Associação de Divulgadores de Espiritismo de Portugal
1. OBJECTIVO DA ENCARNAÇÃO
Deus impõe aos espíritos a encarnação, com o objectivo de fazê-los chegar à perfeição, passando pelas vicissitudes da existência corporal...
"Visa ainda outro fim a encarnação: o de pôr o espírito em condições de suportar a parte que lhe toca na obra da criação. Para executá-la é que, em cada mundo, toma o espírito um instrumento, de harmonia com a matéria essencial desse mundo, a fim de aí cumprir, daquele ponto de vista, as ordens de Deus. É assim que, concorrendo para a obra geral, ele próprio se adianta...".
"Todos são criados simples e ignorantes, e instruem-se nas lutas e tribulações da vida corporal. Deus, que é justo, não podia fazer felizes a uns, sem fadigas e trabalhos, por conseguinte, sem mérito".
Daí concluir-se que os seres considerados eleitos - anjos, arcanjos, querubins e serafins - são a representação das almas que já atingiram, pelo seu esforço, graus de elevação espiritual, passando, como não poderia deixar de ser, pelos mesmos estágios inferiores da escala evolutiva.
"... O atrasado possui inclinação para o mal, inteligência limitada; regozija-se com a violência, compraz-se na vida viciosa. Quando deixa o corpo, os sentimentos acompanham-no. Com a evolução, ele vai-se modificando. As lutas do mundo, os sofrimentos, através das vidas, é que lhe vão aprimorando a alma."
"A Terra é como uma escola e um hospital. Vê-se o aluno ir progredindo, à medida que muda de classe; a sua cultura é função do tempo e do estudo; quando o corpo se debilita vai a um centro de saúde, onde o médico lhe retempera e restitui as forças.
"Assim é a Terra para o incipiente. Ele aporta aqui como selvagem ou bárbaro. E continua a sua peregrinação, curando-se no hospital planetário, com a terapêutica do sofrimento, ilustrando-se com as lições que recebe de vida em vida, até que, inteiramente puro, fica livre das vidas materiais e entra para o nirvana dos budistas ou para as regiões de paz; a felicidade consiste nessa tranquilidade dos justos; não a podemos perceber nem vislumbrar, porque nunca a possuímos, envoltos nos turbilhões, na azáfama, no nevoeiro, nas paixões violentas desse mundículo onde nos encontramos atolados".
Os espíritos que seguem o caminho do bem chegam mais depressa aos níveis mais elevados de aperfeiçoamento intelectual e afectivo; sendo as aflições da vida fruto da imperfeição do espírito, quanto menos imperfeições menos tormentos. Aquele que não for invejoso, nem ciumento, nem avarento, nem ambicioso, não sofrerá as torturas que se originam dessas imperfeições.
"Os espíritos que desde o princípio seguem o caminho do bem nem por isso são espíritos perfeitos. Não têm, é certo, maus pendores, mas precisam de adquirir a experiência e os conhecimentos indispensáveis para alcançar a perfeição. Podemos compará-los a crianças que, seja qual for a bondade de seus instintos naturais, necessitam de se desenvolver, e esclarecer e que não passam, sem transição, da infância à madureza".
Depende dos espíritos o progredirem mais ou menos rapidamente em busca da perfeição, conforme o desejo que têm de alcançá-la e a submissão que testemunham à vontade de Deus. Os espíritos não podem conservar-se eternamente nas ordens inferiores; mudam de ordem mais rápida ou demoradamente, porém não podem degenerar. À medida que avançam, compreendem o que os distancia da perfeição. O espírito ao concluir uma prova fica com a ciência que daí lhe veio, e não a esquece. Pode permanecer estacionário durante algum tempo, porém não retrograda.
"A encarnação é necessária ao duplo progresso moral e intelectual do espírito: ao progresso intelectual pela actividade obrigatória do trabalho; ao progresso moral pela necessidade recíproca dos homens entre si. A vida social é a pedra de toque das boas ou más qualidades.
"A bondade, a maldade, a doçura, a violência, a benevolência, a caridade, o egoísmo, a avareza, o orgulho, a humildade, a sinceridade, a franqueza, a lealdade, a má-fé, a hipocrisia, numa palavra, tudo o que constitui o homem de bem, ou perverso, tem por móvel, por alvo e por estímulo as relações do homem com os seus semelhantes...
"Uma só existência corporal é manifestamente insuficiente para o espírito adquirir todo o bem que lhe falta e eliminar o mal que lhe sobra.
"Deus, que é soberanamente justo e bom, concede ao espírito tantas encarnações quantas as necessárias para atingir o seu objectivo: a perfeição.
"Para cada nova existência de permeio à matéria entra o espírito com o cabedal adquirido nas anteriores, em aptidões, conhecimentos intuitivos, inteligência e moralidade. Cada existência é, assim, um passo avante no caminho do progresso.
"A encarnação é inerente à inferioridade dos espíritos, deixando de ser necessária desde que estes, transpondo-lhe os limites, ficam aptos para progredir no estado espiritual, ou nas existências corporais de mundos superiores, que nada têm da materialidade terrestre. Da parte destes a encarnação é voluntária, tendo por fim exercer sobre os encarnados uma acção mais directa e tendente ao cumprimento da missão que lhes compete junto dos mesmos. Desse modo, aceitam abnegadamente as vicissitudes e sofrimentos da encarnação". (11)
A pluralidade das existências, cujo princípio Jesus estabeleceu no Evangelho, sem todavia definir, como a muitos outros, é uma das mais importantes leis reveladas pelo espiritismo, pois demonstra-lhe a realidade e a necessidade do progresso. Com esta lei, o homem explica todas as aparentes anomalias da vida humana; as diferenças de posição social; as mortes prematuras que, sem a reencarnação, tornariam inúteis à alma as existências breves; a desigualdade de aptidões intelectuais e morais, pela ancianidade do espírito que, mais ou menos, aprendeu e progrediu, e traz, nascendo, o que adquiriu nas suas existências anteriores...
"Com a reencarnação desaparecem os preconceitos de raça e de casta, pois o mesmo espírito pode tornar a nascer rico ou pobre, capitalista ou proletário, chefe ou subordinado, livre ou escravo, homem ou mulher. De todos os argumentos invocados contra a injustiça da servidão e da escravidão, contra a sujeição da mulher à lei do mais forte, nenhum há que prime, em lógica, ao facto material da reencarnação. Se, pois, a reencarnação funda numa lei da natureza o princípio da fraternidade universal, também funda na mesma lei o da igualdade dos direitos sociais e, por conseguinte, o da liberdade...
"Sem a preexistência da alma, a doutrina do pecado original não seria somente irreconciliável com a justiça de Deus, que tornaria todos os homens responsáveis pela falta de um só, seria também um contra-senso, e tanto menos justificável quanto, segundo essa doutrina, a alma não existia na época a que se pretende fazer que a sua responsabilidade remonte. Com a preexistência, o homem traz, ao renascer, o germe das suas imperfeições, dos defeitos de que se não corrigiu, e que se traduzem pelos instintos naturais e pelos pendores para tal ou tal vício. É esse o seu verdadeiro pecado original, cujas consequências, naturalmente, sofre, mas com a diferença capital de que sofre a pena de suas próprias faltas, e não das de outrem; e com outra diferença, ao mesmo tempo consoladora, animadora e soberanamente equitativa, de que cada existência lhe oferece os meios de se redimir, pela reparação, e de progredir, quer despojando-se de alguma imperfeição quer adquirindo novos conhecimentos, e assim até que, suficientemente purificado, não necessite mais da vida corporal e possa viver exclusivamente a vida espiritual, eterna e bem-aventurada".
"A reencarnação é um processo de aperfeiçoamento espiritual. A volta do espírito à vida corporal tem um objectivo, não é "acção do acaso", nem "capricho dos céus"... Não há experiência reencarnatória sem motivo, ensina o espiritismo...
"O aspecto moral da reencarnação deve merecer sempre uma consideração muita lúcida, justamente porque esse aspecto se reflecte na vida familiar, nas relações profissionais, na vida social, enfim. ... A noção de uma única existência não nos daria uma visão real de justiça no tempo e no espaço. A reencarnação não é, portanto, simples questão de crença, mas um princípio lógico, assim nós o entendemos, pois abre à inteligência inquiridora uma perspectiva de justiça muito mais ampla, através de existências diversas".
"Em relação ao espiritismo, o pensamento reencarnacionista está expresso em: Nascer, morrer, renascer ainda, progredir sempre, tal é a lei.
Allan Kardec formulou aos espíritos a questão inscrita em "O Livro dos Espíritos" sob n.º 196, cuja resposta apresenta a súmula dos objectivos da encarnação:
"Não podendo os espíritos aperfeiçoar-se a não ser por meio das tribulações da existência corpórea, segue-se que a vida material seja uma espécie de crisol, ou de depurador, por onde têm que passar todos os seres do mundo espírita para alcançarem a perfeição?
"Sim, é exactamente isso. Eles melhoram-se nessas provas, evitando o mal e praticando o bem; porém, somente ao cabo de mais ou menos longo tempo, conforme os esforços que empreguem; somente após muitas encarnações sucessivas, ou depurações, atingem a finalidade para que tendem.
"A obrigação que tem o espírito encarnado de prover ao alimento do corpo, à sua segurança, ao seu bem-estar, força-o a empregar as suas faculdades em investigações, a exercitá-las e desenvolvê-las. Útil , portanto, ao seu adiantamento é a sua união com a matéria.
"Daí o constituir uma necessidade a encarnação. Além disso, pelo trabalho inteligente que ele executa em seu proveito, sobre a matéria, auxilia a transformação e o progresso material do globo que lhe serve de habitação"...
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