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Estudando o Espiritismo
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terça-feira, 4 de setembro de 2012
O Pão da Vida
Livro: A Constituição Divina
Richard Simonetti
“Porque provê a Natureza, por si mesma, a todas as necessidades dos animais”?
“Tudo em a Natureza trabalha. Como tu, trabalham os animais, mas o trabalho deles, de acordo com a inteligência de que dispõem, se limita a cuidarem da própria conservação. Daí vem que do trabalho não lhes resulta progresso, ao passo que o do homem visa duplo fim: a conservação do corpo e o desenvolvimento da faculdade de pensar, o que também é uma necessidade e o eleva acima de si mesmo...” O Livro dos Espíritos – Questão nº 677 (Da Lei do Trabalho)
É elementar que não podemos analisar a Bíblia em seu sentido literal, sob pena de cairmos em infantilidades como a de supor que Deus tenha criado o Universo em seis dias, descansando no sétimo, como se fora um operário cósmico.
Ao longo do Velho Testamento está sempre presente a concepção antropomórfica de um criador à imagem e semelhança do Homem, com os mesmos impulsos passionais, os mesmos desejos e contradições e até a necessidade de descansar.
O Universo, segundo está definido pela Ciência, tem no mínimo quinze bilhões de anos; a Terra, perto de quatro bilhões e meio. São eternidades diante dos acanhados quatro ou cinco mil anos que nos fazem supor os textos bíblicos para o início de tudo.
Da mesma fora, é ridículo, em face do conhecimento atual, conceber que Deus tenha moldado Adão de argila, soprando-lhe a vida, e que uma de suas costelas foi a matéria-prima para o nascimento de Eva. Sabemos hoje que a presença do Homem na Terra representa a culminância de uma evolução que começou há bilhões de anos, com manifestações primitivas de vitalidade, em organismos unicelulares que se desenvolveram lentamente, até atingir a complexidade necessária para a manifestação da inteligência.
A Bíblia revela que Adão e Eva perderam o paraíso por terem cometido o “pecado” de comer o fruto da árvore da ciência do bem e do mal. Um incrível absurdo, se tomado ao pé-da-letra. Imaginemos um pai ameaçando o filho: “Dar-lhe-ei proteção, alimento, moradia e atenção, mas com uma condição: que você permaneça na ignorância. A partir do momento em que se atrever a qualquer empenho de aprendizado eu o expulsarei!” E como Adão e Eva poderiam incorrer em desobediência se, antes de cometerem o “crime” de discernir entre o bem e o mal, não tinham noção do que é certo ou errado, justo ou injusto, obedecer ou desobedecer? Erich Fromm, famoso psicanalista alemão, escreve que o pecado original simboliza a conquista da razão. A partir do momento em que algumas espécies animais, parentes dos símios antropóides, começaram a ensaiar o raciocínio, saíram da Natureza, isto é, deixaram de ser conduzidas e se viram na contingência de caminhar com seus próprios pés. Surgia, assim, o Homem, o ser pensante, que perdia o paraíso ou, mais exatamente, a plena identificação com a vida natural.
O castigo divino, “ganhar o pão de cada dia com o suor do rosto”, registrado na Bíblia, apenas exprime uma contingência imposta pelas necessidades evolutivas do Homem, não mais um simples animal irracional, controlado pelo instinto, mas um ser inteligente chamado a exercitar o livre-arbítrio.
O trabalho configura-se, assim, como uma lei de observância indispensável, não apenas em favor de sua sobrevivência, mas também para que desenvolva a inteligência e supere em definitivo os resquícios da irracionalidade.
No irracional, guiado pelo instinto, o esforço pela subsistência é mínimo. A mãe natureza o atende. No homem, orientado pela razão, que deixou o berço e começa a andar, há uma solicitação bem maior de trabalho que tanto mais complexo se torna quanto maior o seu desenvolvimento intelectual, sofisticando suas necessidades de conforto e bem estar.
O aprimoramento da inteligência é uma bênção, mas lhe impõe dúvidas e incertezas que não existiam no “paraíso”.
A principal delas é saber sobre si mesmo, decifrar os porquês da existência e, sobretudo, descobrir o que há além da dimensão física, já que algo lhe diz, nas profundezas da Alma, que a Vida sobrepõe-se à morte do corpo físico.
Para tanto é preciso trabalhar por um outro tipo de alimento, que muito mais que o mero suor do rosto, exige o desenvolvimento da sensibilidade, a disciplina das emoções e muita humildade, para que, habilitado a enxergar além das limitações físicas, encontre os sinais de sua gloriosa destinação.
Algo desse “pão da vida” foi oferecido ao Homem num instante glorioso da história humana, por um mensageiro divino que se chamou Jesus.
Livro: A Constituição Divina
Richard Simonetti
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