Igualdade entre homens e mulheres (Artigo 3 de 5)
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Ely Edison Matos/Equipe CVDEE
Questão: Um assunto que têm despertado várias discussões, principalmente nas última décadas é a questão sobre a igualdade entre homens e mulheres. Notamos muitas vezes posições extremas e muitas confusões a respeito. De que forma a Doutrina Espírita encara esta questão?
Ely: A Doutrina Espírita está profundamente apoiada no bom senso. E é o bom senso que nos diz que homens e mulheres são iguais perante Deus, pois ambos são Espíritos, criados igualmente, simples e ignorantes, destinados a perfeição. Ambos possuem as mesmas faculdades espirituais e a mesma capacidade de progredir. Assim, ambos possuem os mesmos direitos perante as leis divinas.
Isso, é claro, não quer dizer que homens e mulheres seja totalmente iguais. Existem diferenças e estas devem ser respeitadas.
Questão: Que diferenças são estas?
Ely: As diferenças ocorrem em vários níveis. A mais óbvia é a diferença física, biológica. Homens e mulheres possuem corpos diferentes, adaptados a diferentes funções, que foram sendo exercitadas ao longo da evolução. O corpo da mulher possui os órgãos necessários à reprodução da vida física, às funções da maternidade. Como regra geral – e toda regra tem exceção – o corpo físico feminino é menos forte que o masculino, já que o homem, em termos de evolução histórica, se responsabilizava pela manutenção, pela subsistência, pela luta pela sobrevivência.
Estes conceitos não têm muito sentido hoje, quando homens e mulheres trabalham igualmente pela sobrevivência, e quando as responsabilidades de ambos, principalmente na família, estão se igualando cada vez mais. Porém, nosso corpo físico é fruto da evolução histórica e traz as características desta evolução, que não podem ser simplesmente negadas ou ignoradas.
Consideremos ainda as diferenças psicológicas, também fruto da forma como homens e mulheres eram tratados diferentemente no passado. As características psicológicas femininas – associadas a um uso maior da intuição, dos sentimentos, à facilidade para perceber detalhes, à necessidade de ser admirada pela beleza, a um sentimento maternal latente – são bastante distintas das características psicológicas masculinas – associadas a um uso maior do raciocínio lógico, à observação do conjunto, à necessidade de ser admirado pela força ou eficiência, ao instinto de conquistar e proteger. Antes de qualquer crítica a esta divisão, lembremos que estas são características genéricas, levantadas por inúmeros estudiosos. Não significa que todo homem e toda mulher devem, necessariamente, possuir tais características. Mas é incontestável, pela simples observação, que psicologicamente homens e mulheres possuem diferenças.
As demais diferenças, em termos educacionais, jurídicos, profissionais, etc. são decorrentes basicamente destas diferenças físicas e psicológicas, observadas ao longo da história.
Questão: Mas qual seria a finalidade da mulher ser fisicamente mais frágil que o homem?
Ely: Os amigos espirituais nos mostram, conforme dissemos, que ambos têm direitos iguais mas funções diferentes. Por mais que as pessoas queiram insistir em igualar as funções de homens e mulheres, não vamos conseguir, pois isto fere a lei natural. O próprio e único fato de a mulher ser mãe, já lhe confere uma função diferenciada do homem. Conforme dissemos antes, a relativa fragilidade física da mulher é fruto do processo evolutivo desde o reino animal, sofrendo as adaptações dos tempos em que o homem era o único encarregado de proteger e alimentar a família.
Insistimos que hoje os tempos são outros, mas mesmo assim o corpo físico da mulher ainda lhe torna mais adaptada a algumas funções do que a outras. A fragilidade física da mulher é grandemente compensada pela sua maior sensibilidade e delicadeza, pela maior compreensão dos seres humanos, pela sua capacidade de cuidar daqueles que estão são sob sua responsabilidade, pela sua excepcional capacidade de amar. Tudo isto fez e faz com que os Espíritos que passaram e passam pelas experiências em um corpo feminino tenham condições de evoluir espiritualmente de forma mais acentuada que os espíritos que estagiam em corpos masculinos.
Um espírito diz, poeticamente, que os homens ampliam a compreensão do mundo material, evoluindo de forma horizontal, enquanto as mulheres ampliam a compreensão do mundo espiritual, evoluindo verticalmente. Como espíritos teremos de evoluir em todos os sentidos, por isso passamos ao longo das encarnações, por corpos masculinos e femininos, aprendendo com as experiências dos dois campos da vida. Embora essa idéia desagrade muito os machões de plantão...
Questão: Se homens e mulheres são iguais perante as leis divinas, não deveriam ser iguais também perante as leis humanas? Mas não é isso que observamos...
Ely: Ensinam os amigos espirituais que o primeiro princípio de justiça é este: Não façais aos outros o que não quereis que vos façam. A justiça dos homens, no entanto, reflete ainda muito fracamente este princípio. As leis vão evoluindo conforme os homens vão evoluindo, e por isso encontramos tantas falhas na justiça: porque os homens ainda são muito imperfeitos moralmente.
A lei humana, para ser eqüitativa, deve consagrar a igualdade dos direitos do homem e da mulher. Todo privilégio concedido a um ou a outro se mostra contrário à justiça. No entanto, para que isso aconteça, todos devem ter uma compreensão muito clara da igualdade de direitos e da diferença de funções. Os limites dos preconceitos devem ser quebrados: os homens devem compreender os direitos das mulheres, respeitando sua condição feminina, bem como as mulheres devem compreender sua própria condição, não caindo no extremo que assumirem todas as funções dos homens e abdicando das suas.
Questão: Mas o processo de emancipação da mulher não tem por objetivo justamente buscar esta igualdade?
Ely: A emancipação da mulher segue o progresso da civilização. Conforme a sociedade evolui, mais os direitos das mulheres são reconhecidos e aplicados. O século 20 é um marco neste processo, pelo menos no mundo ocidental. As mulheres conquistaram vários direitos, que antes eram exclusivos dos homens. Passaram a participar mais ativamente da sociedade, com o direito de votar, por exemplo. Assumiram posições políticas, passaram a trabalhar fora de casa, conquistaram cargos em empresas, enfim, passaram a influenciar efetivamente os rumos da sociedade, provocando mudanças.
A partir da década de 60 assistimos à chamada “revolução sexual”, que também colaborou para uma conscientização maior a respeito do papel da mulher.
No entanto, todos os extremos são condenáveis, e baseadas nestas conquistas importantes, muitas mulheres desejaram reverter completamente as condições sociais, assumindo um feminismo exagerado que se tornou prejudicial. Sob a bandeira de liberdade social e sexual, muitas quiseram abdicar dos papéis de mãe e educadora, e sob a alegação de serem proprietárias do próprio corpo, bandeiras como o sexo livre e o aborto se tornaram comuns. Estas situações ofuscaram muito as verdadeiras conquistas das mulheres.
A emancipação feminina, e isto é questão de bom senso, não deve ter por meta a substituição dos homens pelas mulheres, e muito menos deve servir para que as mulheres assumam as mesmas posições equivocadas dos homens, sob a bandeira da igualdade. Muito homens, pelas condições sociais, históricas e educacionais, erraram – e erram – muito em relação às mulheres, tratando-as como inferiores, objetos de prazer, escravas dentro do próprio lar. As mulheres não devem ter por meta igualarem-se nestes aspectos negativos, julgando-se agora superiores aos homens.
Estamos juntos, homens e mulheres, para nos ajudarmos mutuamente no caminho da evolução.
Questão: Se existem estas diferenças, o que leva um espírito a reencarnar em um corpo masculino ou em um corpo feminino?
Ely: São muitas e variadas as condições. Não devemos imaginar, quando falamos que o espírito reencarna alternadamente em corpos masculinos e femininos, ou seja, como homem ou mulher, que isso aconteça de uma hora pra outra, ou que aconteça por acaso. Não significa que numa encarnação eu venho como homem, na outra como mulher, e depois como homem de novo, e assim por diante...Isso causaria uma confusão enorme nas nossas mentes...e uma confusão maior ainda na sociedade...
Nós mudamos de corpo sim, mas isso ocorre, regra geral, de forma gradativa, a transição de uma condição para outra geralmente é suave.
O Espírito Emmanuel, através da psicografia de Chico Xavier, nos ensina que alguns dos fatores que determinam o sexo são as qualidades (masculinas e femininas) que já adquirimos nas encarnações anteriores, as tarefas que temos que realizar naquela encarnação e as tendências que trazemos no recesso de nosso ser.
Cada um de nós têm características tanto masculinas quanto femininas (de novo os machões não vão gostar da idéia..) mas algumas dessas características preponderam sobre as outras, fazendo com que nossa psicologia seja acentuadamente masculina ou acentuadamente feminina. A grande maioria das pessoas reencarna então num corpo adaptado a sua psicologia, a fim de que não ocorram conflitos.
Questão: Para finalizar: podemos considerar que há igualdade entre homens e mulheres ou não?
Ely: Como Espíritos, somos filhos do mesmo Pai, e portanto irmãos. E este Pai, soberanamente justo e bom, não vê nenhuma diferença entre nós. Trata-nos a todos de forma rigorosamente igual. Estamos todos sujeitos as mesmas leis e ao mesmo Amor. Ao mesmo tempo, por este mesmo Amor, Ele nos concedeu a liberdade de pensar e agir, e assim, no uso desta liberdade é que nos fazemos diferentes.
Assim, saber utilizar esta liberdade em nosso próprio favor, a favor de nossa evolução, seja usando corpos de homens ou mulheres, é um dever de todos nós.
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