa, quanto como médium. Ela começou as andanças por conta e risco desde muito cedo procurando suas próprias verdades e indo de frente, para um sistema dos anos 70, muito conservador e militarizado. Quando alguém se assumia espírita, ainda mais advindo de uma família católica, era um escândalo, imagina então se a pessoa fosse uma adolescente.

Contudo, tudo que aprendi com os ensinamentos da minha tia – médium, estudiosa, oradora e trabalhadora caritativa – batia de frente contra as questões que via na prática nos demais centros espíritas. Apesar de tudo isso, sempre adorei a casa espírita e as palestras, as oportunidades de aprendizados nos cursos e tudo que ela oferecia.

Atualmente, sou trabalhador de Umbanda, e temos a oportunidade de ouvir um orador antes de todos os trabalhos, que advém da doutrina espírita. Ouvindo, na preleção do orador Lima as experiências dele e por ele ser um orador espírita e frequentador de um núcleo espírita, cheguei a triste conclusão de que isso é endêmico do espiritismo brasileiro.

O Lima comentou que as pessoas veem as palestras espíritas como algo para passar o tempo, simplesmente para distrair o público enquanto as sessões de passe não acontecem. Ele está absolutamente correto, pois eu também constatava que enquanto eu estava prestando atenção na oratória do palestrante uma pessoa chegava e começava a gritar os números das fichas para os atendimentos com passes espíritas e por fim para entregar a “hóstia espírita” que é a água fluidificada. O mesmo ocorria em algumas das casas que ele vai palestrar. Seria coincidência? Creio que não.

Subverteu-se a pesquisa espiritual por uma dogmatização religiosa, o que não é necessariamente ruim, mas amputaram uma das pernas do espiritismo, que agora é manco. Pois, sem o questionamento, sem o estudo, sem pesquisa e o aprofundamento, passamos a aceitar tudo que trazem para nós como verdades absolutas e deixamos de exercitar o nosso discernimento. Criamos assim aberrações de “crentes espirituais” sem qualquer amparo racional e indo completamente contra uma das mais célebres frases de Allan Kardec:

“Fé inabalável só o é a que pode encarar frente a frente a razão em todas as épocas da humanidade.”

Passamos agora a aceitar que o intuito do espiritismo é tomar o passe magnetizado, beber a água fluidificada, comprar um ou dois livros espíritas e ir embora para ainda pegar a macarronada do domingo. Semelhante ao que nossos confrades católicos faziam e que era alvo de críticas dos espíritas e de outros religiosos de diversas denominações.

Conseguem perceber a armadilha que armamos para nós mesmos?

O passe espírita é inócuo, assim como a água fluidificada, se o espírito não se abre para o aprimoramento. Esse aprimoramento vai além das questões intelectuais, que podem ser angariadas através de leitura e de estudos. Esse aprimoramento é de um valor moral e ético imenso e que só pode ser aprendido pela prática. A água fluidificada, o passe, a literatura, são apenas ferramentas para nos auxiliar enquanto trabalhamos verdadeiramente a reforma íntima com atitudes, com caridade e com investigação de nós mesmos.

Logo, posso afirmar conclusivamente que a palestra espírita é muito mais eficaz nos tratamentos espirituais que os passes espíritas e que é impossível uma doutrinação de obsessores, sem doutrinar o obsedado através das palavras evangelizadoras e da reforma moral.

Hoje as casas espíritas, assim como os terreiros de Umbanda, se tornaram um centro de encontro de espíritos (encarnados e desencarnados) vaidosos, egoístas e extremamente arrogantes. Médiuns que se julgam “o escolhido que há muito foi profetizado”, simplesmente porque dá voz aos espíritos comunicantes; Dirigentes, tanto espíritas quanto umbandistas, que se assoberbam e assenhoram de tamanha arrogância e prepotência que não conseguem ouvir as dificuldades de seus próprios tutelados. Frequentadores que procuram a solução mais rápida e fácil, sem raciocinar sobre suas atitudes diárias e sem fazer o esforço pela mudança. Estamos criando uma geração de estagnados com pano-de-fundo espiritualizado, que dão cada vez mais vazão para as críticas dos não-religiosos aos que possuem uma religião.

Eu creio que já é chegada a hora do basta! Não podemos mais permitir que as experiências sejam tão rasas, pois não tardará para que essas religiões sumam e deem lugares a mentes cristalizadas e totalmente anacrônicas. Precisamos de forma urgente trazer o evangelho para a vida pessoal, precisamos de forma imediata de Jesus e das mensagens dos espíritos evoluídos, para nos auxiliar, mas precisamos ainda mais de pessoas com atitudes, para que mudando a si próprios, possam também mudar o mundo ao seu redor.

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