A MULTIPLICAÇÃO DE PÃES E PEIXES
A História da Humanidade tem um livro basilar: A Bíblia (Antigo e Novo Testamento). Nela, está fundamentado o Espiritismo na Promessa do Consolador - Evangelho de João, cap. 14, vs. 16, 17 e 26 - que todos os espíritas conhecem. Por isso, é essencial que a estudemos e a analisemos considerando o "espírito da letra".
Para tal estudo, existem três interpretações principais: a literal, a alegórica e a simbólica. Por exclusão, a literal é conforme a letra e esta, de um modo geral, extrapola os limites do bom senso; a simbólica é conforme o símbolo-lingüístico ou numerológico; tal é para os cabalistas e não é o nosso caso... Logo, estas estão excluídas, descartadas.
Assim, nos definimos pela interpretação alegórica que é a mais racional e consentânea com os postulados espíritas, como veremos adiante.
Com estas considerações preliminares, temos em vista a interpretação de uma passagem evangélica narrada pelos quatro evangelistas:
A Multiplicação de Pães e Peixes. Vejamos cada um por sua vez:
Mateus narra a 1ª multiplicação, cap. 14: 13 a 21, e a 2ª, cap. 15: 32 a 39;
Marcos, idem, 1ª multiplicação, cap. 6: 34 a 44, e a 2ª, cap. 8: 1 a 10;
Lucas, idem, apenas uma multiplicação, cap. 9: 10 a 17; e
João, idem, ibidem, cap. 6: 1 a 14.
Remetemos os nossos diletos confrades e confreiras para a leitura dos textos evangélicos citados; observando a importância desta passagem evangélica, face à narrativa, quase com as mesmas palavras, pelos quatro evangelistas. E daí, buscarmos a sua interpretação, considerando-se a alegórica.
Esta interpretação exclui a ocorrência de quaisquer fenômenos, quer sejam de materialização ou de transporte, os quais, serão considerados adiante; simplesmente não existiu materialmente; apenas se trata de um ensinamento de Jesus comparando o alimento do corpo e do espírito, ou seja, o pão material para o corpo perecível e o pão espiritual para o espírito imortal.
Assim, não passa de uma parábola e se prodígio houve é o ascendente da palavra de Jesus, o Pão da Vida. "(...) Declarou-lhes, pois, Jesus: Eu sou o pão da vida; o que vem a mim, jamais terá fome; e o que crê em mim, jamais terá sede". (1)
A palavra de Jesus, o seu evangelho, redivivo pela Doutrina dos Espíritos, é o pão substancioso que nos mantém saciados espiritualmente e para sempre.
"(...) Essa força moral testemunha a superioridade de Jesus, bem mais do que o fato puramente material da multiplicação dos pães, que deve ser considerado como uma alegoria". (2)
Jesus deixou bem claro que se referia, à exaustão, ao alimento espiritual:
"(...) Trabalhai, não pela comida que perece, mas pela que subsiste para a vida eterna, a qual o Filho do homem vos dará; (...)" (3)
Como se vê, recordando Allan Kardec, repetimos: é ponto pacífico que a passagem evangélica, em apreço, deve ser considerada uma alegoria.
Porém, para a nossa maior ilustração, vamos recordar, também, o nosso irmão Cairbar Schutel que, com base na ciência espírita, isto é, no estudo e na explicação dos fenômenos e da mediunidade, interpretou, magistralmente, esta mesma passagem evangélica, considerando três hipóteses:
1ª) Materialização - "Inúmeros são os casos de produções por espíritos de matérias comestíveis. Desconhece-os só aquele que não estuda e não acompanha o movimento espírita que se manifesta no mundo inteiro. Seria então ousada, como hipótese de trabalho, a afirmação de ter Jesus, de colaboração com seus auxiliares espirituais, e de acordo com seus discípulos, que eram médiuns, materializado, confeccionado pães, com os elementos da natureza ao seu alcance?" (4)
2ª) Transporte - "(...) E se essa hipótese (materialização) não se verificasse, no caso vertente não se poderia, em face dos fenômenos de transportes, cuja realidade é proclamada hoje em todos os países do mundo, afirmar que os "pães da multiplicação" foram também transportados para alimentar a multidão faminta que naquela ocasião seguia o Mestre, arrebatada pelas consoladoras esperanças que ele a todos proporcionava?" (5)
3ª) Alegórica - "Encarando o fato pelo lado moral, poder-se-ia fazer dele uma parábola demonstrativa dos poderes de Jesus e das regalias que o Mestre oferece a quem desinteressadamente o segue." (6)
Eis Cairbar Schutel considerando, duma assentada, a viabilidade das hipóteses de materialização, transporte e alegórica; esta última, no final da sua lição.
Quanto a parte fenomênica, Cairbar Schutel, após discorrer sobre os fatos tratados por William Crookes e Russel Wallace, escreveu:
"Russel Wallace que fez experiências transcendentais, também afirma ter verificado produções de ervas e flores que não existiam na Europa. O Espírito as traria da China? É possível, mas neste caso os "pães da multiplicação" também poderiam ter vindo do Egito ou de outro pais. Os meninos Pansini, de Bari, Itália, que foram transportados à distância de 45 quilômetros em 15 minutos, por várias vezes tiveram, no quarto em que se achavam presos, grande quantidade de doces, confeitos e bombons" (...) (7)
Para reforçar a tese dos fenômenos de materialização ou de transporte, pinçamos no Velho Testamento os seguintes textos:
Elias multiplicou a farinha e o azeite da viúva de Sarepta (I Reis 17: 8 - 16); e
Elizeu multiplicou o azeite de uma viúva (II Reis 4: 1 - 7).
Voltando a recordar Allan Kardec, o insigne Codificador escreveu sobre o fenômeno de transporte: "(...) Consiste no transporte espontâneo de objetos que não existiam no lugar onde se está; estes são, o mais freqüentemente, flores, algumas vezes frutas, bombons, jóias, etc." (...) (8)
E mais: interrogando um Espírito, Allan Kardec perguntou:
"Entre os objetos transportados há os que podem ser fabricados pelos espíritos; quer dizer, produzidos espontaneamente pelas modificações que os espíritos podem impor ao fluido ou ao elemento universal?" (Resposta:)
"Não por mim, porque não tenho permissão para isso; só um Espírito elevado pode fazê-lo". (9)
Como se vê, os fenômenos de materialização e de transporte podem estar interligados; porém, somente um Espírito elevado pode executá-los.
Para saber mais, leiam O Livro dos Médiuns, 2ª Parte, Cap. VIII, Laboratório do Mundo Invisível e, para concluir, fazemos nossas as palavras de Cairbar Schutel:
"(...) De duas naturezas eram os pães que Jesus ofertou à multidão que pressurosa seguia seus passos: o pão para o corpo, e o pão para a alma, pão que sacia a fome do espírito. Elevemos-nos em reconhecimento e gratidão pelas muitas graças que quotidianamente dele vamos recebendo e não nos esqueçamos de que bem-aventurado não será só o que ouvir a Palavra do Evangelho, mas sim o que a puser em prática". (10)
(1) Evangelho de João,cap. 6, v. 35;
(2) A Gênese, Allan Kardec, cap. XV, nº 48;
(3) Evangelho de João, cap. 6, v. 27;
(4) O Espírito do Cristianismo, Cairbar Schutel, pág. 63, 4º Edição O Clarim - 1953;
(5) Idem, obra citada, pág. 63/64;
(6) Idem, ibidem, pág. 65;
(7) Idem, ibidem, pág. 63;
(8) O Livro dos Médiuns, Allan Kardec, 2ª Parte, cap. V, questão 96;
(9) Idem, obra citada, questão 99, nº 17; e
(10) O Espírito do Cristianismo, Cairbar Schutel, pág. 65, 4ª Edição O Clarim - 1953.
(as.) Julio Laurentino de Lima - juliollima@uol.com.br
(Artigo publicado na Revista Internacional de Espiritismo de Out/07, pág. 476)
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