SOLIDARIEDADE SEMPRE
CAPÍTULO 7 - SOLIDARIEDADE SEMPRE, CONQUANTO AS DIFERENÇAS
"Em todas as frontes, vê-se escrita a palavra amor; perfeita equidade preside as relações sociais, todos reconhecem Deus e tentam caminhar para Ele, cumprindo-lhe as leis." O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. III, item 17.
A solidariedade é príncipio universal de permuta de recursos para o progresso e a vida.
Definida socialmente como o movimento de apoio à dor alheia, a solidariedade é comumente reconhecida na perspectiva de doação de bens materiais e socorro ante momentos de comoção coletiva.
Consideremo-la, porém, um pouco além, na sua feição relacional, de coração a coração, em atitude de interação nas relações humanas na busca por superar barreiras para o exercício do amor.
Solidariedade é um processo de permuta no qual quem tem oferece, quem precisa recebe, mas ambos, doador e receptor, reconhecem-se como que dentro de um campo de completude, sem que tais papéis não definam superioridade ou inferioridade de quem quer que seja. É o movimento de trocas incessantes que enseja constante crescimento regulado pelo diferencial da fraternidade. Havendo o clima fraterno, surge nivelamento com o desejo de aprender e crescer sem que o orgulho permeie a relação, gerando os pedestais de pretensa sabedoria e elevação e estabelecendo desnivelamento improdutivo e, por sua vez, acomodação de um lado e desvalor de outro.
Nesse intercâmbio solidário, as diferenças de experiência, maturidade, entendimento, que alicerçam a formação de segmentos sociais, encontram um campo propício para a aprendizagem, rompendo com a intolerância infrutífera e a exclusão impiedosa.
Fraternidade, sentimento. Solidariedade, ação.
Se a fraternidade é o pulsar do coração no respeito incondicional às diferenças, a solidariedade é o abraço de amor aos diferentes na atitude concreta de amar.
A fraternidade movimenta as forças do afeto, enquanto a solidariedade é o exercício do amor criando o bem em qualquer circunstância.
As relações interpessoais, para ser gratificantes, clamam por solidariedade.
A educação tem adotado metodologias de ensino espelhadas na relação solidária, situando educador e educando em áreas e planos de crescimento mútuo, diluindo os obsoletos papéis de autoritarismo e distanciamento da didática escolar formal e mecanicista. O ambiente empresarial, igualmente, vem absorvendo a idéia de equipe, na qual um se torna parceiro do outro para o desenvolvimento de todos. A humanidade vem caminhando para fazer da solidariedade o princípio essencial das sociedades progressistas, concebendo um modelo de relações sistêmicas no qual o crescimento dos mais aptos passa pela necessidade de convivência com os menos habilidosos; os mais ricos passam a equilibrar seus recursos para abarcar os menos favorecidos no serviço despromoção; os mais sábios, para ampliar suas conquistas, estarão a serviço dos que anseiam pelo conhecimento.
As diferenças religiosas, sociais e étnicas submetidas ao Divino princípio da solidariedade tomam significados, essencialmente, novos e estimuladores.
A diferença do outro passa a ser contemplada como "qualidade do que ele é", abstraindo nosso velho e infeliz hábito da exclusão, porque costumamos entender a diferença do outro como imperfeição, atraso, problema.
Diferenças são qualidades, e não defeitos. E só a fraternidade no coração pode nos fazer sentir assim, e só a solidariedade nos gestos pode provar que sentimos assim.
Definindo um novo campo para nossos interesses mais profundos, deslocando-o para a vida espiritual, a doutrina espírita contribui para o progresso do homem por esclarecê-lo sobre os motivos de sua estadia na Terra e o que o espera depois, além-túmulo. Assim sendo, amplia as noções de segurança, saúde e felicidade, levando-o a repensar sua conduta, suas metas, suas relações, ciente de que amanhã aquele a quem desprezou poderá ser-lhe tutor e mestre.
Com essa visão sistémica, contida nas Leis Morais do espiritismo, o ecossistema humano fica regido pela capacidade intelecto-moral, destituindo o modelo de superioridade e dignidade construído pelos padrões sócio-históricos que privilegiam, muitas vezes, a imoralidade e a incompetência com os instrumentos do institucionalismo na gestão de sublimes valores coletivos que, se bem aplicados, gerariam paz e justiça para sociedades inteiras.
Essa mesma análise conjuntural da sociedade humana pode ser projetada para a comunidade doutrinária, servindo de piso para muitas meditações.
Quantas diferenças têm se notabilizado na comunidade espírita e sido acolhidas com indiferença, desprestígio, intolerância e estigma? Como vemos a diferença do outro?
Quantos livres-pensadores têm sido apedrejados pelo desejo de domínio, ferindo de morte o clima da concórdia? Quantos valorosos servidores se alojaram na escuridão da fuga ante a força das pressões contrárias a seus planos criativos de trabalho, considerados como obsessões sem mescla ou atitudes anárquicas? Quantos, tomados de ciúme e receio de ter de dividir com outros seus pedestais de orgulho do saber, desestimularam idéias e projetos, a pretexto de zelo e vigilância, induzindo aprendizes animosos aos campos de acomodação? Quantos, sob o peso das responsabilidades institucionais, iludem-se com o fascínio dos títulos para endossar idéias personalistas e desafinadas dos propósitos comunitários das sociedades espíritas? Tem havido moralidade e competência para a direção consciente e progressista? Estaremos gerando relações solidárias acima das relações autoritárias? Será que, pelo menos, estamos dispostos a isso? Estamos abertos a uma nova era de divulgação doutrinária participativa--promocional e dialógica, ou ainda estamos elegendo as posturas professorais-definitivas e fechadas para os estabelecimentos de ensino espírita?
Tudo nessas questões passa pela solidariedade fraternal. Lamentavelmente, em muitas ocasiões, a tradição histórica tem servido para endossar o individualismo, a presunção e a arrogância.
Diferenças! Ai de nós, os espíritas, se não começarmos a pensá-las logo com virtude e visão pedagógica. O que aprenderíamos pensando igual?
Repetindo antigos erros, para defender a pureza dos princípios, anulamos o próximo que esteja em diferença.
Até quando estimaremos o conceito de espíritas pela padronização de crenças e práticas em detrimento do espírita que deve ser reconhecido, como assinalou Allan Kardec, por um proceder responsável, consciente?
Igualdade na atitude: esse o ideal a perseguir!
No entanto, pensemos diferentemente e louvemos a alteridade!
O único princípio capaz de ensejar equilíbrio ao processo de diversidade da comunidade espírita é a solidariedade compreendida como ética comunicativa entre pessoas.
Dentro dessa visão nada é paralelo ou confrontador ao sistema cuja maioria aderiu.
Essa ética comunicativa tem como instrumento dois pontos de prioridade para conduzir a relações compensativas e de primor educativo, tais pontos são o diálogo e a parceria.
Conduzamos nossos raciocínios a eles, dialogando sempre, conquanto as diferenças.
A solidariedade, sem dúvida, é a porta de entrada do período da regeneração na Terra e, conforme nossa referência de apoio, é a marca dos mundos regenerados, pois
"Em todas as frontes, vê-se escrita a palavra amor; perfeita equidade preside as relações sociais, todos reconhecem Deus e tentam caminhar para Ele, cumprindo-lhe as leis".
Ermance Dufaux
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