Estudando o Espiritismo

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quinta-feira, 11 de maio de 2017

A MULHER NO SÉCULO XXI NA VISÃO ESPÍRITA

A MULHER NO SÉCULO XXI NA VISÃO ESPÍRITA - Excerto da Palestra de Maria José Nunes Reis (Em comemoração do Dia Internacional das Mulheres)
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No dia 8 de março comemoramos o dia Internacional da Mulher.

Em 1910 na Conferência Internacional de Mulheres, realizada na Dinamarca, foi decidido que seria escolhido um dia para homenagear as mulheres de todo o mundo e para chamar a atenção para o papel e a dignidade da mulher.

Foi escolhido o dia 08 de Março, porque nesse dia 08/03/1857 operárias têxteis em Nova York entraram em greve, ocupando a fábrica onde trabalhavam, para reivindicar uma jornada de trabalho mais justa. Elas trabalhavam 16 horas diárias e reivindicavam uma jornada de trabalho de 10 horas diárias; sendo que por essas 16 horas de trabalho elas recebiam um salário inferior a 1/3 do que ganhavam os homens.

Para conter essa rebelião, os patrões trancaram as portas da fábrica e puseram fogo matando queimadas 130 mulheres.

A violência contra as mulheres não começou aí e muito menos terminou por aí, a mulher sempre sofreu injúrias e violências.

Também, morreu queimada, a heroína da França, Joana D’arc; por ter a coragem, a dignidade, de após salvar sua Pátria, ter devolvido a coroa à cabeça do rei; manter-se firme e coerente na sua fé e na sua convicção.

Joana D’arc nasceu na França em 1412, não teve oportunidade de aprender a ler nem escrever, mas, tinha um profundo senso religioso. Aos 12 anos começou a ouvir vozes que ela identificou como sendo de S. Miguel Arcanjo, Santa Catarina e Santa Margarida; essas vozes a incentivavam a salvar a França. Três anos mais tarde, com 15 anos, resolveu atender os apelos celestes, vestiu-se de homem, montou um cavalo, colocou armadura, lutou bravamente e conseguiu devolver a coroa ao Rei da França. Mas, a igreja católica a acusou de bruxaria e de heresia, foi submetida por 6 meses a torturas morais, para que ela desmentisse as vozes que ouvia, ou que admitisse que eram vozes do demônio. Manteve-se fiel às suas convicções e foi condenada a morte na fogueira, seus cabelos foram raspados, foi amarrada a um tronco em meio à lenha e quando ela já ardia em chamas exclama:
- Sim, minhas vozes eram de Deus, elas não me enganaram!

Em 1920, portanto depois de quase 500 anos, quase 5  séculos a igreja católica reconheceu os méritos de Joana tornando-a santa, Santa Joana D’arc protetora e patrona da França.

Quantas mulheres, na idade média, morreram nas fogueiras da inquisição, acusadas de bruxaria, por terem a coragem de dizer, publicamente, da vida espiritual, da mediunidade, da vida após a morte?   Eram mulheres que possuíam mediunidade, eram videntes, audientes, praticavam algumas curas, benziam as pessoas, lhes devolvendo o bem estar e o equilíbrio; e por isso, eram condenadas à fogueira.

Há muita violência e injúria, cometidas pelos mais fortes contra os mais fracos.  Contra mulheres, crianças, idosos,  índios, deficientes,  pobres e contra as pessoas que tentam acabar com essas injustiças, defendendo os interesses dos menos favorecidos.

Recentemente no Brasil, em 2005, também, foi vítima da violência a Missionária católica americana Dorothy Stang de 73 anos, que há mais de 20 anos defendia causas ambientais e trabalhadores sem terra, no Pará, foi assassinada com 9 tiros, num ato de extrema covardia.

Pessoas que estavam com ela e assistiram ao seu assassinato contam que o assassino lhe perguntou se ela estava armada, e ela mostrando a Bíblia falou:
- Esta é a minha arma! E ainda, antes de ser morta leu um trecho da Bíblia para aqueles que a executariam friamente.

Seus assassinos foram presos, condenados, alguns há 30 anos, mas, infelizmente, hoje estão soltos, foragidos ou beneficiados por habeas corpus, por não oferecerem perigo à sociedade.

Mas, a mulher sempre lutou por seus direitos. Pelo direito de se alfabetizar, de estudar, de votar, de se profissionalizar; cometeu alguns excessos, é verdade, como quando a  feminista Beth Friedman, em 1968, conclamou as mulheres a  queimarem seus sutiãs em praça pública; cometeu alguns equívocos porque ao exigir os mesmos direitos dos homens, também exigiu o direito de cometer os mesmos erros de seus companheiros.

Mas, as conquistas das mulheres foram muito maiores  que seus equívocos ,levando-se em conta  que na idade média a mulher era considerada sem alma.Em 585 a Igreja Católica discutiu, segundo os evangelhos apócrifos de São Gregório, no Concílio de Macon, se a mulher tinha alma ou não; a Igreja Católica, também, já colocou em dúvida se o negro tinha alma na época da escravidão.

Jesus não discriminava as mulheres e compreendia suas almas sensíveis.

Será que eu posso dizer, sem cometer nenhum desrespeito, que Jesus foi feminista?

Certamente naquele tempo não havia esse termo, mas Jesus tratava as mulheres com consideração, respeito, amor, carinho e defendia seus direitos.

Como na passagem da mulher adúltera, onde Jesus defendeu a mulher da justiça e do castigo aplicados somente à parte mais fraca.

Os Escribas e Fariseus, que eram os doutores da lei, conduziram até Jesus uma mulher que fora pega em adultério; pela lei ela teria que  ser apedrejada, e a turba de homens já se encontrava ali aos gritos de:
- Morte à adúltera.

Os doutores da lei faziam isso para testar Jesus, para pegar Jesus no pulo mesmo, porque se Ele dissesse que ela teria que  ser apedrejada, Ele estaria indo contra os seus ensinamentos, que eram de amor e de perdão, e se Ele dissesse que a deixassem livre, estaria indo contra as Leis de Moisés.

 Jesus estava abaixado, escrevendo com os dedos na areia, como insistiram para que ele desse sua opinião sobre o apedrejamento, Ele se levantou e disse:
-“Aquele  que estiver sem pecado, atire a primeira pedra.”  Depois, abaixando-se de novo continuou a escrever na areia. Mas, os homens que já estavam com as mãos armadas com pedras para consumar o apedrejamento, ouvindo Jesus falar assim, foram jogando as pedras no chão e saindo, calados, com o rabinho no meio das pernas, como nós costumamos dizer, uns após outros, primeiro os mais velhos, dando o exemplo, depois os mais jovens.

Quando Jesus percebeu que havia ficado só com a mulher que estava ali parada à sua frente, se levantou e perguntou:
- Mulher, onde estão os seus acusadores? Ninguém a condenou?
- Não, senhor. Jesus lhe respondeu:
- Eu, também, não a condenarei. Vá, e no futuro, não peque mais.

Jesus não discriminava, não condenava as mulheres, não aplicava às mulheres leis mais rigorosas do que as que eram aplicadas aos homens. Não discriminava, também, as raças e os povos.

Certa vez, Ele descansava à beira de um poço, quando uma mulher Samaritana veio tirar água e Jesus lhe pediu água, dizendo:
- Você pode me dar de beber? A mulher samaritana respondeu-lhe:
- Como é que o Senhor, um judeu, pede de beber a mim que sou Samaritana?

O povo judeu não falava com o povo samaritano, eles eram considerados inferiores, ainda mais com uma mulher Samaritana.    Em resposta Jesus lhe disse:
- Quem bebe dessa água tornará a ter sede, mas quem beber da água que lhe darei nunca mais terá sede. A mulher pediu:
- Senhor, me dá dessa água para que eu nunca mais tenha sede.

Jesus disse:
- Vai chamar seu marido e volte aqui. A mulher respondeu:
- Eu não tenho marido. Jesus disse:
- Está certa quando diz que não tem marido. De fato você teve cinco e aquele que agora tem não é seu marido. (portanto, era uma mulher pecadora e Jesus não a discriminou)
- Senhor, disse a mulher, vejo que o Senhor é um profeta. Eu sei que o Messias está para vir e quando Ele chegar  nos explicará todas as coisas.   Jesus, então, declarou:
-Sou eu que falo contigo.

Nisso chegaram os discípulos e se admiraram que Ele estivesse falando com uma mulher, ainda mais uma mulher Samaritana.  Mas, ninguém perguntou:
- O que o Senhor fala com ela?

Deixando, então, o cântaro a mulher voltou à cidade e disse a todos:
- Venham ver um homem que me disse o que fiz no passado. Não será Ele o Cristo?

Os Samaritanos saíram então da cidade e foram encontrar Jesus.

O ensinamento maior que se pode tirar desta passagem é o de que todos merecem a oportunidade de conhecer os ensinamentos de Jesus.
Jesus não  levava sua palavra aos doutores, aos poderosos, mas, a todos inclusive uma mulher samaritana, e de vida desregrada.

Outra passagem que demonstra o preconceito contra a mulher, na época de Jesus, é a passagem da mulher hemorrágica.

Segundo S. Marcos, uma mulher que sofria de uma hemorragia há 12 anos, que já havia passado por vários médicos, já havia gasto todo seu dinheiro em tratamentos e não havia conseguido nenhum alívio, estava cada vez pior ouviu falar de Jesus, veio na multidão que o seguia, por detrás e tocou suas vestes, pois ela pensava:
 - Se eu puder, pelo menos, tocar suas vestes serei curada.
No mesmo momento a hemorragia cessou e ela sentiu que estava curada da terrível moléstia.
E logo Jesus, conhecendo a virtude que havia saído dele, voltou-se para a multidão e disse:
- Quem tocou minhas vestes? Seus discípulos lhe disseram:
- Com toda essa multidão empurrando de todos os lados como vamos saber quem o tocou? E Jesus olhava de todos os lados para ver quem o havia tocado.
A mulher foi tomada de pavor, porque naquela época a mulher com hemorragia, era considerada impura, não podia tocar em ninguém, e ela sabendo o que se passou com ela se atirou nos pés de Jesus e lhe contou tudo o que havia ocorrido. E Jesus lhe disse:
- Minha filha, a sua fé lhe salvou. Vá em paz e fica curada da sua moléstia.

Jesus não discriminava as mulheres em períodos nenhum de suas vidas, tratava as mulheres com carinho e respeito.

Outra passagem de Jesus que mostra a consideração de Jesus pelas mulheres que eram discriminadas na sua época é a de Maria Madalena.

Seu nome era Maria de Magdala porque era nascida na cidade de Magdala às margens do Lago de Genesaré. Apesar da sua riqueza, e do poder que seus clientes ricos lhe davam, ela não era feliz, e um dia ouve falar de Jesus e de seus ensinamentos, pela boca de uma serva, e  resolve conhecer Jesus, ouve sua voz, seus conselhos, fica maravilhada, e a partir daí se dá uma grande transformação em sua vida.

Um dia em uma festa na casa de Simão, para a qual ele convidou apenas os poderosos, gente importante, e entre esses convidados estava Jesus; Maria de Magdala entra correndo, engana os seguranças e se atira aos pés de Jesus, lava seus pés com suas lágrimas, seca com seus cabelos, e perfuma seus pés com uma loção caríssima.

Simão, quando viu isso, pensou:
- Se Jesus fosse mesmo profeta, saberia que essa mulher que o tocou é uma pecadora. Jesus lendo seus pensamentos disse:
- Um certo credor tinha 2 devedores, um lhe devia 500 dinheiros, e o outro 50; mas, como eles não tinham como pagar, o credor perdoou as duas dívidas.
- Me diga Simão, qual deles o amará mais?

E Simão respondeu:
- Aquele a quem foi perdoado mais! E Jesus lhe disse:
- Julgou bem!
E voltando-se para a mulher disse a Simão:
- Vê esta mulher?  Entrei em sua casa e você não me deu água para lavar os pés, o que era um costume naquela época; mas, esta mulher lavou meus pés com suas lágrimas, e enxugou com seus cabelos.
- Você não me beijou, mas, ela não parou de beijar os meus pés desde que chegou.
- Você não ungiu a minha cabeça com óleo, o que, também, era um costume da época, mas ela ungiu meus pés com unguento.
- Por isso lhe digo que os seus pecados lhe são perdoados, porque muito amou; mas, aquele a quem pouco é perdoado é porque pouco ama.  

E Jesus disse a Maria de Magdala:
- Os seus pecados estão perdoados. E os convidados diziam entre si:
- Quem é esse que até perdoa pecados? E Jesus disse à mulher:   _ A sua fé lhe  salvou, vá em paz.

Conta-nos o Irmão X que na manhã seguinte a cidade inteira de Magdala comentava que Maria de Magdala se convertera, se desfizera de todos os seus bens, e iniciava nova vida, seguindo os ensinamentos de Jesus.
Seguiu Jesus até o seu sacrifício na cruz, o que nem seus apóstolos fizeram, e permaneceu ali, junto com Maria, mãe de Jesus, e o único discípulo que acompanhou Jesus até o fim, João.
E no domingo após a morte de Jesus, quando ela se dirigiu ao túmulo do Mestre e constatou que o seu corpo não estava mais lá, Ele lhe apareceu e a chamou pelo nome:
- Maria! Quando ela contou aos discípulos eles não acreditaram, e questionaram:
- Porque Jesus apareceria, justamente, para ela uma mulher de má vida?

Somente Maria, a mãe de Jesus, a abraçou e pediu detalhes.

Maria Madalena queria seguir os discípulos para pregar a mensagem de Jesus, mas, não foi bem vinda, foi discriminada pelo grupo, porque era uma mulher de má vida. Sofrendo com o abandono com a incompreensão, andava pelas praias onde Jesus pisara, para se sentir mais próxima do Mestre. E um dia encontrando na praia um grupo de leprosos, que vinha de longe para pedir a Jesus que os curasse, ela os abraçou, longamente, disse que o Mestre partira, e se dirigiu com eles para o vale dos imundos, para viver ali, o resto dos seus dias, trabalhando pelos seus irmãos em sofrimento, como Jesus lhe ensinou.

Outra passagem de Jesus que mostra a consideração e a amizade, o carinho que Jesus tinha pelas mulheres é a visita que Jesus fez à casa dos  3 irmãos seus amigos, Lázaro, que é aquele que Jesus ressuscitou do túmulo, Maria e Marta.

Segundo S. Lucas, Jesus entrou num povoado, e foi recebido por uma mulher chamada Marta. Sua irmã, chamada Maria, sentou-se aos pés de Jesus, e ficou escutando a sua palavra.

Marta estava ocupada com muitos afazeres. Aproximou-se e falou:
- O Senhor, não está vendo que minha irmã me deixe sozinha com todo o serviço? Manda que ela venha me ajudar!
Jesus respondeu:
- Marta, Marta! Você se preocupa e anda agitada com muitas coisas,  porém, uma só coisa é necessária.
- Maria escolheu a melhor parte, e esta não lhe será tirada.

Jesus admitia que a mulher não foi feita só para os trabalhos domésticos, a mulher tinha o direito de ficar sentada aos pés do amigo, ouvindo suas palavras, bebendo da fonte de sua sabedoria de seu amor, aproveitando de cada minuto da convivência preciosa que era a amizade pura de Jesus.

Emmanuel nos diz, no livro Luz no Lar, que no tempo de Jesus, com exceção das nobres do Império, quase todas as mulheres sofriam extrema degradação, eram convertidas em verdadeiros animais de cargas, quando não eram vendidas em praça pública.

Entretanto, foram as mulheres que se deixaram tocar mais profundamente pelos apelos divinos e foram tão leais a Jesus; mesmo nas que haviam descido ao vale das perturbações, como Maria Madalena, encontramos o mais alto testemunho de reerguimento moral, das trevas para a luz.

Atraídas pelo amor puro de Jesus conduziam à presença do Senhor  os aflitos, os mutilados, os doentes, as criancinhas; mesmo não tendo a oportunidade de participarem do grupo de apóstolos de Jesus, foram as únicas que demonstraram solidariedade ao Mestre na hora do martírio e o visitaram sem medo sob a cruz, enquanto os próprios discípulos saiam correndo de medo.

Depois da morte de Jesus muitas mulheres  juntaram-se aos apóstolos levando seus exemplos.

Dorcas, a costureira Jopense, depois de receber ajuda de Pedro se tornou ativa colaboradora na assistência aos necessitados.

Febe é a mensageira da Epístola de Paulo de Tarso aos Romanos.

Lídia em Filipos é a primeira mulher com suficiente coragem para transformar a própria casa em Santuário do Evangelho Nascente.

Lóide e Eunice, parentas de Timóteo, eram padrões morais da fé viva.

Diz-nos Emmanuel que mesmo que nenhuma dessas mulheres tivesse existido, bastaria lembrarmo-nos que quando o Criador do Universo buscou alguém para tutelar seu filho, o Mestre Jesus, buscou em um lar simples uma mulher humilde que ocultava a experiência dos sábios; era frágil como o lírio, mas tinha a resistência do diamante; era pobre entre os pobres, mas trazia em suas virtudes os tesouros do coração; desvalida entre os homens, grande perante Deus. E sempre que nos lembrarmos da glória do Cristo nos lembremos de nossas próprias mães e nos curvemos ante a luz de Maria de Nazaré.

Mas, quanto à dúvida da Igreja Católica sobre a mulher ter alma Kardec se pronuncia, no ano de 1866, em um artigo na Revista Espírita, onde pergunta:

As mulheres têm alma? E responde:
- Sabe-se que isso nem sempre foi tido como certo, pois, ao que se diz, foi posto em deliberação num Concílio. A negação ainda é um princípio de fé em certos povos. Sabe-se lá a que grau de aviltamento essa crença reduziu as mulheres na maior parte dos países do Oriente.

Embora hoje, nos povos civilizados, a questão esteja resolvida em

seu favor, o preconceito de sua inferioridade moral perpetuou-se a tal ponto que um escritor do século passado assim definia a mulher:
- A mulher é instrumento de prazer do homem.

Definição esta que Kardec diz ser mais Muçulmana que Cristã.

Desse preconceito nasceu a sua inferioridade legal, ainda não apagada dos nossos códigos, e a mulher, devido a força do hábito, aceitou essa submissão como uma coisa natural. Porém, o progresso das luzes resgatou a mulher na opinião. Muitas vezes ela se afirmou pela inteligência e pelo gênio; e a lei, conquanto ainda a considerasse menor, pouco a pouco afrouxou os laços da tutela.      
Kardec diz que  pode-se considerar a mulher  emancipada moralmente, mesmo que ela não seja emancipada legalmente, mas também chegará o dia que ela será emancipada pelas leis. Isso em 1866.

E é claro, esse dia aqui, para nós, chegou depois de tanta luta, mas, infelizmente, ainda não em todos os cantos da Terra.

Nesse artigo, de 1866, Kardec, também fala de uma jovem  que conseguiu um diploma na faculdade o que deixou os homens daquela época estupefatos e Kardec, sarcasticamente, comenta:
- Depois de terem reconhecido que a mulher tinha alma, lhe reconheceram o direito à conquista dos graus da Ciência, o que já é alguma coisa. Mas a sua libertação parcial é apenas resultado do desenvolvimento da urbanidade, do abrandamento dos costumes ou, se quiserem, de um sentimento mais exato da justiça. É uma espécie de concessão que o homem faz à mulher.
 
Hoje, diz  kardec,  pôr em dúvida a alma da mulher seria ridículo. Mas, o Codificador, levanta outra questão muito séria, cuja solução só pode ser estabelecida se a igualdade de posição social entre o homem e a mulher for um direito natural. Porque se esta igualdade não passar de uma concessão do homem por condescendência, por favor, aquilo que ele der hoje pode ser tirado amanhã, devido sua força física.  

Enquanto que se essa igualdade estiver na Natureza, seu reconhecimento será o resultado do progresso e, uma vez reconhecido, será para sempre. E pergunta Kardec:
- Deus teria criado almas masculinas e femininas, fazendo uma inferior à outra?
Aí está toda a questão! Se Deus tivesse criado a alma da mulher inferior a do homem, a inferioridade da mulher estaria nos decretos divinos e nenhuma lei humana poderia modificar esses decretos.  
Ou foi o contrário?
- Deus criou as almas iguais e semelhantes! Nesse caso as desigualdades, baseadas na ignorância e na força bruta, desaparecerão com o progresso e o reinado da justiça.

Sozinho o homem só poderia estabelecer hipóteses mais ou menos lógicas, mas sempre questionáveis.Para se esclarecer teria que pesquisar no mundo extracorpóreo, que ele não conhece, e isso foi reservado ao Espiritismo que não acredita na palavra de um só homem, de um só Espírito, mas, sim nas mesmas ideias, nas mesmas orientações vindas de vários lugares, de vários Espíritos com a confiabilidade do Controle Universal das Ideias.

Ora, eis o que resulta dessas observações:

As almas ou Espíritos não têm sexo.

As almas encarnam-se, isto é, vestem-se, temporariamente, com
um corpo que  para elas é semelhante a uma roupa pesada , da qual só vão se livrar com a morte. Esse corpo as coloca em contato com o mundo material para que colaborem com o progresso do mundo que habitam, essas atividades fazem com que a alma progrida intelectual e moralmente.  A cada encarnação a alma chega mais desenvolvida, traz novas ideias e os conhecimentos adquiridos nas existências anteriores. Assim se faz o progresso dos povos, os homens civilizados de hoje são os mesmos que viveram na Idade Média e nos tempos de barbárie, e que progrediram. Os que viverem nos séculos futuros serão os de hoje, porém mais avançados, intelectual e moralmente.

Os sexos só existem no organismo e são necessários à reprodução dos seres materiais. Mas os Espíritos, sendo criação de Deus, não se reproduzem uns pelos outros, razão pela qual os sexos seriam inúteis no mundo espiritual.

Os Espíritos progridem pelos trabalhos que realizam e pelas provas que devem sofrer, da mesma forma que o operário se aperfeiçoa em sua arte pelo trabalho que faz; essas provas e esses trabalhos variam conforme sua posição social. Devendo os Espíritos progredir em tudo e adquirir todos os conhecimentos, cada um é chamado a realizar diversos trabalhos e a sujeitar-se aos diferentes gêneros de provas.  

É por isso que, alternadamente, nascem ricos ou pobres, senhores ou servos, operários do pensamento ou da matéria, homens ou mulheres.

Assim se acha fundado, sobre as próprias leis da Natureza, o princípio da igualdade, pois o grande da véspera pode ser o pequeno do dia seguinte e reciprocamente ou vice-versa. Desse princípio decorre o da fraternidade, visto que, em nossas relações sociais, reencontramos antigos conhecimentos, e no infeliz que nos estende a mão pode encontrar-se um parente ou um amigo.

É com o mesmo objetivo que os Espíritos  encarnam nos diferentes sexos; aquele que foi homem poderá renascer mulher, e aquele que foi mulher poderá renascer homem, a fim de realizar os deveres de cada uma dessas posições, e sofrer-lhes as provas.

A Natureza fez o sexo feminino mais fraco que o masculino, por que
os deveres da mulher não exigem dela uma grande força muscular, como o da maternidade que exige da mulher delicadeza e doçura.

Só existe diferença entre o homem e a mulher no organismo material que termina com a morte, mas quanto ao Espírito, à alma, ao ser essencial imperecível, não existe diferença, porque não há duas espécies de almas. Assim o quis Deus em sua justiça, para todas as suas criaturas dando a todas  um mesmo princípio fundou a verdadeira igualdade.   A desigualdade só existe, temporariamente, no grau de adiantamento; mas todas têm direito ao mesmo destino, ao qual cada uma chega por seu trabalho, porque Deus não favoreceu ninguém à custa dos outros.

Com a Doutrina Espírita, a igualdade da mulher não é mais uma simples teoria especulativa, já não é uma concessão da força à fraqueza, mas um direito fundado nas próprias leis da Natureza. Dando a conhecer essas leis, o Espiritismo abre a era da emancipação legal da mulher, como abre a da igualdade e da fraternidade.

Kardec fundamenta esse seu artigo no L.E. questões 817 a 822 que fala da Igualdade dos Direitos dos Homens e das Mulheres.

Os ditados populares são sempre acompanhados de uma grande carga de verdade, não é? E este ditado não foge a regra:
- Por trás de um grande homem há sempre uma grande mulher. Ou melhor, ainda:
- Do lado de um grande homem há sempre uma grande mulher.

E do lado desse grande homem que foi Kardec uma grande mulher, embora de pequena estatura,  Amélie Gabrielle Boudet Rivail, a sra. Allan Kardec, mulher valorosa que enfrentou ao lado do esposo as tempestades das críticas, das campanhas difamatórias, das calúnias, sem medo, com a coragem dos fortes.

A doce Gaby, como a chamava Kardec na intimidade, era uma mulher delicada, mas extremamente forte.  Professora de artes e excelente miniaturista tinha vigorosa cultura geral, e foi o apoio para Kardec nas grandes lutas enfrentadas contra o poder das ciências e do clero católico e protestante. Ela acompanhava o esposo nas suas viagens para visitar os grupos espíritas que se formavam nas cidades da França e do exterior.

Leon Denis, ainda muito jovem, guardou na memória, um quadro bucólico, quando da visita de Kardec e Gabi em Tours, o carinhoso gesto de Allan Kardec subindo a uma cadeira para cortar um cacho de uvas e oferecê-lo gentilmente à esposa.

Mas o valor desta mulher se mostrou  depois da desencarnação de Allan Kardec, quando ela fundou a Sociedade para a Preservação e Continuidade das Obras de Allan Kardec. Graças a isto, a Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas e a Revista Espírita continuaram existindo.

A mulher sempre teve um lugar de destaque na Doutrina Espírita, começando com o estudo de Kardec dos fenômenos provocados pelos Espíritos, através das meninas médiuns, Irmãs Fox, que conseguiam se comunicar com um Espírito através de pancadas na parede, em  Hydesville Estados Unidos.

Ermance Dufaux, outra menina, médium que auxiliou Kardec na Codificação do Espiritismo, ela psicografou várias mensagens contidas no Livro dos Espíritos, no Evangelho Segundo o Espiritismo e ajudou Kardec na revisão e na segunda edição do Livro dos Espíritos.
Ermance Dufaux, também, psicografou a história de Joanna Darc ditada por ela mesma.E agora como Espírito desencarnado, na erraticidade, escreve livros através do médium Wanderley de Oliveira sendo o mais conhecido deles   Reforma Intima sem Martírio.

As brasileiras como:

Anália Franco nascida no Rio de Janeiro em 1856 com 16 anos formou-se professora primária, mas, foi após a Lei do Ventre Livre que a sua verdadeira vocação se mostrou. Com a Lei do Ventre Livre (1871) os fazendeiros não queriam arcar com o custo de sustentar os negrinhos nascidos de suas escravas, mas que já nasciam livres, então eles jogavam essas crianças na rua, as que tinham mais sorte eram largadas na roda dos enjeitados da Santa Casa de Misericórdia.

Anália, então, com muita luta conseguiu negociar com uma fazendeira a doação de uma casa para ela abrigar essas crianças.

Anália muitas vezes saia às ruas pedindo esmolas para dar de comer a seus tutelados e muitas vezes não era bem vista pelas senhoras da sociedade, pois eram senhoras escravocratas.

Porém com a Abolição da Escravatura seu trabalho se tornou mais produtivo e Anália Franco quando desencarnou aos  64 anos deixou uma vasta sementeira: 71 Escolas, 2 albergues, 1 colônia regeneradora para mulheres, 23 asilos para crianças órfãs, 1 Banda Musical Feminina, 1 orquestra, 1 Grupo Dramático, além de oficinas para manufatura de chapéus e flores ;em 24 cidades do Interior e da Capital de S. Paulo.

Anália Franco era romancista, escritora, teatróloga e poetisa e era Espírita fervorosa, revelando sempre grande interesse pela Doutrina.

É impossível falar em Espiritismo e em mulher sem falar de Yvonne Pereira, ela foi segundo Chico Xavier, um exemplo de amor fraternal e  abnegação. Nasceu na véspera do Natal, 24-12-1900, no Rio de Janeiro, era chamada, carinhosamente, pela família, de Tuti.

Dona de uma mediunidade impressionante, muitas vezes, não sabia se estava falando ou vendo encarnados ou desencarnados.Possuía vários tipos de mediunidades, mas trabalhou mais com a mediunidade de cura e com desobsessão, tinha muito carinho pelos suicidas, porque sabia  que também fora suicida em outras encarnações.Psicografou o livro Memórias de um suicida do Espírito Camilo Candido Botelho que é um marco na história da literatura Espírita.

Chegando às incansáveis trabalhadoras da Doutrina Espírita do século XXI mulheres brilhantes que se dedicam de corpo e alma ao estudo e a divulgação da Doutrina Espírita como: Marlene Nobre Presidente da Associação Médico Espírita do Brasil, Suely Caldas Shubert escritora e divulgadora da Doutrina Espírita, Heloisa Pires filha de Herculano Pires,  Ercilia Zilli Presidente da Abrape Associação Brasileira dos Psicólogos Espíritas, Del Mar Gonzales Diretora do Instituto Evoluir, Dora Incontri pedagoga , Marli Rodrigues psicóloga, e inúmeras outras, que juntas com seus companheiros nos microfones da Rádio Boa Nova levam o conhecimento a um grande número de pessoas. Que se unem, também, a todas as mulheres do século XXI que conquistaram o direito de serem respeitadas em todas as áreas do  conhecimento; porém algumas conquistas foram a duras penas, como a Lei Maria da Penha, que leva o nome de uma mulher torturada pelo marido e que não abdicou de seus direitos.

A Lei Maria da Penha coíbe toda e qualquer violência doméstica contra a mulher e qualquer discriminação em qualquer lugar que seja. A necessidade dessa lei, por si só, é um indicador de que a violência e a discriminação contra a mulher ainda é um fato em pleno século XXI.

Algumas mulheres conseguiram conquistar  o mais alto cargo político de um país, a Presidência da República, como a nossa presidente, ou presidenta como ela faz questão de ser chamada, Dilma Roussef, a primeira presidente mulher do Brasil. Mas, ainda com muita desigualdade na competição com os homens porque de 192 países que compõem as Nações Unidas apenas 9 países, e o Brasil é um deles, possuem presidentes mulheres.

Lembrando, também, da nossa primeira presidente Mulher do Centro Espírita Ismael Terezinha de Fátima Sgulmar que nos representando muito bem, só nos engrandece.

E lembrando de um fato que ocorreu, há poucos dias, na entrega do maior prêmio do cinema mundial, o Oscar, Michelle Obama, elegantíssima como sempre, entregou a estatueta de melhor filme ao filme Iraniano Argo; e logicamente o fato foi divulgado pela agência de notícias Iraniana. Mas, as imagens de Michelle, que apareceram para o povo Iraniano, foram alteradas, seu vestido maravilhoso decotado de alcinhas, perdeu o decote e ganhou mangas, acabando com todo o seu charme.

O ministro da cultura e orientação islâmica Mohammad Hosscini, além de considerar o filme anti-iraniano, disse que as mulheres Iranianas devem cobrir os cabelos, os braços e as pernas. Mas, para as estrangeiras as regras são menos rígidas e cobriram apenas o colo e os ombros de Michelle Obama.

No Brasil o jornalismo do SBT comentou o fato dizendo que onde se faz guerra a primeira vítima é a verdade.

E esse fato nos leva, novamente, ao artigo da Revista Espírita de 1866 onde Kardec pergunta:
As mulheres têm alma? E responde:
- Sabe-se que isso nem sempre foi tido como certo, pois, ao que se diz, foi posto em deliberação num Concílio. A negação ainda é um princípio de fé em certos povos.  Sabe-se lá a que grau de aviltamento essa crença reduziu as mulheres na maior parte dos países do Oriente.

Portanto de 1866 para cá são passados 147 anos e nós vemos hoje que eram reais os motivos de preocupação de Kardec com as mulheres, principalmente, com as mulheres do Oriente.

São decorridos, também, 2000 anos da passagem de Jesus sobre a Terra, e continuam as injustiças contra as mulheres, contra Martas, Marias, Madalenas, Samaritanas, mulheres hemorrágicas, adúlteras, Joanas, Missionárias, benzedeiras, Médiuns, mulheres do Oriente ou do Ocidente.

Sendo que para que essa violência tenha fim bastaria seguir os exemplos de Jesus, bastaria que os homens tratassem as mulheres como fazia Jesus: sem preconceito, com justiça, com honestidade, com amor.

Amai-vos uns aos outros, como Jesus ensinou. Sejam eles homens ou mulheres!

Esta é, portanto, a visão da mulher, pela Doutrina Espírita, na compreensão de uma mulher, mãe, simples dona de casa.  

Maria José Nunes Reis.
09-03-2013

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