Estudando o Espiritismo

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quinta-feira, 11 de maio de 2017

Amigo Invisível


Espírito protetor, espírito amigo, espírito familiar, espírito simpático, guia espiritual, mentor espiritual, anjo da guarda. As denominações para esse espírito que nos acompanha durante a trajetória da vida material são variadas.

É interessante sabermos que todos nós, por mais desmerecedores possamos nos achar diante da Providência Divina, somos assistidos por este companheiro ou companheira1 do Plano Espiritual, que praticamente endossa nossa encarnação.

É como se fosse um pai a conduzir o filho, um professor a ensinar um aluno, um tutor que vela pelo tutelado, um irmão mais experiente a orientar o menos experiente na caminhada. Com uma condição essencial: jamais interferir na liberdade de ação do protegido.2

Esse amigo, que está sempre ao nosso lado, é digno de nossa atenção, pois ali se encontra para desempenhar a função de facilitar a travessia terrestre, oferecendo o suporte necessário a fim de que o indivíduo possa agir assertivamente fazendo o melhor ao seu alcance. Assim, obterá êxito no atingimento dos objetivos programados para a existência. O sucesso será de ambos. Mas, o fracasso será apenas do protegido, uma vez que o protetor sempre faz tudo ao seu alcance para subsidiar a trajetória do agente encarnado.

Podemos e devemos aproveitar a oportunidade que Deus nos oferta em sua Bondade, e conversarmos intimamente com esse “irmão mais velho”, falando menos e abrindo os canais da intuição para ouvi-lo com maior frequência. Estar aberto a sua orientação, captando-lhe as sugestões pelas antenas psíquicas. Esse processo facilitará o despertar da consciência e a conquista de segurança para o enfrentamento dos embates provacionais e expiatórios que a vida física nos impõe.

Mas, não esperemos também que esse amigo invisível “passe a mão em nossa cabeça”, tornando-se conivente com os nossos erros ou tendências negativas. A evolução espiritual dele será pelo menos um “degrau” superior a de seu protegido, uma vez que ele se encontra na posição de quem pode ajudar. Por isso, com visão mais ampla, embora não discorde claramente e não utilize a condição superior para impor sua vontade, alerta-nos, de maneira a “nos tocar” para o despertamento ante a realidade da vida imortal.

Algumas experiências que já pude compartilhar com o meu amigo invisível fizeram-me refletir sobre a grande necessidade do autoaprimoramento. Gostaria de compartilhar algumas delas, no intuito de me fazer útil ao leitor. Foram e ainda continuam sendo lições para mim. Se você também identificar alguma utilidade nesses relatos, já me darei por satisfeito.

Palestra e aplauso

Certa vez, ao concluir a palestra de encerramento da Semana de Kardec, em uma cidade satélite do Distrito Federal, o público de aproximadamente 250 pessoas, gentilmente aplaudiu. Já ia me sentando, quando indaguei mentalmente a esse amigo que me acompanha: Por que o público aplaudiu? A resposta não se fez esperar, sob a forma de outra pergunta: “– Está pensando que esses aplausos são para você?” Emudeci o pensamento e surpreso, retruquei: “–  Não foram para mim?” E mais uma vez, a resposta, como um “puxão de orelhas”, fez-se veemente: “– Não, esses aplausos foram para eles que tiveram a paciência de lhe ouvir.” Depois dessa experiência, toda vez que as pessoas resolvem aplaudir, aplaudo junto, reconhecendo que as palmas são para elas e não para mim.

Periódico e orgulho

Doutra feita, estava no abençoado serviço de higienização de alguns documentos raros na sede da FEB em Brasília. Tratava-se de folhetos e de algumas coleções de periódicos (revistas e jornais). Era uma quinta-feira pela manhã. Na noite desse mesmo dia, estava com a responsabilidade de palestrar numa casa espírita da região. Já havia estudado o assunto, mas ainda não me sentia totalmente preparado para o desenvolvimento do conteúdo. Aí ocorreu o inusitado. Tive a oportunidade de apanhar um fascículo de Reformador, do ano de 1996, em que havia na primeira capa a divulgação do livro Biblioteca Espírita e na última capa, o destaque para a obra O Espiritismo de A a Z. Fiquei todo “cheio de mim”, satisfeito, por termos sido o autor do primeiro e coordenador do projeto que resultou no segundo livro. Como havia quantidade superior a duas dezenas de exemplares idênticos, resolvi separar um deles, para me “orgulhar ainda mais de minha humildade”. Concluímos o trabalho, com a ajuda de um dedicado colega. Ao final, pude então, abrir a revista que tinha em mão. Quando fiz isso, “caiu” bem no meio do periódico em um artigo de Gil Restani de Andrade, cujo título era O mundo espiritual, exatamente o tema da palestra da noite. Fiquei envergonhado e o protetor disse-me: “– É meu amigo, nossa trajetória ainda será longa. Vamos prosseguir nos esforçando, pois há muito que caminhar.”

Curiosidade e identidade espiritual

Um dia fiquei curioso para saber quem era meu espírito protetor. Após algumas mensagens psicofônicas e psicografadas em que havia a identificação do nome pelo qual ele se apresenta, e o relato da percepção de médiuns sobre a presença desse amigo, pensei comigo: “Quem é você? Nunca o vi, embora perceba e sinta a sua companhia. Após essa minha vontade, fiquei durante dois meses inteiros sem qualquer percepção da presença desse Espírito. Depois é que fui calcular esse tempo: sessenta dias. Até parece coisa de música. Mas, embora acabrunhado, preferi ficar na minha, em silêncio. Quando já estava imaginando que não mais teria contato com esse irmão, ele se comunica. Em seguida à mensagem, sem que eu perguntasse nada, pois estava sem coragem, após a ocorrência de seu “desaparecimento”, ele esclareceu: “– Meu irmão, quem sou eu pouco importa. O mais importante é que a sua curiosidade diminua e o nosso serviço aumente. É por isso que estamos juntos.” Após o episódio, nunca mais quis saber da identidade do meu amigo invisível. Preferível deixar assim mesmo. Imagina se ele vai e não volta nunca mais?! Melhor não arriscar. O prejuízo será meu e deixarei de fazer, provavelmente, algum servicinho combinado com ele do outro lado da vida.

O filme e as mães espirituais

Tive a oportunidade de ir ao cinema na segunda quinta-feira de abril de 2011 em um shopping na capital amazonense para assistir ao filme As mães de Chico Xavier. Era a primeira sessão vespertina. Quando cheguei, só havia outro espectador. E assim foi a película toda. Apenas dois presentes na confortável sala de exibição. Emocionei-me várias vezes, e, apesar de ser durão, não resisti às lágrimas que molharam um lenço de pano que carregava no bolso. Ainda bem. Envolvente, cativante, superior. São tantos os sentimentos nos variegados matizes do vocábulo Amor que não contive a sensibilização e chorei feito criança no colo de mãe. Acompanhei atento o desenrolar das histórias, das mães, das perdas e das buscas, dos desencontros, encontros e reencontros. Fascinante, deslumbrante, puro. As palavras do Chico, o esclarecimento espiritual e, sobretudo, a consolação com a esperança da imortalidade da alma, cuja vida prossegue dinâmica após a passagem pela morte. Assim que o filme acabou, não consegui me levantar de imediato da poltrona. O outro espectador saiu celeremente. Fiquei só. Acompanhei as cenas finais dos créditos com o Chico recebendo as pessoas à sombra do abacateiro. Lindo e significativo! As músicas elevadas entoavam os sentimentos em direção à Espiritualidade Maior numa comunhão entre os dois planos da vida. Levantei-me e senti a presença de meu Amigo Espiritual. Indaguei-o, pelas vias do pensamento: como poderia um filme desses, tão maravilhoso, sem praticamente público algum?! Nesse ínterim, a emoção veio mais forte, ainda. Disse-me ele: “– Veja com olhos de ver”.  Uma vez mais e, copiosamente, as lágrimas rolaram pela minha face, quando pude enxergar, ao compasso dos esclarecimentos do Amigo, que todas as poltronas estavam ocupadas por mãezinhas espirituais. Elas haviam retornado antes de seus filhos e, do outro lado da vida, recebiam a consolação e a certeza de que o amor é o passaporte seguro para o reencontro, no tempo certo, das almas que constituem a mesma família espiritual.3

*

Os breves relatos aqui apresentados continuam servindo de lição para o meu dia- a-dia. Espero chegar o momento em que efetivamente as colocarei em prática na renovação íntima que ainda procuro alcançar.

Referências e notas

1 Manteremos o texto no masculino, solicitando ao leitor o entendimento de que esse espírito protetor pode se apresentar como uma personalidade masculina ou feminina.

2  O assunto é minuciosamente estudado pelo Codificador do Espiritismo. Ver KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. Tradução de Guillon Ribeiro. 12. ed. de bolso. Rio de Janeiro: FEB, 2006. q. 489-521.

3 Texto publicado no jornal Brasília Espírita, v. 39, n. 170, p. 3, maio/jun. 2011.

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