Estudando o Espiritismo

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segunda-feira, 7 de novembro de 2011

O REMORSO



                            




Muitas pessoas imaginam que não há grandes diferenças entre o remorso e o arrependimento. No livroAborto à Luz do Espiritismo, Eliseu Florentino da Mota Jr., escreve que “dentre as causas determinantes das anomalias psíquicas, é induvidoso que o remorso assume especial relevância, porquanto, ao contrário do arrependimento, que é o primeiro passo para a reabilitação diante de um erro cometido, ele determina o surgimento do complexo de culpa, levando a pessoa que eventualmente tenha errado a crises nervosas, chegando mesmo à loucura”. Dessa forma, podemos entender claramente essa diferença, deixando para reflexão o quanto o remorso é prejudicial para o indivíduo.


Sempre nos questionamos quando deixamos alguma questão mal resolvida ou de não haver uma reconciliação, isto acontece quando o nosso desafeto venha a falecer. Conseqüentemente, o remorso bate à nossa mente por termos protelado a solução de problemas, algumas vezes simples, outras não; mas poderiam ter sido resolvidos ou esclarecidos com uma conversa sincera entre as partes envolvidas. Porém, nosso orgulho acaba sendo predominante fazendo que a conciliação não se realize. Recentemente duas pessoas queridas de minha convivência estavam brigadas, cujo amor entre si eu conhecia, porém o orgulho fazia com que a reconciliação fosse evitada. Uma noite disse a uma das partes que seu desafeto estava doente, que imaginasse se essa pessoa viesse a falecer... o remorso iria ser grande por não ter se reconciliado enquanto podia. Minutos depois, essa pessoa pegou o telefone e se reconciliou com a outra. Neste caso correu tudo bem, mas quantos deixam isso para depois.


O tempo não é eterno e o amanhã pode ser muito tarde. Devemos pensar que o presente é agora e o futuro pode não existir. Vitor Ronaldo Costa em seu livro Gerenciando as Emoções explica que “se alguém alimenta um sentimento de culpa, em decorrência de um mal cometido intencionalmente, o bom-senso recomenda que se busque a solução do impasse na prática inadiável de uma atitude enobrecida. A anulação do remorso sugere a tomada de duas providências essenciais: o cultivo da humildade e o pedido de perdão”.


No livro O Céu e o Inferno, capítulo VI, intitulado “Criminosos Arrependidos”, Allan Kardec descreve o contato feito com um jovem padre de nome Verger que havia assassinado em 3 de janeiro de 1857, Monsenhor Sibour, arcebispo de Paris, quando saia da Igreja de Saint-Étienne-du-Mont. Verger foi condenado à morte e em 30 de janeiro executado. Em nenhum momento mostrou-se arrependido do seu crime. Ele foi evocado no mesmo dia de sua execução e três dias depois. Nestes contatos, quando Verger foi indagado “Qual a vossa punição?”, ele respondeu: “sou punido por que tenho consciência da minha falta, e para ela peço perdão a Deus; sou punido porque reconheço a minha descrença nesse Deus, sabendo agora que não devemos abreviar os dias de vida de nossos irmãos; sou punido pelo remorso de haver adiado o meu progresso, enveredando por caminho errado, sem ouvir o grito da própria consciência que me dizia não ser pelo assassínio que alcançaria o meu desiderato. Deixei-me dominar pela inveja e pelo orgulho; enganei-me e arrependo-me, pois o homem deve esforçar-se sempre por dominar as más paixões – o que, aliás, não fiz”.


Quando tiramos a vida de alguém estamos retardando nossa evolução e cortando a oportunidade de nosso irmão dar seqüência à sua. Além do mais, é um pecado que corrói a nossa consciência por um ato indigno de nossa parte. É muito triste chegar ao Mundo Espiritual e sentir na consciência o remorso.


Deus nos dá a oportunidade de reparação, é parte de nossa evolução colocar em prática os ensinamentos morais de Jesus. O perdão faz parte destes ensinamentos e é providencial, deixando-se de lado o orgulho, que não leva a nada. Dessa vida, a única coisa positiva que levamos são as nossas boas obras, que são realizadas por meio da caridade. Quando falamos em caridade, seu sentido é amplo, começamos por ajudar aqueles que temos por desafeto. Vamos analisar a situação, não somos santos, mas todos sujeitos a erros. Vamos nos colocar no lugar de nosso desafeto e imaginar se não agiríamos da mesma forma. Uma reflexão profunda pode ser essencial para essa reconciliação. O tempo é curto, devemos guardar momentos felizes e aprender com os tristes. São esses momentos alegres que nos fazem refletir sobre quanto somos queridos. As amizades e a família são algo que devemos saber aproveitar, pois representam momentos de compartilhar experiências e reparar erros cometidos em outras vidas ou até mesmo nesta.







Todo ato indigno, como aborto, suicídio, traição, entre outros, é prejudicial a nós mesmos. Elizeu Florentino descreve em seu livro a diferença do remorso para o arrependimento, em se tratando de aborto praticado, quando arrependimento leva a pessoa a reparar o seu erro adotando uma criança ou trabalhando em lugares que cuidam de crianças carentes, enquanto o remorso é patológico à medida que o autor da conduta abortiva é levado ao monoideísmo, o que causa anomalias psicológicas e psíquicas.


André Luiz no livro Nosso Lar, descreve as palavras de consolo do benfeitor Clarêncio: “Aproveita os tesouros do arrependimento, guarda a bênção do remorso, embora tardio, sem esquecer que a aflição não resolve problemas”.


Dias atrás, recebi um e-mail que conta a história de uma senhora de 87 anos, de nome Rose. Em determinado momento ela comenta o mal que faz o remorso, mas sua história é tão comovente e bonita que me sinto na obrigação de reproduzir este e-mail por completo por se tratar de uma lição de vida maravilhosa. Em determinados momentos o leitor amigo poderá achar que o assunto não tem nada a ver com o que propusemos a comentar, porém uma reflexão profunda fará o leitor compreender melhor a grandeza de um ser humano quando sua mente é voltada para o bem, deixando de lado qualquer maldade, principalmente o remorso, já que quando praticamos o amor ao próximo a felicidade é o nosso sentimento. Reflitam sobre as palavras que se seguem...


“No primeiro dia de aula nosso professor se apresentou aos alunos e nos desafiou a que nos apresentássemos a alguém que não conhecêssemos ainda. Eu fiquei em pé para olhar ao redor quando uma mão suave tocou meu ombro. Olhei para trás e vi uma pequena senhora, velhinha e enrugada, sorrindo radiante para mim. Um sorriso lindo que iluminava todo o seu ser. Ela disse: “Hei, bonitão. Meu nome é Rose. Eu tenho oitenta e sete anos de idade. Posso te dar um abraço?” Eu ri, e respondi entusiasticamente: “É claro que pode!”, e ela me deu um gigantesco apertão. Não resisti e perguntei-lhe: “Por que você está na faculdade em tão tenra e inocente idade?”, e ela respondeu brincalhona: “Estou aqui para encontrar um marido rico, casar, ter um casal de filhos, e então me aposentar e viajar”. “Está brincando”, eu disse. Eu estava curioso em saber o que a havia motivado a entrar neste desafio com a sua idade, e ela disse: “Eu sempre sonhei em ter um estudo universitário, e agora estou tendo um!”. Após a aula nós caminhamos para o prédio da união dos estudantes, e dividimos um milk-shake de chocolate. Nós nos tornamos amigos instantaneamente. Todos os dias nos próximos três anos teríamos aula juntos e falaríamos sem parar. Eu ficava sempre extasiado ouvindo aquela “máquina do tempo” compartilhar sua experiência e sabedoria comigo. No decurso de um ano, Rose tornou-se um ícone no campus, e fazia amigos facilmente, onde quer que fosse. Adorava vestir-se bem, e revelava-se na atenção que lhe davam os outros estudantes. Estava curtindo a vida! No fim do semestre convidamos Rose para falar no nosso banquete de futebol. Jamais esquecerei o que ela nos ensinou. Foi apresentada e se aproximou do podium. Quando começou a ler a sua fala, já preparada, deixou cair três, das cinco folhas, no chão. Frustrada e um pouco embaraçada, pegou o microfone e disse simplesmente: “Desculpem-me, eu estou tão nervosa! Eu não conseguirei colocar meus papéis em ordem de novo, então me deixem apenas falar para vocês sobre aquilo que eu sei”. Enquanto nós ríamos, ela limpou sua garganta e começou: ‘Nós não paramos de jogar porque ficamos velhos; nós nos tornamos velhos porque paramos de jogar. Existem somente quatro segredos para continuarmos jovens, felizes e conseguir sucesso. Primeiro, você precisa rir e encontrar humor em cada dia. Segundo, você precisa ter um sonho. Quando você perde seus sonhos, você morre. Nós temos tantas pessoas caminhando por aí que estão mortas e nem desconfiam! Terceiro, há uma enorme diferença entre envelhecer e crescer. Se você tem dezenove anos de idade e ficar deitado na cama por um ano inteiro, sem fazer nada de produtivo, você ficará com vinte anos. Se eu tenho oitenta e sete anos e ficar na cama por um ano e não fizer coisa alguma, eu ficarei com oitenta e oito anos. Qualquer um, mais cedo ou mais tarde ficará mais velho. Isso não exige talento nem habilidade, é uma conseqüência natural da vida. A idéia é crescer através das oportunidades. E, por último, não tenha remorsos. Os velhos geralmente não se arrependem por aquilo que fizeram, mas sim por aquelas coisas que deixaram de fazer. As únicas pessoas que têm medo da morte são aquelas que têm remorso’. Concluiu seu discurso cantando corajosamente “A Rosa”. Desafiou cada um de nós a estudar poesia e vivê-la em nossa vida diária. No fim do ano, Rose terminou o último semestre da faculdade que começara havia tantos anos. Uma semana depois da formatura, Rose morreu tranqüilamente em seu sono. Mais de dois mil alunos da faculdade foram ao seu funeral, em tributo à maravilhosa mulher que ensinou, mediante seu exemplo, que nunca é tarde demais para ser tudo aquilo que você pode provavelmente ser, se realmente desejar. Quando terminar de ler isto, envie esta palavra de conselho para seus amigos e familiares. Eles realmente apreciarão! Estas palavras têm sido divulgadas por amor, em memória de “Rose”. Uma grande mulher. Na verdade um grande ser humano. Lembre-se: Envelhecer é inevitável, mas crescer é opcional!






Por Marco Tulio Michalick






Texto original publicado na Revista Internacional de Espiritismo, edição nº 02, ano 2002.

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