Estudando o Espiritismo

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terça-feira, 3 de junho de 2014

Espiritismo e Clonagem Humana

Espiritismo e Clonagem Humana

Gilberto Schoereder e Alex Alprim

A possibilidade de se criar cópias exatas de seres humanos pela clonagem é um tema que vem despertando polêmica em todos os setores da sociedade. Para nos estendermos na visão espírita sobre o assunto, conversamos com o médium, pesquisador e autor espírita, Eurípedes Kühl.

Natural de Igarapava, São Paulo, Eurípedes Kühl é médium psicógrafo e autor de dezoito livros espíritas, três ainda inéditos. Oito livros são de autores espirituais. Kühl é um estudioso e pesquisador da doutrina dos espíritos, além de um trabalhador dedicado às obras do centro espírita que freqüenta. Ali, além da psicografia semanal, é responsável pelo curso de médiuns e médium passista, realizando ainda palestras e cursos espíritas em outros centros.

Ele começou a publicar livros em 1989, depois de 15 anos de exercícios psicográficos, quando um espírito amigo informou-o que estava na hora de partir para algo maior. Para Eurípedes, “psicografar é tarefa gratificante, pois além de um fraternal envolvimento com o autor espiritual, os personagens (no caso dos romances) criam vida própria, tornam-se meus companheiros”. No caso de textos não psicografados, ele diz que certamente tem sido muito ajudado, por meio da inspiração, e que sente a aproximação de espíritos técnicos no assunto que está enfocando. Assim, quando se depara com alguma dificuldade, a solução surge de forma impressionante, com muitas fontes de pesquisa.

Pedimos a Eurípedes Kühl, que já tem quatro livros publicados pela Petit Editora (www.petit.com.br), que respondesse algumas perguntas a respeito da clonagem humana sob o ponto de vista do Espiritismo. O tema vem levantando muita polêmica, tanto no meio espírita quanto nos demais setores da sociedade e, a cada dia, torna-se mais importante discuti-lo. Kühl diz que, como espírita e simples estudioso do tema, seu pensamento é o de que o Espiritismo, que sempre acatou os avanços da ciência, só contempla a clonagem terapêutica como benéfica à humanidade.

O tema “clonagem de seres humanos” vem sendo cada vez mais discutido, em todos os setores da sociedade. Como o Espiritismo vê essa questão?

A clonagem dos seres humanos, ora em discussão (e proibição) mundial, vê-a o Espiritismo como inegável avanço científico-tecnológico. Não obstante, situa-a no escorregadio rol moral do progresso, pelo que só pela Lei Divina do Amor deve ser empregada. Assim, apenas o bom senso poderá ser o árbitro da utilização dos métodos de clonagem – exclusivamente para fins terapêuticos, jamais, reprodutivos.

O senhor disse, numa entrevista, que o Espiritismo vê a genética como “subsidiária da vida e, como tal, sob responsabilidade de mensageiros do plano espiritual. No tempo certo, a humanidade recebe tais avanços”. Isso pode significar que quaisquer avanços com relação à clonagem são bem-vindos?

Sim: da clonagem terapêutica.

O senhor também afirmou que está registrado em O Livro dos Espíritos, questão 19, que os segredos da ciência foram dados ao homem para o seu progresso, mas jamais ele poderá ultrapassar os limites estabelecidos por Deus. Como determinar esses limites?

A Natureza – obra de Deus – é mãe dadivosa, que protege todos os seres vivos e como tal, ao sofrer injúrias, pelos descaminhos dos seus filhos, impõe-lhes limites, pela lei de ação e reação, devolvendo-lhes os mesmos resultados, a título de preciosa lição. A teratologia em 95% a 98,5% das tentativas de clonagem reprodutiva nos parece limite indiscutível. Mais que limite: vigorosa proibição!

Esses limites incluem a impossibilidade de clonar outros seres humanos?

Embora cientificamente viável, a clonagem reprodutiva de seres humanos, a nosso ver, para ser alcançada, promove descarte de impressionante quantidade de embriões, o que se enquadra em descaminho, já que nada acrescenta à vida, sendo falso o ufanismo de tê-la criado, o que não é verdade, eis que o homem manipula células, mas não consegue criar uma única.

Uma questão que também vem sendo bastante discutida nos meios espirituais em geral – não apenas no Espiritismo, mas em diversas religiões do planeta – é a questão da alma do clone. Como ocorreria o processo, segundo o Espiritismo?

A alma de um clone humano – se algures este houver – será aquela que, sob supervisão das leis divinas, máxime a da reencarnação, será destinada a esse corpo terreno, para vivenciar experiências, nas mesmas condições físicas que lhe seriam propiciadas pelas premissas de uma existência material normal. Tais premissas, consentâneas a um programa reencarnatório pré-estabelecido (em função do nível moral daquele que vai reencarnar), visam sempre à evolução espiritual do ser.

Existe alguma diferença com relação à gestação normal de um ser humano?

Imaginamos que a gestação de um clone seria similar àquela que a gestante experimenta sob fecundação assistida.

Como o espírito que vai reencarnar se une ao corpo criado, ou clonado?

A união espírito-corpo ocorre no instante da fecundação, sob orientação de desígnios superiores, contidos nas leis da Vida, cuja aplicação estão a cargo de Espíritos protetores – verdadeiros ministros de Deus.

O senhor chegou a dizer que a clonagem, ainda que seja um fato científico extraordinário, em se tratando de indivíduos, é algo terrivelmente perigoso. Em que sentido é perigoso?

O perigo é representado pelos prejuízos de ordem física e moral: sabe-se que a cada 100 tentativas, no mínimo 95 não prosperarão, deixando um rastro de abortos e mortes de gestantes; as cinco gestações que eventualmente prosperarem não garantirão vida saudável para os clones, a começar pelo previsível envelhecimento celular precoce.

Quais as conseqüências para a humanidade?

Pode o homem manipular óvulos e espermatozóides, mas jamais poderá determinar que alma irá habitar num eventual clone. No caso, não poderá nem o geneticista, nem os pais, nem quem quer que seja, “escolher” a alma que irá habitar no resultado de uma clonagem humana reprodutiva. Assim, a clonagem humana reprodutiva pode descambar para a vaidade de alguém querer uma “cópia mais nova de si mesmo” (que, aliás, terá alma diferente da do “original”), ou alguma empresa de biotecnologia clonar pessoas para serem utilizadas como banco de órgãos para transplantes.

Sob o ângulo científico, a clonagem é uma conquista notável, uma vez que nos dá a chance de ir além de nossos “limites” orgânicos. O senhor acredita que estamos próximos de um novo salto evolucionário?

Lembramos que a aviação começou com balões, evoluiu para os aeroplanos, depois para as aeronaves a jato, hoje culminando com veículos espaciais. A clonagem, para nós, está a bordo de um figurativo 14-Bis (tem muito a progredir, mas já está dando os primeiros passos). O progresso é infinito!

Com tantos preconceitos surgindo a todo o momento na sociedade moderna, como o senhor vê, do ponto de vista espírita, as possíveis implicações morais e sociais daqueles que forem considerados “filhos” das técnicas de clonagem?

Como ainda não existem clones humanos (ao menos pelo que se saiba, exceção do fictício personagem Léo, da novela O Clone, recém-exibida), apenas lucubramos que uma pessoa nascida como “filha” de clonagem terá imensas dificuldades sociais para administrar sua existência, a começar pelo monitoramento médico a que estará permanentemente submetida. Onde essa pessoa se apresentar estará sob o foco da curiosidade popular e de desencontrados comentários, tendentes a desestabilizar-lhe a paz. Pela filosófica certeza espírita de que “Deus não põe cruz em ombro errado”, podemos refletir que se alguém vier a passar por esse desconforto, estará apenas em processo de resgate, por ter infligido problema similar ao próximo, em vida(s) passada(s).

Imagina-se que, quando estiverem totalmente disponíveis, as técnicas de clonagem humana estarão acessíveis apenas a grupos restritos, ou seja, quem tiver muito dinheiro para cobrir os custos de qualquer tratamento na área. Como o Espiritismo vê essa questão?

A clonagem humana reprodutiva estará, sim, restrita aos ricos. É, aliás, o que ocorre com a fecundação assistida. Na nossa opinião, o Espiritismo não concorda com a clonagem reprodutiva, mas considera proveitosos os efeitos da clonagem terapêutica (hoje eleita por sete entre dez especialistas). Os beneficiários enquadram-se na Lei de Ação e Reação, sendo de supor-se que reuniram méritos na obtenção dessa graça, por término da provação ou expiação patológica que vinham sofrendo. Lembramos que Jesus, em meio à existência física de muitos cegos e paralíticos, curou alguns, mas não a todos. Inescapável que os agraciados eram disso merecedores.

Como lidar com a questão moral, que já existe no mundo hoje mesmo, independentemente da clonagem humana?

Submetendo todas as ações à ética cristã – evangelhoterapia!

O uso de células-tronco poderá conter chaves para vários tratamentos de doenças que, hoje, estão à margem dos progressos científicos. Contudo, esse material vem de embriões que não chegaram a se desenvolver, ou que foram impedidos de seguirem seu curso normal. Como o Espiritismo encara essa situação?

Células-tronco constituem, num primeiro passo, a bênção até aqui alcançada pelas pesquisas com a clonagem. Bênção incalculável, sublime. Seu emprego acena com a eliminação de praticamente quase todas as doenças. De forma alguma o Espiritismo concorda com a utilização de células-tronco embrionárias. Isso porque após a extração das células necessárias, o que restar de cada embrião será descartado, configurando-se o nefando crime do aborto, inadmissível para nós, espíritas. Contudo, Deus, na Sua bondade infinita, bem depressa já permitiu à ciência descobrir que todos os indivíduos, mesmo e principalmente os adultos, têm células-tronco em si mesmos, propiciando auto-emprego com rejeição “zero”, o que dispensa as alienígenas, vindas de embriões. Ampla reportagem no jornal Folha de S. Paulo (21/06/2002) dá conta que cientistas da Universidade de Minnesota, EUA, descobriram que células-tronco adultas da medula óssea podem se transformar em qualquer tipo de tecido, assim como suas equivalentes embrionárias.

O senhor crê que teremos clones de Cristo, Buda, Kardec? Como isso afetaria a espiritualidade na Terra? E se os clonados forem Hitler, Mussolini e outros que tiveram uma ação negativa no plano físico?

Não cremos que teremos clones de personagens históricas, boas ou más, pela simples razão de que o Espiritismo leciona que os Espíritos renascem com um programa vivencial: segui-lo ou não é decisão do livre-arbítrio individual. Mas, no caso, se a plantação é livre, já a colheita será obrigatória. Todos aqueles que agirem no bem, estarão progredindo e tendo novas oportunidades de assim proceder. Pelos postulados da Justiça Divina (que Jesus relembrou: “A cada um segundo suas obras”), os que numa existência prejudicaram o próximo, pelo remorso, quase sempre já a partir da existência em que causaram o mal ou na próxima, estarão destituídos de poder e vivenciando os duros embates do auto-reajustamento e da respectiva e subseqüente quitação. Registrou Allan Kardec, sob esclarecimento de Espíritos amigos, que “de cada mal Deus tira um bem”. Assim sendo, analisamos que os males sofridos pela humanidade, por ação de pessoas más, representam choque de retorno às vítimas, que se quitam, mas “notas promissórias” assinadas inconscientemente pelos agentes daqueles males, as quais, cedo ou tarde, terão que ser resgatadas, perante o tribunal da consciência.

Existem citações específicas de Allan Kardec com relação a uma situação como essa (da clonagem humana), ou situações semelhantes? Onde as pessoas podem procurar essas passagens para se instruírem mais sobre o ponto de vista do Espiritismo?

Se nós formos nos basear apenas na palavra clonagem, nada encontraremos em Kardec, especificamente. Mas, com Kardec, sem a menor dificuldade, deduzimos o quanto o Espiritismo tem de sabedoria, no seu tríplice aspecto Ciência, Filosofia e Religião: os desdobramentos científicos, filosóficos e religiosos da clonagem lá estão. Encontraremos na Codificação da Doutrina dos Espíritos várias premissas que nos ajudam a equacionar muito bem os fatos atuais ligados à clonagem:

– na questão da Ciência: em A Gênese, Capítulo I, nº 55, é de Kardec a afirmação: “Caminhando de par com o progresso, o Espiritismo jamais será ultrapassado, porque, se novas descobertas lhe demonstrassem estar em erro acerca de um ponto qualquer, ele se modificaria nesse ponto. Se uma verdade nova se revelar, ele a aceitará”;

– na questão da Filosofia: em O Livro dos Espíritos, Capítulo VIII, “Da Lei do Progresso”, está registrado, no item 777, que “o homem tem que progredir incessantemente” (...); “porque Deus assim o quer”; mais à frente, no item 783, vemos: “Há o progresso regular e lento (da Humanidade)”; (...) “de tempos a tempos Deus sujeita (um) povo a um abalo físico ou moral que o transforma”; (...) “Aquele, porém, que eleva o pensamento acima da sua própria personalidade, admira os desígnios da Providência, que do mal faz sair o bem”;

– no aspecto Religião, interligando os dois planos, o material e o espiritual, sabemos nós que a vida se rege pelas leis da reencarnação, esta a cargo de Espíritos Siderais, como já dissemos, que controlam cada nascimento e cada morte (exceto as provocadas), em consonância com as demais Leis Morais.

Se me permitem, detalharemos um pouquinho mais essa questão da clonagem estar no Espiritismo, desde Kardec:

a. aspecto científico: em primeiro lugar, podemos, entre o passado e o futuro, estabelecer uma aliança espírita com a clonagem: esta, surgida nos fins do século XX, aquele, codificado em 1857 (com O Livro dos Espíritos). A aliança: a citação acima de A Gênese, Capítulo I, nº 55, a nosso ver foi uma prudente afirmação de Kardec, premonitória, algo semelhante com a de Jesus, quando prometeu o envio do Consolador, que para nós, espíritas, é o Espiritismo;

b. aspecto filosófico: Filosofia e Espiritismo se encontram na clonagem pela questão nº 8 de O Livro dos Espíritos: ali, esclareceram os Espíritos Siderais que não existe o acaso. Ora: consideramos que a clonagem, para aportar no planeta Terra, teve necessariamente permissão de Deus; e como ela (a clonagem terapêutica, enfatizamos) abre um fabuloso leque de possibilidades para o ser humano, indubitavelmente este está sendo o momento adequado para esse importante passo evolutivo;

c. aspecto religioso: aconteceu este encontro entre o Espiritismo e a clonagem, segundo mencionamos que na reencarnação cada ser renasce no planeta Terra trazendo consigo todo um repertório de providências que precederam ao seu nascimento. Vamos agora acrescentar que no caso de anomalias congênitas ou doenças eclodirem num determinado tempo da existência, se inserirmos a cura pela clonagem (a terapêutica, sempre) nesse contexto, como não aceitá-la, diante da certeza de que cessou tal expiação?

Se a clonagem humana está sendo permitida por Deus, os humanos que eventualmente venham a existir a partir dessa técnica também poderão ser médiuns? Imagine-se que a técnica se desenvolva a tal ponto que seja possível determinar certas características das pessoas, de modo que se pudesse ter uma legião de médiuns. Como encarar uma situação hipotética como essa?

A hipótese do geneticista determinar faculdades mediúnicas a eventuais clones não resiste à formulação do Espiritismo tendo em vista que tal atribuição é de responsabilidade exclusiva dos Espíritos protetores encarregados da reencarnação, que as adequam em razão do roteiro terreno pré-estabelecido a cada futuro médium. E isso se processa no “andar de cima”, no Plano Espiritual, jamais num laboratório.

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