Estudando o Espiritismo

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segunda-feira, 9 de junho de 2014

Erros


Por que erramos? Os enganos contribuem, de alguma forma, para nosso amadurecimento íntimo? Alimentar a culpa e o remorso perante os equívocos pode nos trazer algum benefício? O que necessitamos observar para não ficarmos cometendo sempre os mesmos erros? Somos nós os maiores causadores dos próprios infortúnios?
           

         Erro é sinônimo de engano, equívoco, conceito inadequado ou crença falsa.

         E por que as pessoas erram? Por não estarem plenamente conscientes dos objetivos maiores que dizem respeito à sua existência, existem criaturas que se deixam conduzir por ideias, crenças e costumes vigentes, porém, não se permitindo reflexões mais consistentes quanto à validade e/ou superioridade de todos eles.

         Mas, o que é o certo? E o errado, como sabê-lo?

         Diante dessa dúvida, tão antiga quanto universal, na questão 632, de O LIVRO DOS ESPÍRITOS, Allan Kardec questiona a Espiritualidade Maior: “O homem, que está sujeito a erros, não pode se enganar na apreciação do bem e do mal, e crer que faz o bem quando, na realidade, faz o mal?” [1]

         Resposta: “Jesus vos disse: vede o que quereríeis que se fizesse ou não fizesse para vós: tudo está nisso. Não vos enganareis.”

         E será que o ser humano consegue viver plenamente essa premissa: não fazer ao outro o que não gostaria de receber em contrapartida? Infelizmente, ainda não, porque a real vivência desse postulado requer o mais profundo entendimento dos sentimentos alheios, julgamento esse que, em geral, as pessoas não dominam, por desconhecerem o seu próprio íntimo!

         Aliás, a falta de autoconhecimento é uma das principais causas de nossos erros. Quanto maior for a compreensão daquilo que verdadeiramente nos beneficia e nos prejudica, bem como da própria realidade, mais aptos nos tornamos para discernir certo e o errado, o bem e o mal. Nesse sentido, o Espírito Hammed considera:



            A grande maioria das criaturas encarnadas na Terra são almas que ignoram suas potencialidades divinas, isto é, não são más por natureza, mas estão conhecendo e/ou aprendendo através das vidas sucessivas; portanto, ainda não sabem agir de forma adequada ou julgar as coisas corretamente. Desconhecem sua perfectibilidade – qualidade daqueles que são suscetíveis de atingir a perfeição.

            Por isso, desacertos fazem parte de nosso processo evolutivo, pois ninguém nesse mundo consegue aprender e crescer sem equivocar-se. [2]



         No entanto, nossa atual condição evolutiva não nos permite um total acerto nas escolhas e atitudes.  Mas, conforme Hammed, o erro também nos ensina a interpretar melhor todas as coisas, porque nos demonstra, através da própria experiência, o que, de fato, dá certo e o que dá errado! E, assim, ele prossegue:



            Experiências felizes ou infelizes são passos valiosos em nossa existência, desde que percebamos o quanto elas têm para nos ensinar ou mostrar.

            Todos temos o direito de escolher o que vamos fazer com as lições que a vida nos oferece.  Mas, sem dúvida, se recusarmos o desafio de compreendê-las e assimilá-las, essas mesmas lições voltarão revestidas em novas embalagens.

            Só não erra quem nunca fez ou nada tentou. O que se julga perfeito não está aberto para a mudança ou aprendizagem, porquanto a verdadeira sabedoria exige a humildade de aceitarmos o que não conhecemos. A casa mental daquele que se julga ‘infalível’ pode ser comparada a um espaço que já está completamente ocupado; nada nela pode ser acrescentado. Aliás, apenas quando retiramos o velho é que criamos um espaço para o necessário ou o novo.

            (...) Jesus Cristo entendia perfeitamente o âmago das criaturas, o que o levou a afirmar: “Todo aquele que meu Pai me der virá a mim, e quem vem a mim, eu não o rejeitarei. (João 6:37)

            O Mestre nunca desprezou quem quer que fosse; sempre acolhia, entendia, valorizava, consolava e encorajava a todos. Jamais puniu as atitudes equivocadas das criaturas, antes as compreendia por saber da fragilidade e falibilidade dos seres humanos. Via os erros como uma forma de aprendizagem, de retificação e de possibilidade de futura transformação interior. Não os entendia como objetos de condenação, mas como um mal-entendido ou erros de interpretação; consequências naturais da fase evolutiva pela qual a humanidade estava passando. [2]



         Todas as circunstâncias e ocorrências de nosso cotidiano são necessárias para o conhecimento daquilo que ainda não sabemos. E é esse processo de aprendizagem que tem a possibilidade de nos preparar para que as experiências futuras sejam as mais positivas e satisfatórias possíveis. Entretanto, se relutarmos em aproveitar as lições que os acontecimentos nos endereçam, notadamente através dos equívocos, eles – situações e erros – repetir-se-ão até que seu conteúdo seja por nós plenamente apreendido e compreendido.

         A conscientização de que somos os causadores dos próprios problemas trata-se de algo um tanto desagradável, porém, extremamente necessário. Muito embora a tendência seja procurar a causa dos nossos sofrimentos e contrariedades naquilo que nos é exterior, tudo o que nos afeta negativamente teve e/ou tem sua origem em nosso próprio íntimo. E é nesse momento de autopercepção que a vida nos solicita humildade, coragem e força moral para reconhecermos a própria falibilidade!

         Ainda de Hammed:



            Muitas pessoas acham sinal de fraqueza admitir que são falíveis. Na realidade, quando admitimos nossa vulnerabilidade, afastamos a tensão do ‘egoísmo defensivo’, de tudo sabermos ou conhecermos. Somos propensos a cometer ‘erros de cálculo’. Enganos são inerentes à condição humana. [3]



         Quando conseguimos identificar os próprios erros, alimentando pesar pelas atitudes negativas que tomamos, o sentimento que desabrocha, inevitavelmente, é o arrependimento. Mas, conjuntamente a ele, outros dois também podem surgir: a culpa e o remorso. E isso é o que de pior pode acontecer!

         A culpa é uma cobrança íntima, com pesada carga de autoacusação, visto apontar os erros de maneira extremamente negativa e fazer nos sentirmos envergonhados, derrotados e – quantas vezes! – sem forças para seguir adiante.  

         Por sua vez, o remorso que, segundo definição, caracteriza-se pelo tormento e aflição, pelo remordimento e revolta da consciência –, também exaure com nossas forças, porque ele nos faz reviver infinitas vezes a impressão ruim que o erro praticado causou a nós ou ao(s) outro(s).

         Quanto à adoção desse tipo de emoções perante os próprios enganos, o Espírito Joanes aconselha:



            Aprenda a pedir desculpa, a confessar seus erros, a admitir seus equívocos, para que não aninhe remorsos na alma, ou para que o remorso tenha o poder de lhe fazer reerguer e não sucumbir.

            Considere que você não é infalível. Dê-se conta de que não é invulnerável.

            E, assim, terá tranquilidade em admitir o lado que ainda vibra feio em sua intimidade.

            Somente quando se decida a não mais alimentar remorsos, por orgulho ou algo que corresponda a isso, é que você deixará de padecer desnecessariamente.

            Confesse, dessa forma, o seu erro, quando ele ocorra, e parta para o acerto, pois todos os que seguem pelos caminhos humanos podem tropeçar, podem tombar, mas que, em nome do autorrespeito, aprendam a recuperar-se, a soerguer-se, a elevar-se para os planos de luz da alma em paz. [4]



         Quando nos mantemos presos a complicados sentimentos de culpa e remorso, deixamos de perceber que as atuações que tivemos no passado eram compatíveis com o grau de entendimento e de experiência que possuíamos na época. Daí a necessidade reavaliarmos, constantemente, atitudes, pensamentos e sentimentos, para não ficarmos cometendo sempre os mesmos erros. Infrutíferos são, portanto, os dramas de consciência, porque não dá para voltar atrás e refazer o curso da história.

         Temos de confiar que o momento presente é o que de melhor dispomos para mudar, para crescer, para ampliar nosso discernimento sobre o certo e o errado, o bem e o mal, e não fazer aos outros aquilo que não gostaríamos de receber em contrapartida, pois, conforme informações dos Espíritos Superiores a Allan Kardec, “tudo está nisso. Não vos enganareis”.





Errar faz parte da trajetória evolutiva do ser humano.



            Somente alguém muito presunçoso poderia achar que nunca errou ou que nunca vai errar. Bom, então é exercitar o autoperdão!

            Veja que Deus projetou a nossa caminhada evolutiva por meio das inúmeras vidas, exatamente porque sabia que nós poderíamos errar, falhar. Deus conhece muito bem a nossa fragilidade. Aliás, penso que os nossos desvios derivam de uma falsa percepção da realidade. Quanto maior for o nosso conhecimento, maior também será a nossa capacidade de perceber diferenças e, consequentemente, de fazer opções mais acertadas.

            O Cristo, no auge do martírio da cruz, disse talvez uma de suas mais importantes frases:

            ‘Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem.’ (Lc 23:33-34)

            Com tal afirmação, Jesus quis dizer que todo mal procede da ignorância. Assim, devemos ver que os erros do passado foram praticados de acordo com a capacidade de entendimento que naquele momento possuíamos. Logo, não adianta lamentação quanto aos erros de outrora. O que foi feito está feito. Não dá para voltar ao passado e impedir que aquela conduta não seja mais praticada. Impossível. Mas podemos remediar os erros cometidos. Primeiro, entendo o motivo de nosso agir, indagando-nos:

            ‘Por que, naquela situação, me comportei daquela maneira?’

            É muito importante investigar a causa de nossas condutas, a fim de não cometermos novamente o mesmo erro. Depois de assimilada a lição, devemos procurar minimizar os efeitos da conduta faltosa. Sempre haverá uma forma de reparar os nossos erros (...).



O passado então nos serve para melhorar o presente, na medida em que, aprendendo com os erros de ontem, renovo as condutas de hoje para que o amanhã seja melhor. Que beleza, não é?





            Viver no passado é perda de tempo! Meu amigo, o passado já foi, não volta mais. Quando nós estamos vivendo no passado, o presente não consegue fluir. Quem vive no passado não consegue enxergar o presente. É hoje que se encontram todas as possibilidades de felicidade.



O passado você não consegue mudar, mas o presente é o momento que Deus lhe concede para renovar suas atitudes e descobrir todo o seu potencial.



            Olhe para o hoje! Veja quantas oportunidades estão à sua espera. (...) Largue o passado para o passado largar você.

            (...) Se você cometeu algum erro, perdoe-se e repare sua falta. Se prejudicou alguém, peça perdão e, sendo possível, repare sua falta. Não deixe de entender a lição que o erro lhe trouxe, renovando o seu comportamento.



Não seja a mesma pessoa que você foi no passado.



            Renove-se, para melhor. Essa é a lei da evolução.

            Se alguém o feriu, esqueça a ofensa. Exercite o perdão. O problema é de quem o ofendeu. O perdão é sempre melhor para quem perdoa.

            Enfim, meu amigo, ficar preso ao passado não dá futuro.

            Hoje é o melhor tempo que existe.

            Liberte-se e comece a viver o agora. [5]







Deus não condena ninguém. Todos nós erramos com frequência e não há na face da Terra quem esteja livre de tropeços. (...) O que mais importa é a nossa capacidade de recuperação diante do erro praticado. Deus não quer choros, lamentações, dramas de consciência. (...) a vida coopera para a nossa reabilitação, não para que fiquemos em vão na prisão de nossas culpas. Por isso, diante do erro, busquemos sanar o equívoco pelo amor. Esse é o remédio sagrado para nossas feridas. (...) Culpar-se, nunca, mas reabilitar-se, sempre, eis aí um programa de amor que podemos estabelecer em razão das nossas inevitáveis quedas. [6]





Silvia Helena Visnadi Pessenda

sivipessenda@uol.com.br



REFERÊNCIAS


[1] KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. Tradução de Salvador Gentile, revisão de Elias Barbosa. 100. ed. Araras, SP: IDE, 1996.

[2] HAMMED (espírito); SANTO NETO, Francisco do Espírito (psicografado por). A imensidão dos sentidos. 3. ed. Catanduva, SP: Boa Nova Editora, 2000. Cap. “Falibilidade”. p. 90-1.

[3]  Idem. Cap. “Personalidade perfeccionista”. p. 146.

[4] JOANES (espírito); TEIXEIRA, José Raul (psicografado por). Para uso diário. 2. ed. Niterói, RJ: Fráter. 2000. Cap. “No dia do remorso”. p. 115-116.

[5] DE LUCCA, José Carlos. Sem Medo de ser Feliz. 1. ed. São Paulo: Petit, 1999. Cap. “Você está vivendo no passado?”. p. 51-56.

[6] ­­­______. Justiça além da vida. 1. ed. São Paulo: Petit, 2001. Cap. 14. p. 68.

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