Gênese e Espiritismo
Sérgio Biagi Gregório
SUMÁRIO: 1. Introdução. 2. Conceito. 3. Gênese: Aspectos Gerais. 4. Gênese Planetária. 5. Gênese Moisaica. 6. Gênese Orgânica. 7. Gênese Espiritual. 8. Conclusão. 9. Bibliografia Consultada.
1. INTRODUÇÃO
A inquietação do homem leva-o a perquirir sobre a origem da vida e do Universo. Pergunta: o que estou fazendo aqui? De onde vim? Para onde vou? Qual a finalidade da minha vida? A Bíblia e a Ciência fornecem-lhe algumas explicações. Nosso propósito é analisá-las sob a ótica da Doutrina dos Espíritos
2. CONCEITO
Gênese - do gr. genesis. Sistema cosmogônico; a geração; sucessão dos seres; conjunto dos fatos que concorrem para a produção de qualquer coisa. Biol. Formação, produção ou desenvolvimento de uma célula, um órgão, um indivíduo ou uma espécie. Fisiol. Modo de formação dos elementos anatômicos, de acordo com o qual se formam, mais ou menos rapidamente, corpos sólidos ou semi-sólidos, a partir das substâncias líquidas (Enciclopédia Brasileira Mérito).
3. GÊNESE: ASPECTOS GERAIS
A gênese se divide em duas partes: a história da formação do mundo material e da Humanidade considerada em seu duplo princípio, corporal e espiritual. A Ciência se tem limitado à pesquisa das leis que regem a matéria.
Mas a história do homem, considerado como ser espiritual, prende-se a uma ordem especial de idéias, que não são do domínio da Ciência propriamente dita e das quais, por esse motivo, não tem ela feito objeto de suas investigações. A filosofia, a cujas atribuições pertence, de modo mais particular, esse gênero de estudos, apenas há formulado, sobre o ponto em questão, sistemas contraditórios, que vão desde a mais pura espiritualidade, até a negação do princípio espiritual e mesmo de Deus, sem outras bases, afora as idéias pessoais de seus autores (Kardec, 1975, cap. 4, item 11, p. 90).
4. GÊNESE PLANETÁRIA
De acordo com a Ciência, a origem do Universo pode ser descrita da seguinte forma: no princípio não havia absolutamente nada. Mas antes do Big Bang da criação, não havia sequer nenhum espaço vazio. O espaço e o tempo bem como a matéria e a energia, criaram-se nessa explosão, e não havia um "fora" para onde o Universo explodisse, pois no momento mesmo em que acabava de nascer iniciava a sua grande expansão, o Universo continha tudo, inclusive todo o espaço vazio (Gribbin, 1983, p. 5).
No que tange à origem da Terra, a coisa mais importante que sabemos é que o nosso planeta nativo se formou ao mesmo tempo que o Sol e o resto do Sistema Solar pela condensação de uma nuvem de gás no espaço interestelar (Gribbin, 1983, p. 107).
O Espiritismo, na Gênese planetária, compatibiliza-se com a Ciência, entendendo que o procedimento científico é a forma pela qual ele pode construir o conhecimento, com o acréscimo apenas de certos dados de ordem espiritual, uma vez que todos os acontecimentos são planejados, iniciados e guiados no plano extraterreno (Curti, 1980, p. 17).
Assim, segundo o Espírito Emmanuel, Jesus recebeu o orbe terrestre, desde o momento em que se desprendia da massa solar e, junto a uma legião de trabalhadores, presidiu à formação da lua, à solidificação do orbe, à formação dos oceanos, da atmosfera e à estruturação do globo nos seus aspectos básicos, estatuindo os regulamentos dos fenômenos físicos da Terra, organizando-lhe o equilíbrio futuro na base dos corpos simples da matéria (Xavier, 1972, cap. 1).
O amor de Jesus foi o verbo da criação do princípio. "Atingido o momento, Jesus reuniu nas alturas os intérpretes divinos do seu pensamento. Viu-se, então, descer sobre a Terra, das amplidões dos espaços ilimitados, uma nuvem de forças cósmicas, que envolveu o imenso laboratório planetário em repouso. Daí a algum tempo, na crosta solidificada do planeta, como no fundo dos oceanos, podia-se observar a existência de um elemento viscoso que cobria toda a Terra.
Estavam dados os primeiros passos no caminho da vida organizada. Com essa massa gelatinosa, nascia no orbe o protoplasma e, com ele, lançara Jesus à superfície do mundo o germe sagrado dos primeiros homens" (Xavier, 1972, p. 22 e 23).
5. GÊNESE MOISAICA
Segundo a Bíblia, no princípio dos tempos Deus criou, simultaneamente, todas as plantas e animais superiores, a partir da matéria inerte. Deus, do pó da terra, forma o primeiro homem - Adão -, sopra-lhe as narinas e lhe dá vida. Retira-lhe uma de suas costelas e cria a Eva. Esta é tentada pela serpente e come, juntamente, com Adão o fruto proibido - a maçã. Literalmente considerada, esta noção é mitológica e antropomórfica. Dá-se a impressão que Deus é um ceramista que manuseia os seres criados por Ele.
Allan Kardec, no capítulo XII de A Gênese, esclarece-nos com precisão a linguagem figurada da Bíblia. Adão e Eva não seria o primeiro e único casal, mas a personificação de uma raça, denominada adâmica; a serpente é o desejo da mulher de conhecer as coisas ocultas, suscitado pelo espírito de adivinhação; a maçã consubstancia os desejos materiais da humanidade.
6. GÊNESE ORGÂNICA
A Ciência ainda não sabe como a vida se originou. A hipótese mais aceite é a de que a vida evoluiu a partir da existência de matéria orgânica inerte dissolvida na água.
No início, há 5 bilhões de anos, as temperaturas eram quentes demais para permitir a existência de protoplasma, a matéria prima das células vivas. A água, um dos principais componentes do protoplasma, só estava presente como vapor, um entre muitos gazes na quente e escura atmosfera. Depois de arrefecida, formou-se a água e com ela a vida.
O primeiro passo na evolução foi a formação de células vivas, o segundo foi a expansão da vida, a partir do lodo e pântano. Assim, O protoplasma evolui para as bactérias, as bactérias para os vírus, os vírus para as amebas, as amebas para as algas, as algas para as plantas, as plantas para os animais até chegar à formação do homem.
Em termos do tempo:
Há ± 4.500 milhões de anos - as mais antigas rochas conhecidas;
Há ± 4.000 milhões de anos - a água condensa-se;
Há ± 3.800 milhões de anos - aparecimento das moléculas orgânicas;
Há ± 3.500 milhões de anos - aparecimento das moléculas de polímero;
Há ± 3.300 milhões de anos - aparecimento das bactérias anaeróbias;
Há ± 2.900 milhões de anos - aparecimento das bactérias anaeróbias com fotossíntese;
Há ± 2.000 milhões de anos - aparecimento das algas, dos protozoários e das bactérias;
Há ± 800 milhões de anos - aparecimento das plantas e dos animais (Taylor, 1983, p. 18 e 19).
O surgimento do Homem (estudos fósseis)
Há ± 25 milhões de anos - o Pliopithecus, um pequeno primata que conseguia andar só em dois pés;
Há ± 14 milhões de anos - o Ramapithecus, o primeiro primata que se assemelha mais ao homem do que aos símios;
Há ± 5 milhões de anos - o Australopithecus, criatura de corpo muito humano semelhante ao chimpanzé na cabeça e na cara;
Há ± 750.000 anos - o Homo erectus.
O Homo erectus andou pela Terra pelo menos durante um milhão de anos fazendo descobertas tão importantes como o domínio do fogo para se aquecer e preparar alimentos. Depois deus origem ao homem moderno, o Homo sapiens. Alguns fósseis do homem moderno datam de há 250.000 anos. Quando o Homo sapiens aparece em cena, em maior número, (150.000 a 160.000 anos), não é com um só tipo mas, pelo menos, dois. O de testa mais curta destes "antigo-modernos" é o Homo sapiens neanderthalis ou Homem de Neanderthal. Provavelmente, desapareceu há cerca de 30.000 anos, deixando só o seu primo de fronte majestosa, o Homo sapiens sapiens, herdeiro da Terra (Taylor, 1983, p. 34 e 35).
Sintetizando:
o átomo evolui para a molécula simples, a molécula simples para a molécula complexa, a molécula complexa para a molécula protéica, a molécula protéica para molécula de ADN, a molécula de ADN para o organismo unicelular e o organismo unicelular para o organismo pluricelular (Enciclopédia Combi).
Há um problema não solucionado: como da evolução química se passa à evolução biológica?
Segundo o Espiritismo, a vida, também, é o resultado desta complexa evolução comprovada pela Ciência. Allan Kardec, em A Gênese, André Luiz, em Evolução em Dois Mundos e Emmanuel, em A Caminho da Luz, atestam para a formação da camada gelatinosa, depois das altas temperaturas e resfriamento pelo qual passou o nosso planeta, na época de sua constituição, há cinco bilhões de anos. Há o aparecimento do protoplasma e toda a cadeia evolutiva. A diferença entre Ciência e Espiritismo é que o segundo faz intervir a ação dos Espíritos no processo de evolução.
7. GÊNESE ESPIRITUAL
Vimos toda a cadeia evolutiva orgânica. Mas o que dá vida à matéria inerte? Allan Kardec diz-nos que o princípio inteligente é que anima a matéria.
Como entender esse raciocínio?
Deus é a causa primária de tudo. DELE vertem-se dois PRINCÍPIOS: PRINCÍPIO ESPIRITUAL E PRINCÍPIO MATERIAL. Para que possamos entender essa trilogia espírita, necessitamos incluir a noção de fluido universal, elemento primordial da matéria. Condensando-se o Fluido Universal, teremos os vários tipos de matéria: matéria bruta, corpo físico, perispírito, fluido vital etc. O Espírito, como essência, difere de tudo o que conhecemos por matéria.
Questão: como se processa a união do princípio espiritual à matéria?
No ato da concepção, o perispírito se contrai até a dimensão de uma molécula, que se liga ao PRINCÍPIO VITO-MATERIAL DO GÉRMEN. Desenvolve-se unindo molécula por molécula ao novo corpo em formação. O Espírito fica ligado, não unido ao corpo físico. Somente quando a criança vem à luz é que se une por completo, quando se dá o fenômeno do esquecimento do passado e a tomada da consciência da nova existência terrena. (Kardec, 1975, cap. 9, item 18, p. 214)
Os Espíritos, para o Espiritismo, foram criados simples e ignorantes com a determinação de se tornarem perfeitos. Para isso, necessitam do contato com a matéria. André Luiz, em Evolução em Dois Mundos, cita que o princípio inteligente, estagiando na ameba, adquire os primeiros automatismos do tato; nos animais aquáticos, o olfato; nas plantas, o gosto; nos animais, a linguagem. Hoje, somos o resultado de todos os automatismos adquiridos nos vários reinos da natureza. Assim, no reino mineral adquirimos a atração; no reino vegetal, a sensação; no reino animal, o instinto; no reino hominal, o livre-arbítrio, o pensamento contínuo e a razão. (Xavier, 1977, cap. 4)
8. CONCLUSÃO
Embora não tenhamos condições de explicar a origem do Universo e da vida, nada nos impede de reverenciar a Deus, causa primeira de tudo, pela magnanimidade de sua obra. Que os bons Espíritos possam tirar-nos o véu do orgulho, a fim de que a humildade esteja sempre presente em nossas ações.
9. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
CURTI, R. Espiritismo e Evolução. São Paulo, FEESP, 1980.
Enciclopédia Brasileira Mérito.
GRIBBIN, J. Gênese: As Origens do homem e do Universo. Rio de Janeiro, Francisco Alves, 1983.
KARDEC, A. A Gênese - Os Milagres e as Predições Segundo o Espiritismo. 17. ed., Rio de Janeiro, FEB, 1976.
TAYLOR, R. A Evolução. Lisboa, Verbo, 1983.
XAVIER, F. C. A Caminho da Luz - História da Civilização à Luz do Espiritismo, pelo Espírito Emmanuel. Rio de Janeiro, FEB, 1972.
XAVIER, F. C. e VIEIRA, W. Evolução em Dois Mundos, pelo Espírito André Luiz, 4. ed., Rio de Janeiro, FEB, 1977.
São Paulo, julho de 2000
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