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EUTANÁSIA - COMPILAÇÃO
02 - Após a Tempestade - pág. 66 - Eutanásia - Joanna de Ângelis
Tema de freqüente discussão, por uns defendida, por outros objurgada, a eutanásia, ou "sistema que procura dar morte sem sofrimento a um doente incurável", retoma aos debates acadêmicos, face à sua aplicação sistemática por eminentes autoridades médicas, em crianças incapazes físicas ou mentais desde o nascimento, internadas em Hospitais Pediátricos, sem esperanças científicas de recuperação ou sobrevivência ...
Prática nefanda que testemunha a predominância do conceito materialista sobre a vida, que apenas vê a matéria e suas implicações imediatas, em detrimento das realidades espirituais, reflete, também, a soberania do primitivismo animal na constituição emocional do homem.
Na Grécia antiga, a hegemonia espartana, sempre armada para a guerra e a destruição, inseriu no seu Estatuto o emprego legal da eutanásia eugênica em referência aos enfermos, mutilados, psicopatas considerados inúteis, que eram atirados ao Eurotas por pesarem negativamente na economia do Estado. Guiados por superlativos egoísmo e prepotência, apesar das arremetidas arbitrárias do exagerado orgulho nacional, fizeram-se vítimas da impulsividade belicosa que cultivavam ...
Outros povos, desde a mais remota antiguidade, permitiam-se praticar esse "homicídio exercido por compaixão ... Em circunstância alguma, ou sob qualquer motivo, não cabe ao homem direito de escolher e deliberar sobre a vida ou a morte em relação ao seu próximo.
Os criminosos mais empedernidos, homicidas ou genocidas dentre os mais hediondos, não devem ter ceifadas as vidas, antes serem isolados da convivência social, em celas, ou em trabalhos retificadores, nos quais expunjam sob a ação do tempo e da reflexão, que tarda mas alcança o infrator, fazendo-os expiar os delitos perpetrados. Mesmo quando em se tratando de precitos anatematizados por desconserto mental, não faltam Nosocômios judiciários onde possam receber conveniente assistência a que têm direito, sem que sejam considerados inocentes pelos crimes perpetrados ... Em recuperando a saúde, eventualidade excepcional que pode ocorrer, cerceados, pelo perigo de provável reincidência psicopática, poderão, de alguma forma, retribuir de maneira positiva à Sociedade, os danos que hajam causado.
No que tange aos enfermos ditos irrecuperáveis, convém considerar que doenças, ontem detestáveis quanto incuráveis, são hoje capítulo superado pelo triunfo de homens-sacerdotes da Ciência Médica, que a enobrecem pelo contributo que suas vidas oferecem a benefício da Humanidade. Sempre há, pois, possibilidade de amanhã conseguir-se a vitória sobre a enfermidade irreversível de hoje. Diariamente, para esse desiderato, mergulham na carne Espíritos Missionários que se aprestam e impulsionam o progresso, realizando descobrimentos e conquistas superiores para a vida, fonte poderosa de esperança e conforto para os que sofrem, em nome do Supremo Pai.
Diante das expressões teratológicas, ao invés da precipitação da falsa piedade em aliviar os padecentes dos sofrimentos, se há-de pensar na terapêutica divina, que se utiliza do presídio orgânico e das jaulas mentais para justiçar os infratores de vários matizes que passaram na Terra impunes, despercebidos, mas não puderam fugir às sanções da consciência em falta nem da Legislação Superior, à qual rogaram ensejo de recomeço, recuperação e sublimação porque anelavam pela edificação da paz íntima.
Suicidas, - esses pobres revoltados contra a Divindade -, que esfacelaram o crânio, em arremetidas de ódio contra a existência, reencarnam perturbados pela idiotia, surdez-mudez, conforme a parte do cérebro afetada, ou por hidrocefalias, mongolismos; os que tentaram o enforcamento, reaparecem com os processos da paraplegia infantil; os afogados padecem enfisema pulmonar; os que desfecharam tiros no coração, retomam sob o jugo de cardiopatias congênitas irreversíveis, dolorosas; os que se utilizaram de tóxicos e venenos, volvem sob o tormento das deformações congênitas, da asfixia respiratória, ou estertorados por úlceras gástricas, duodenais e cânceres devoradores; os que despedaçaram o corpo em fugas espetaculares, recomeçam vitimados por atrofias, deformações, limitações pungentes, em que aprendem a valorizar a grandeza da vida ...
Agressores, exploradores, amantes da rapinagem, das arbitrariedades, dos abusos de qualquer natureza, volvem aos cenários em que se empederniram, ou corromperam, ou infelicitaram, atingidos pelo sinete das soberanas leis da ordem e do equilíbrio, refazendo o caminho antes percorrido criminosamente e entesourando os sagrados valores da paciência, da compreensão, do respeito a si mesmos e ao próximo, da humildade, da resignação, armando-se de bênçãos para futuros cometimentos ditosos.
Quem se poderá atribuir o direito de interromper-lhes a existência preciosa, santificadora? As pessoas que se lhes vinculam na condição de pais, cônjuges, irmãos, amigos, também são-lhes partícipes dos dramas e tragédias do passado, responsáveis diretos ou inconscientes, que ora se reabilitam, devendo distender-lhes mãos generosas, auxílio fraterno, pelo menos migalhas de amor.
Ninguém se deverá permitir a interferência destrutiva ou liberativa por meio da eutanásia em tais processos redentores. Pessoas que se dizem penalizadas dos sofriimentos de familiares e que desejam os tenham logo cessados, quase sempre agem por egoísmo, pressurosos de libertarem-se do comprometimento e da responsabilidade de ajudá-los, sustentá-los, amá-los mais.
Não faltam terapêuticas médicas e cirúrgicas que podem amenizar a dor, perfeitamente compatíveis com a caridade e a piedade cristãs. A ninguém é dado precisar o tempo de vida ou sobrevida de um paciente. São tão escassos de exatidão os prognósticos humanos neste setor do conhecimento, quanto ocorre noutros!
Quantos enfermos, rudemente vencidos, desesperados, recobram a saúde sem aparente razão ou lógica?! Quantos outros homens em excelente forma, portadores de sanidade e robustez, são vitimados por surpresas orgânicas e sucumbem imprevisivelmente?!
O conhecimento da reencarnação projeta luz nos mais intrincados problemas da vida, dirimindo os equívocos e as dúvidas em torno da saúde como da enfermidade, da desdiita como da felicidade e contribuindo eficazmente para a perfeita assimilação dos postulados renovadores de que Jesus Cristo se fez vexilário por excelência e o Espiritismo, o consolador encarregado de demonstrá-lo nos tormentosos dias da atualidade.
Argumentam, porém, os utilitaristas, que as importâncias despendidas com os pacientes irrecuperáveis poderiam ser utilizadas para pesquisas valiosas ou para impedir-se que homens sadios enfermassem, ou para assistir-se convenientemente os que, doentes, podem ser salvos ... E devaneiam, utopistas, insensatos, sem considerarem as fortunas que são atiradas fora em espetáculos ruidosos e funestos de exaltação da sensualidade, do fausto exagerado, das dissipações, sem que lhes ocorram a necessidade da aplicação correta de tais patrimônios em medidas preventivas salutares ou socorro às multidões esfaimadas e nuas que enxameiam por toda parte, perecendo, à guisa de migalha de pão, chafurdando no desespero pela ausência de uma gota de luz ou uma insignificante contribuição de misericórdia.
Cada minuto em qualquer vida é, portanto, precioso para o espírito em resgate abençoado. Quantas resoluções nobres, decisões felizes ou atitudes desditosas ocorrem num relance, de momento? Penetrando-se, o homem, de responsabilidade e caridade, luarizado pela fé religiosa, fundada em fatos da imortalidade, da comunicabilidade e da reencarnação, abominará em definitivo a eutanásia, tudo envidando para cooperar com o seu irmão nos justos ressarcimentos que a Divina Justiça lhe outorga para a conquista da paz interior e da evolução.
05 – NOSSO LAR – FRANCISCO C. XAVIER (ANDRÉ LUIZ) – 30.Herança e Eutanásia – pág. 162
Ainda não voltara a mim da profunda surpresa, quando Salústio se aproximou, informando a Narcisa:
-Nossa irmã Paulina deseja ver o pai enfermo, no Pavilhão 5. Antes de atender, julguei razoável consultá-la, porque o doente continua em crise aguda. Mostrando gestos de bondade que lhe eram característicos, Narcisa acentuou:
-Mande-a entrar sem demora. Ela tem permissão da Ministra, visto estar consagrando o tempo disponível em tarefa de reconciliação dos familiares. Enquanto o mensageiro se despedia, apressado, a enfermeira bondosa acrescentava, dirigindo-se a mim:
-Você verá que filha dedicada!
Não decorrera um minuto e Paulina estava diante de nós, esbelta e linda. Trajava uma túnica muito leve, tecida em seda luminosa. Angelical beleza caracterizava-lhe os traços fisionômicos, mas os olhos denunciavam extrema preocupação. Narcisa apresentou-a delicadamente e, sentindo talvez que poderia confiar na minha presença, perguntou, algo inquieta:
-E papai, minha amiga?
-Um pouco melhor – esclareceu a enfermeira -, no entanto, ainda acusa desequilíbrios fortes.
-É lamentável – retrucou a jovem-, nem ele, nem os outros cedem no estado mental a que se recolheram. Sempre o mesmo ódio e a mesma displicência.
Narcisa nos convidou a acompanhá-la, e, minutos após, tinha diante de mim um velho de fisionomia desagradável. Olhar duro, cabeleira desgrenhada, rugas profundas, lábios retraídos, inspirava mais piedade que simpatia. Procurei, contudo, vencer as vibrações inferiores que me dominaram, a fim de observar, acima do sofredor, o irmão espiritual. Desapareceu a impressão de repugnância, aclarando-se-me os raciocínios. Apliquei a lição a mim mesmo. Como teria chegado, por minha vez, ao Ministério do Auxílio? Deveria ser horrível meu semblante de desesperado. Quando examinamos a desventura de alguém, lembrando as próprias deficiências, há sempre asilo para o amor fraterno, no coração.
O velho enfermo não teve uma palavra de ternura para a filha que o saudou carinhosa. Através do olhar, que evidenciava aspereza e revolta, semelhava-se a uma fera humana enjaulada.
-Papai, o senhor sente-se melhor? – perguntou com extremo carinho filial.
-Ai!... Ai!... – gritou o doente em voz ostentórica – não posso esquecer o infame, não posso descansar o pensamento.. Ainda o vejo ao meu lado, ministrando-me o veneno mortal!...
-Não diga isso, papai – pediu a moça delicadamente -, lembre-se que Edelberto entrou em nossa casa como filho, enviado por Deus.
-Meu filho?! – gritou o infeliz – nunca! Nunca!... É criminoso sem perdão, filho do inferno!...
Paulina falava, agora, com os olhos rasos d’água.
-Ouçamos, papai, a lição de Jesus, que recomenda nos amemos uns aos outros. Atravessamos experiências consangüíneas, na Terra, para adquirir o verdadeiro amor espiritual. Aliás, é indispensável reconhecer que só existe um Pai realmente eterno, que é Deus; mas o Senhor da Vida nos permite a paternidade ou a maternidade no mundo, a fim de aprendermos a fraternidade sem mácula. Nossos lares terrestres são cadinhos de purificação dos sentimentos ou templos de união sublime, a caminho da solidariedade universal. Muito lutamos e padecemos, até adquirir o verdadeiro título de irmão. Somos todos uma só família, na Criação, sob a bênção providencial de um Pai único. Ouvindo-lhe a voz muito meiga, o doente se pôs a chorar convulsivamente.
-Perdoe Edelberto, papai! Procure sentir nele, não o filho leviano, mas o irmão necessitado de esclarecimento. Estive em nossa casa, ainda hoje, lá observando extremas perturbações. Daqui, deste leito, o senhor envolve todos os nossos em fluidos de amargura e incompreensão, e eles lhe fazem o mesmo por idêntico modo. O pensamento, em vibrações sutis, alcança o alvo, por mais distante que esteja. A permuta de ódio e desentendimento causa ruína e sofrimento nas almas. Mamãe recolheu-se, faz algumas dias, ao hospício, ralada de angústia.
Amália e Cacilda entraram em luta judicial com Edelberto e Agenor, em virtude dos grandes patrimônios materiais que o senhor ajuntou nas esferas da carne. Um quadro terrível, cujas sombras poderiam diminuir, se sua mente vigorosa não estivesse mergulhada em propósitos de vingança. Aqui, vemo-lo em estado grave; na Terra, mamãe louca e os filhos perturbados, odiando-se entre si. Em meio de tantas mentes desequilibradas, uma fortuna de um milhão e quinhentos mil cruzeiros. E que vale isso, se não há um átomo de felicidade para ninguém?
Mas eu leguei enorme patrimônio à família – atalhou o infeliz, rancorosamente -, desejando o bem-estar de todos. Paulina não o deixou terminar, retomando a palavra:-Nem sempre sabemos interpretar o que seja benefício, no capítulo da riqueza transitória. Se o senhor assegurasse o futuro dos nossos, garantindo-lhes a tranqüilidade moral e o trabalho honesto, seu esforço seria de grande previdência; mas, às vezes, papai costumamos amealhar o dinheiro por espírito de vaidade e ambição. (.....)
06 – O CONSOLADOR –FRANCISCO C. XAVIER (EMMANUEL) – perg. 106, pág. 70
106) A Eutanásia é um bem, nos casos de moléstia incurável?
- O homem não tem o direito de praticar a eutanásia, em caso algum, ainda que a mesma seja a demonstração aparente de medida benfazeja. A agonia prolongada pode ter finalidade preciosas para a alma e a moléstia incurável pode ser um bem, como a única válvula de escoamento das imperfeições do Espírito em marcha para a sublime aquisição de seus patrimônios da vida imortal. Além do mais, os desígnios divinos são insondáveis e a ciência precária dos homens não pode decidir nos problemas transcendentes das necessidades do Espírito.
07 – O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO – ALLAN KARDEC – Cap. V – pág. 88
28.Um homem agoniza, presa de cruéis sofrimentos. Sabe-se que seu estado é sem esperanças. É permitido poupar-lhe alguns instantes de agonia, abreviando-lhe o fim?-Mas quem vos daria o direito de prejulgar os desígnios de Deus? Não pode ele conduzir um homem até a beira da sepultura, para em seguida retirá-lo, com o fim de fazê-lo examinar-se a si mesmo e modificar-lhe os pensamentos? A que extremos tenha chegado um moribundo, ninguém pode dizer com certeza que soou a sua hora final. A ciência, por acaso, nunca se enganou nas suas previsões?
Bem sei que há casos que se podem considerar, com razão, como desesperados. Mas se não há nenhuma esperança possível de um retorno definitivo à vida e à saúde, não há também inúmeros exemplos de que, no momento do último suspiro, o doente se reanima e recobra suas faculdades por alguns instantes? Pois bem: essa hora de graça que lhe é concedida, pode ser para ele da maior importância, pois ignorais as reflexões que o seu Espírito poderia ter feito nas convulsões da agonia, e quantos tormentos podem ser poupados por um súbito clarão de arrependimento.
O materialista, que só vê o corpo, não levando em conta a existência da alma, não pode compreender essas coisas. Mas o espírita, que sabe o que se passa além-túmulo, conhece o valor do último pensamento. Aliviai os últimos sofrimentos o mais que puderdes, mas guardai-vos de abreviar a vida, mesmo que seja em apenas um minuto, porque esse minuto pode poupar muitas lágrimas no futuro.
08 – O LIVRO DOS ESPÍRITOS – ALLAN KARDEC – VI – DESGOSTO PELA VIDA, SUICÍDIO
Perg. 953 – Quando uma pessoa vê à sua frente uma morte inevitável e terrível, é culpada por abreviar de alguns instantes o seu sofrimento por uma morte voluntária?
-Sempre se é culpado de não esperar o termo fixado por Deus. Aliás, haverá certeza de que ele tenha chegado, malgrado as aparências, e de que não se pode receber um socorro inesperado no derradeiro momento?
Perg. 953 A – Concebe-se que, em circunstâncias ordinárias, seja o suicídio repreensível, mas figuramos o caso em que a morte é inevitável e em que a vida só é abreviada por alguns instantes.
-É sempre uma falta de resignação e de submissão à vontade do Criador.
Perg. 953 B – Nesse caso, quais são as conseqüências de tal ação?
-Uma expiação proporcional à gravidade da falta, segundo as circunstâncias, como sempre.
14 – RELIGIÃO DOS ESPÍRITOS – FRANCISCO C. XAVIER (EMMANUEL) – pág. 59
Sofrimento e eutanásia. Reunião pública de 3.4.59. Questão nº. 944.
Quando te encontres diante de alguém que a morte parece nimbar de sombra, recorda que a vida prossegue, além da grande renovação...
Não te creias autorizado a desferir o golpe supremo naqueles que a agonia emudece, a pretexto de consolação e de amor, porque, muita vez, por trás dos olhos baços e das mãos desfalecentes que parecem deitar o último adeus, apenas repontam avisos e advertências para que o erro seja sustado ou para que a senda se reajuste amanhã.
Ante o catre da enfermidade mais insidiosa e mais dura, brilha o socorro da Infinita Bondade facilitando, a quem deve, a conquista da quitação.
Por isso mesmo, nas próprias moléstias reconhecidamente obscuras para a diagnose terrestre, fulgem lições cujo termo é preciso esperar, a fim de que o homem lhes não perca a essência divina. E tal acontece, porque o corpo carnal, ainda mesmo o mais mutilado e disforme, em todas as circunstâncias, é o sublime instrumento em que a alma é chamada a acender a flama de evolução.
É por esse motivo que no mundo encontramos, a cada passo, trajes físicos em figurino moral diverso. Corpos – santuários... Corpos – oficinas... Corpos – bênçãos... Corpos – esconderijos... Corpos – flagelos... Corpos – ambulâncias...Corpos – cárceres... Corpos – expiações...
Em todos eles, contudo, palpita a concessão do Senhor, induzindo-nos ao pagamento de velhas dívidas que a Eterna Justiça ainda não apagou. Não desrespeite, assim, quem se imobiliza na cruz horizontal da doença prolongada e difícil, administrando-lhe o veneno da morte suave, porquanto, provavelmente, conhecerás também mais tarde o proveitoso decúbito indispensável à grande meditação.
E usando bondade para os que atravessam semelhantes experiências, para que te não falte a bondade alheia no dia de tua experiência maior, lembra-te de que, valorizando a existência na Terra, o próprio Cristo arrancou Lázaro às trevas do sepulcro, para que o amigo dileto conseguisse dispor de mais tempo para completar o tempo necessário à própria sublimação.
16 - Saúde e Espiritismo - A.M.E. Brasil - pág. 11/365, 366 Ref. Esp.
Eutanásia: Apecto: Éticos e Espiritual
José Roberto Pereira do S. Pinto (Médico com especialidade em Clínica Médica, Reumatologia e Medicina Intensiva. Membro titular e fundador da Associação Médico-Espírita do Estado do Espírito Santo (AME-ES). Presidente daAME-ES (96-98). Segundo vice-pre-sidente do CRM-ES).
DEFINIÇÃO
A palavra eutanásia origina-se do grego euthanasia (eu=bom, thanatos=morte). O dicionário Aurélio conceitua eutanásia como morte serena, sem sofrimento, ou a prática pela qual se busca abreviar, sem dor ou sofrimento, a vida de um doente reconhecidamente incurável. Já na definição do jurista Hélio Gomes, é o direito que se pretende conferir a uma junta médica de dar a morte suave aos doentes que sofram dores insuportáveis, estejam atacados de doença incurável e o desejem ou solicitem.
HISTÓRICO
O termo eutanásia foi introduzido na literatura moderna pelo político e filósofo inglês Francis Bacon, que em 1605 escreveu: "O ofício do médico não é somente restabelecer a saúde, mas também acalmar as dores e os sofrimentos dos enfermos; e isto não é somente no tocante ao alívio da dor que contribui e conduz à convalescença, mas também a fim de procurar o enfermo, quando já não tem esperanças, uma morte doce e aprazível".
A história nos mostra que a prática da eutanásia vem sendo utilizada há séculos. Nos tempos de Hipócrates ( 400 a.C.), os médicos eram procurados pelos doentes fartos de viver para terem um alívio pela morte que um tóxico lhes facultaria. Hipócrates, preocupado com o problema, formularia em seu famoso julgamento: "...A ninguém darei para agradar, remédio mortal, nem conselho que o induza à perdição...".
Na índia antiga, os doentes incuráveis eram atirados ao rio Ganges, depois de se lhes vedar a boca e as narinas com a lama sagrada. Em Esparta, os recém-nascidos deformados e até mesmo os anciães, que não mais serviam aos propósitos guerreiros daquele povo, eram lançados do alto do monte Taijeto. O rei Saul, de Israel, gravemente ferido em combate, para furtar-se ao sofrimento e à possibilidade de cair vivo nas mãos dos filisteus, pediu insistentemente a um escudeiro que lhe tirasse a vida. Movido por piedade, o guerreiro praticou a eutanásia. Davi, quando informado da morte de Saul, sentenciou de morte o escudeiro que tirara a vida do ungido de Deus.
O gesto dos césares, voltando o polegar para baixo nos circos romanos, equivalia à prática da eutanásia. Os infelizes gladiadores, mortalmente feridos nos combates, viam assim abreviados os sofrimentos pela compaixão real. Fávero transcreve em seu livro um trecho da aula de Estácio de Lima: "Perto de Paris, adoece a filha de um médico, vitimada de difteria; na época doença de terrível prognóstico cuja evolução para o óbito ascendia à cifra espantosa de 99%. Valeu-se de tudo que possível o pai para salvar a filha. Vieram os fenômenos asfixicos.
A cianose da face era, então, o sinal precursor da morte! Consultara, em desespero de causa, os colegas de Paris. Nenhuma resposta. Doía-lhe, ao infinito, o espetáculo da ansiedade sem cura da pobrezinha. Pensa, nesse instante, em abreviar o desfecho. Uma injeção de ópio muito forte que aliviasse tudo, tudo...Pensou, e fez! Não falhou o tóxico. Veio, cedo, a serenidade definitiva... No momento do enterro recebeu um telegrama com os seguintes dizeres: Roux acaba de descobrir o soro anti diftérico, aplicando-o com êxito. Aguarde remessa...".
Exemplos contrários a essa prática são demonstrados no decorrer da evolução, como podemos observar nas citações de Fávaro: "Desgenetes, médico de Napoleão, recusou-se a cumprir ordens do seu chefe supremo para apressar a morte de soldados pestosos agonizantes. Respondeu, o médico, que o seu dever não era de apressar a morte e sim o de conservar a vida".
"Jesus, chegado ao calvário, onde ia ser submetido aos mais cruciantes suplícios, deram-lhe de beber, antes de pregá-lo na cruz, vinagre e fel, para que sofresse menos tempo. Mas ele, provando a mistura, não a quis tomar. Segundo estudiosos do assunto, essa bebida era chamada vinho da morte, preparada com a destilação de raízes da mandrágora. Tinha poder anestésico tão grande que um doente, depois de tomá-lo, podia submeter-se a intervenções cirúrgicas sem sofrer a mínima dor. Pois esse vinho especial era dado aos condenados à morte para que penassem menos tempo na execução."
JUSTIFICATIVA
De acordo com Hélio Gomes, os argumentos em geral invocados para justificar a eutanásia podem ser assim resumidos: dores insuportáveis, doenças incuráveis, vontade do enfermo que pede a morte e o ônus econômico resultante das moléstias incuráveis. Segundo Genival França, uma das mais sofridas experiências da vida humana é a dor. No entanto, por mais que ela comova não pode constituir um meio efetivo de medir-se a gravidade de um mal, nem tampouco autoriza a decidir sobre questões de vida ou de morte: não pode servir como recurso definitivo para aferir tão delicada situação.
Sobretudo, quando a medicina já se depara com meios potentes de vencer e dobrar o sofrimento doloroso. Muitas vezes a sensibilidade desaparece nos agonizantes no momento em que parecem sofrer mais. Os sinais exteriores de suas dores não são, na maioria das vezes, mais do que reflexos mecânicos que se manifestam fora do campo da consciência. A incurabilidade é um prognóstico, uma presunção, uma conjectura. Se o diagnóstico é falível, com muito mais razão o é também o prognóstico.
Por isso, a incurabilidade se conceitua de forma duvidosa, pois há enfermidades que numa época foram incuráveis e não são mais no momento; outras que ainda permanecem sem tratamento, mas nem assim pode se dizer até quando. Somem-se a isso as disponibilidades terapêuticas e diagnosticas de cada lugar e a capacidade técnica e intelectual de cada médico. Não se deve esquecer que a medicina é uma ciência biológica e não exata.
O pedido do enfermo para que lhe demos a morte, para que o aliviemos, para que o poupemos dos seus males, nenhum valor possui. É uma solicitação nula, pois parte de um cérebro desorganizado pelo sofrimento. O desejo de morrer dos moribundos e incuráveis é mais formalístico do que real. Basta uma noite mais tranquila, um alívio transitório, uma conversa amiga, para que a vontade de morrer desapareça.
Quanto ao ônus econômico que os doentes incuráveis representam, é dever das famílias e do Estado suportá-lo. Triste da sociedade que, num momento desses, volta as costas para quem precisa de amparo, afeto e de assistência.
CLASSIFICAÇÃO
Ferrando Mantovani, professor da Universidade de Florença, Itália, classifica a eutanásia da seguinte maneira:
A) Eutanásia coletiva: Dotada de uma finalidade pública, coletiva, não consensual. Abrange:
1) Eutanásia eugênica: propõe a eliminação da vida de indivíduos deformados, física ou psicologicamente, objetivando a melhoria da raça;
2) Eutanásia econômica: pretende a eliminação, sem dor, dos doentes terminais, dos inválidos e dos velhos, a fim de livrar a sociedade do peso dos economicamente indigentes;
3) Eutanásia criminal: busca a eliminação indolor dos indivíduos socialmente perigosos;
4) Eutanásia experimental: admite o sacrifício de vidas humanas em nome do progresso médico ou científico;
5) Eutanásia profilática: aceita a supressão indolor da vida de pessoa afetadas por doenças epidêmicas;
6) Eutanásia solidária: permite o sacrifício de indivíduos em favor da vida ou da saúde de outros (ex: retirada de órgãos para realização de transplantes).
B) Eutanásia individualista (ou piedosa): Expressa um sentimento de piedade em face das condições desfavoráveis em que se encontra a vítima. Pode ser consensual ou não consensual:
1) Eutanásia passiva (negativa ou ortotanásia): consiste na mera omissão ou interrupção do tratamento que sustenta a vida (ex: suspensão de medicamentos, da nutrição ou de aparelhos),
2) Eutanásia ativa (ou positiva): dá-se mediante um comportamento ativo, promovendo a morte rapidamente, por mo« tivo de compaixão ante um sofrimento insuportável (ex: injeção de substância tóxica na veia).
Considerando o conceito estrito de eutanásia, como morte piedosa, a classificação atualmente mais aceita divide a eutanásia em ativa e passiva.
Atualmente já se fala na distanásia, que seria o contrario da eutanásia, isto é, representa a utilização do máximo de recursos terapêuticos com o fim de prolongar, o mais possível, o momento da morte de um paciente em fase terminal, acrescentando somente mais sofrimemto e vida quantitativa, mais que qualidade de vida. O dicionário Aurélio conceitua a distanásia como morte lenta, ansiosa e com muito sofrimento.
CONCEITO DE MORTE
O médico enfrenta um dilema ao cuidar de um paciente em coma, sem perspectivas de melhora, tendo que usar de medidas extraordinárias ( meios pouco usuais, de custo elevado e de benefício dúbio ) para manter vivo aquele moribundo, o que pode levar mais sofrimento para o doente e sua família. Para evitar o uso de medidas extraordinárias de forma desnecessária e indiscriminada há de se caracterizar um conceito criterioso da morte.
O dr. Carlos Trejo Maturana define a morte como um processo e não uma brusca cessação da vida. Eis como ele a define: "Esse conceito de morte como a supressão de toda manifestação da vida em seu conjunto, é estática, é a descrição tardia, pouco operativa e não expressa a forma evolutiva, dinâmica da etapa final da vida. Nem todas as células e órgãos do corpo humano morrem simultaneamente. Tem uma relação direta com a sua reserva metabólica e também com a sua condição prévia, ao término do aporte energético.
Assim, pois, será o cérebro o primeiro a sucumbir à ausência de irrigação, porquanto praticamente não tem reserva metabólica e sua morte irreversível ocorre com segurança antes de oito a dez minutos; o fígado aos 20 ou 30 minutos; os pulmões de meia a uma hora; o coração aproximadamente em uma hora e meia; rins, duas horas e meia, etc. A morte dos órgãos é um processo gradual e, logicamente, haveria que se definir a morte, então, teoricamente quando se tem sobrepujado um limite que faz irreversível seu retorno à vida, mediante qualquer procedimento conhecido. A característica que define o processo da morte é a sua irreversibilidade".
A ciência médica, hoje, define o encéfalo como o órgão chave para o estabelecimento da morte. A morte do encéfalo ou a perda irreversível da sua função causará, de forma inevitável, em nosso estágio atual de conhecimento, a falência dos órgãos restantes do corpo num prazo médio de 48 a 72 horas, mesmo com a utilização de todo arsenal terapêutico moderno. Nessa situação, a respiração só pode ser mantida através de um aparelho, o coração funciona desde que a respiração lhe forneça o oxigênio vital e os outros órgãos manterão as funções vitais desde que o coração faça circular o sangue para levar o aporte energético necessário.
Portanto, o indivíduo em morte encefálica só mantém os sinais vitais nos demais órgãos, quando ligado a um respirador mecânico e em uso de drogas para manter uma circulação eficiente. Conclui-se, então, que ao se fazer o diagnóstico da morte encefálica fica selada a irreversibilidade do processo. O Conselho Federal de Medicina publicou no dia 8 de agosto de 1991 a Resolução 1.346/ 91 que define os critérios para o diagnóstico de morte encefálica:
"Considerando o ônus psicológico e material causado pelo prolongamento do uso de recursos extraordinários para o suporte de funções vegetativas em pacientes com parada total e irreversível da atividade encefálica; Considerando a necessidade judiciosa da indicação e interrupção do emprego desses recursos; Considerando a necessidade de se adotar critérios para constatar, de modo indiscutível, a ocorrência de morte; Considerando que ainda não há consenso sobre a aplicabilidade desses critérios em crianças menores de dois anos;
Resolve adotar os seguintes princípios: 1) Os critérios, no presente momento, para a caracterização da parada total e irreversível das funções encefálicas, em pessoas com mais de dois anos de idade, são em seu conjunto: a) Clínicos: coma aperceptivo com arreatividade inespecífico dolorosa e vegetativa, de causa definida. Ausência de reflexo, corneano, óculo-encefálico, óculo-vestibular e do vômito Positividade do teste de apnéia. Excluem-se dos critérios acima os casos de intoxicações metabólicas, intoxicações por droga ou hipotermia; b) Complementares: ausência das atividades bioelétricas ou metabólicas cerebrais ou da perfusão encefálica;
2) O período de observação desse estado clínico deverá ser de, no mínimo, seis horas;
3) A parada total e irreversível das funções encefálicas será constatada através da observação desses critérios registrados em protocolo devidamente aprovado pela Comissão de Ética da Instituição Hospitalar; 4) Constatada a parada total e irreversível das funções encefálicas do paciente, o médico, imediatamente, deverá comunicar tal fato aos seus responsáveis legais, antes de adotar qualquer medida adicional".
A EUTANÁSIA E O DIREITO
A maioria dos médicos, juristas e estudiosos que lidam com o tema condenam a eutanásia ativa, pois não admitem que se outorgue a alguém o direito de antecipar a morte e muito menos ofereça à profissão médica tão triste espetáculo, pois a função da medicina é de salvar vidas. Não há como conciliar uma medicina que cura com uma medicina que mata.
A eutanásia passiva já conta com a simpatia de parte da sociedade que admite ser intolerável prolongar a vida de um paciente em "coma vegetativo" sem qualquer perspectiva de melhora, principalmente ao serem considerados os aspectos emocionais e econômicos envolvidos. Portanto, hoje, em vários países aceita-se o desligamento de aparelhos, a supressão de medicamentos ou do aporte nutricional que mantém os sinais vitais dos pacientes nessa condição, principalmente quando os familiares e a sociedade são favoráveis
No Brasil, mesmo que o doente esteja irremediavelmente condenado à morte próxima e em prolongado sofrimento, a eutanásia é sempre, em qualquer hipótese, um homicídio. Diz o Código Penal em seu artigo 121: "Matar alguém. Pena: reclusão de seis a vinte anos. Parágrafo 1° - Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral,..., o juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço".
Apesar dos rigores da lei, a eutanásia é vista na prática como um homicídio piedoso ou morte por compaixão, e raramente alguém é condenado por praticá-la. A. Teixeira cita que, embora universalmente considerada homicídio, a eutanásia conta com a benevolência da justiça quando aplicada em pacientes terminais atormentados por dores e aflições. Alguns códigos modernos, como na Itália, adotaram a técnica da atenuação específica (privilégio penal), mas sem legalizar ou justificar a eutanásia.
Poucos foram as legislações que aceitaram a eutanásia, como a do Peru, em 1924, só impondo pena quando o motivo fosse egoísta; a do Uruguai, em 1933, exonerando de culpa quem praticasse o ato piedoso mediante súplicas reiteradas do enfermo; a da Colômbia, em 1936, admitindo o perdão judicial para a eutanásia. Em alguns países, como a Holanda, a eutanásia já é considerada simples ato médico, desde que sua adoção foi aprovada pelo Parlamento em 9 de fevereiro 1993. Há 28 procedimentos obrigatórios que o médico deve cumprir antes de permitir a eutanásia.
Naquele país, a eutanásia já vinha sendo praticada há mais de vinte anos, sempre com a complacência da justiça. O médico anestesista holandês, Pieter Admiraal, relata sua experiência com a eutanásia no Hospital Geral de Delft (pequena cidade ao sul de Amsterdã). Segundo o profissional, 90% da população holandesa apoia a eutanásia e cerca de oito mil desses procedimentos são realizados por ano no país. Lá a eutanásia é decidida pelo próprio paciente, não havendo participação de médicos e nem de familiares na decisão. A decisão quando tomada e registrada em documento assinado é irrevogável e não pode ser contestada pela família.
Em Delft, dois médicos, um enfermeiro e um psicólogo discutem o caso e somente se todos estiverem de acordo a eutanásia é feita. A prática da morte voluntária só é realizada quando todos os recursos de tratamento foram esgotados e o paciente está sofrendo muito. Durante o procedimento, o paciente tem de estar acordado e consciente, fica a sós com sua família alguns minutos e depois recebe a visita da equipe médica. Uma superdose de tranquilizante lhe é aplicada na veia. O paciente adormece. A morte não é imediata, pode levar minutos ou até horas (revista Veja, 9/ 2/1993). Há relatos de que, na Holanda, em mais da metade dos casos, os médicos praticam a eutanásia sem o conhecimento ou consentimento do paciente (revista Veja, 11/5/1994).
Nos Estados Unidos da América cresce a cada ano a simpatia pela adoção da eutanásia passiva. Desde 1969 vem-se utilizando um documento em que se expressam os desejos de qualquer pessoa que, ao chegar à proximidade da morte, seja evitada a manutenção da sua vida com medidas heróicas. Esse documento deu origem ao biocard, ou cartão de autodeterminação, que expressa várias vontades do seu portador no momento em que cair em estado de inconsciência. Atualmente, a maioria dos estados norte-americanos dão consistência legal ao cartão de autodeterminação.
Em 1990, o legislativo de Nova Iorque aprovou uma lei segundo a qual os habitantes daquela metrópole podem indicar um amigo ou parente para decidir ( se o próprio paciente não estiver em condições de fazê-lo ) no caso de estados terminais ou de vida meramente vegetativa, se o tratamento deve continuar ou se a morte deve ser facilitada. Aliás, também em 1990, em junho, a Corte Suprema, por cinco a quatro dos votos, deliberou sobre o problema da sustação do tratamento, admitindo-a com base na 14a Emenda, desde que o próprio interessado nesse sentido, livre e conscientemente, tivesse manifestado sua vontade inequívoca.
Toda essa discussão e mudanças de atitudes, naquele país, teve início após o caso Karen Ann Quilan. No dia 15/4/75, a jovem de 21 anos sofre uma intoxicação de soníferos e álcool e é internada em coma. Vivia ligada a um aparelho respiratório. Seus pais entraram na justiça para ordenar o desligamento do aparelho. O Supremo Tribunal do Estado de Nova Jérsei decide que Karen pode morrer e em 22/5/76 o aparelho de respiração artificial foi retirado. Karen não morreu, viveu mais dez anos.
Um caso mais recente e que mexeu com a sociedade americana foi o da jovem Nancy Beth Cruzan, do Missouri. A paciente mantinha-se em coma desde 1983, após sofrer acidente automobilístico. Ela era incapaz de deglutir e sua alimentação era fornecida através de um tubo apropriado. A Corte de Missouri indeferiu o pedido dos seus pais para retirar o tubo que a sustentava, mas em 15/12/90 a Corte Suprema deferiu o pedido. A sentença deferida foi baseada no testemunho de várias amigos da comatosa, que depuseram no sentido de que ela, por suas características pessoais não desejaria "viver como um vegetal".
Três horas e meia após a nova sentença, o médico de Nancy removeu o tubo alimentador, dando origem a um processo de morte por desnutrição, concluído rios primeiros dias de 1991. Por todo esse tempo, Nancy recebeu medicação e sedativos, de sorte a "morrer em paz". Nove entre cada dez britânicos idosos apoiam a legalização da eutanásia, de acordo com uma pesquisa publicada pela revista Yours (28/11/94), na qual foram ouvidos 2.500 idosos.; Noventa por cento dos entrevistados afirmaram que caso estivessem doentes e sem capacidade de comunicação, gostariam que um parente próximo fosse autorizado a solicitar a eutanásia a um médico.
Em 1993, a família de Tony Bland, vítima de um acidente em um estádio de futebol, na Inglaterra, que deixou um saldo de 95 mortos, em 1989, autorizou os médicos a desligarem os aparelhos que o mantinham vivo. O paciente estava em coma profundo devido a lesões cerebrais graves, depois de ser pisoteado pela multidão. A autorização para que Bland pudesse morrer teve de passar pela Câmara dos Lordes, depois de sua família travar uma batalha jurídica. O caso foi a primeira eutanásia realizada legalmente no país. Outra vítima do mesmo acidente, Andrew Devine, também em situação clínica semelhante, ou seja, em coma vegetativo, após ficar alguns meses no hospital, passou a ser tratado em casa.
No dia 26/3/1997, foi divulgada na imprensa inglesa que Devine recobrou a consciência, sabe o que se passa ao seu redor e se comunica apertando um botão uma vez para "sim" e duas para "não". Segundo o advogado da família, Robin Makin, a recuperação de Andrew foi o resultado do amor e cuidado dos pais junto com uma terapia adequada. O caso de Devine pode reabrir no país a discussão sobre a eutanásia (Folha de S. Paulo, 27/3/1997).
O MÉDICO E O PACIENTE TERMINAL
A formação do médico moderno é voltada quase que totalmente para diagnosticar e curar as doenças, com pouco ou nenhum preparo no campo psicológico para lidar com o emocional. Portanto, quando está diante de um paciente sem perspectivas de tratamento, desenganado da vida, a sensação de impotência toma conta do profissional, que não sabendo mais o que fazer, pois não foi preparado para isso, tende na maioria das vezes a abandonar progressivamente o doente, dispensando-lhe visitas rápidas e com menos interesse.
Comumente, a equipe médica, a partir da verificação da irreversibilidade da doença e da proximidade da morte, arrefece o interesse pelo paciente, deixando-o basicamente aos cuidados da enfermagem. Em alguns hospitais, de países mais desenvolvidos, já existe a figura do tanatologista, que é o médico especialista em lidar com o paciente terminal. Durante muito tempo, coube ao moribundo presidir sua própria morte e, assim como se nascia em público, morria-se cercado de várias pessoas. Espalhada a notícia de que o indivíduo estava às portas da morte, fechavam-se janelas e cortinas, e logo o quarto, à luz de velas, ficava cheio de familiares, parentes e amigos.
Com o passar do tempo, em defesa do ar puro, acabou-se com a multidão à beira do leito, abriram-se as janelas e as velas se apagaram. O término da 2ª Guerra Mundial marca a medicalização plena da morte. Verificada a gravidade da doença, o médico interna o paciente em um hospital. Hoje, normalmente, esse paciente está internado numa UTI (Unidade de Terapia Intensiva ), cercado de cateteres, tubos, frascos e aparelhos; ouvindo ruídos os mais diversos, não distinguindo o dia da noite, em atmosfera geralmente desprovida de calor humano, sem a presença dos seus entes queridos na maioria do tempo em que lá permanece.
Nesse momento, melhor do que grande quantidade de sedativos e ansiolíticos é o médico experiente e humano em suas relações. O mesmo se aplica às pessoas da família. Muitas visitas médicas são silenciosas, não só porque o paciente está sonolento, como também basta sua presença para confortar o moribundo. Quando o paciente pede ao médico para interromper todo o tratamento ou pede que lhe administre algo para encurtar a vida, recomenda-se discutir o problema, a fim de que ambos encontrem juntos uma solução. A partir desse contato, os pacientes não solicitam mais uma medida letal.
Até que ponto um paciente em coma está alheio ao que ocorre no ambiente? É comum no meio hospitalar, principalmente nas UTI, o desenrolar das mais variadas conversas, algumas em completo desrespeito ao ambiente e ao paciente que ali se encontra em sofrimento. Não seria interessante permitir o contato mais constante do moribundo com os familiares mais íntimos, e mesmo o médico dirigir palavras de carinho, atenção e estímulo ao paciente? O paciente, mesmo em estado vegetativo, não é um ser inerte, destituído de percepção, embora muitas vezes seja incapaz de comunicar-se verbalmente, por apresentar alterações da consciência ou estar entubado ou traqueostomizado numa UTI.
O dr. Raymond Moody Jr., psiquiatra norte-americano, nas pesquisas que realizou com pessoas que tiveram a chamada "morte clínica", isto é, uma parada cardíaca durante algum tempo e que se recuperaram após cuidados intensivos e, também, com pessoas que sofreram acidentes gravíssimos, com perda, mais ou menos longa da consciência (coma), revela que: posteriormente, ao retornarem ao estado consciente, muitos pacientes relataram pormenores de tudo o que passaram naqueles instantes em que se encontravam em coma. Apesar de serem de diferentes regiões, terem diferentes crenças religiosas e modos de educação, um grande número dessas pessoas relata uma série de experiências que coincidem em vários fatos. Inicialmente, as pessoas experimentaram uma sensação de ruídos, que para uns era música, para outros zumbidos.
Em seguida saíram do próprio corpo e eram capazes de ver o trabalho dos médicos, tentando recuperá-los. Nessa situação, eram capazes de atravessar paredes e descrever cenas ocorridas naquele momento, em lugares distintos, com uma precisão somente possível para quem estivesse realmente naqueles locais. Entravam então em um túnel que percorriam até atravessá-lo totalmente, chegando a um lugar onde se deparavam com um "ser de luz", que os recebia e, através de uma comunicação não verbal , era feita uma revisão de suas vidas.
Não era um julgamento severo, mas uma revisão feita com amor, onde os pontos negativos vividos por eles lhes eram mostrados e como deveriam ser evitados. Dois pontos eram salientados: a falta de caridade para com as outras pessoas e a recusa em aproveitar oportunidades de crescimento. A caminhada continuava até a pessoa chegar a uma espécie de barreira, a qual ela sentia que devia e queria atravessar. Mas quando se dispunha a fazê-lo, era puxada para trás e acordava em seu próprio corpo, quando os médicos completavam as manobras de ressuscitação.
A dra. Elizabeth Kubler Ross, tanatologista norte-americana, em entrevistas com inúmeros moribundos, dividiu em cinco as fases ou etapas por que passam esses pacientes em relação ao seu estado: negação- nessa fase, que ocorre em seguida à notícia de sua doença, o paciente nega essa realidade (Não é possível. Deve haver um engano); raiva- o paciente já admite estar com uma doença terminal, porém questiona (Por que eu?); pacto- uma vez admitida sua situação terminal, vem a fase da negociação, quando ele tenta superar seu mal através de promessas e barganhas (inclusive com Deus); depressão.
Já tem como definitivo o seu processo patológico, mas não está preparado para aceitar a morte; e aceitação- está, então, preparado para o momento final. Alguns podem encontrar-se em uma dessas fases e dela não sair, outros atravessam todas as fases. Isso mostra como é importante o diálogo com o paciente terminal para ajudá-lo a superar os momentos negativos. Léo Passini, coordenador nacional da pastoral da Saúde -CNBB, revela que: diante de um paciente terminal, a medicina falha pois a sua responsabilidade de cuidar termina quando não há mais possibilidade de cura e os tratamentos estão esgotados. Segundo ele, um novo modelo começa a ganhar força.
É o paradigma do cuidado. Sob esse paradigma, os cuidados de saúde aceitam o declínio, o envelhecimento e a morte como parte da condição humana, uma vez que todos "sofremos" de uma condição que não tem cura, isto é, somos mortais. Ganha espaço, então, a medicina paliativa que permite aos doentes terminais morrer com dignidade enfatiza o controle da dor e dos sintomas, objetivando melhorar a qualidade de vida, ao invés de tentar curar uma doença incurável ou estender quantidade questionável de "vida".
Por essa abordagem, cuidar dignamente do doente terminal significa respeitar a sua integridade como pessoa, garantindo que suas necessidades básicas sejam honradas, entre outras: 1) que seja mantido livre de dor tanto quanto possível e que o seu sofrimento seja cuidado; 2) que receba continuidade de cuidados e que não seja abandonado: 3) que tenha controle, tanto quanto possível, no que se refere a informações e decisões a respeito de seu tratamento; 4) que seja ouvido e acolhido em seus medos, pensamentos, sentimentos, valores de fé e esperanças; 5) que tenha a possibilidade de escolher se despedir da vida onde achar melhor.
O ESPIRITISMO E A EUTANÁSIA
A Doutrina Espírita nos esclarece que o ser humano é constituído de espírito: sede da inteligência, centelha divina, consciência plena; de perispírito: envoltório fluídico do espírito, intermediário entre o espírito e o corpo físico; e do corpo físico. A dor e o sofrimento são necessários à evolução do espírito em busca da perfeição; todos têm que passar inúmeras vezes por esses momentos, através das várias encarnações, num processo de depuração energética do espírito. Todo esse processo é movido pelo livre-arbítrio em que cada indivíduo tem a responsabilidade pelos seus atos e pensamentos.
A cada ação perpetrada contra o outro é revertida uma reação de igual intensidade (lei da ação e reação), que aparece na forma de dor, doenças, sofrimentos que alavancam o espírito numa evolução permanente até um dia em que não mais causará mal ao seu próximo. A finalidade do sofrimento não é punitivo mas sim educativo.! O indivíduo que prejudicou o semelhante de maneira grave, precisa sentir na "própria pele" a dor que o outro experimentou, a fim de reeducar-se e, quando novamente posto numa situação em que tenha oportunidade de reincidir, ele seja capaz de resistir aos seus impulsos. É a lei, a ordem natural das coisas.
A maioria das doenças, principalmente aquelas crônicas, como o câncer, tem origem nesse mecanismo de resgate. O indivíduo, em determinada época de sua vida, vê aflorar no seu corpo físico as alterações patológicas, consequência de energias condensadas do perispírito, bombardeadas no corpo físico. Portanto, essas doenças tem origem no espírito. Quantas pessoas conhecemos que após experimentar sofrimentos intensos, até constantes, mudam radicalmente o seu comportamento diante da vida, deixam de ser egoístas, passam a valorizar mais o espiritual e menos o material; dão mais valor à sua vida, apesar de todos os problemas e esquecem as futilidades que antes tanto valorizavam?
Esses indivíduos aprenderam e cresceram com o sofrimento, enfim, evoluíram. Na morte ou desencarnação, o espírito e perispírito separam-se do corpo físico e regressam para o mundo espiritual. Para a grande maioria dos espíritos, o momento dessa separação é vivido com muita alegria, como se fossem liberados de um pesado fardo. Apesar da sensação prazerosa de passar para outra dimensão, não se deve buscar a morte, pois temos compromissos assumidos com a vida terrena e devemos valorizá-la. Antes de cada encarnação, o próprio espírito, no mundo espiritual, traça as metas de sua nova existência, as provações por quais passará para poder evoluir. Até o momento da morte já pode vir determinado.
Pelo livre-arbítrio, o espírito encarnado pode modificar o roteiro que traçou e mesmo o instante da morte pode ser alterado, como ocorre com os suicidas, os viciados, os indivíduos de vida desregrada ou aqueles que em determinados esportes ou profissões "desafiam a morte". Em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Allan Kardec faz a seguinte questão: Um homem está agonizante, vítima de cruéis sofrimentos; sabe-se que seu estado é desesperador; é permitido poupar-lhe alguns instantes de angústia, apressando o seu fim ? Quem pois, vos daria o direito de prejulgar os desígnios de Deus? Não pode ele conduzir o homem à borda do fosso para daí o retirar, afim de fazê-lo retornar a si mesmo e de o conduzir a outros pensamentos?
Em qualquer extremo que esteja um moribundo, ninguém pode dizer com certeza que sua última hora chegou. A ciência jamais se enganou em suas previsões?"Eu sei muito bem que há casos aos quais se pode considerar, com razão, como desesperadores; mas se não há nenhuma esperança fundada de um retorno à vida e à saúde, não existem inumeráveis exemplos em que, no momento de dar o último suspiro, o doente se reanima e recobra suas faculdades por alguns instantes? Pois bem! Essa hora de graça que lhe é concedida, pode ser para ele da maior importância, porque ignorais as reflexões que poderia fazer seu Espírito nas convulsões da agonia, e quantos tormentos pode lhe poupar um relâmpago de arrependimento".
"O materialista, que não vê senão o corpo e não considera a alma, não pode compreender essas coisas; mas o espírita, que sabe o que se passa além do túmulo, conhece o valor do último pensamento. Abrandai os últimos sofrimentos quanto esteja em vós; mas guardai-vos de abreviar a vida , não fosse senão de um minuto, porque esse minuto pode poupar muitas lágrimas no futuro" (São Luís, Paris, 1860). Como demonstrado nas pesquisas do dr.Raymond Moody Jr, os pacientes que passaram por situações de "quase morte", após acordarem, relataram tudo o que lhes ocorreu durante os instantes em que estavam em coma; viam e ouviam o que se passava e o que era falado pela equipe médica que os explicam que, em algumas situações, como: durante o sono, hipnose, choques elétricos e emocionais, jejum, doenças consumptivas, relaxamento muscular profundo, coma etc.,
O espírito, acompanhado do seu invólucro fluídico (perispírito), se afasta do corpo físico e fica ligado a esse por um ligamento energético (cordão fluídico). Durante esse desdobramento, o espírito, que detém a consciência, vê tudo o que se passa no ambiente, bem como pode visitar locais distantes. Esse conhecimento mostra como é importante a conduta da equipe médica diante de um enfermo grave, principalmente no que concerne ao que é falado à beira do leito e às decisões tomadas relativas à descontinuidade da vida daquele ser.
No jornal O Reformador há o relato da seguinte passagem do livro Chico de Francisco: Chico visitou durante muitos anos um jovem que tinha o corpo todo deformado e que morava num barraco à beira de uma mata. O estado de alienado mental era completo. A mãe deste jovem era também muito doente e o Chico a ajudava a banhá-lo, alimentá-lo e a fazer a limpeza do pequeno cômodo onde moravam.
"O quadro era tão estarrecedor que, numa de suas visitas em que um grupo de pessoas o acompanhava, um médico perguntou ao Chico: - Nem mesmo neste caso a eutanásia seria perdoável?
- Não creio, doutor, respondeu-lhe o Chico. Este nosso irmão, em sua última encarnação tinha muito poder. Perseguiu, prejudicou e com torturas desumana tirou a vida de muitas pessoas. Algumas o perdoaram, outras não e o perseguiram durante toda a sua vida. Aguardaram o seu desencarne e, assim que ele deixou o corpo, eles o agarraram e o torturaram de todas as maneiras durante muitos anos. Este corpo disforme e mutilado representa uma bênção para ele. Foi o único jeito que a Providência Divina encontrou para escondê-lo de seus inimigos.
Quanto mais tempo aguentar, melhor será. Com o passar dos anos, muitos de seus inimigos o terão perdoado. Outros terão reencarnado. Aplicar a eutanásia seria devolvê-lo às mãos de seus inimigos para que continuassem a torturá-lo.- E como resgatará ele seus crimes? - Inquiriu o médico.- O irmão X costuma dizer que Deus usa o tempo e não a violência." Em uma palestra que proferimos na sede da Federação Espírita do Estado do Espírito Santo, no dia 15 de junho de 1993, o médico e médium Ronaldo Sfalsini psicografou a seguinte mensagem, enviada pelo Espírito Irmão Paulo: "Corpo, templo sagrado de vida"; Meus irmãos, muita paz.
Vive o homem, ao horror da morte que o espreita, fria e cismarenta, às sombras, como um parecer de queda indubitável nas profundezas de um abismo. Ignora a morte como a própria vida. Desconhece a finalidade suprema do ser, a sublimidade de uma existência, e o seu objetivo divino; em sua filosofia imediatista procura refugiar-se agarrando-se ao materialismo insano, com evidente bloqueio de suas faculdades superiores. A ciência evoca suas conquistas técnicas, em definições subjetivas, em que os limites do ponderável e do imponderável resvalam-se nos conceitos e preconceitos dos homens que a conduzem.
A verdade, porém, conclama revisões detalhadas das conclusões inadvertidas, na certeza da efemeridade dos momentos e das opiniões, dos conceitos e das condutas. Marca-se nova era no processo do ser humano, do ser total, globalizado na forma de existir, não dissociado do meio em que vive, nem tampouco de seus sentimentos mais íntimos. Entende-se melhor o processo do ser que está doente, e não da doença que acomete o ser, sendo portanto legítimo o legado espiritual do homem, pois não se pode mais compreendê-lo sem o binômio espírito-matéria.
É o ser que vive, habitando em espírito um corpo que lhe serve de veículo, instrumento capaz de lhe possibilitar desenvolver habilidades que o fará progredir, edificar, sonhar e amar. Evoluir é imperativo Divino, onde todos, sem exceção, terão que trilhar, em busca de si próprio e de Deus. A ninguém é dado ferir esse princípio da divindade, de separar aquilo que somente Deus pode unir: Espírito e corpo. Nasce um ser, inicia-se uma nova caminhada. É o exercício supremo da própria vida à cata de experiências que enriquecerá essa alma, até que a torne pura, e em sua sapiência livre e liberta dos laços da carne.
Vive o homem, e em muitas oportunidades bate-lhe à porta o sofrimento a requisitar-lhe o exercício da paciência e da resignação, momentos ímpares para a reflexão mais profunda e apurada. Exalta-se aí, em graus até então não conhecidos, a sensibilidade, o afeto, o entendimento e a compreensão. O homem não morre, transmuta. Que os homens possam entender a grandeza do momento, facultando ao que necessita meios de entendimento e, com delicadeza, ajudá-lo, amenizando o quanto possível suas aflições. Que não sejam juizes severos em seu veredicto, que a bem da verdade e do bem comum, selam a sentença da insanidade.
A vida é propriedade de Deus, não sendo portanto delegados a ninguém, poderes de decisão sobre ela. Rechaça a razão o julgamento equivocado sobre a abreviação, a título de encurtar o sofrimento. Fere por si todo o código de moral, de caridade, de amor e de justiça. Ecoa na alma a sandice de um momento impensado com tal veemência, que por muito tempo ficará marcado na estrutura mais delicada do ser.
A vida, bem mais precioso, processo de depuração e crescimento, alavanca do progresso pessoal e coletivo, que deve ser valorizado e respeitado. Nada tem valor igual ou maior; que possamos compreender isso e muito mais.
Fiquem em paz.
CONCLUSÃO
Nascemos com uma constituição energética individual, estruturada em programação prévia no mundo espiritual, necessária ao nosso desempenho em cada encarnação, que nos propicia um determinado tempo de vida no corpo físico. Haverá um momento em que se dará a morte das células do corpo físico e o fluido vital, responsável por animar a matéria, não encontrando mais campo de atuação, dispersar-se-á no fluido cósmico universal.
Não que se tenha uma data fixada para este momento, pois isso dependerá das condições de vida e realizações do ser naquela encarnação e do seu projeto no mundo espiritual.
Aqueles que defendem a eutanásia, no intuito de oferecer um descanso para a carne sofrida, só enxergam pelo olho material e não conseguem descortinar o desequilíbrio provocado no espírito por tal ato. As comunicações de irmãos desencarnados mostram as agressões no corpo espiritual dos seres que experimentaram a interrupção abrupta, não programada, de sua vida orgânica.
Certamente tais transtornos são diretamente proporcionais ao envolvimento de cada um no processo. Não só sofre o Espírito desencarnante, após ser atendido no pedido para pôr fim à sua vida, mas terá, também, o seu comprometimento aquele que contribuiu para ceifar a vida daquele ser, pois tal ato ficará impregnado na sua memória espiritual e dele mesmo será "cobrado" no futuro. É a lei da ação e reação.
Apesar de envidarmos todos os esforços possíveis, dentro das técnicas alcançadas pela ciência, para mantermos a vida até o último instante, não podemos esquecer aqueles pacientes terminais, para os quais a medicina nada mais tem a oferecer em termos de perspectivas de prognóstico, que desejam, em consonância com seus familiares, terminar os seus dias no convívio do lar. Em tais situações, os médicos devem oferecer os cuidados necessários para que esses pacientes atravessem seus dias finais de uma forma mais digna.
LEMBRETE:
1° - O homem não tem o direito de praticar a eutanásia, em caso algum, ainda que a mesma seja a demonstração aparente de medida benfazeja. A agonia prolongada pode ter finalidade preciosa para a alma e a moléstia incurável pode ser um bem, como a única válvula de escoamento das imperfeições do Espírito em marcha para a sublime aquisição de seus patrimônios da vida imortal. Além do mais, os desígnios divinos são insondáveis e a ciência precária dos homens não pode decidir nos problemas transcendentes das necessidades do Espírito. Emmanuel
2° - (...) Ainda que haja chegado ao último extremo um moribundo, ninguém pode afirmar com segurança que lhe haja soado a hora derradeira. A Ciência não se terá enganado nunca em suas previsões? Sei bem haver casos que se podem, com razão, considerar desesperadores, mas, se não há nenhuma esperança fundada de um regresso definitivo à vida e à saúde, existe a possibilidade, atestada por inúmeros exemplos, de o doente, no momento mesmo de exalar o último suspiro, reanimar-se e recobrar por alguns instantes as faculdades! Pois bem: essa hora de graça, que lhe é concedida, pode ser-lhe de grande importância. Desconheceis as reflexões que seu Espírito poderá fazer nas convulsões da agonia e quantos tormentos lhe pode poupar um relâmpago de arrependimento. O materialista, que apenas vê o corpo e em nenhuma conta tem a alma, é inapto a compreender essas coisas; o espírita, porém, que já sabe o que se passa no além-túmulo, conhece o valor de um último pensamento. Minorai os derradeiros sofrimentos, quanto o puderdes; mas, guardai-vos de abreviar a vida, ainda que de um minuto, porque esse minuto pode evitar muitas lágrimas no futuro. Allan Kardec
3° A eutanásia, em suma, é sempre uma forma de homicídio, pelo qual seus autores responderão no porvir, em grau compatível com as suas causas determinantes. Martins Peralva
Edivaldo
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