Estudando o Espiritismo

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sábado, 2 de março de 2019

Mensagem de companheiro

(Jésus Gonçalves)

“A ti, meu irmão, que assumiste comigo os pesados encargos da
existência num sanatório de hansenianos, sem possibilidades de cura física;
a ti, para quem a ciência da Terra não conseguiu trazer, tanto quanto a mim,
o medicamento salvador; a ti, que não tiveste, qual me ocorreu, a
consolação dos egressos; a ti, que sofres entre a fé viva e a dúvida
inquietante, entre a tentação à revolta e a aceitação da prova, acreditando-te frequentemente esquecido pelas forças do céu, ofereço a lembrança
fraternal destes versos.”

Não te admitas réu de afrontosa sentença,
Largado de hora em hora à sombra em que te esmagas,
Varando tanta vez humilhações e pragas
À feição de calhaus da humana indiferença.

Crueldade, paixão, injúria, crime, ofensa
Criaram-nos, um dia, a estamenha de chagas!…
No pretérito abriste o espinheiro em que vagas
E, embora a provação, trabalha, serve e pensa.

Ânsia, tribulação, abandono, amargura,
São recursos da lei com que a lei nos depura
O coração trancado em nódoas escondidas…

Bendize, amado irmão, as feridas que levas,
A dor extingue o mal e o pranto lava as trevas
Que trazemos em nós dos erros de outras vidas.


A estamenha de chagas

(J. Herculano Pires)

Jésus Gonçalves utiliza em seus versos expressões como túnica de
chagas e estamenha de chagas para figurar a condição em que viveu no final
da sua última existência terrena. A túnica de estamenha, grosseiro tecido de
lã, era vestimenta comum na Judeia do tempo de Jesus. Evidente o
simbolismo poético dessas expressões. Os judeus pobres vestiam-se de
estamenha, enquanto os ricos usavam túnicas refulgentes dos mais finos
tecidos. Mas na vida espiritual essa situação se invertia, como vemos na
parábola evangélica de Lázaro e o rico.

No soneto de Jésus Gonçalves vemos o mesmo processo. A estamenha
de chagas é tecida no passado da própria criatura pela sua crueldade e a sua
arrogância. No tear do destino os fios da loucura humana são tecidos pelas
nossas ações. E aquilo que tecemos é precisamente o que iremos vestir em
próxima existência. Ninguém, portanto, está sujeito na Terra a uma
“afrontosa sentença”, mas apenas submetido às consequências de seu
próprio comportamento em vida anterior. A cada um segundo as suas
obras, porque somente assim aprenderemos a vencer o mal, a superar
nossas tendências inferiores, nosso egoísmo criminoso.

Os “recursos da lei” não representam condenação implacável, mas
corrigenda necessária. Por isso escrevia Léon Denis: “A dor é uma lei de
equilíbrio e educação”. Mas nem por isso devemos pensar que os sofredores
não devem ser socorridos. A lei maior da caridade nos obriga a ajudar os
que sofrem. É o que ensina o item 27 do capítulo V de O Evangelho
Segundo o Espiritismo. É verdade que “a dor extingue o mal e o pranto lava
as trevas”, mas a indiferença ante a dor e o pranto do próximo é também
um mal que pode e deve ser extinto pela caridade. Socorrendo os que
sofrem estaremos tecendo, no tear do nosso destino, os fios da sensatez e
da bondade que nos preparam uma túnica de luz para o futuro.

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