INDIVIDUAÇÃO OU INDIVIDUALISMO?
A palavra conceito quer dizer idéia que temos de algo ou alguém. Analisamos a vida e os fatos pela ótica individual de nossas conceituações. Nosso entendimento não ultrapassa esse limite.
Alguns desses conceitos resultam da vivência. Foram estruturados pelo uso de todos os nossos sentidos, adquirindo significados. Chamamo-los experiência. Outros são fruto da capacidade de pensar e adquirir conhecimento. Determinam os pensamentos predominantes na vida mental. Quando criamos fixação emocional a esse padrão do pensar, nasce o preconceito.
A experiência leva ao discernimento. O discernimento é a porta para a compreensão. A compreensão identifica a verdade.
O preconceito conduz ao julgamento. O julgamento sustenta os rótulos. Os rótulos distanciam da realidade.
A atitude construtiva na Obra da Criação depende da habilidade de relativizar. Até mesmo a experiência, por mais preciosa, necessita ser continuamente repensada, evitando a estagnação em clichês.
A vida é regida pela suprema Lei da Impermanência. Certo e errado são critérios sociais mutáveis sob a perspectiva sistêmica. Apesar disso, são referências úteis à maioria dos habitantes da Terra. Funcionam como estacas disciplinadoras. Porém, em certa etapa do amadurecimento espiritual, constituem amarras psicológicas na descoberta da realidade pessoal, cuja riqueza está nos significados únicos construídos a partir dos ditames conscienciais.
Jung chamou de individuação o processo paulatino de expressar nossa singularidade, isto é, a Marca de Deus em nós; o ato de talhar a individualidade, aquele ser distinto e único que está latente dentro de nós.
Na individuação o critério certo/errado é substituído por algumas perguntas: convém ou não? Quero ou não? Serve ou não? Necessito ou não? Questões cujas respostas vêm do coração. Somente aprendendo a linguagem dos sentimentos poderemos escutar as mensagens da alma destinadas ao ato de individuar-se. E sentimento é valor moral aferível exclusivamente por nós mesmos no átrio sagrado da intimidade consciencial.
Somos aquilo que sentimos. As máscaras não destroem essa realidade. Quando aprendemos o auto-amor, abandonamos o crítico interno que existe em nós e passamos a exercer a generosidade do autoperdão, ou seja, a aceitação incondicional da criatura ainda imperfeita que somos. Nossa integração com a verdade depende do conhecimento dessa realidade particular: escutar a alma! Ela se manifesta na consciência cujos sentimentos constituem o espelho. Através das sensações, no seu sentido mais amplo, a alma se manifesta.
Escutando a alma, conectados à sua sabedoria interior, desligamos dos padrões, normas, ambientes, pessoas filosofias contrárias à nossa felicidade e inadequadas ao caminho particular de aprimoramento.
Saber o que nos convém, saber o que é útil exige dilatado discernimento aliado ao tempo. Quando usamos os rótulos certo/errado, fomentamos a culpa e a punição. Quando sabemos o que nos convém, agimos e escolhemos com responsabilidade na condição de autores do nosso destino. Quando amadurecemos, percebemos que certo e errado se tornam formas de entender, experiências diversificadas.
O caminho de ascensão para todos nós é o mesmo, apenas muda a maneira de caminhar. Cada criatura tem seu passo, seu ritmo, sua história.
Refletindo sobre conceitos, teçamos algumas ilações para que não nos confundamos: grande distância separa o processo da individuação da atitude de individualismo.
Na individuação temos: a necessidade, a alma, a consciência, a descoberta e criatividade, o preparo e o amadurecimento, experimentamos a realização pessoal, é fruto do amor, floresce o crescimento espiritual.
No individualismo temos: a prevalência do interesse pessoal, a personalidade, o ego, a imitação e a disputa, a precipitação, a insaciedade, é a leira do egoísmo, é a sementeira do egoísmo.
O individualista também caminha em seu processo de individuação. Evidentemente, com menos consciência de suas reais necessidades, permitindo larga soma de interesses particularistas.
Do Livro: ESCUTANDO SENTIMENTOS – a atitude de amar-nos como merecemos
Wanderley de Oliveira – Espírito Ermance Dufaux
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