Estudando o Espiritismo

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terça-feira, 22 de maio de 2012

Leis Psíquicas - Adenauer


Leis psíquicas

“Não penseis que vim revogar a lei ou os
profetas: não vim para revogar, vim para
cumprir.” Mateus, 5:17 .6

O Cristo assinalou que veio cumprir a lei. Não veio
sublevar a ordem vigente, pois não era um subversivo no
sentido vulgar do termo. Não queria ser confundido com um
rebelde sem causa. Tinha um propósito mais amplo. Sua
revolução não era apenas político-social, mas,
principalmente, psico-espiritual. Visava atingir o ser
humano em sua alma, em sua essência mais profunda.
Vinha para educar, fazer evoluir, a fim de que o ser humano
transcendesse a materialidade, adquirindo elementos para
mudar qualitativamente no seu processo espiritual.
Vivemos sob o domínio de leis sociais, necessárias ao
desenvolvimento espiritual, pois elas promovem o
equilíbrio e a harmonia na convivência cotidiana. Essas leis
traduzem em menor escala, ou tentam traduzir, as leis
espirituais de Deus. Estabelecem os limites e disciplinam a
conduta do ser humano. Precisamos dessas normas externas
até conseguirmos internalizar as leis espirituais, quando
então, aquelas se tornarão desnecessárias. A partir daí o ser
humano conseguirá viver de acordo com as leis externas,
face a existência de uma lei interna moralmente elevada.
                                               
Quando a lei interna é moralmente inferior à lei
externa, ocorre o embate, cujas conseqüências exigirão
processos educativos, aparentes sanções, para o
desenvolvimento espiritual. Quando a lei interna é
moralmente superior à externa, o ser humano vive em
perfeita harmonia, conseguindo influenciar seu meio social,
favorecendo o aperfeiçoamento das normas de convivência
coletiva. Ele não só se melhora, como concorre para o
progresso social, pelo exemplo que vivencia.
Um sentido que pode se perceber nas entrelinhas da
citação do Cristo é aquele que nos leva a entender que os
caminhos existentes, pertencentes as mais diversas religiões,
se seguidos com coerência, podem levar o ser humano ao
progresso moral, isto é, obedecer antigos princípios que
assinalavam a necessidade do ser humano buscar o
crescimento espiritual, sem inventar “verdades novas”.
Destruir o antigo pode ser uma forma de fugir a entrar em
contato com as dificuldades que temos de enfrentar e com
nossos próprios conflitos. Não há necessidade de destruir a
lei interna que nos convida ao Bem e ao Amor. Essa lei
também nos leva à necessária individuação, ao encontro
com o Si mesmo.

A  individuação é um processo que se fundamenta no
alcançar de certos estados de espírito, que colocam o ser
humano na condição de se sentir centrado e em sintonia
com princípios éticos superiores. É um processo contínuo e,
geralmente, se inicia com uma crise do ego. Diferencia-se
da chamada  perfeição, por não seguir, necessariamente, as
exigências religiosas, nem se limitar à obrigatoriedade de
seguir normas externas.
Ao alcançá-la, o ser humano consegue:
- fazer contato com seu propósito maior na Vida,
definindo claramente seus objetivos;- entrar em harmonia com as metas que traçou para
a atual encarnação, sem se deter em atavismos já
ultrapassados;
- descobrir e realizar seu talento singular, que o
diferencia de todos os outros, o qual se constitui
no seu caminho seguro para a felicidade interior;
- ser verdadeiro dentro das capacidades e limites
que possui, alcançando o máximo de perfeição
possível enquanto encarnado;
- impedir que os talentos pessoais sejam sufocados
pelos  complexos inconscientes, reduzindo sua
influência na vida consciente;
- desligar-se das influências coletivas e parentais
que impedem a manifestação das potencialidades
do Espírito;
- integrar sua  sombra (7) impedindo que ela possibilite
a proliferação das projeções;
- perceber melhor as diversas personas (8) de que se
utiliza para relacionar-se com o mundo, facultando
uma melhor integração social;
- melhor perceber a leveza do mundo e quanto o
universo conspira a favor da evolução do Espírito;
- integrar-se aos objetivos da Espiritualidade
Superior.

Esses conflitos se encontram na consciência, quando
lembrados, e no inconsciente, oriundos de eventos
esquecidos da presente encarnação ou de encarnações
passadas. Eles se agrupam por semelhança e se estruturam
em redes denominadas psicologicamente de  complexos. São
núcleos afetivos que envolvem situações adversas similares,
ocorridas nas várias vidas do Espírito. São desejos, intensões,
motivações não realizados, reprimidos por
motivos diversos, que necessitam ser exteriorizados de
alguma maneira. Inevitável, como se pode analisar, a
formação de complexos, face à complexidade da Vida.

Muitas vezes criamos situações de fuga diante dos
problemas a fim de não entrarmos em contato com nossos
complexos. Não aceitamos antigos princípios e adotamos
mecanismos de defesa para evitar o sofrimento de ter que
lidar com a necessidade de encarar de frente o que tem sido
constantemente evitado. Na realidade costumamos fugir de
nós mesmos. Essa viagem ao encontro do si mesmo é,
muitas vezes, evitada face aos inconvenientes que provoca,
pois nos faz entrar em contato com nossas imperfeições.

Não destruir a lei, mas cumpri-la é um convite a que
observemos nosso mundo interior e não fujamos do
necessário embate com nossos complexos. Destruí-los sem
perceber-lhes a influência que exercem sobre nós é um
equívoco grave. Conhecer-lhes a natureza é o mesmo que
penetrar em nosso mundo interior e descobrir como nos
enredamos nas teias psíquicas que engendram novos
conflitos. Deixar que eles atuem inconscientemente sobre a
nossa vida ou simplesmente destruí-los sem lhes conhecer a
origem, é permanecer na ignorância sobre nós mesmos.

Não destruir a lei, pois sabemos que a mensagem
superior do amor está presente na essência das diversas
religiões e filosofias da humanidade. Não é preciso destruir
a crença do outro, mas fazer com que ele compreenda o
sentido superior que nela existe. A mensagem do Cristo está
presente na essência das diversas religiões. Com o coração
poderemos enxergá-la em sua inteireza. E com ele
conseguiremos viver de tal forma que o outro a perceba.

O Cristo cumpriu a lei, pois tornou-se o exemplo vivo
de alguém que realizou sua individuação, tornando-se
único, singular. Mudou a história da humanidade, por terrealizado, com o máximo de integridade, a sua lei interna. Viveu-a e assumiu todas as conseqüências de seus atos.
Esse é o caminho da  individuação de todo ser humano. Não
destruir a lei interna, mas conhecê-la e cumpri-la é o único
caminho que o conduzirá a felicidade, que é sua fatalidade.

A tolerância às crenças alheias é um princípio que
denota bom relacionamento interpessoal. É um dos sinais da
inteligência emocional que necessita desabrochar no
Espírito. Reflete a consciência de si mesmo, além da
percepção do estágio evolutivo do outro. Quando
internalizarmos a mensagem, certamente não nos
importaremos com o rótulo religioso do outro, mas sim, em
como estamos lidando com a nossa própria crença.

Todo indivíduo realizado e saudável, em paz consigo
mesmo, respeita o outro, mesmo quando ele se encontra
equivocado. Com suas observações sobre o comportamento
alheio, não procura tomar o lugar da norma externa do
outro, mas sim com a melhoria de sua norma interna. Ao
mesmo tempo, procura melhorar sua própria norma interna
e a externa. O recado do Cristo nos convida à percepção da
lei interna, cuja destruição não deve ocorrer. É um convite a
que nos perguntemos: qual a norma interna que permitimos
vigore em nós? Será rígida? Exigente? Punitiva? Qual a sua
medida? É com essa medida que viveremos, pois atuamos
externamente como o fazemos internamente. A verdadeira
lei  interna certamente será aquela que me colocará diante do
propósito que devo realizar na Vida e que me conduzirá ao
sentimento incomparável de satisfação interior. A essência
da mensagem espírita, dirigida ao Espírito, é a mesma do
Cristo. Ela deverá ser a norma interna de conduta que se
traduzirá no exemplo externo de convivência.


6 - Utilizamos, como fonte de consulta, a tradução da Bíblia feita por João Ferreira de
Almeida, Edição da Sociedade Bíblica do Brasil, 1969, Rio de Janeiro-Rj.


7 -  A Sombra contém os aspectos negativos e os desconhecidos da personalidade.


8 -  Segundo Jung, persona é aquilo que na realidade não somos, mas aquilo que tanto nós
como os outros pensamos que somos.



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