16. "Atenção! Eu vos envio como ovelhas no meio de lobos; tornai-vos, pois, prudentes
como as serpentes e simples como as pombas.
17. Cuidado, porém, com os homens, porque vos entregarão aos tribunais e, em suas sinagogas, vos açoitarão,
18. e, por minha causa, sereis levados à presença de governadores e de reis, para servirlhes de testemunho a eles e às nações.
19. Quando vos entregarem, não vos preocupeis como, ou o que, falareis, porque naquela
hora vos será dado o que direis,
20. pois não sois vós os que falais, mas é o espírito de vosso Pai que fala em vós.
21. Irmãos entregarão à morte aos irmãos e pais aos filhos e filhos se levantarão contra
seus pais e os farão morrer
22. E sereis odiados de todos por causa do meu nome; mas quem suportar até o fim, esse
será salvo.
23. Quando, porém, vos perseguirem numa cidade, fugi para outra; porque em verdade
vos digo que não acabareis de percorrer as cidades de Israel, antes que venha o filho
do homem.
Este trecho, de avisos do que sucederá aos Emissários, não se refere à época desta primeira missão, mas ao futuro.
Inicialmente, um alerta: "Atenção"! (ido˙), depois uma sentença para ser gravada de memória: “eu vos envio como ovelhas no meio de lobos", em que o perigo de ser morto é grande. Daí o conselho: "tornai-vos (gÌnesthe, e não "sede") prudentes (phronÌmoi, que é a prudência hábil e astuta) como as serpentes, e simples (akÈraioi, sem mistura, ou seja, sem duplicidade) como as pombas”.
Os lobos são os próprios homens, que procurarão devorar os emissário do Espírito; e como talvez não possam estraçalhá-los com suas mãos, os entregarão aos tribunais (sinÈdria, no plural, referindo-se aos pequenos sinédrio, de 23 membros, que era constituído nas aldeias que tivessem mais de 120 homens) e eles os mandarão açoitar.
Mas, além disso, a causa cresceria de âmbito, e os enviados do Espírito também seriam citados diante de governadores e reis, para que seu exemplo servisse de testemunho de verdade diante das nações pagãs (não-israelitas).
No entanto, quando se achassem diante dos tribunais, não deviam preocupar-se como falar, já que, naqueles momentos de angústia, "o Espírito de vosso Pai" falaria por intermédio deles. A história está cheia desses exemplo, de respostas de sabedoria acima da capacidade humana, nessas situações terrí- veis de perseguição, bastando recordar a profundidade das respostas de Joana d'Arc aos setenta bispos, verdadeiros lobos devoradores a serviço da política eclesiástica de então. Essa assistência parece referir-se até a um, psicofonia total prometida aos perseguidos, quando tiverem que ser julgados.
Trata-se a seguir das desavenças dentro do próprio lar, entre pais e filhos, coisa que sempre se verificou e ainda hoje vemos, quando alguém que vive em ambiente de determinada religião resolve aderir ao espiritualismo e ao Evangelho de Jesus. E o aviso: "sereis odiados por causa de Meu Nome" Realmente. Aqueles que obedecem à ordem de curar os enfermos em nome de Jesus, por exemplo, são levados ainda hoje à barra dos tribunais por "exercício ilegal da medicina" ... E quem os acusa se diz cristão, discípulo Daquele que deu ordem de curar em Seu Nome! Há verdadeiro ódio contra os Emissários do Mestre, por parte da maioria dos homens.
Mas "quem suportar" (hypomeÌnas, ter paciência e perseverança numa dificuldade sem arredar pé; persistir; suportar) tudo até o fim (eis telÛs), esse será salvo; isto é, libertado das dores. Pode referir-se esse "fim" ao término das perseguições ou ao final dessa existência terrena.
Todavia não deve o Emissário de Jesus arriscar-se a sofrer voluntariamente: se for perseguido numa localidade, transporte-se para outra (sacudindo o pó dos pés), pois o que ele tem para dar servirá a outros, que talvez estejam sequiosos de recebê-lo.
"Não terminar de perlustrar as cidades de Israel, até que venha o filho do homem" é interpretado como o primeiro trecho escatológico, em que Jesus parece fazer alusão a um regresso próximo. Durante muito tempo foi isso compreendido como uma garantia da parusia.
Expliquemos os termos. "Escatologia" È o estudo do que ocorre depois da morte, depois do fim, que alguns pensam ser o "fim do mundo" (derivado de eskhatós);e "parusia", que significa "presenÁa", refere-se à segunda vinda do Cristo, que acreditavam fosse pessoal, em corpo fÌsico, embora em aparÍncia gloriosa.
Outros exegetas atribuem a essas palavras o sentido de uma profecia da destruição de Jerusalém por Tito, no ano 70, onde Cristo teria voltado simbolicamente para "vingar" as perseguições, como escreve Lagrange: "Essa vinda não é necessariamente a parusia que termina a história do mundo. O filho do homem vem quando exerce um grande julgamento, sobretudo da espécie da ruína de Jerusalém" (Lagrange, "Évangile selon Saint Matthieu", Paris, 1923, pág. 205).
A interpretação do sentido profundo È muito mais clara e lógica.
O missionário que desce à Terra, chega aqui verdadeiramente como ovelha no meio de lobos. Costumamos, em conversa, comparar as dificuldades vibratÛrias que sentiu, por exemplo, Jesus, ao encarnar entre nós, às dificuldades que sentiríamos se fôssemos obrigados a encarnar numa vara de porcos selvagens. A situação é semelhante sob muitos espectos. A humanidade egoÌsta e cruel parece uma alcatéia de lobos famintos e vorazes, que só buscam seus interesses imediatos. Dai a necessidade de ser prudentes e astutos como serpentes, embora, no próprio Ìntimo, mantendo a simplicidade branca das pombas.
Os homens perseguir„o a personalidade do emiss·rio, levando-a aos tribunais; mas o espÌrito dever· manter-se forte e inabal·vel em suas convicÁıes, servindo-lhes de testemunho de que o EspÌrito È superior ‡ matÈria, e a individualidade maior que a personalidade. Nos embates com as autoridades, a personalidade do emiss·rio ser· assistida pelo EspÌrito do Pai que nele habita (o Cristo Interno, a Centelha Divina) que lhe ditar· as palavras que dever„o ser proferidas. Compreendamos, entretanto, que "governadores" e "reis" n„o s„o apenas os polÌticos profanos, mas tambÈm as autoridades religiosas de outros credos. E ser„o tambÈm aqueles que, n„o compreendendo o alcance de sua atuaÁ„o em certos setores, os acusam levianamente.
No entanto, n„o È sÛ de estranhos, mas dos prÛprios parentes mais chegados que vir„o os ataques. E sabemos que, por esses termos, se entendem os veÌculos inferiores que nos servem de mÈdiuns para nossa manifestaÁ„o no planeta denso. Ent„o, os prÛprios veÌculos do EspÌrito lhe ser„o inimigos, querendo lev·-lo ‡ desistÍncia da tarefa com a qual se comprometeu, para que aproveite os minutos de satisfaÁ„o fÌsica que lhe podem trazer o conforto das riquezas, a glÛria da fama, os prazeres dos sentidos, o domÌnio autorit·rio, a celebridade do intelecto. Tudo e todos se levantar„o contra a boaintenÁ„o do emiss·rio de cumprir sua tarefa, que ser· inÁada de dificuldades sempre crescentes e inamovÌveis, podendo chegar atÈ a causar-lhe a morte.
Só aqueles que suportarem atÈ o fim as lutas, poder„o conseguir vitÛria.
Entretanto, sempre devemos procurar ref˙gio em "outra cidade", quando aquela em que estamos nos tornar impossÌvel a vida. Ou seja, sempre devemos buscar recolher-nos ao EspÌrito, em nosso interior, quando as tempestade crescerem no mundo fÌsico. E n„o teremos terminado de percorrer todas as cidades de Israel (de completar todo o caminho evolutivo), pois antes disso vir· o filho do homem (encontraremos o Cristo Interno).
A frase "cidades de Israel" È terminologia inici·tica, e exprime simbolicamente o percurso evolutivo do homem. Numa sÌntese, bastante r·pida, podemos assinalar esquematicamente alguns dados apenas:
Fatos históricos:
1. Criação do povo de Israel pelo PAI-LUZ (ABRAM) e sua opressão no Egito.
2. A matança dos cordeiros e o passagem do Mar
Vermelho.
3. A longa conquista de Canaã.
4. A passagem do Jordão.
5. O reinado de Judá e a construção do Templo.
6. O exílio de Babilônia.
7. A reconquista de Jerusalém e a reconstrução
do Templo.
Simbolizando:
A. individualização da Centelha, ainda no reino
animal, aí permanecendo na prisão
A passagem do animal (que deve terminar) para o
estado hominal.
A demorada conquista do intelecto.
A passagem definitiva para o domínio intelectual.
O domínio do intelecto e o início da religiosidade.
A limitação do intelecto preso na matéria
A libertação do intelecto que passa ao domínio do
Espírito ou individualidade.
Ent„o, antes que o emiss·rio termine o percurso das "cidadesî ou ponto chaves da histÛria de Israel,
o filho do homem vir· a ele, ou seja, verificar-se-· o acesso ‡ individualidade. Enquanto isso, ele ter·
que ir suportando a perseguiÁıes nas sucessivas encarnaÁıes, superando aos poucos o animalismo atÈ
conseguir o domÌnio do EspÌrito.
Conforme vemos, a linguagem simbÛlica È de perfeita clareza; mas a interpretaÁ„o literal n„o nos faz
chegar a uma conclus„o lÛgica.
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