Livre-Arbítrio e Fatalidade
Sérgio Biagi Gregório
SUMÁRIO: 1. Introdução. 2. Conceito. 3. Livre-Arbítrio e Liberdade. 4. Livre-Arbítrio e Fatalidade. 5. Lei de Causa e Efeito ou Lei da Ação e Reação. 6. Somos os Construtores de Nosso Destino. 7. O Carma. 8. Conclusão. 9. Bibliografia Consultada.
1. INTRODUÇÃO
O objetivo deste estudo é mostrar que o livre-arbítrio e a fatalidade caminham juntos em nosso modo de proceder.
2. CONCEITO
Livre-Arbítrio — quer dizer o juízo livre, é a capacidade de escolha pela vontade humana entre o bem e o mal, entre o certo e o errado, conscientemente conhecidos.
Fatalismo — Atitude ou doutrina que admite que o curso da vida humana está, em graus e sentidos diversos previamente fixado, sendo a vontade ou a inteligência impotentes para dirigi-lo ou alterá-lo.
Fatalidade
a) Diz-se que é fatal ou sucedido ou a suceder-se, marcado pelo destino, portanto, do que, necessariamente, tem de acontecer, ou necessariamente aconteceu. A fatalidade é a necessidade inevitável no desenvolvimento dos fatos históricos, que está prescrita por uma vontade determinante (o maktub, o que está escrito), que é superior a toda vontade humana (fatum, fado).
b) Diz-se, também, que é uma fatalidade um fato fortuito, devido ao acaso, inevitável, mas que é prejudicial aos interesses humanos.
c) Em sentido geral, fatalidade é sinônimo da necessidade das leis universais. (Santos, 1965)
Determinismo — Doutrinariamente considerado, o determinismo afirma que todos os fatos do universo são guiados inteiramente por determinantes, segundo certas leis.
Goblot, em seu "Vocabulário", define o Determinismo como uma doutrina segundo a qual todo fenômeno é determinado pelas circunstâncias nas quais ele se produz, de forma que, dado um estado de coisas, o estado de coisas que lhe segue, dela resulta necessariamente.
O determinismo é um conceito da razão, e a idéia da liberdade nos é dada pela intuição, pela intuição direta que cada um de nós tem de sua própria experiência. (Santos, 1965)
Carma — Nas filosofias da Índia é o conjunto das ações dos homens e suas conseqüências - somatório de tudo quanto fizemos de bom ou de ruim.
3. LIVRE ARBÍTRIO E LIBERDADE
Os pensadores do séc. XIX foram em grande número, partidários do determinismo, ensinando que a vontade se estabelece mecanicamente por seus antecedentes, não sendo possível a imprevisibilidade que constitui o ato livre. O século XIX caracteriza-se por uma euforia e por uma confiança ilimitada no método científico, que deveria até decifrar os próprios segredos da vida e da alma. Essa confiança estava assentada nos trabalhos de Darwin na biologia, de Pavlov e Freud na Psicologia, de Marx na Sociologia.
No séc. XX, a atmosfera científica mudou. O rígido determinismo sentiu-se abalado mesmo dentro do campo físico, onde nenhuma lei pode falar com absoluta segurança do exato comportamento de um elétron dentro de sua órbita — é o princípio do indeterminismo de Heisenberg. As predições científicas estão baseadas em regularidades estatísticas e não em relações de causa e efeito. Não há, pois, nenhum preconceito contra a liberdade ou livre-arbítrio. A psicologia moderna, por sua vez, procura colocar o problema do livre-arbítrio e da liberdade considerando esta última como uma ausência de impedimentos externos, quanto ao movimento. Quer se trate de liberdade de palavra, de crença ou de ação, pode reduzir-se a esta definição. Nesse sentido, a liberdade é compatível com as necessidade. Por exemplo, a água escorre necessariamente montanha abaixo, quando nada impede o seu movimento e quando, por conseguinte, de acordo com a definição é livre. Por tal motivo, alguns a definiram como "a necessidade feita consciente". A liberdade não consiste em quebrar as regras e as normas constritoras, mas em aperfeiçoá-las de tal modo que impeça o menos possível os movimentos de qualquer natureza dos indivíduos. (Enciclopédia Barsa)
4. LIVRE-ARBÍTRIO E FATALIDADE
De acordo com Allan Kardec, na pergunta 851 de O Livro dos Espíritos, a fatalidade não existe senão para a escolha feita pelo Espírito, ao encarnar-se, de sofrer esta ou aquela prova física; ao escolhê-la, ele traça para si uma espécie de destino, que é a própria conseqüência da posição em que se encontra. No tocante às provas morais e às tentações, o Espírito, conservando o seu livre-arbítrio sobre o bem e o mal, é sempre senhor de ceder ou resistir. Observe que a palavra fatalidade aqui usada tem mais o sentido de determinismo do que de fatalidade propriamente dita. (Kardec, 1995, p. 314) Nesse sentido, o Espírito Emmanuel, nas perguntas 132 a 139 de O Consolador , retrata as relações entre o determinismo divino e o livre-arbítrio da seguinte forma: Diz-nos que esses dois termos coexistem na vida, sendo o primeiro absoluto nas mais baixas camadas evolutivas e o segundo ampliando-se com os valores da educação e da experiência. É justamente essa ampliação do livre-arbítrio que dá ao ser humano as noções mais acuradas do que seja o bem e o mal, do justo e do injusto, no sentido de lhe ampliar as responsabilidades por suas ações em sociedade. Quer dizer, quanto mais sabemos, mais podemos saber, mas em contrapartida, mais aumenta o número de coisas que devemos evitar. (Xavier, 1977, p. 83 a 88)
5. LEI DE CAUSA E EFEITO OU LEI DA AÇÃO E REAÇÃO
O esquema da lei da ação e reação pode ser vislumbrado no seguinte esquema:
CAUSA (SOMA DOS ANTECEDENTES) = EFEITO (CONSEQÜENTE)
OU
CONSEQÜENTE = SOMA DOS ANTECEDENTES
Elemento importante: causa e efeito sucedem no tempo.
CAUSA + TEMPO = EFEITO
OU
SOMA DOS ANTECEDENTES + TEMPO = CONSEQÜENTE
Acontece que o tempo é irreversível.
Deste modo, não há semelhança qualitativa entre causa e efeito, mas apenas uma semelhança quantitativa. Querer reduzir efeito à causa é quantitativo. Esquecem-se os racionalistas de que essa igualização é apenas abstrata, e, se bem examinada, também não procede, porque há mutação qualitativa. Exemplo: H2+O = H2O (água). A água é qualitativamente diferente. O efeito é igual à causa apenas quantitativamente. (Santos, 1965)
6. SOMOS OS CONSTRUTORES DE NOSSO DESTINO
O ser humano, em cada uma de suas ações, está criando o seu próprio destino. O fato é mais ou menos intuitivo. Se escolho uma boa ação, crio um clima para mais boas ações no futuro; se escolho uma má ação, crio um ambiente negativo para outras ações no futuro. Nesse sentido, o fator educativo, que é a mudança de hábitos e atitudes, é de fundamental importância para modificar o determinismo de nossa ações futuras.
7. O CARMA
O termo "carma" merece destaque nesse estudo. Observe que sempre usamos essa palavra no sentido pejorativo: coisa má , sofrimento, pena, pagamento. Esquecemo-nos de que na sua etimologia sânscrita significa o somatório dos méritos e dos deméritos de cada alma. Quer dizer, temos tanto ações boas como ações más armazenadas em nosso passivo espiritual. Relacioná-lo somente às coisas negativas é interpretar o fato erroneamente. Precisamos vê-lo dentro de um todo maior.
8. CONCLUSÃO
Exercitemos o nosso livre-arbítrio, porém ponderemos o móvel de cada uma da nossas ações. É possível que estejamos nos aprisionando, onde deveríamos estar nos libertando.
9. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
Enciclopédia Barsa. Rio de Janeiro/São Paulo, Encyclopaedia Britannica, 1993.
KARDEC, A. O Livro dos Espíritos. 8. ed., São Paulo, FEESP, 1995.
SANTOS, M. F. dos. Dicionário de Filosofia e Ciências Culturais. 3. ed., São Paulo, Matese, 1965.
XAVIER, F. C. O Consolador, pelo Espírito Emmanuel. 7. ed., Rio de Janeiro, FEB, 1977.
São Paulo, dezembro de 1995
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