Texto publicado na Folha Espírita em junho de 2007 .
Richard Simonetti
A idolatria, a admiração exagerada por alguém, velha tendência humana, é um perigo para quem a cultiva.
Costuma neutralizar a razão, induzindo a exageros e desajustes variados.
Exemplo típico está no comportamento de determinados segmentos da população alemã em relação a Adolf Hitler (1889-1945). Seus simpatizantes viam nele o líder carismático, capaz de feitos heróicos, sem perceber os abismos em que ele estava precipitando a nação.
A todos contaminava com sua pretensão visionária de edificar um grandioso império ariano, que governaria o mundo por mil anos.
A idolatria é um perigo maior, para quem é objeto dela.
Tende a incensar sua vaidade, levando o indivíduo a posturas inadequadas e perturbadoras.
Não fosse o apoio das multidões que aplaudiam sua insanidade e, certamente, Hitler não teria produzido estragos tão graves, contabilizando perto de 40 milhões de mortos na Segunda Guerra Mundial, a maior tragédia produzida pelo homem em todos os tempos.
Os verdadeiros líderes, aqueles que realmente são importantes, os que fazem a diferença, rejeitam com veemência o rótulo de ídolos, não só por reconhecerem as próprias limitações, mas, também, por terem consciência dos problemas que a idolatria pode lhes acarretar.
Chico, merecidamente, era reconhecido, ainda em vida, como uma das figuras mais marcantes do século XX. Sua contribuição em favor da paz e do progresso humano foi inestimável.
Os livros que psicografou representam um desdobramento da Doutrina Espírita, complementando a Codificação e nos oferecendo uma gloriosa visão da vida espiritual.
O Espiritismo pode ser dividido em antes e depois de Chico.
Na série Nosso Lar, por ele psicografada, André Luiz nos oferece ampla e esclarecedora visão do mundo espiritual, e do inter-relacionamento entre os dois planos, como jamais se viu.
Essa série portentosa de livros, que recebeu nas décadas de 1940 e 50, seria suficiente para consagrá-lo como o que se convencionou chamar de “médium revelador”, por intermédio do qual desenvolve-se o conhecimento espírita.
Não obstante, furtando-se aos perigos de um envolvimento com a idolatria, Chico dizia, humildemente, quando aclamavam seu nome:
– Sou cisco Xavier, apenas um cisco na ordem das coisas.
Numa entrevista, afirmou:
– Considero-me, na mediunidade, um animal em serviço. Eu sou um animal a serviço dos bons espíritos, e nunca fiz mistério disto. E todas as vezes em que me externei a respeito do assunto, nunca me vi, absolutamente, como uma pessoa privilegiada. Sou uma criatura de condição muito primitiva. Não sei como os espíritos me suportam. Cada vez mais eu sinto a minha desvalia, porque nada tenho a dar de mim. O problema da idolatria corre por conta daqueles que gostam dos mitos.
Importante, em relação ao assunto, prezado leitor, o fato de que a postura de Chico não era “pra inglês ver”, sinalizando humildade aparente.
Os que conviveram com ele são unânimes em afirmar sua absoluta simplicidade e despretensão, exercitando aquela grandeza legítima que é o reconhecimento da própria pequenez.
A postura de Chico foi um exemplo e, ao mesmo tempo, uma advertência quanto aos cuidados que devemos ter no exercício de atividades espíritas.
O primeiro recurso usado pelos espíritos obsessores, quando pretendem afastar o trabalhador do serviço, é incensar sua vaidade, alimentando a pretensão de que é uma luz que brilha na constelação espírita, com contribuição marcante em favor do movimento.
Se queremos realmente produzir na Seara Espírita, é bom imitar Chico, situando-nos como um cisco diante da Doutrina.
Se não o fizermos, é bem provável que tenhamos nossa visão turvada por outro cisco, extremamente perturbador, que, invariavelmente, compromete a ação de muitos companheiros – a vaidade.
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