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Estudando o Espiritismo
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segunda-feira, 19 de agosto de 2013
VI – Fatalidade - LE
851. Há uma fatalidade nos acontecimentos da vida, segundo o sentimento ligado a essa palavra; quer dizer, todos os acontecimentos são predeterminados, e nesse caso cm que se torna o livre-arbítrio?
— A fatalidade só existe no tocante à escolha feita pelo Espírito, ao se encarnar, de sofrer esta ou aquela prova; ao escolhê-la ele traça para si mesmo uma espécie de destino, que é a própria conseqüência da posição em que se encontra. Falo das provas de natureza física, porque, no tocante às provas morais e às tentações, o Espírito, conservando o seu livre-arbítrio sobre o bem e o mal, é sempre senhor de ceder ou resistir. Um bom Espírito, ao vê-lo fraquejar, pode correr em seu auxílio mas não pode influir sobre ele a ponto de subjugar-lhe a vontade. Um Espírito mau, ou seja. inferior, ao lhe mostrar ou exagerar um perigo físico, pode abalá-lo e assustá-lo, mas a vontade do Espírito encarnado não fica por isso menos livre de qualquer entrave.
852. Há pessoas que parecem perseguidas por uma fatalidade, independentemente de sua maneira de agir; a desgraça está no seu destino?
— São, talvez, provas que devem sofrer e que elas mesmas escolheram. Ainda uma vez levais à conta do destino o que é quase sempre a conseqüência de vossa própria falta. Em meio dos males que te afligem, cuida que a tua consciência esteja pura e te sentirás meio consolado.
Comentário de Kardec: As idéias justas ou falsas que fazemos das coisas nos fazem vencer ou fracassar, segundo o nosso caráter e a nossa posição social. Achamos mais simples e menos humilhante para o nosso amor-próprio atribuir os nossos fracassos à sorte ou ao destino, do que a nós mesmos. Se a influência dos Espíritos contribui algumas vezes para isso, podemos sempre nos subtrair a ela, repelindo as idéias más que nos forem sugeridas.
853. Certas pessoas escapam a um perigo mortal para cair em outro; parece que não podem escapar à morte. Não há nisso fatalidade?
— Fatal, no verdadeiro sentido da palavra, só o instante da morte. Chegando esse momento, de uma forma ou de outra, a ele não podeis furtar- vos.
853 – a) Assim, qualquer que seja o período que nos ameace, não morreremos se a nossa hora não chegou?
— Não, não morrerás, e tens disto milhares de exemplos. Mas quando chegara tua hora de partir, nada te livrará. Deus sabe com antecedência qual o gênero de morte por que partirás daqui, e freqüentemente teu Espírito também o sabe, pois isso lhe foi revelado quando fez a escolha desta ou daquela existência.
854. Da infalibilidade da hora da morte segue-se que as precauções que se tomam para evitá-la são inúteis?
— Não, porque as precauções que tomais vos são sugeridas com o fim de evitar uma morte que vos ameaça; são um dos meios para que ela não se verifique.
855. Qual o fito da Providência ao fazer-nos correr perigos que não devem ter conseqüências?
— Quando tua vida se encontra em perigo, é essa uma advertência que tu mesmo desejaste, afim de te desviar do mal e te tornar melhor. Quando escapas a esse perigo, ainda sob a influência do risco por que passaste, pensas com maior ou menor intensidade, sob a ação mais ou menos forte dos bons Espíritos, em te tornares melhor. O mau Espírito retornando (digo mau, subentendendo o mal que ainda nele existe), pensas que escaparás da mesma maneira a outros perigos e deixas que as tuas paixões se desencadeiem de novo. Pelos perigos que correis. Deus vos recorda a vossa fraqueza e a fragilidade de vossa existência. Se examinarmos a causa e a natureza do perigo, veremos que, na maioria das vezes, as conseqüências foram a punição de uma falta cometida ou de um dever negligenciado. Deus vos adverte para refletirdes sobre vós mesmos e vos emendardes. (Ver os itens 526 a 532.)(1)
856. O Espírito sabe, por antecipação, qual o gênero de morte que deve sofrer?
— Sabe que o gênero de vida por ele escolhido o expõe a morrer mais de uma maneira que de outra. Mas sabe também quais as lutas que terá de sustentar para o evitar, e que, se Deus o permitir, não sucumbirá.
857. Há homens que enfrentam os perigos do combate com uma certa convicção de que a sua hora não chegou; há algum fundamento nessa confiança?
— Com muita freqüência o homem tem o pressentimento do seu fim como o pode ter o de que ainda não morrerá. Esse pressentimento lhe é dado pelos seus Espíritos protelares, que desejam adverti-lo para que esteja pronto a partir ou reerguem, a sua coragem nos momentos em que se faz necessário. Também lhe pode vir da intuição da existência por ele escolhida, ou da missão que aceitou e sabe que deve cumprir. (Ver itens 411 e 522.)
858. Os que pressentem a morte geralmente a temem menos do que os outros. Por quê?
— E o homem que teme a morte, não o Espírito. Aquele que a pressente pensa mais como Espírito do que como homem: compreende a sua libertação e a espera.
859. Se a morte não pode ser evitada quando chega a sua hora, acontece o mesmo com todos os acidentes no curso da nossa vida?
— São, em geral, coisas demasiado pequenas, das quais podemos prevenir-vos dirigindo o vosso pensamento no sentido de as evitardes porque não gostamos do sofrimento material. Mas isso é de pouca importância para o curso da vida que escolhestes. A fatalidade, na verdade, só consiste nestas duas horas: a em que deveis aparecer e desaparecer deste mundo.
859 – a) Há fatos que devem ocorrer forçosamente e que a vontade dos Espíritos não pode conjurar?
— Sim, mas que tu, quando no estado de Espírito, viste e pressentiste ao fazer a tua escolha. Não acrediteis, porém, que tudo o que acontece esteja escrito como se diz. Um acontecimento é quase sempre a conseqüência de uma coisa que fizeste por um ato de tua livre vontade, de tal maneira que se não tivesses praticado aquele ato, o acontecimento não se verificaria. Se queimas o dedo, isso é apenas a conseqüência de tua imprudência e da condição da matéria. Somente as grandes dores, os acontecimentos importantes e capazes de influir na tua evolução moral são previstos por Deus, porque são úteis à tua purificação e à tua instrução.
860. Pode o homem, por sua vontade e pelos seus atos, evitar acontecimentos que deviam realizar-se e vice-versa?
— Pode, desde que esse desvio aparente possa caber na ordem geral da vida que ele escolheu. Além disso, para fazer o bem, como é do seu dever e único objetivo da vida, ele pode impedir o mal, sobretudo aquele que possa contribuir para um mal ainda maior.
861. O homem que comete um assassinato sabe, ao escolher a sua existência, que se tornará assassino?
— Não. Sabe apenas que, ao escolher uma vida de lutas, terá a probabilidade de matar um de seus semelhantes, mas ignora se o fará ou não, porque estará quase sempre nele tomar a deliberação de cometer o crime. Ora, aquele que delibera sobre alguma coisa é sempre livre de a fazer ou não. Se o espírito soubesse com antecedência que, como homem, devia cometer um assassínio, estaria predestinado a isso. Sabei, então, que não há ninguém predestinado ao crime e que todo crime, como todo e qualquer ato, é sempre o resultado da vontade e do livre-arbítrio. De resto, sempre confundis duas coisas bastante distintas, os acontecimentos materiais da existência e os atos da vida moral. Se há fatalidade, às vezes, é apenas no tocante aos acontecimentos materiais, cuja causa estafara de vós e que são independentes da vossa vontade. Quanto aos atos da vida moral, emanam sempre do próprio homem, que tem sempre, por conseguinte, a liberdade de escolha: para os seus atos não existe jamais a fatalidade.
862. Há pessoas que nunca conseguem êxito na vida e que um mau gênio parece perseguir, em todos os seus empreendimentos. Não é isso o que podemos chamar fatalidade?
— Pode ser fatalidade, se assim o quiseres, mas decorrente da escolha do gênero de existência, porque essas pessoas quiseram ser experimentadas por uma vida de decepções, afim de exercitarem a sua paciência e a sua resignação. Não creias, entretanto, que seja isso o que fatalmente acontece; muitas vezes é apenas o resultado de haverem elas tomado um caminho errado, que não está de acordo com a sua inteligência e as suas aptidões. Aquele que quer atravessar um rio a nado, sem saber nadar, tem grande probabilidade de morrer afogado. Assim acontece na maioria das ocorrências da vida. Se o homem não empreendesse mais do que aquilo que está de acordo com as suas faculdades, triunfaria quase sempre; o que o perde é o seu amor-próprio e a sua ambição, que o desviam do caminho para tomar por vocação o simples desejo de satisfazer certas paixões. Então fracassa e a culpa é sua; mas, em vez de reconhecer o erro, prefere acusar a sua estrela. Há o que teria sido um bom operário, ganhando honradamente a vida, mas se fez mau poeta e morre de fome. Haveria lugar para todos, se cada um soubesse ocupara seu lugar.
863. Os costumes sociais não obrigam muitas vezes o homem a seguir um caminho errado? E não está ele submetido à influência das opiniões na escolha de suas ocupações? Isso a que chamamos respeito humano não é um obstáculo ao exercício do livre-arbítrio?
— São os homens que fazem os costumes sociais e não Deus; se a eles se submetem, é que lhes convêm. Isso também é um ato de livre-arbítrio, pois se quisessem poderiam rejeitá-los. Então, por que se lamentam? Não são os costumes sociais que eles devem acusar, mas o seu tolo amor-próprio, que os leva a preferir morrer de fome a infringi-los. Ninguém lhes pede conta desse sacrifício feito à opinião geral, enquanto Deus lhes pedirá conta do sacrifício feito à própria vaidade. Isso não quer dizer que se deva afrontar a opinião sem necessidade, como certas pessoas que têm mais de originalidade que de verdadeira filosofia. Tanto é desarrazoado exibir-se como um animal curioso, quanto é sensato descer voluntariamente e sem reclamações, se não se pode permanecer no alto da escada.
864. Se há pessoas para as quais a sorte é contrária, outras parecem favorecidas por ela, pois tudo lhes sai bem; a que se deve isso?
— Em geral, porque sabem orientar-se melhor. Mas isso pode ser, também, um gênero de prova: o sucesso as embriaga, elas se fiam no seu destino, e freqüentemente vão pagar mais tarde esse sucesso com reveses cruéis, que poderiam ter evitado com um pouco de prudência.
865. Como explicar a sorte que favorece certas pessoas em circunstâncias que não dependem da vontade nem da inteligência, como no jogo, por exemplo?
— Certos Espíritos escolheram antecipadamente determinadas espécies de prazer, e a sorte que os favorece é uma tentação. Aquele que ganha como homem perde como Espírito: é uma prova para o seu orgulho e a sua cupidez.
866. Então, a fatalidade que parece presidir aos destinos do homem na vida material seria também resultado do nosso livre-arbítrio?
— Tu mesmo escolheste a tua prova; quanto mais rude ela for, se melhor a suportas, mais te elevas. Os que passam a vida na abundância e no bem-estar são Espíritos covardes que permanecem estacionários. Assim, o número dos infortunados ultrapassa de muito o dos felizes do mundo, visto que os Espíritos procuram, na sua maioria, as provas que lhes sejam mais frutuosas. Eles vêem muito bem a futilidade de vossas grandezas e dos vossos prazeres. Aliás, a vida mais feliz é sempre agitada, sempre perturbada: não seria assim tão-somente pela ausência da dor. (Ver itens 525 e seguintes.)
867. De onde procede a expressão: Nascido sob uma boa estrela?
— Velha superstição, segundo a qual as estrelas estariam ligadas ao destino de cada homem; alegoria que certas pessoas fazem a tolice de tomar ao pé da letra.
(1) Temos nesta resposta, de maneira clara e precisa, uma exposição sucinta do que podemos chamar a dinâmica espírita do aperfeiçoamento humano. Através das quedas e advertências, dos riscos e do auxílio dos bons Espíritos, o homem de boa vontade irá vencendo os seus maus pendores e se preparando, já nesta existência, para uma vida melhor no futuro. Longe de nos desanimar, nossas quedas devem ser transformadas em degraus da escada do nosso melhoramento espiritual. Como se vê, a “auto-salvação” de que alguns religiosos nos acusam não e mais do que o desenvolvimento da vontade e da razão da criatura, sob a dispensação da graça de Deus, através de seus mensageiros, os bons Espíritos. (N. do T.)
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