Estudando o Espiritismo

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terça-feira, 18 de setembro de 2012

O Centro Espírita e a Individuação



Claudio C. Conti
Inúmeras são as atividades em um Centro Espírita, dentre elas pode-se ressaltar o estudo de
temas doutrinários e, conseqüentemente, a aplicação prática daquilo que é aprendido teoricamente
que é o auxílio àqueles que, ao menos aparentemente, se encontrem em situação mais precária, seja
material ou emocionalmente. Todos os programas de trabalho são desenvolvidos com a única
finalidade de promover a transformação íntima do indivíduo, porém, apesar de serem ferramentas
poderosíssimas, o que é efetivamente capaz de produzir mudança do padrão comportamental será
algo que somente existe dentro de cada um. Este algo é que necessita encontrar ambiente propício
para entrar em ação.
Segundo este raciocínio, a principal função do Centro Espírita é propiciar condições para
que o individuo encontre a si mesmo.
Para o entendimento desta questão, faremos uso da teoria proposta por C. G. Jung sobre o
que denominou de "individuação" e "persona" [1].
Em linhas gerais, a individuação seria o processo pelo qual o indivíduo se despojará de
falsos invólucros da persona; enquanto que esta, por sua vez, seria a forma como este mesmo
indivíduo se mostrará diante das diferentes situações nas quais se depara na vida cotidiana,
escondendo, sob “pesadas fantasias”, o que realmente é.
Em outras palavras, o nosso comportamento perante os diversos grupos sociais dos quais
fazemos parte seriam como máscaras. Em cada situação nosso comportamento é condizente com o
meio, seja por uma questão de medo ou para que possamos extrair algo de que se necessita ou que
se queira.
Tomemos como exemplo o possível comportamento de um mesmo individuo em três
momentos de sua vida:
- No Centro Espírita: durante sua estada naquele ambiente especial, seria bondoso, paciente,
prestativo e solicito, pois, desta forma, poderia granjear a amizade e consideração dos outros
integrantes.
- No ambiente doméstico: seria um tirano, promovendo o medo de seus familiares, pois, desta
maneira, teria seus caprichos e vontades atendidas.
- No ambiente profissional: seria ardiloso, produzindo situações em que desmerecesse seus
companheiros e, nestas oportunidades, posaria de superior para, então, tirar algum proveito ou
galgar postos mais altos.
Caso os três comportamentos apresentados acima não  sejam passageiros, fruto de uma
perturbação momentânea ou de um simples ajustamento com uma nova conjuntura, persistindo por
longo período de tempo, poderíamos dizer que existem três personas existentes na mesma psique.
Em outras palavras, três personalidades ínsitas na mesma individualidade, sobressaindo aquela que
for considerada a melhor para o estimulo recebido, que seriam o ambiente e as pessoas envolvidas
com o local.
Percebe-se que, no exemplo exposto, o Centro Espírita funcionou como um catalisador para
que uma persona especifica encontrasse campo propício para se mostrar e tornar-se conhecida do
próprio individuo que, até entrar em contato com aquele modo de agir e pensar, desconhecia esta
particularidade sua.
Todavia, enquanto o comportamento trino satisfizer suas necessidades e se sentir feliz com
tal situação, não haverá motivo para que busque alterá-la.
Com o tempo, que poderá ser mais ou menos longo, podendo, inclusive, durar mais de uma
encarnação, o indivíduo tenderá a se cansar, pois a manutenção destas personas requer um gasto
excessivo de energia. Além disto, o aprimoramento moral a que todos estamos fadados irá atingi-lo também. A partir deste momento surgirá o desconforto proveniente de comportamentos tão
diferentes e inadequados, acenando que o momento da renovação há chegado.
Como o processo evolutivo do espírito ocorre gradativamente, o indivíduo em questão,
inicialmente, não conseguirá homogeneizar suas atitudes. Por este motivo, diante de situações em
que possa tirar algum proveito no ambiente profissional, por exemplo, aquela persona especifica,
que ainda está presente, surgirá com toda a força, independentemente da sua nova disposição.
Após alguns fracassos na tentativa para controlar aquela componente de sua individualidade
que se quer anular e que passou a ser um visitante  indesejado, poderá considerar impossível a
mudança e, por isso, desistir do esforço. Caso isto ocorra, será necessário um período de tempo
ainda maior para que, através de experiências ainda mais desagradáveis que fatalmente advirão,
segundo a lei de causa e efeito, novamente busque a conciliação dos seus atos.
Porém, persistindo em sua intenção de transformação, a cada momento sentirá mais
desconforto pelo seu comportamento trino, promovendo, desta forma, o fortalecimento daquela
persona pela qual optou para suplantar as outras, até que ela esteja suficientemente fortalecida e,
conseqüentemente, as outras enfraquecidas, para, então, sobressair em todos os momentos.
Sob este prisma, pode-se facilmente compreender que antes de alguém se decidir por uma
tendência específica de comportamento, é preciso, antes de tudo, que esta lhe seja conhecida.
Poderá, desta forma, experienciar as benesses que possam lhe propiciar umas e os malefícios de
outras posturas que lhe são comuns. Em suma, é necessário o mínimo de autoconhecimento.
Sendo filhos de Deus e estando fadados a perfeição  relativa, somente se alcançará a
plenitude, estado de perfeita harmonia consigo mesmo, quando livres das tendências negativas para
que, então, a luz interior possa brilhar. A descoberta deste verdadeiro “eu” é que precisa ser
alcançado.
Este é o processo descrito pelos responsáveis pela Codificação para a evolução do espírito e,
como a verdade surge sempre de todos os lados, é também o processo descrito por Jung para o que
ele denominou de "individuação", que nada mais é do que "tornar-se um ser único" [2].  
O ambiente fraterno do Centro Espírita, por sua vez, é fundamental para que o individuo
conviva, não apenas com pessoas de boa vontade, mas, principalmente, por ter a oportunidade de
conhecer aquela sua porção bondosa e os benefícios que possa lhe trazer.
Por este motivo, é fundamental demonstrar a necessidade da freqüência no Centro Espírita e,
mais ainda, ressaltar a importância do grande passo que foi dado por já ser capaz de, pelo menos
naquele ambiente, agir com harmonia e tranqüilidade e que, através do trabalho perseverante,
aquele comportamento será uma constante em todo e qualquer local em que esteja.
Muitas vezes, no trabalho de divulgação da Doutrina Espírita, seja palestras ou através de
uma simples conversa, na ânsia de fazer com que aqueles que nos ouvem vislumbrem os benefícios
de um comportamento sadio, enfatizamos a necessidade da reforma íntima como sendo essencial e
urgente. Apesar deste conceito não estar errado, como a renovação do espírito é gradativa, muito
poucos estão na condição desta transformação rápida, por isso, estes que nos ouvem podem, devido
à aflição gerada por tentativas frustradas, desenvolver estados depressivos ou, até mesmo, desistir.
Afinal, aqueles que ainda não estiverem amadurecidos o suficiente não serão tocados, nem mesmo
quando pressionados insistentemente.
Talvez uma abordagem mais amena seja muito mais eficaz, salientando que pequenos
avanços são, na realidade, grandes passos que precisam e devem ser cultivados para, com o passar
do tempo, encontrarem terreno fértil e assim, cada vez mais, o individuo estará em condições de
controlar as más inclinações existentes em todos nós.
A Doutrina Espírita não faz milagres, afinal, milagres não existem, mas fornece subsídios
para aqueles que queiram viver cada vez melhor consigo mesmo e com os outros. Todavia, o
trabalho e a perseverança são necessários.
Referência: [1] C. G. Jung, O Eu e o Inconsciente, 16a. edição, Editora Vozes, 2002, pg. 50.
[2] C. G. Jung, O Eu e o Inconsciente, 16a. edição, Editora Vozes, 2002, pg. 49.

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